Artigo

DESENVOLVIMENTO E SELEÇÃO DE ABELHA AFRICANIZADA INFESTADA COM Varroa destructor ¹

Adhemar Pegoraro²; Anselmo Chaves Neto³; Sonia. M. N Lazzari 4.
1 Resumo da dissertação do primeiro autor.
2 Eng. Agrônomo Dr. Professor de Apicultura do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Paraná, rua Marco Pollo, 717 casa 08, Curitiba, Paraná CEP 82820260, apegoraro@terra.com.br
3 Eng Civ Dr. Professor do Departamento de Estatística-UFPR anselmo@est.ufpr.br C.P. 19081 Centro Politécnico Curitiba PR
4 Entomologista. Departamento de Zoologia - UFPR, Caixa Postal 19020, CEP 81531-980 Curitiba, PR. E-mail: lazzari@ufpr.br.


INTRODUÇÃO

A abelha africanizada é um poliíbrido tolerante á Varroa destructor. Porém, com variabilidade dentro de um apiário. No entanto, nossos produtos apícolas estão livres de produtos químicos utilizados na colméia. Por outro lado, a exploração maciça das abelhas de origem européia em contato com Apis cerana determinou o aparecimento de um ectoparasita, V. destructor, que representa atualmente perdas sensíveis aos apicultores, inviabilizando a sobrevivência de colônias de origem européia, tornando obrigatório o uso de produtos químicos, quebrando a cadeia produtiva da abelha com o aparecimento de resíduos em seus produtos. Nossa Apicultura necessita que as técnicas modernas sejam conhecidas e utilizadas por um maior número de Apicultores. Esses terão que se organizarem para produzirmos produtos apícolas com qualidade que possam conquistar o mercado de mel de mesa, principalmente, da Europa. Então, será necessário investirmos em melhoramento genético, seleção massal, pasto apícola e no manejo adequado dos apiários. Técnicas simples e eficientes devem ser desenvolvidas para que os apicultores possam aplicá-las com material de baixo custo e de fácil manejo, para renovação de rainhas, preservando a variabilidade genética e multiplicando o material genético das colônias tolerantes á V. destructor com aptidão para produzirem produtos apícolas.

2 EXPERIMENTO: DESCRIÇÃO E ANÁLISE ESTATÍSTICA

2.1 LOCAL DO EXPERIMENTO

O estudo foi conduzido em um apiário localizado a 4 km da sede do Município de Mandirituba-PR, situado na Região Sul do Estado do Paraná, primeiro planalto, longitude 49º19'W, latitude 25º46'S e altitude de 950 m. De acordo com Köoppen, a classificação climática da região pertence ao clima Cfb.

A área de estudo se enquadra na região fito-geográfica da Floresta Ombrófila Mista Montana. O quadro atual demonstra que pouco restou das formações primárias, predominando as formações onde houve intervenção humana para uso com fins agropecuários e florestais, descaracterizando a vegetação primitiva (IBGE, 1990).

Na área de estudo, faz-se a distinção de quatro estágios de desenvolvimento sucessional secundário:
a) Pré-capoeirinha: reconhecida popularmente como macegal ou capinzal, onde domina a família Poaceae, cujo aspecto se assemelha grosseiramente com os campos;
b) Capoeirinha: estágio sucessional inicial com representantes sublenhosos arbustivos e herbáceos. Na família Asteraceae, ocorrem principalmente os gêneros Vernonia, Baccharis e Eupathorium e espécies das famílias Poaceae, Melas-tomataceae e outras; nas áreas alteradas mais recentemente aparece mas-sivamente Pteridium aquilinum (Pteridaceae);
c) Capoeirão: estágio sucessional médio nesta formação torna-se evidente o domínio de espécies lenhosas e/ou sublenhosas com as alturas variando na faixa de 3 a 6 metros. A composição florística desta fase é complexa, mas basicamente constituídas por espécies pioneiras e / ou heliófitas, além de espécies secundárias iniciais, estágio mais avan-çado , espécies de Vernonia (Asteraceae) começam a substituir as espécies do gênero Baccharis, acom-panhadas da profusão de outras espécies arbóreas muito comuns na região, como: Schinus tereben-thifolius Raddi (Anacar-diaceae), Ilex paraguaiensis St. Hil. (Aquifoliaceae), Ocotea puberula Ness. (Lauraceae), Prunus brasi-liensis (Cham & Schl) D. Dietr. (Rosaceae), Rapanea fer-ruginea Ruiz et. Pevon (Myrsinaceae), Mimosa scabrella Bentham Mimo-saceae), entre outras;
d) Capoeirão: cons-tituído por espécies arbóreas que atingem 10 a 12 metros de altura, cuja composição se assemelha fisionomicamente à floresta original. Nesse caso, aparecem Araucaria angus-tifolia emergindo no dossel, além da profusão das Lauraceas, Sapindacea, Meliacea, Aquifoliacea, Flaco-urtiacea, entre outras. Constitui-se, a partir daí, a floresta secundária, fase esta que difere das formações primárias, sobretudo pelo porte das espécies, já que a composição florística é semelhante. Além das quatro fases secundárias existentes na região, encontram-se também as comunidades aluviais, com uma con-tinuidade interrompida ao longo das diversas pro-priedades rurais da região, onde predominam a Euphorbiaceae, Sebastiana commersoniana (B.) Smith & Dours, sendo também comum Vitex cf. megapotamica (Verbenaceae).

