Nota

Nosema ceranae: parasita sem fronteiras.

Autor: Lic. Edgardo Gabriel Sarlo (Argentina).
Laboratorio Artrópodos de la Universidad Nacional de Mar del Plata.
Fonte: Apicultura sin Fronteras. www.diarioapicola.com.ar
Noticias Apicolas www.noticiasapicolas.com.ar

A Nosemose é uma parasitose que gera uma grave desnutrição na abelha produtora de mel e, como conseqüência, a morte prematura desta. A colônia (ao menos nos climas temperados) sofre esta enfermidade no outono e primavera, sendo no âmbito produtivo geradora de importantes perdas.

Até o ano 1993 e publicado em 1995, os organismos causadores desta patologia eram Nosema bombi e Nosema apis, ambos Microsporídeos e parasitas específicos dos tratos intestinais dos Bombus (Bombus spp) e as abelhas melíferas européias Apis mellifera respectiva e indiscutivelmente.

Este conceito se manteve até o ano de 1996, quando Fries publica a descrição de um terceiro agente causal, Nosema ceranae, na abelha melifica asiática Apis ceranae. Infecções cruzadas realizadas por este pesquisador (2006) demonstraram que N. ceranae não só se multiplicava na abelha européia senão que também o realiza com uma maior virulência*. Para este ano 2007, Klee apresenta uma situação a nível mundial da presença desta parasita em colônias de A. mellifera destinadas a produção com registros para Europa, na Espanha, França, Itália, Alemanha, Dinamarca, Finlândia, Suisa, Sérvia e Grécia; para Ásia e Oceania, Vietnam e Nova Zelândia e dos registros para América: Estados Unidos e Brasil (São Paulo).

Desde o ano de 1999 o Laboratório de Artrópodos da Universidade Nacional de Mar Del Plata conta com registros desta patologia que não coincidiam exatamente com os sintomas a nível de colônias descritos para N. apis, porém sim com os reportados recentemente para N. ceranae, mortandade sem defecções maciças ("Nosemosis seca" Faucon, 2005). A esta concordância se soma o fato de que quando realizávamos as contas destinadas a determinar a abundância da mostra, observávamos a presença de esporos de um tamanho menor ao padrão, pondo em discussão sua inclusão.

Ao microscópio ótico é praticamente impossível identificar estas duas espécies já que a única diferença reside no tamanho (N. ceranae é em média uma micra menor que N. apis) e só os esporos mais pequenos poderiam considerar-se, resultando este método sem valor taxonômico.

Isto derivou na necessidade de recorrer ao uso da microscopia eletrônica de transmissão o TEM, a qual nos permite obsevar finalmente a estrutura interna dos esporos e poder diferenciar deste modo as espécies por sua morfologia.

Esta situação de desconhecer com que espécie ou espécies se está trabalhando, (particularmente no meu doutorado) motivou a realização (dentro dos poucos recursos disponíveis) de uma seqüência fotográfica de "rastreamento" por TEM da morfologia interna dos esporos presentes no ventrículo da nossa abelha melífera.

Os resultados apresentaram três morfologias diferentes de esporos atribuíveis: Dois a N. apis (exo e endósporos; figs. 2 e 3) e o terceiro a N. ceranae (fig. 4) com base a uma alta concordância morfológica com a informação publicada por Graaf (1994) e Fries nos anos de 1996 e 2006 (fig. 1) e fundamentado principalmente no tamanho e número de voltas do tubo polar assim como a espessura da parede do mesmo.

Também foi realizado microscopia eletrônica de scanning (SEM) com o objetivo de determinar diferenças nos tamanhos e compará-los com os reportados por Mclvor em 1995.

Agora, se encontra desenvolvida outra grande ferramenta, a identificação molecular através de sessões de ADN que são particulares a cada espécie e com uma altíssima exatidão além de permitir processar um grande número de amostras.

Os resultados preliminares aqui expostos sugerem a existência de N. ceranae e N. apis na Argentina, justificando a necessidade de confirmação por métodos moleculares para o nosso território. Para tal fim se conta com membros de laboratório de provada capacidade no tema e, devido ao custo da referida pesquisa, foi solicitado em conjunto com a empresa Reinas Malka um subsídio a Comissão de Investigações Científicas da qual estamos esperando a decisão.

