Artigo

DIAGNÓSTICO DA ARQUITETURA DO NINHO DE
Melipona scutellaris L.

Adriana Evangelista Rodriguesa, Herlainy Kerlla de Medeiros Dantas,b Marconde Alves Ferrazc
a) Professora Doutora do Departamento de Zootecnia da UFPB/CCA
b) Acadêmica do curso de Graduação em Zootecnia UFPB/CCA
c) Acadêmico do curso de Graduação em Agronomia UFPB/CCA


INTRODUÇÃO:



De acordo com Alves (1996), a meliponicultura constitui-se numa atividade tradicional em quase todas as regiões. O desenvolvimento desta prática ao longo do tempo por pequenos e médios produtores, desperta grande interesse devido ao alto valor dos produtos no mercado e a facilidade de manejo, propiciando retorno garantido do investimento e baixo risco.

No Brasil, a criação de abelhas indígenas sem ferrão é praticada primordialmente no Nordeste com algumas espécies do gênero Melipona, que apresentam um porte avantajado e armazenam boa quantidade de mel. Esta prática tem contribuído para um melhor conhecimento dos hábitos das abelhas sem ferrão, e conseqüentemente na sua preservação.(Cortopassi-Laurino & Macedo,1998).

Segundo Campos et al.(1987), taxonomicamente, as abelhas denominadas de Uruçu pertencem à ordem Hymenoptera; subordem Apocrita; superfamília Apoidea; família Apidae; subfamília Meliponinae; gênero Melipona; espécie Melipona scutellaris.

A uruçu (Melipona scutellaris) é uma abelha nativa sem ferrão, típica da região do nordeste brasileiro, adaptada na microrregião do brejo paraibano.

Campos (1996) afirma que as abelhas da subfamília Meliponinae, popularmente conhecida por abelhas indígenas sem ferrão; assim chamada por possuírem o ferrão atrofiado e incapazes de ferroar, fazem parte do principal grupo de abelhas sociais nativas do Brasil.

Como afirma Fonseca (1998) estas abelhas são importantes para os apicultores, porque embora criem a espécie Apis mellifera, muitos apreciam e conhecem outros tipos de abelhas sociais. Seus ninhos característicos e a facilidade no manejo, fazem dessas abelhas quase um mascote dos criadores de abelhas. São importantes na manutenção da vegetação de áreas naturais, visitando e polinizando as plantas.



É grande a diferenciação entre as abelhas indígenas sem ferrão (meliponíneos) e as abelhas africanizadas (Apis mellifera). As construções dos ninhos das abelhas nativas são em plena natureza, porém em locais adequados como pendurados em galhos de arvores, ocos dos troncos de árvores, buracos no solo, enquanto que as abelhas do gênero Apis são criadas em colméias racionais. As nativas também se adaptam em caixas racionais, de forma que imitem os habitats naturais, sabendo-se que não são todas as espécies adaptáveis ao sistema racional (Fabichak, s.d.).

De acordo com Campos (1987), ele observou que os meliponíneos apresentam uma enorme variedade morfológica e de hábitos; enquanto algumas Melipona atingem tamanhos semelhantes ao de Apis mellifera, existem outras espécies que estão entre as menores abelhas conhecidas, como é o caso das Trigonini.

Relatos de Campos (1996) afirmam que todos os meliponíneos apresentam colônias perenes, são eussociais. Em uma colméia encontram-se operárias, que executam várias atividades: cuidam das crias, coletam e processam o alimento, cuidam da própria higiene, constróem os favos, potes, invólucro, limpam o ninho, defendem a colônia e a rainha. As tarefas desenvolvidas pelas operárias variam de acordo com a idade e as necessidades da própria colônia.

Segundo Duay (1996), o apicultor sabe que uma colméia forte produzirá mais que uma colméia fraca. Porém, existem inúmeras causas que provocam este estado nas colméias, como por exemplo idade da rainha, enfermidade na colônia, manejo, número de operárias campeiras, e tamanho do enxame no momento da captura.

