Artigo

MÉTODO PARA INTENSIFICAR A PRODUÇÃO DE PRÓPOLIS: O QUADRO COLETOR "TIRA E PÕE"

Deodoro Magno BRIGHENTI 1;
Francisco Chaves dos SANTOS 2;
Carla Regina Guimarães BRIGHENTI 3.
1Doutorando em Entomologia - UFLA e-mail: deodoro_santos@yahoo.com.br
2Técnico em agropecuária -Fazenda Vista Alegre
3Professora da EPCAR/ Doutoranda em Estatística e Experimentação Agropecuária - UFLA


1. INTRODUÇÃO

As pesquisas referentes à utilização da própolis aumentaram substancialmente e com resultados altamente positivos, proporcionando uma procura maior pelo produto in natura, para a sua comercialização, no Brasil e no exterior, tornando-o um atrativo no incremento da exploração econômica do setor apícola. No entanto, existem poucas informações sobre como produzir tecnicamente e comercialmente a própolis.

Nos últimos anos, constatou-se um grande aumento do número de apicultores no Brasil com colméias aproveitando extensa área territorial e diversidade de plantas nectaríferas, poliníferas e propoliníferas (Kiss, 2002), ocasionando um aumento na produção da própolis nos últimos dez anos, sendo o terceiro maior produtor mundial, chegando a 150 toneladas anuais. Desse volume, dois terços são destinados à exportação, principalmente ao Japão, Estados Unidos, Alemanha e China. O Japão é o principal importador deste produto apícola brasileiro e, de acordo com Abreu (1997), dados da Japan Trade Organization (JETRO) indicam que, 92% de toda a própolis in natura consumida é de origem brasileira. O comércio Brasil /Japão de própolis movimenta cerca de 300 milhões de dólares por ano (Toledo, 1997; Apis Flora, 2005; Michelin, 2005).

2. PRODUÇÃO DE PRÓPOLIS

A produção da própolis é afetada por técnicas adotadas e que possam incrementar a produção, inclusive no manejo da colméia pelo apicultor em relação aos enxames, sendo poucos os trabalhos relacionados com a produção e produtividade. Hoje em dia, as principais linhas de pesquisas em relação à própolis estão fundamentadas em estudos relacionados à atividade farmacêutica e potencial biológico do produto.

Vários dispositivos foram criados para induzir e intensificar a produção de própolis (Iannuzzi, 1983; Breyer, 2000 e Moura, 2001). Dentre as técnicas mais utilizadas para incrementar a produção de própolis destacam-se:

a) uso de tela plástica entre a melgueira e a tampa;

b) calços entre as melgueiras, ninho, fundo e tampa em torno de 1,0 a 2,0 cm;

c) aumento de 2,5 a 3,0 cm na abertura do alvado;

d) uso de cunhas de madeiras entre a tampa e a última melgueira;

e) abertura de frestas laterais nas melgueiras com inserção de um quadro móvel;

f) uso de quadro móvel entre a melgueira e a tampa;

g) tampa coletora acoplada acima da melgueira;

h) coletor de própolis inteligente;

i) aberturas de uma ou duas frestas de 2,8 cm nas laterais das melgueiras adaptadas do coletor de própolis inteligente.

De acordo com Prost-Jean (1985), uma colônia pode produzir em torno de 300 g de própolis por ano. Pidek (1987) avaliou o tempo de coleta de própolis em minutos de quatro colméias e obteve resultados de 0,35; 1,19; 3,05 e 3,60 g/min.

Meda e colaboradores (1994) obtiveram uma produção média por colônia/ano em torno de 35 a 300 g/colônia. No entanto, Breyer (1995), com a implementação de técnicas de estímulo, obteve produções em média de 700 g/colméia/ano.

Em pesquisas realizadas por Garcia e colaboradores (1997), utilizando o coletor de própolis inteligente, nas colméias, em apenas duas estações, a produção foi de 560 g em média, com expectativa de 1000 g/colméia/ano.

Conceição (1998), trabalhando com o coletor de própolis Pirassununga obteve, em trinta dias, placas de própolis com peso aproximado de 100 gramas.

Segundo Tziortzis (1999), utilizando a tampa protetora de própolis (Tamprópolis) seria possível coletar 250 g/colméia/mês.

Brighenti e Brighenti (2000) adaptaram um coletor de própolis baseado no modelo de aberturas laterais nas melgueiras (coletor de própolis tipo Pirassununga), obtendo em 25 dias, placas de coloração uniforme com média de 140 g.

Almeida e colaboradores (2000) mencionaram que somente 25% das colônias avaliadas produziram própolis, com média de 87,45 g/colônia, sendo a produtividade de mel (26,98 kg/colônia) altamente significativa (2,04 vezes maior que as colônias que não produziram própolis).

Matias (2004) relatou que na região de Itapecerica, Minas Gerais, a produção de própolis está em torno de 30 ton/ano e com uma produção de 1,5 a 3,0 kg/colméia/ano.

