Artigo

EXTRATO ETANÓLICO DE PRÓPOLIS (EEP) NO CONTROLE DA CERCOSPORIOSE E DA FERRUGEM DO CAFEEIRO.

Cassiano Spaziani PEREIRA1
Rubens José GUIMARÃES2
Edson Ampélio POZZA3
Adriano Alves da SILVA4
1 Universidade Federal de Lavras - UFLA, MG. Email: caspaziani@yahoo.com.br
2 Departamento de Fitotecnia, Universidade Federal de Lavras - UFLA, MG. Email: rubensjg@ufla.br
3 Departamento de Fitopatologia, Universidade Federal de Lavras - UFLA, MG. Email: eapozza@ufla.br
4 Universidade Federal de Lavras - UFLA, MG. Email: adrianoas@yahoo.com.br
RESUMO
O objetivo do trabalho foi avaliar efeito da aplicação foliar de extrato etanólico de própolis (EEP) sobre a incidência e a severidade da cercosporiose em mudas e no campo e da ferrugem do cafeeiro no campo. Para isto foram realizados dois experimentos. No primeiro experimento avaliou-se o efeito de 11 concentrações de EEP em cinco blocos, sobre a incidência e severidade da cercosporiose em folhas de mudas de cafeeiro, cultivar 'Catuaí vermelho' IAC - 99. O EEP utilizado nesse primeiro experimento tinha 16% de Própolis bruta e 84 % de álcool, e as mudas foram submetidas à aplicações foliares quinzenais da calda (EEP + água). O segundo experimento foi conduzido numa lavoura em produção, cultivar 'Rubi' 1192 localizada no setor de Cafeicultura da UFLA. O esquema experimental utilizado foi o fatorial 3 x 5. O primeiro fator foram três EEPs confeccionados com diferentes porcentagem de própolis bruta (2,52; 16 e 28%) e o segundo fator cinco concentrações dos EEPs diluídas em água na calda de pulverização (0; 1; 2; 3; 4%). No experimento 1 pode-se concluir que: o EEP com 16% de própolis bruta diminui a incidência e a severidade da cercosporiose em mudas, independentemente da concentração utilizada, sendo a menor área foliar lesionada verificada na concentração de 1,79 % de EEP na calda de pulverização. No segundo experimento verificou-se que: os EEPs preparados com 16 e 28% de própolis bruta reduziram a incidência de ferrugem e não diferiram entre si quanto a intensidade do efeito. Verificou-se uma redução linear na incidência da ferrugem com o aumento das concentrações de EEP na calda de pulverização e a redução na incidência da ferrugem na maior concentração de EEP na calda de pulverização (4%) foi de aproximadamente 66%. O EEP reduziu a incidência da cercosporiose, sendo o EEP mais efetivo o preparado com 16% de própolis bruta diluído a 4% na calda de pulverização, quando a redução na incidência da doença foi de 46%. Palavras-Chave: Doenças, manejo alternativo, café.

ABSTRACT PROPOLIS ETHANOLIC EXTRACT (PEE) FOR THE CONTROL OF BROWN EYES SPOT AND COFFEE PLANT RUST

The objective of this work was to evaluate the effect of foliar application of the propolis ethanolic extract (PEE) on the incidence and severity of brown eyes spot in coffee plant seedlings under field conditions as well as in coffee plant rust also under field conditions. Thus, two experiments were carried out. The first experiment evaluated the effect of 11 PEE concentrations in 5 blocks on the incidence and severity of brown eyes spot in the cultivar 'Catuaí vermelho' IAC - 99 coffee plant seedling leaves. The PEE used in this first experiment had 16% of crude propolis and 84 % alcohol and the seedlings were submitted to fortnight foliar applications of the solution (PEE + water).The second experiment was conducted in a cultivar 'Rubi' 1192 coffee plantation located in the Coffee culture sector at the UFLA. The experimental scheme used was a 3 x 5 factorial. The first factor consisted of three PEEs containing different percentages of crude propolis (2.52; 16 and 28%) and the second factor , five concentrations of PEEs diluted in water (0; 1; 2; 3; 4%). The experiment 1 results allowed to conclude that the PEE containing 6% of crude propolis reduces the incidence and severity of brown eyes spot in seedlings regardless of the concentration used, with the lowest injured foliar area verified at the concentration of 1.79 % of PEE in the spray solution .The second experiment verified that the EEs prepared with 16 and 28% of crude propolis reduced the incidence of rust and did not differ as to effect intensity. A linear reduction in rust incidence was verified with the increase of PEE concentrations in the spray solution and rust incidence reduction at the highest PEE concentration in the spray solution (4%) was approximately 66%. The PEE reduced the incidence of brown eyes spot at 46 % with the most effective PEE being prepared with 16% of crude propolis diluted at 4% in the spray solution.

