Artigo

Ocorrência de larvas de mosca (Diptera - Hermetia illuscens) em colônias de abelhas nativas Tertragonisca angustula.

Maria da Gloria Oliveira Rademaker Itagiba 1; Rosangela Fonseca Teixeira de Freitas1; Dione Maria Firmino Pinto da Costa 1 ; Jose Carlos Coelho da Rocha1 & Gláucio Luis Mata Mattos 1
1 Faculdade de Ciências Agro-Ambientais, Av. Brasil nº 9.727 , Penha - Rio de Janeiro - RJ
www.mg.itagiba@ig.com.br

Resumo

o objetivo desse estudo foi relatar a ocorrência de larvas de moscas encontradas em colônias de abelhas jataí (Tetragonisca angustula) no Meliponário da Faculdade de Ciências Agro-Ambientais, no Rio de Janeiro. Foram coletadas larvas grandes dentro das colméias, próximo a área da lixeira e junto aos potes de pólen bem como saindo pelos tubos de entrada. As larvas foram identificadas como Hermetia illuscens (Díptera), que ocasionalmente podem se instalar em colônias de abelhas (Meliponíneos) para fazer a postura de seus ovos e isto pode ocorrer desde que as sentinelas permitam a entrada dessas moscas. Dependendo do estado da colônia e do grau de infestação, ela poderá ser aniquilada ou não. Por isso, recomenda-se que durante o processo de instalação das colméias, deve-se ter cuidado na escolha do local e durante a pratica de revisão, ao se constatar a presença dessas larvas dentro das colméias, elas devem ser removidas imediatamente.

Palavras-chave: Tetragonisca angustula, meliponineos, abelhas nativas

Abstract: The objective of this study was to verify the occurrence of the larvae flies inside stingless bees colonies, jataí (Tetragonisca angustula) at Faculdade de Ciências Agro-Ambientais in Rio de Janeiro. Big larvae were collected inside bees colonies, near of wasting area, together with the pollen pots as well as in the colonies' s entrance. The larvae were identified as Hermetia illuscens (Diptera). This specie occasionally get in the colonies in order to hatch its eggs and this can happen as long as guard bees let these flies come in. The colonies will be annihilated or not, depending on their conditions and the infestation degree. That's why, during the installation process of the colonies it is necessary to choose carefully the right place and remove immediately the larvae identified.

Key words: Tetragonisca angustula, meliponineos, native bees

Introdução

Tetragonisca angustula conhecida como abelha jataí é uma das espécies de abelhas nativas de ampla ocorrência em nosso território.

As abelhas sem ferrão (Meliponinae) vivem com certa quantidade de organismos associados a elas, que podem se tornar inquilinos de suas colméias, tais como: fungos, bactérias, ácaros e uma grande variedade de insetos.

Estudos de Machado, 1971 e Fernandes da Silva & Zucoloto, 1994 sugerem que certos microrganismos associados ao pólen são responsáveis pelo processo de fermentação, e que os meliponíneos vivem em simbiose com eles no interior de suas colméias.

Segundo Peruquetii (2004) alguns insetos associados as colméias de meliponíneos podem ser parasitas, predadores e são generalistas em relação a seus hábitos, tais como: as formigas (Hymenoptera: Formicidae, Ecitonini e Camponini, principalmente), percevejos predadores (Hymenoptera: Reduviidae) algumas vespas sociais (Hymenoptera: Polistini e Epiponini) e alguns dípteros predadores. No entanto, para o autor também podem ser encontradas relações comensais entre meliponíneos e algumas formigas, cupins, cigarrinhas e besouros.

Em relação aos dípteros, os forídeos (Díptera: Phoridae) que são moscas pequenas, algumas vezes são encontrados em colônias de meliponíneos que estão fracas ou desorganizadas como acontece quando se faz a transferência de uma colônia para uma colméia racional ( NOGUEIRA-NETO, 1997). Geralmente essas moscas pequenas atacam os potes de pólen, local onde suas larvas se desenvolvem. O ataque muito grande desses forídeos , principalmente do gênero Pseudohypocera pode destruir colônias inteiras de meliponíneos. As suas larvas alimentam-se de pólen, larvas e pupas de abelhas causando sérios danos à colônia (AIDAR, 2000). Já o forídeo Melaloncha sinistra foi mencionado por Simões et al, 1980 como sendo um endoparasita de abelhas operárias de Scaptotrigona postica.

Outro díptero conhecido como a mosca grande (Hermetia illuscens) é mencionado por Nogueira-Neto (1997) como mais um inquilino do que um inimigo. Porém em certas circunstancias, pode destruir as colméias como é relatado pelo autor o ataque dessa mosca ocasionando perda de colônias de Frieseomelitta flavicornis.

