Artigo

SUBSTITUIÇÃO ARTIFICIAL DE RAINHAS PELO MÉTODO DE DIVISÃO VERTICAL DE COLÔNIAS DE ABELHAS Apis mellifera

Geraldo Moretto1, Roger Strappazon1 e Denílson Bittencourt2
1Departamento de Ciências Naturais, Universidade Regional de Blumenau, 89.010-971 Blumenau-SC.
E-mail: gmoretto@furb.br
2 Associação Blumenauense de Apicultores, Rua Guaramirim, 135, Blumenau-SC

INTRODUÇÃO

Na apicultura, todas as atividades relacionadas à produção de mel e outros produtos dependem da população de operárias de cada colônia de Apis mellifera - colméias populosas, de maneira geral são mais produtivas que outras com pequeno número de operárias.

A população de abelhas de uma colméia, entre outros fatores, depende da capacidade de postura da rainha. Quando as condições ambientais são favoráveis, as rainhas de boa qualidade chegam a realizar uma postura de até três mil ovos por dia (Moeller, 1958; Anônimo, 1986). É também conhecido que a vida útil de uma rainha tem relação com seu período reprodutivo, permanecendo na colônia enquanto possuir um estoque de óvulos suficiente para manter a população de operárias. Ao diminuir o número de óvulos e/ou espermatozóides armazenados na espermateca, a rainha é naturalmente substituída por outra (Severson & Erickson, 1989). Nas condições ambientais onde anualmente ocorre um período prolongado de redução da postura, as rainhas geralmente apresentam maior longevidade - isto é freqüente em regiões com inverno mais rigoroso. Nas condições de clima tropical uma rainha, em média, vive de seis meses a um ano, enquanto nas condições de clima temperado a média é de dois anos (Crane, 1990).

Na apicultura é importante trabalhar com colônias de abelhas com rainhas jovens pois estas geralmente apresentam maior atividade de postura. Por isso, a substituição periódica de rainhas é uma prática de extrema importância para o desenvolvimento das colônias de abelhas. Entretanto, mesmo conhecendo as vantagens da troca de rainhas, muitos apicultores não usam essa prática como rotina em seus apiários.

A substituição de rainhas primeiramente começa com a sua retirada da colméia (orfanização), o que exige prática para visualizá-la entre milhares de operárias, principalmente se ela não está marcada. Outro problema existente entre os apicultores, quando desejam substituir rainhas, é a dificuldade de produzir ou adquirir rainhas novas. Todavia, a substituição artificial de rainhas não necessariamente é a simples troca por outra. Uma vez que uma colônia de abelhas é orfanizada, e nela existir crias de até três dias de idade, uma nova rainha será criada pelas operárias, sem o apicultor se preocupar em introduzir uma rainha nova. Porém, novamente o problema está em encontrar a rainha para retirá-la da colméia.

Uma prática relacionada à produção de rainhas muito realizada pelos apicultores é a divisão horizontal das colméias de abelhas, que se caracteriza pela separação horizontal das colméias mãe e filha. Assim, a parte da colmeia dividida que ficar sem a rainha produzirá uma outra. Portanto, esse é um procedimento simples para a produção de rainhas novas, com a vantagem de não ser necessário procurar pela rainha da colônia a ser dividida. Porém, a produção de rainhas por esse procedimento resulta na formação de duas colônias (uma de rainha nova e a outra com a velha) que repercute no aumento do número de colmeias que nem sempre vão de encontro às necessidades do apicultor.

O método horizontal de divisão de colméias de abelhas exige que após a separação, uma das partes deverá ser deslocada pelo menos alguns metros do local de origem da colméia que é dividida, portanto, isso demanda espaço no apiário ou buscar outros lugares fora dele. Quando o deslocamento de uma das partes ocorre dentro do próprio apiário, o sucesso será maior se a parte deslocada é aquela com a rainha, o que também exige a localização da rainha.

A divisão vertical da colmeia, diferente do método horizontal, não exige deslocamento lateral de nenhuma das partes resultante da divisão - as colmeias mãe e filha, ficam alocadas uma sobre a outra. Neste trabalho é mostrado que a utilização do método vertical de divisão de colméias, permite a substituição de rainhas sem a necessidade de localizar a rainha a ser substituída.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado nas condições climáticas de Blumenau, estado de Santa Catarina. O novo método de substituição de rainhas foi testado em 37 colônias de abelhas africanizadas ( ninhos Langstroth) nos meses de janeiro e fevereiro de 2005 e 2006.