O aumento na produção de própolis é uma meta para muitos apicultores, sendo necessário o desenvolvimento de novas técnicas para coleta de própolis. A sua produtividade é variável, dependendo do manejo, região, estação, espécie de abelha e de vegetal e forma de coleta. Breyer (2003) afirmou que, ao avaliar os principais métodos de produção de própolis, a preferência residiu naqueles onde o coletor podia ser retirado da colméia e substituído, e a própolis coletada em local apropriado devido às facilidades de manuseio e ausência de abelhas.

3.O QUADRO COLETOR TP

Figura 1 - Esquema para
montagem do quadro coletor TP


A técnica utilizada para indução da propolização proposta neste trabalho é a utilização de abertura de frestas laterais no centro das melgueiras, com dimensões de 4 x 48 cm, onde é inserido um quadro móvel para a coleta da própolis denominado "quadro coletor TP" ou coletor "Tira e Põe" (Figura 1).

Os quadros coletores aqui apresentados apresentam peças laterais de 2,5 cm altura na parte interna e 2 cm na parte externa, comprimento de 4 cm e 2 cm de largura; barra superior e inferior de 52 cm de comprimento (maior que o comprimento da lateral da melgueira, facilitando a retirada), 0,75 cm de altura e 2 cm de largura. O quadro possuindo essas dimensões deve ser inserido na fresta aberta na melgueira adaptada (Figura 2).

Figura 2 - Melgueira adaptada com fresta
lateral para encaixe do quadro coletor TP


A altura maior da peça lateral no lado interno do coletor faz com que o mesmo adquira uma flexibilidade adequada e obtenha uma largura maior do que a abertura da melgueira adaptada de modo que, o quadro coletor deve ser inserido fazendo-se uma pequena pressão no centro, evitando-se dessa forma que o coletor caia da melgueira.

A cada revisão, o apicultor deve levar quadros coletores vazios em número suficiente para substituir os quadros coletores com a própolis produzida. O prazo entre as trocas deve variar de acordo com o apiário, vegetação, região e a época do ano.

A utilização desse quadro coletor pode trazer ao apicultor inúmeras vantagens. Destaca-se entre elas:

Figura 3 - Colmeia com quatro
melgueiras e oito quadros coletores TP


1.Facilidade de controlar a produção por enxame e apiário (Figura 3);

2.Fora da safra ou para transporte, fecha-se as frestas de 4 cm com um sarrafo;

Figura 4 - Colmeia com duas melgueiras
e seis quadros coletores TP


3.Redução de melgueiras, adapta-se até quatro coletores TP`s por melgueira (Figura 4);

4.Não há mutilação ou mortalidade de abelhas na hora da coleta (Figura 5);

5.A própolis não é contaminada por fumaça e fuligem;

6.A coleta não é influenciada pela temperatura externa;

7.Rapidez de coleta e baixo custo dos quadros coletores;

Figura 5 - Produção de própolis
por Apis mellifera L. no quadro coletor TP


8.A melgueira pode ser pintada ou banhada sem risco de contaminação da própolis;

9.Sem riscos de acidentes no campo com material cortante;

10.Posição corporal mais adequada;

11.Não atinge os favos internos das melgueiras com objetos cortantes durante a retirada;

12.Não danifica a melgueira durante a retirada do coletor (Figura 6);

Figura 6 - Apicultor retirando o quadro
coletor TP com a própolis produzida


13.A própolis não cai no interior das melgueiras e ninhos;

14.As tiras de própolis podem ser cortadas na casa de mel (Figura 7);

Figura 7 - Quatro quadros coletores TP
retirados de uma mesma colmeia


15.Maior uniformidade das tiras de própolis;

16.Não possui impureza e restos de madeira (Figura 8).

A produção por caixa utilizando esses coletores nos apiários localizados no Campo das Vertentes em Minas Gerais chegou a 6,3 kg /ano em algumas colméias. O peso médio por tira de própolis produzido com o coletor "tira e põe" foi de 40 g e o coletor ficou completamente preenchido em apenas 3 dias no período da safra e cerca de 15 dias na entressafra. Algumas colméias chegam a produzir oito tiras completas por semana no período da safra.

Figura 8 - Tiras de própolis
retiradas do quadro coletor TP
na sala de coleta


Num total de 102 colméias, apenas 69 produziram própolis totalizando 155 kg em 8 meses segundo a distribuição mensal fornecida na Tabela 1. Durante o período de safra analisado a produção média foi de 2,25 kg/colméia/safra. No período de julho a outubro a produção de própolis decai devido a dois fatores: aumento da produção de mel nos dois primeiros meses citados e; manejo com redução das melgueiras por causa da cria ensacada brasileira em setembro e outubro, época de florescimento do barbatimão (Stryphnodendron adstringens M.).

Tabela 1 - Distribuição Mensal da Produção de Própolis em 69 colméias.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Departamento de Entomologia da Universidade Federal de Lavras pelo apoio.

Aos cooperados da COAPSUL - Cooperativa Sul Mineira de Apicultores Ltda, pelo incentivo e contribuições à pesquisa.

Ao amigo Paulo Roberto Peloso, apicultor de Campo do Meio -MG, pelas sugestões para ajustes no quadro coletor "Tira e Põe".

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