INTRODUÇÃO

A cercosporiose é uma das doenças foliares mais importantes do cafeeiro, causando desfolha pela grande produção de etileno no processo de necrose, bastando uma lesão por folha para causar a sua queda (Matiello et al., 2002). Vários fatores favorecem o progresso da doença, entre eles, a alta umidade relativa do ar, a temperatura baixa e a insolação (Almeida, 1986). A doença ocorre em mudas em viveiros, devido a substratos pobres em matéria orgânica, com relações desequilibradas dos nutrientes e solos com textura inadequada. Além desses fatores, o déficit hídrico, os ventos frios, ou quaisquer condições adversas após o plantio também podem auxiliar na infecção das plantas em campo (Almeida, 1986).

Outra importante doença do cafeeiro, a ferrugem alaranjada é considerada a principal doença do cafeeiro, sendo seus danos, assim como os da cercosporiose, a queda de folhas (perda de área fotossintética) e conseqüentes reduções no rendimento das lavouras. O custo para controle da ferrugem pode representar até 20% das despesas de custeio total, enquanto a perda na produção determinada pela doença não controlada atinge até 30 % (Matiello et al., 1985).

Para o controle das duas doenças, segundo Carvalho et al. (2002), são recomendados alguns fungicidas, a base de princípios ativos como Mancozeb, Chlorothalonil, Tebuconazole, produtos de classificação toxicológica medianamente ou altamente tóxica, havendo assim um grande risco de contaminação ao seres humanos e ambiente. Dessa forma, apesar da alta eficiência dos fungicidas sintéticos, os altos custos, o aumento da resistência dos fitopatógenos e o impacto sobre o ambiente causado pelos produtos químicos, têm levado os fitopatologistas de todo o mundo a intensificarem as pesquisas na área de controle alternativo, visando desenvolver processos mais naturais e menos comprometedores de controle de doenças. Entre estes métodos alternativos de controle estão a indução de resistência e o controle biológico (Rodrigues et al., 2001).

Uma alternativa é a própolis, esta é uma substância produzida pelas abelhas com a finalidade de impedir a entrada de água e microorganismos na colméia, tendo esta substância propriedades terapêuticas, antimicrobianas, antiinflamatória, cicatrizante e anestésica Ghisalberti et al. (1977). Desta forma a própolis pode ser potencialmente, um produto a ser utilizado no controle de ferrugem e cercosporiose do cafeeiro, não só por suas propriedades químicas, mas também como um impedimento físico para a penetração dos micélios dos fungos, devido a formação de um filme protetor sobre as folhas do cafeeiro.

A própolis possui comprovadamente efeito antibacteriano e antifúngico. Testes in vitro aplicando-se até 10 % de uma geléia de própolis (petroleum jelly) contra a doença bovina dermatomicose, causada pelo fungo Trichophyton verrucosum, observou-se que doses entre 5 e 10 % de própolis, foram eficientes para impedir qualquer crescimento do fungo estudado (Lori, 1990).

Uma propriedade importante da própolis é que ela varia de região para região, devido à sua origem botânica, já tendo sido identificado no país mais de 350 tipos de própolis diferentes (Koo, 1996). Assim deve-se considerar em trabalhos com esta substância a origem desta, uma vez que cada própolis poderá ter um uso mais específico, seja medicinal, alimentar, e até fungicida.

Diante do exposto anteriormente, os objetivos deste trabalho foram: a) verificar o efeito e a melhor concentração de EEP, para aplicação via foliar no controle da Cercosporiose, em mudas de cafeeiro b) Verificar o efeito de três EEPs, com diferentes porcentagens de própolis bruta, em quatro concentrações na calda de pulverização, no controle da cercosporiose e da ferrugem em lavouras produtivas de café.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento 1 foi conduzido do dia 01 de julho a 05 de setembro de 2002 em casa-de-vegetação climatizada, no Departamento de Fitopatologia da Universidade Federal de Lavras - UFLA - Minas Gerais.