2.2 POVOAMENTO DAS COLMÉIAS

Foram povoadas 30 colônias de abelhas afri-canizadas em colméias tipo Langstroth com cobertura e entretatampa modificadas por Stanislaw Kurlleto para criação de rainhas com orifícios de 16 mm que permite fornecer a alimentação artificial. Para renovar as rainhas, foi utilizado o método proposto por KURLETTO (1976) com modificações de PEGORARO et alli.

2.3 DESENVOLVIMENTO DAS COLÔNIAS

No período de maio de 1994 a abril de 1995, realizaram-se mapeamentos mensais (entre os dias 28 a 30) em todos os favos das 21 colônias, segundo meto-dologia adaptada de AL-TIKRITY et al., (1971), com a finalidade de acompanhar o desenvolvimento das colônias.


2.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Essa pesquisa relata os resultados do experimento, desenvolvimento de colônias, bem como as variáveis envolvidas, analisou-se o desenvolvimento das 21 colônias em seis variáveis: áreas ocupadas com ovos-larvas, pupas, mel e pólen em 4 cm2, proporção cria/recursos alimentares e infestação com V. destructor em percen-tagem. O experimento, delineado segundo a forma de Blocos Casualizados, foi aplicado em 21 colônias da abelha africanizada. Estas colônias compõem os tratamentos ou níveis do principal fator (colônia) do experimento e os meses (de maio de 1994 a abril de 1995) são os blocos. Tem-se, então, dado o número de variáveis observadas, seis delineamentos em Blocos Casualizados, pois a cada variável resposta corresponde um experimento. A hipótese de igualdade entre as colônias foi testada pelo método de Friedman (LEHMANN et al., 1975) devido existir correlação entre os blocos (meses) levando a inexistência da premissa de independência dos resíduos necessária á ANOVA clássica, forçando então o descarte desse método paramétrico. Os resultados da aplicação deste teste está no Quadro 1. Construiu-se, também, a matriz de correlação para as variáveis: ovos-larvas, pupas (produzidas), mel, pólen (armazenado) e percentagem de infestação com V. destuctor, com base no coeficiente de correlação de Spearman (LEHMANN, 1975). Usou-se esse coeficiente pela natureza dos dados obtidos. Testou-se por meio de um teste "t" a hipótese de cada coeficiente ser nulo ( MOOD et.al. 1986) e os resultados aparecem na matriz de correlação (tabela, 2).

2.5 CLASSIFICAÇÃO DAS COLÔNIAS NOS GRUPOS GH e Gh

Neste estudo utilizou-se a ordem de classificação para agrupar as colônias superiores e as inferiores segundo ás seis variáveis.

3.1 CORRELAÇÃO ENTRE AS VARIÁVEIS OVOS-LARVAS, PUPAS, MEL, PÓLEN E INFESTAÇÃO COM Varroa destructor

Na tabela 2, observa-se correlação de ovos-larvas: forte com pupas (crias), a medida que aumenta a área ocupada com ovos-larvas aumenta a área ocupada com pupas, fraca com mel e moderada com pólen. As variáveis áreas de ovos-larvas, pupas, mel, pólen possuem correlações inversas mode-radas com a percentagem de infestação com V. destructor.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] AL-TIKRITY,W.S. et al. New instrument for brood mea-surement in a honey-bee colony. Am. Bee. J., Hamilton, v.111, n.1, p. 26, 1971.
[2] BHATACHARYYA, G.K.; JOHNSON, R. A . Statistical concepts and methods. Singapore: JOHN WILEY & SONS, 1977.
[3] KURLETTO, S. Cruzamentos das abelhas africanizadas com Apis mellifera carnica. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE APICULTURA (3. : 1974 : Piracicaba). Anais. Piracicaba : L. S. Gonçalves, 1976. p. 161-164.
[4] KURLETTO, S. Controlada a disposicão do feromonio. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE APICULTURA (4. : 1976 : Curitiba). Anais. Curitiba : L. S. Gonçalves, 1976. p. 179-182.
[5] LEHMANN, E.L.; D'ARERA, H.J.M. Nonparametriccs, sta-tistical methods based on ranks. New York : Mcgraw-hill int.book conpany, 1975. p. 451
[6] MOOD, A.M.; GRAYBILL, P.A. BOES,J.C. Introdution to the theory of statistics, Singapore : Mcgraw-hill, 1986. p. 564
[7] PEGORARO, A.; CHAVES NETO, A. ; MARQUES, E. N. Renovação de rainhas de Apis mellifera scutellata (Hym.: Apidae) por puxada natural. R. Setor Ci. Agr., Curitiba. v. 14, n. 2, p. 97-102, 1996.

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