Confirmar definitivamente a presença deste parasita em nossos bancos de esporos purificados e apiários vai mais além de ser um dado episódico-científico se considerarmos o controle farmacológico destinado a produção. Higes em 2006 refere-se a necessidade de doses maiores de "fumagilina" para o seu controle. Ss for assim, se explicariam as falhas na efetividade do fármaco registradas em alguns casos pelo Laboratório durante o controle. A dose recomendada na Argentina não contempla esta possível situação e seu uso por etiquetas poderia gerar sub-dosagens que potenciam a resistência. Assim mesmo deve-se considerar de suma importância o fato da seleção induzida resultado de administrar dose que controlem N. apis e não N. ceranae, permitindo a esta última sua expansão por todo o nosso território.

Por último quero destacar a participação das Licenciadas Mônica Oppedisano e Sandra Médici assim como do Dr. Martin Eguaras na obtenção dos registros dados a conhecer nesta nota, a qual esta sendo gerada por pesquisadores do país para o país.

*Virolência: poder que tem um organismo de produzir uma enfermidade.


Figura 1
Fotografías obtenidas por TEM. Sección de esporos de Nosema ceranae (A) y Nosema apis (B) publicados por Fries (2006). Pf: filamento polar, D: núcleo

Figura 2
Sección de esporo que concuerdan con la morfología descripta para el exosporo de N. apis. Fotografía del autor obtenida por TEM (magnificado x10.000).

Figura 3
Sección de esporo que concuerdan con la morfología descripta para el endosporo de N. apis. Fotografía del autor obtenida por TEM (magnificado x7.500).

Figura 4
Sección de esporo que concuerdan con la morfología descripta para el esporo de N. ceranae. Fotografía del autor obtenida por TEM. (magnificado x 17.500). Nótese la magnificación con respecto a la figura 2.

Figura 5
Aspecto externo de esporo que concuerda (3,35 x 1,9 µm) con el tamaño de N. ceranae (3,35 x 1,9 µm). Fotografía del autor obtenida por SEM (magnificado x 25.000). Nótese parte del tubo polar.

Figura 6
Aspecto externo de esporo que concuerda (4,59 x 2,74 µm) con el tamaño de N. apis. Fotografía del autor obtenida por SEM (magnificado x 17.000).


Bibliografia

Fries, I.; Feng, F.; Da Silva, A.; Slemenda, B.; Pieniazek, N. 1996. Nosema ceranae n. sp. (Microspora, Nosematidae), Morphological and Molecular Characterization of a Microsporidean Parasite of the Asian Honey Bee Apis cerana (Hymenoptera, Apidae). Europ. J. Protistol. 32, 356-365.

Fries, I.; Martìn, R.; Meana, A.; Garcìa, P.; Higes, M. 2006.

Natural infections of Nosema ceranae in European honey bees. J. Apic. Res. 45 (3): 230-233.

Graaf, D.; Raes, H.; Jacobs, F. 1994. Spore dimorphism in Nosema apis (Microsporita, Nosematidae). Developmental Cycle. J. Inv. Pathol. 63, 92-94.

Higes M.; Martín-Hernández R.; Garrido-Bailón E.; Meana A. 2006. An approach to Nosema ceranae control with fumagillin in field condi-tions.Proceedings of the Second European Conference of Apidology EurBee Prague (Czech Republic) 10-16.

Huang, W.; Jiang, H.; Chen, Y.; Wang, C. 2006. A Nosema ceranae isolate from honeybee Apis mellifera. Apidologie 38, 1-8.

Klee, J.; Besana, A.; Genersch, E.; Gisder, S.; Nanetti, A.; Tam, D.; Chinh, T.; Puerta, F.; Ruz, J.; Kryger, P.; Message, D.; Hatjina, F.; Korpela, S.; Fries, I.; Paxton, R. 2007. Widespread dispersal of the microsporidean Nosema ceranae, an emergent pathogen of the western honey bee, Apis mellifera. J. Inv. Path.. En prensa.

Mc Ivor, C.; Malone, L. 1995. Nosema bombi, a microsporidean pathogen of the bumble bee Bombus terrestris (L.). New Zealand J. of Zool. 22:25-31.

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