Foi realizado o monitoramento das temperaturas mínimas, médias e máximas e da umidade relativa do ar no interior da estufa, no período experimental, com auxílio de um termohidrografo (Figura 1).

Para realização do experimento 1 foram utilizadas mudas com três pares de folhas da cultivar 'Catuaí Vermelho' IAC-99 transplantadas para vasos de plástico com capacidade volumétrica de 3 litros. O volume restante dos vasos foi preenchido com substrato "padrão", constituído por 700 litros de subsolo, 300 litros de esterco de curral (curtido e peneirado), 5 kg de superfosfato simples e 0,5 kg de cloreto de potássio, e as adubações seguiram as recomendações da (Guimarães et al., 1999).

A própolis utilizada no experimento foi adquirida junto a um produtor da região de Lavras - MG e a sua coloração era marrom escura, tipo "Brown" e estava em estado moldável.

Antes do preparo do EEP foi realizada uma limpeza na própolis bruta para a retirada de impurezas. Na produção do EEP foi utilizado álcool 90 %, sendo a proporção com base em peso/peso de própolis bruta e álcool de 16 % e 84 % respectivamente. Os componentes após serem misturados ficaram em "repouso" por um mês, após este período o extrato foi coado em papel de filtro. Por fim foram preparadas em laboratório as soluções finais, ou caldas para pulverização constituídas de EEP + água na proporção em (v/v). Foi adicionado a calda de pulverização espalhante adesivo (1mL/L) e as pulverizações das caldas finais com as concentrações de EEP foram aplicadas quinzenalmente com auxílio de um pulverizador manual.

No início do experimento, foi realizada a inoculação das mudas de cafeeiro, com suspensão de conídios de Cercospora coffeicola, na concentração de 2,5 × 104 conídios/ mL, para aumentar a severidade e a incidência da doença em todo o experimento. Os conídios foram obtidos pela coleta de folhas infectadas, em cafezais próximos à Universidade Federal de Lavras. Após a coleta, seguindo a metodologia proposta por Pozza (1999), as folhas foram lavadas e submetidas à câmara úmida durante 48 horas, para esporulação do patógeno, com auxílio de um pincel, os conídios foram retirados e colocados em água desmineralizada, formando assim uma suspensão, quantificada em câmara de "Neubauer". A suspensão de conídios foi pulverizada sobre as mudas com pulverizador manual, e, em seguida, as mudas foram submetidas a um processo de câmaras úmidas, obtidas pela cobertura das mudas com sacos plásticos por 24 horas, mantendo assim um ambiente ideal para o desenvolvimento dos conídios.

O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados, com cinco repetições, sendo a unidade experimental composta por quatro plantas. Como tratamentos foram testadas 11 doses, sendo dez com EEP (0,05; 0,1; 0,2; 0,6; 1,0; 1,5; 2,0; 2,5; 3,0; e 5,0 %) na calda de pulverização final, mais um tratamento adicional sem EEP (testemunha). Assim caracterizou-se um contraste não ortogonal das concentrações de EEP versus a testemunha.

A cercosporiose foi avaliada quinzenalmente. A incidência foi avaliada pelo número de folhas lesionadas por planta e porcentagem de folhas lesionadas por planta. A severidade foi o número de lesões por planta, e a porcentagem de área foliar lesionada, medida ao final do experimento (% AFLF). Para avaliar a (%AFLF), na última avaliação as folhas foram arrancadas e as lesões de cada folha foram desenhadas em papel de transparência, estes desenhos foram então escaneados para um computador e com o auxílio do programa Image Tool ® (UTHSCA - EUA) determinando-se a porcentagem de área foliar lesionada.

O experimento 2 foi conduzido entre 02 de fevereiro e 22 de agosto de 2003 em lavoura adensada da cultivar 'Rubi' MG-1192, no seu quarto ano de produção localizada no setor de cafeicultura do Departamento de Agricultura da Universidade Federal de Lavras (UFLA), Lavras - MG, em solo classificado como Latossolo Vermelho Distroférrico típico (Embrapa, 1999).