No site www.furb.br/genetica/rainha pode ser visualizado o procedimento de substituição de rainhas pelo método de divisão vertical. O método é realizado seguindo os seguintes passos: (i) no lugar da colméia a qual se pretendia substituir a rainha (denominada colméia mãe) é colocado um ninho (colméia filha). Aproximadamente 75% dos favos, sem abelhas adultas, foram retirados da colméia mãe e transferidos para colmeia filha. Entre os favos transferidos necessariamente havia a presença de ovos e/ou cria de operárias com até três dias de idade. A direção da entrada da colméia filha era exatamente aquela que se encontrava a colméia mãe. (ii) A colméia mãe com o restante dos favos, a rainha e toda população de abelhas adultas, era colocada sobre a colméia filha, porém, com a entrada posicionada no sentido contrário. A nova posição da entrada da colméia mãe fazia com que grande parte da população de abelhas adultas ao sair da colméia para realizar as atividades de campo retornassem à posição original a qual se encontrava a colméia filha - assim era povoada a colméia filha, porém, ainda com a rainha a ser produzida. A produção de novas rainhas foi analisada pela presença de postura trinta dias após a formação da colméia filha.

RESULTADOS

Entre as 37 colmeias testadas quanto a substituição de rainhas utilizando-se o método de divisão vertical, todas produziram células reais (realeiras). Embora nesse trabalho não se tenha realizado a contagem e nem medições, várias realeiras com tamanhos variados foram observadas em cada colméia testada.

Trinta dias após a orfanização, quando as colméias foram inspecionadas para avaliar a presença de rainhas através da postura das mesmas, verificou-se que (92%) estavam com rainhas novas. As três colméias que estavam sem rainhas receberam outro favo com cria jovem transferido da colmeia mãe. Após trinta dias, em uma delas verificou-se a presença de uma rainha fecundada. Portanto, entre trinta e sete colméias testadas a substituição de rainhas ocorreu em trinta e cinco (94%).

DISCUSSÃO

A substituição periódica de rainhas constitui uma importante prática de manejo na apicultura, principalmente na produção de mel. Embora a vida das rainhas pode até ser superior a dois anos, após o primeiro ano começa a diminuir a atividade de postura. Colméias de abelhas com rainha novas, de maneira geral, são mais populosas e menos propensas a enxamearem. Por isso, segundo Silva (2006) a substituição de rainhas deve ser realizada em intervalos regulares, cuja duração depende da raça de abelhas e das condições climáticas onde está instalado o apiário- no Brasil recomenda-se que a rainha seja substituída anualmente.

Apesar das inúmeras vantagens que os apicultores tem ao fazer substituição periódica de rainhas, poucos usam fazê-la como rotina do exercício da apicultura. No Brasil, estima-se que menos de 10% dos apicultores fazem regularmente substituição de rainhas (Anderson, 1990 apud Cunha,2005). Em Santa Catarina, embora a apicultura é uma atividade exercida há muitos anos, menos de 10% dos apicultores fazem regularmente substituição de rainhas (Geraldo Moretto; dados não publicados). Vários fatores tornam a substituição de rainhas uma prática restrita a alguns profissionais da apicultura. Muitos apicultores reconhecem a importância dessa atividade, porém, vários deles relatam dificuldades que vão desde orfanizar uma colméia e produzir ou adquirir rainhas novas.

Todos os métodos artificiais de substituição de rainhas começam com a orfanização da colmeia. Após essa etapa, acontece a substituição que pode ocorrer de várias maneira: (i) uma nova rainha pode ser originada pelas operárias da colônia orfanizada, (ii) introdução de realeiras e (iii) introdução de rainhas virgens ou fecundadas. A troca de rainha pela produção de uma nova em colméias orfanizadas parece ser o método mais simples e bastante eficiente, onde o apicultor não precisa dominar nenhuma técnica de produção de rainhas e nem adquirir-las de produtores. Sendo a rainha nova produzida pela própria colmeia não há risco de rejeição como ocorre em colméias onde a substituição se dá pela introdução de novas rainhas. A introdução de realeiras também não oferece riscos de rejeição por parte das operárias, porém, exige do apicultor o domínio de sua produção.

A introdução de rainhas virgens, apesar de muito utilizada mundialmente, não é um método totalmente seguro, as rainhas introduzidas podem não ser aceitas nas colônias receptoras.. Segundo Duay (1994) a aceitação de rainhas virgens varia de 30% a 90%, sendo o sucesso desse tipo de introdução associado a fatores ambientais, ao estado da rainha introduzida e das condições da colméia que recebe a nova rainha. Além disso, a introdução de rainhas virgens também exige que o apicultor domine a técnica de produzi-las ou que o mesmo possua algum fornecedor que possa atendê-lo quanto a demanda e ao cronograma previsto para a substituição.