As larvas de Hermetia illuscens vivem de detritos orgânicos na região sudeste e no planalto central do Brasil.

Material e Métodos

Esse trabalho foi realizado no meliponário da Faculdade de Ciências Agro - Ambientais localizado na cidade do Rio de Janeiro, em março de 2004, quando foram observadas larvas grandes de inseto em duas colônias de abelhas Tetragonisca angustula que estavam instaladas em colméias tipo PNN (Paulo Nogueira-Neto) próximas a uma área em que foi realizada compostagem que utilizava detritos de animais.

Foram coletadas larvas no interior das colméias, próximo a área da lixeira e junto dos potes de pólen, assim como saindo pelo tubo de entrada. As larvas foram colocadas dentro de um recipiente contendo meio líquido (álcool a 70%) para serem examinadas e identificadas posteriormente.

Resultados e Discussão

As larvas que foram encontradas nas colônias de abelhas Tetragonisca angustula foram identificadas como Hermetia illuscens (Díptera). Elas apresentavam o corpo achatado, coloração pardo-escura, com cerca de 2 cm de comprimento e com uma serie de segmentos bem marcantes, sendo considerada larvas grandes.

As larvas de Hermetia illuscens foram encontradas dentro das colméias e fora delas, saindo pelo tubo de entrada. Porém não foram observadas nos invólucros dos favos de cria. Tanto nas melgueiras como nos ninhos, os potes de alimentos apresentavam-se com aspecto úmido pelo lado externo. Os méis contidos nesses potes apresentavam-se espumantes e com odor de fermentação.

Todas as larvas encontradas foram retiradas das colméias e um mês depois, após uma revisão foi constatado que o aspecto dos potes de alimentos foi normalizado, desaparecendo também o odor e o aspecto espumante. Não foi encontrada nenhuma larva de Hermetia illuscens nas colméias e as atividades das abelhas apresentavam-se sem alterações.

O meliponicultor deve adotar medidas preventivas como manter colônias fortes que possam ser capazes de tapar as frestas das colméias e se defenderem dos invasores, além de evitar que as colméias sejam instaladas próximas a estábulos, pocilgas ou áreas que contenham detritos orgânicos de animais para evitar a presença da mosca Hermetia illuscens (Díptera) que poderá ocasionalmente nelas se instalar para fazer a postura de seus ovos, como também menciona Nogueira-Neto (1997). Isto pode ocorrer desde que as sentinelas permitam a entrada dessas moscas e dependendo do estado da colônia, ela poderá ser aniquilada ou não. Para a mosca Hermetia illuscens, a sobrevivência e o oportunismo tornam-se facilitados com o aproveitamento desse meio.

Conclusões

Hermetia illuscens pode ser considerada como um inquilino de colméias de abelhas nativas. No entanto, dependendo do grau de infestação e das condições das colônias pode causar sérios danos. Para evitar isso, recomenda-se que durante o processo de instalação das colméias, deve-se ter cuidado na escolha do local, assim como durante a pratica de revisão ao se constatar a presença de larvas grandes e achatadas no interior das colméias, elas devem ser logo removidas.

Referências bibliográficas:

AIDAR, D. S. Controle de forídeos (Pseudohypocera Kertesi). Apacame . n.56 p.8-12. 2000.

FERNADES-DA-SILVA, P. G. & ZUCOLOTO, F. S. Influência de microrganismos no valor nutritivo do pólen para Scaptotrigona depilis, Moure (Hymenoptera, Apidae). In: 1º Encontro sobre abelhas em Ribeirão Preto. 1994. Anais. Ribeirão Preto - SP. 1994. p.232-242.

MACHADO, J. C. Simbiose entre abelhas sociais brasileiras (Meliponinae, Apidae) e uma espécie de bactéria. Ciência e Cultura. São Paulo, V.23 nº 5 p.625-633. 1971.

NOGUEIRA-NETO, P. Vida e criação de abelhas indígenas sem ferrão. Editora Nogueirapis.1997. 446 paginas.

PERUQUETTI, R. C. Contribuição ao estudo de microrganismos e arthropodes associados as abelhas sem ferrão (Hymenoptera:Apoidea). Disponível em: 2004. Acesso em: 11 de setembro de 2004.

SIMÕES, D.; REGO, L.R.; ZUCCHI, R. & SAKAGAMI, S. F. Melaloncha sinistra Borgmeier, an endoparasitic phorid fly attacking Nannotrigona (Scaptotrigona) postica Latreile (Hymenoptera, Meliponinae)). Revista Brasileira de Entomologia. v.24, n.2, p.137-142. 1980.

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