Os dados de temperatura, umidade relativa do ar, precipitação e insolação do período experimental são apresentados na Figura 2.

O delineamento utilizado foi em blocos casualizados (DBC) com quatro repetições, em esquema fatorial 3 × 5. O primeiro fator foram três EEPs (própolis bruta + álcool), confeccionados com diferentes quantidades de própolis bruta no extrato, na proporção em peso/ peso (2,52; 16; e 28 %), e o segundo fator, as cinco concentrações dos EEPs na calda de pulverização final (EEP + água), com proporção em peso/ peso (0; 1; 2; 3; e 4 %). Cada parcela foi constituída de três linhas de 12 plantas, totalizando 36, com dez centrais, consideradas como parcela útil, e as vinte e seis ao redor, consideradas bordaduras.

Foram realizadas duas aplicações dos EEPs, a primeira no dia 02 de fevereiro, antes de qualquer avaliação, utilizando-se de pulverizador costal manual, e a segunda no dia 03 de março de 2003, utilizando-se pulverizador costal motorizado. Para maior aderência e espalhamento do EEP foi adicionado às diferentes caldas, espalhante adesivo na concentração de 1 mL/ 10 L de calda.

As avaliações foram realizadas mensalmente, do dia 10 de fevereiro até o dia 10 de agosto de 2003, quantificando a incidência e a severidade da ferrugem e cercosporiose do cafeeiro. Para as avaliações foram retiradas folhas do terceiro par do lado direito do amostrador, de um ramo escolhido aleatoriamente no terço médio das plantas. O terço médio é o mais recomendado para a amostragem, uma vez que, nesta posição, ocorre a maior incidência da ferrugem (LIMA, 1979). Foram coletadas 80 folhas por parcela sendo 10 por planta, avaliando-se o número de folhas lesionadas (incidência) e o número de lesões / parcela (severidade).

Utilizou-se para análise das doenças a área abaixo da curva de progresso da doença tanto para o número de folhas lesionadas (AACP%FL), incidência, quanto para o número de lesões por parcela (AACPNL), severidade, determinadas segundo metodologia proposta por (Campbell & Madden, 1990). Foi realizada ainda a análise temporal das doenças.

RESULTADOS

Controle da cercosporiose em mudas de cafeeiro (experimento 1)
As folhas lesionadas/planta com cercosporiose foram reduzidas entre a média dos tratamentos com aplicação de EEP e a testemunha sem própolis em 44,5%, com valores de 2 e 1,11 folhas lesionadas/planta respectivamente, não ocorrendo diferença entre as concentrações de EEP aplicadas (Figura 3a).

Para porcentagem de folhas lesionadas/planta, também não ocorreu diferença entre as concentrações de EEP. A eficiência média das concentrações do EEP, em relação à testemunha durante todo o experimento, foi de 44,78%, sendo a incidência média na testemunha de 18,11 % e dos tratamentos com aplicação de EEP de 10 % (Figura 3b).

O número de lesões/planta na média das concentrações de EEP foi 29,86% inferior ao da testemunha, sendo de 2,11 o número de lesões/planta na testemunha (sem própolis) e 1,48 na média dos tratamentos onde se aplicou própolis (Figura 4a).

A porcentagem de área foliar lesionada ao final do experimento (%AFLF) teve um comportamento inverso, à medida que se aumentou a concentração de EEP na calda de pulverização final, diminuiu a porcentagem de área foliar lesionada até a concentração de 1,79% de EEP em água, quando a área lesionada voltou a crescer. A área lesionada na concentração mais eficiente foi de 0,28% contra 1,15% da testemunha, ou seja, eficiência de 32,2% (Figura 4b).