O sucesso na substituição de rainhas só é alcançado quando uma nova iniciar a postura, o que exige que a mesma seja fecundada. Experimentos que avaliaram o sucesso na fecundação de rainhas mostram que aproximadamente 30% não retornam a colméia de origem (Teixeira, 1993). Assim, a introdução de rainhas já fecundadas torna a atividade de substituição mais segura. Entretanto, no Brasil, a baixa comercialização de rainhas fecundadas torna difícil sua aquisição por parte do apicultor.

Todos os métodos de substituição de rainhas começam com a orfanização da colmeia, uma dificuldade para apicultores menos experientes. Em Santa Catarina, aproximadamente 15% dos apicultores responderam que não usam fazer substituição de rainhas devido a dificuldade de orfanizar a colmeia (Geraldo Moretto: dados não publicados).

Sabemos que, apesar de excelente flora apícola, a produtividade do mel no Brasil ainda é baixa. A produção média nacional por colmeia é inferior a do Uruguai e Argentina. Isso mostra que a produtividade deve ser melhorada para que a apicultura brasileira se torne competitiva em nível internacional. Nesse contexto a atividade de substituição de rainhas em intervalos regulares de tempo se torna fundamental. Portanto, dado a importância do exercício de uma apicultura realizada com colméias de abelhas que tenham rainhas com alto potencial de postura, a substituição periódica de rainhas terá que ser uma prática de manejo cada vez mais freqüente entre os apicultores brasileiros.

A substituição de rainhas pelo método de divisão vertical de colméias, oferece vantagem de orfanizar a colméia sem a necessidade de procurar a rainha velha - em poucos minutos é originada uma colméia órfã (colmeia filha). Como o método conserva a rainha velha junto a colméia mãe (localizada sobre a colmeia filha), caso após trinta dias de orfanização a colmeia filha não tenha gerado uma rainha fecundada, ainda há tempo para uma nova tentativa, basta transferir um favo com cria jovem da colméia mãe para a filha. Outra vantagem do método é que ele facilita a união das colméias mãe e filha quando na colméia filha a produção da nova rainha não ocorrer com sucesso, evitando dessa maneira a perda da colônia de abelhas.

Desde que a colmeia filha possuir uma rainha nova em postura duas opções podem ser seguidas. A primeira consiste na orfanização da colmeia mãe e posteriormente fazer a união entre as duas colméias. A outra é dar condições de desenvolvimento da colmeia mãe e uni-la à colmeia filha quando iniciar o período de fluxo de néctar. Assim, são originadas colmeias com grande população de abelhas adultas o que levará a uma maior produção de mel.

Referências Bibliográficas

ANÔNIMO (1986) Tropical and subtropical Apiculture. FAO Agricultural Services Bulletin No 68 Rome, Italy. 283 pp.

CRANE, E. (1990) Bees and Beekeeping: Science, Practice and and World Resources 1st ed. Heinemann Newnes London.

CUNHA, J.S.C. (2005) Criação de rainhas africanizadas no sul do Brasil. Disponível em: Acessado em: 19/03/2007.

DUAY, P.R.(1994) Introdução e fecundação de abelhas rainhas de Apis mellifera. Anais do X Congresso de Apicultura, Pousada do Rio Quente- GO.

MOELLER, F.E. (1958) Relation between egg-laying capacity of queen bees and population and honey of their colonies. Am. Bee J. 98: 401-402.

SEVERSON, D.W.; ERIKSON, E.H. (1989) - Seazonal constraints on mating and insemination of queen bees in a continental climate. Apidologie, 20:21 - 27.

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KERR, W.E..; GONÇALVES, L.S.; BLOTTA, L.F.(1970) Biologia comparada entre abelhas italianas (Apis mellifera ligustica), africana (Apis mellifera adansoni) e seus híbridos. Anais do 1º congresso de Apicultura. Florianópolis-SC, Brasil, p. 151 - 185).

SILVA,E.C.A. (2006) Técnicas de substituição de rainhas. Mensagem doce, 88: 2 - 6.

TEXEIRA, M.V. (1993) Aspectos comportamentais e fatores que influenciam na fecundação natural de rainhas Apis mellifera (Hymenoptera:Apidae), em região neotropical. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Filosofia Ciências e Letras-USP, 124pp.

WOYKE, J.(1971) - Correlation beetwen the age honeybee brood was grafted, characteristics of the resultants queens and result of insemination. J. Apic. Res. 10: 45 - 55.

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