INTRODUÇÃO
A criação de abelhas sem ferrão se constitui em atividade tradicional em quase todas as regiões do Brasil, sendo prática desenvolvida ao longo do tempo por pequenos e médios produtores (Alves, 1996). É praticada principalmente na região Nordeste com algumas espécies do gênero Melipona, que apresentam porte avantajado e armazenam boa quantidade de mel (Cortopassi-Laurindo & Macêdo, 1998).
Objetivando o sucesso da exploração racional e da conservação de espécies de abelhas sem ferrão, diversos estudos têm sido realizados buscando determinar a flora visitada para a coleta de recursos tróficos, as características do mel e a abundância de ninhos em ecossistemas naturais e urbanos (Taura & Laroca, 1991; Piva & Kleinert, 1992; Carvalho & Marchini, 1999; Carvalho et al., 1999).
Dentre as espécies conhecidas, a uruçu (Melipona scutellaris Latreille, 1811) destaca-se como uma das principais espécies criadas em cortiços e em colméias nas zonas rurais e urbanas do Nordeste do Brasil (Nogueira Neto et al., 1986; Kerr, 1998).
Na região do Litoral Norte do Estado da Bahia ninhos desta espécie ainda são encontrados com certa freqüência em seu habitat natural e/ou em cortiços, despertando o interesse de agricultores locais que visam a sua criação para a produção de mel, o ecoturismo e a própria preservação da espécie.
Amostras de mel provenientes desta região foram analisadas, visando obter informações sobre as propriedades físico-químicas e as plantas visitadas para a coleta de néctar, por meio da análise dos tipos polínicos (Marchini et al., 1998; Carvalho et al., 2001). No entanto, informações sobre as espécies vegetais utilizadas para a nidificação são pouco conhecidas, embora sejam importantes para estudos de preservação dessas abelhas, além de possibilitar a con-servação da própria espécie vegetal, quando utilizada em programas de reflorestamento (Kerr et al., 1996).
O desmatamento, a especulação imobiliária, o reflorestamento e o plantio de coqueiros contribuem para a redução da Mata Atlântica, habitat natural da uruçu no litoral nordestino. A redução dessa vegetação reduziu a disponibilidade de ocos com dimensões consideradas adequadas a instalação das colônias naturais
Com o aumento da área cultivada com o coqueiro, uma opção de substrato surgiu na região. Os ocos são construídos por insetos conhecidos como brocas do coqueiro (Coleoptera: Curculionidae), principalmente Rhyncom-phorus palmarum (broca-do-olho), que deposita os ovos nas axilas das folhas gerando larvas que causam galerias utilizadas por outros insetos e patógenos. Outra broca importante é o Rhinostomus barbirostris (broca-do-tronco), que perfura diretamente o tronco cavando as galerias. A ação desses insetos sobre o estipe dos coqueiros permite a penetração da umidade pelo orifício, facilitando o apodrecimento da parte central, proporcionando condições
da abelha ampliar a cavidade utilizada. De acordo com Santos (1985), o mesmo não poderia ser feito em cerne sadio.
Este estudo teve por objetivo obter informações sobre o desenvolvimento das colônias de M. scutellaris que nidificam em coqueiros na região do Litoral Norte do Estado da Bahia.
MATERIAL E MÉTODOS
Este trabalho foi de-senvolvido nos municípios baianos do Conde (11º48'S; 37º37'W), Mata de São João (12º32'S; 38º18'W) e Camaçari (12º48'S; 38º15'W), em áreas cultivadas com coqueiro (Coccus nucifera L.). Esses municípios são considerados importantes produtores de coco seco, além de explorar o turismo na região do litoral. Apesar de parte da sua vegetação original ter sido substituída por plantações de coqueiro, ainda existe área com matas primárias.
Para a localização das colônias de M. scutellaris foram realizadas entrevistas e incursões em meio aos coqueirais acompanhadas de moradores da região.
No município do Conde foram realizadas incursões na Fazenda Grota da Onça e Cangurito, enquanto que, no município da Mata de São João foram observadas plantações localidades na Praia do Forte e na Barra do Pojuca. Em Camaçari as observações foram realizadas na localidade de Cascalho Branco.
Após a localização dos ninhos foi realizada uma avaliação das condições das árvores. Os coqueiros foram cortados para as medições das dimensões externas da planta, dimensões dos ninhos, quantificação e volume/massa dos potes de alimento.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Um total de oito colônias foram localizadas, sendo que seis foram encontradas em coqueiros com mais de 20 anos de idade e duas em plantas com menos de 10 anos.
Devido ao reduzido diâmetro do oco apresentado pelos coqueiros (Tabela 1), as abelhas ocupam toda a cavidade em pouco tempo (Tabela 2), produzindo favos de pequeno diâmetro e em maior número do que nos ocos mais espaçosos (Tabela 3). Para colônias desta espécie instaladas em caixas racionais, o favo de cria pode chegar a 20cm de diâmetro e nor-malmente são encontrados entre sete a oito favos.
CONCLUSÃO
1 - A nidificação da abelha uruçu está condici-onada a presença de danos causados por insetos pragas do estipe do coqueiro;
2 - O coqueiro constitui uma opção para nidificação de M. scutellaris no litoral baiano devido à baixa diversidade de espécies arbóreas com cavidades de maior diâmetro;
3 - O reduzido diâmetro e comprimento do oco do coqueiro proporciona uma baixa produção das colônias.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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