Estudo do progresso da cercosporiose em campo (experimento 2)

O período de maior incidência da cercosporiose, em todos os tratamentos ocorreu entre os meses de maio a julho no ano de 2003 (Figura 5). Com o aumento das porcentagens de própolis bruta na confecção do EEP e das concentrações de EEP na calda de pulverização, houve redução na incidência da cercosporiose (Figura 6).A maior incidência e maior área abaixo da curva de progresso da doença para porcentagem de folhas por cercosporiose (AACPD%FL) ocorreu na aplicação do EEP com menor porcentagem de própolis bruta e concentração de 0,01% de EEP na calda de pulverização, com valores acima de 40% de folhas atacadas. As concentrações de 3 e 4% foram as que mais controlaram a doença, verificando-se os menores valores de incidência 46% menor do que a concentração de 0,01% de EEP e as concentrações de 1 e 2% tiveram valores de incidência intermediários entre a testemunha e das concentrações mais altas (Figura 5 e 6). O EEP com 28% de própolis bruta, apesar de não ter diferido estatisticamente dos outros EEPs, foi o mais eficiente no controle da cercosporiose (Figura 6).

Estudo do progresso da ferrugem do cafeeiro em campo (experimento 2)

Com relação à ferrugem, verificou-se que Os EEPs com 16 e 28% de própolis bruta reduziram a incidência da doença em todas as concentrações utilizadas e no EEP com 16% de própolis bruta a fase logarítmica (crescimento da doença) começou em abril e o maior pico da doença ocorreu na testemunha no mês de agosto (Figura 7b).
Com a aplicação de EEP com 28% de própolis bruta verificou-se um atraso do progresso da doença nas concentrações de 3 e 4% de EEP na calda de pulverização. A doença progrediu na concentração de 0,01% entre os meses de abril a maio e nas concentrações 3 e 4% de EEP na calda de pulverização, a doença progrediu de forma menos intensa nos meses de junho-julho. (Figura 7c)

Quanto ao controle da ferrugem, verificou-se que apenas os EEPs confeccionados com 16 e 28% de própolis bruta foram eficientes na redução da incidência desta doença (Figura 7a, 7b e 7c). O EEP com 2,52% de própolis bruta não teve efeito sobre a incidência da ferrugem em nenhuma das diluições utilizadas na calda de pulverização (Figura7a). Com a aplicação dos EEPs com 16 e 28% de própolis bruta verificou-se uma redução linear de 646,42 e 1049,62 unidades de AACPDNFL, a cada 1 % de EEP adicionado à calda de pulverização e nos dois extratos a eficiência de própolis no controle da ferrugem foi em torno de 66% (Figura 8). A severidade das duas doenças não foi alterada com as aplicações do EEP.

DISCUSSÃO

A explicação do efeito do EEP sobre a incidência e a severidade da cercosporiose em mudas e a incidência da ferrugem e da cercosporiose em lavouras cafeeiras pode ser dada por três hipóteses:

A primeira hipótese é que o acúmulo da cera da própolis sobre as folhas teria formando uma camada protetora evitando a penetração dos fungos, assim como promovendo a manutenção de um ambiente, mais favorável para as folhas resistirem à infecção, efeito semelhante ao realizado em frutas, com a cobertura de cera para preservação de frutas em pós-colheita (Davis & Hofmann, 1973). Essa camada que também é verificada, (internamente) com o uso de silício em cafeeiros pode ter tornado a superfície hidrofóbica, impedido a formação do filme de água, importante para os processo vitais da patogênese como a germinação e a penetração, além de permitir o acúmulo de substâncias antifúngicas na cutícula (Pozza et al., 2004).

Pascholati & Leite (1985) citam vários exemplos de patossistemas onde a espessura da cutícula teve efeito sobre a penetração dos fungos. Portanto a cutícula mais espessa com a camada de cera epicuticular mais desenvolvida, pode explicar em grande parte a redução no número de folhas lesionadas (incidência) das duas doenças e lesões por folha (severidade) de Cercospora coffeicola, nas mudas sob a pulverização das concentrações de EEP.

A segunda hipótese seria devido à presença de algum nutriente presente na própolis que estaria aumentando a resistência das folhas, pois se conhece que a nutrição mineral contribui de maneira significativa para reduzir a severidade de doenças como a cercosporiose do cafeeiro (Pozza, 1999). Além disso, sabe-se também da importância e do efeito de certos micronutrientes nos processos de resistência que parece estar relacionada com sua participação em diversos pontos das rotas metabólicas da síntese de fenóis e lignina que estão ligados a resistência de plantas (Grahan & Webb, 1991).Segundo Marschner (1995), Alguns nutrientes, entre eles o Fe, Zn e Cu podem atuar como co-fatores na síntese de enzimas, inclusive naquelas ligadas a patogênese. Trabalhos futuros que identifiquem a presença destes nutrientes na composição da própolis podem fortalecer esta hipótese.

A terceira hipótese, e a mais provável de ter ocorrido, é que a própolis pode ter atuado como um elicitor de resistência, propiciando resistência às plantas por algum mecanismo, que pode estar promovendo maior metabolismo de fenóis, e conseqüentemente aumentando a resistência das plantas a cercosporiose. Assim o EEP teria as mesmas propriedades de conhecidos elicitores como o Bion® ou o BTH. Para estes elicitores algumas enzimas relacionadas ao metabolismo fenólico estão sempre em maior quantidade em plântulas tratadas com BTH em relação às não tratadas, o que sugere uma provável participação de compostos fenólicos complexos, como lignina, no processo de defesa de plantas (Cavalcanti, 2000).

A fungicidas e até mesmo micronutrientes que podem funcionar como co-fatores de várias enzimas envolvidas na síntese de compostos fenólico ou terpenóides, comprovadamente importantes substâncias de defesa de plantas (Aguilar & Resende, 2000). Assim os efeitos do EEP podem ser mais uma vez comparados nas plantas aos efeitos verificados com o uso do silício. Com a presença do silício as plantas aumentam a sua resistência a penetração de patógenos, devido ao aumento do conteúdo de fenóis, a atividade de quitinases, ß-1,3-glucanases, peroxidases, ß-glicosidades, fenilamonia liase e polifenoloxidases (Fawe et al., 1998; Rodrigues et al., 2001; Bélanger & Menzies, 2003).

A incidência da cercosporiose verificada no campo (experimento 2) está de acordo com a literatura, que cita que esta doença ocorre em condições de campo no período entre março e junho (Almeida, 1986). Para a ferrugem, os períodos de aumento da incidência e pontos de máxima incidência também estão de acordo a literatura que relata máxima incidência da ferrugem nos meses de julho a agosto e o aumento da doença, a partir do início do mês de abril, no município de Lavras (Talamini, 1999).


Temperaturas máximas, médias e mínimas (oC) e umidade relativa do ar (%), durante o experimento 1, no interior da casa de vegetação climatizada do Departamento de Fitopatologia da UFLA no período de 01 de julho a 05 de setembro de 2002.

a) Temperaturas mínimas médias e máximas (oC) (a), Precipitação (mm/mês), umidade relativa (%) e umidade relativa (%) (b). Dados coletados na estação meteorológica da Universidade Federal de Lavras no período de 02 de fevereiro e 22 de agosto de 2003.

b)

a)Média da testemunha sem própolis e dos tratamentos com aplicação de EEP, do número de folhas lesionadas/ planta (a) e da porcentagem de folhas lesionadas/ planta (b), pela cercosporiose em mudas de cafeeiro Catuaí vermelho IAC - 99.
b)
a) Média da testemunha sem própolis e dos tratamentos com aplicação de EEP, do número de folhas lesionadas/ planta (a) e da porcentagem de folhas lesionadas/ planta (b), pela cercosporiose em mudas de cafeeiro Catuaí Vermelho IAC - 99.

b)

Estudo de progresso do número da porcentagem de folhas lesionadas pela cercosporiose em cafeeiros em produção, cultivar 'Rubi' em função das concentrações de EEP, independentemente da porcentagem de própolis bruta no extrato.

Área abaixo da curva de progresso da porcentagem de folhas lesionadas por cercosporiose em folhas de cafeeiro 'Rubi' MG - 1192 em lavoura localizada em Lavras-MG no mês de abril (a), mês de maio (b), em função das concentrações de EEP na calda de pulverização.

a) Estudo de progresso do número de folhas lesionadas por ferrugem em cafeeiros em produção, cultivar 'Rubi' em função das concentrações de EEP, a) com 2,52 % (a), 16 % (b) e 28 % (c) de própolis bruta no EEP.

b)

c)

Área abaixo da curva para número de folhas lesionadas por ferrugem do cafeeiro em lavoura em produção cultivar 'Rubi' sob a aplicação de diferentes concentrações de EEP, e diferentes porcentagens de própolis bruta no EEP.

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