As abelhas sem ferrão têm sempre uma entrada característica, de tal forma que, olhando apenas a entrada, geralmente podemos saber qual a espécie que vive naquele ninho (Fonseca,1998).



Campos (1987), diz que o gênero Melipona, não possui realeiras e portanto as rainhas emergem de células do mesmo tamanho daquelas de onde emergem operárias e zangões. A determinação das castas é genético-alimentar, sendo que as abelhas que possuem potencialidade genética para dar origem a rainha só originarão as mesmas se receberem uma quantidade adequada de alimento. Em Melipona não existem células de aprisionamento de rainhas. Os zangões são produzidos em grande número em certas épocas do ano, quando as colméias são bastante populosas.

Um dos mecanismos para defesa mais comum entre as abelhas nativas é o hábito de enrolar-se nos pêlos dos seus agressores, beliscando a pele com as mandíbulas, grudando resina e tentando entrar nas narinas e ouvidos (Campos, 1996).

Para Kerr et al (1996) outro mecanismo de defesa de várias espécies de meliponíneos, dentre eles a Melipona scutellaris é conseguir imitar a coloração de outros insetos agressivos, estando dessa maneira protegidos contra os ataques dos inimigos.

Sabendo-se que as abelhas nativas são pouco estudadas, objetivou-se com este trabalho diagnosticar o crescimento da arquitetura dos ninhos de Melipona scutellaris associados à coleta de pólen pelas campeiras.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi desenvolvido no setor de Apicultura do DZ/CCA/UFPB Campus III, no período compreendido entre 21/01 e 03/03/1999. Utilizou-se quatro colmeias de abelha uruçu (Melipona scutellaris), sendo duas colmeias fortes e duas fracas.

Ao longo do período experimental, foram observados os seguintes parâmetros:



a) número de favos: Para este parâmetro, em todas as observações semanais, os favos de cada colmeia eram contados e anotados para posterior avaliação;

b) número de potes de mel: Da mesma forma como descrito anteriormente, os potes que continham mel eram contados a cada observação e anotados os números em planilhas para posterior cálculo;

c) número de potes de pólen: idem ao descrito anteriormente;

d) quantidade de potes vazios: Todos os potes construídos porém que estivessem vazios, eram contados e anotados nas observações semanais para posterior avaliação dos dados;

e) atividade das abelhas campeiras: Para este parâmetro, observou-se o número de abelhas operárias que entravam com pólen. Para este último parâmetro três diferentes horários do dia foram escolhidos, sendo às 7:00h; 11:00 e 16:00h, nos quais fazia-se duas horas de observação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Através dos dados obtidos observou-se que as colméias foram bastante semelhantes para o crescimento ou construção dos potes e favos. Observou-se que o número de favos de crias triplicou durante o período observado (21/01 a 03/03/1999). O número de potes de pólen aumentou duas vezes neste mesmo período.

Através dos gráficos nota-se que o período de maior coleta de pólen acontece no horário de 7:00h, apresentando um número muito maior de campeiras que chegavam com pólen na colméia, sugerindo uma semelhança no horário de coleta com as africanizadas.

Estes dados sugerem que a flora apícola da região nesta época estava propícia à colheita.

Outro dado importante é o aumento também em número de potes vazios, sugerindo o crescimento da colméia através da construção de potes para armazenamento de mel e pólen.

No gráfico 1 (colméia forte) observa-se que o movimento de abelhas foi diferente nos diversos horários do dia, onde nota-se que 400 abelhas campeiras entraram com pólen na colméia no horário de 7:00h. Esse número diminui muito quando se analisam os horários de 11:00 e 16:00h, em que o número de abelhas cai para apenas 100 durante as 2 horas de observação.

Quando se analisa o gráfico 2, que corresponde à uma colméia fraca, observa-se que no horário de 7:00h houve uma grande movimentação de aproximadamente 400 abelhas coletando pólen durante as 2 horas de observação na primeira e segunda semanas.

No entanto, na terceira semana de observação ocorreu uma queda muito grande no número de campeiras com pólen, podendo ser explicado pela ausência de plantas fornecedoras de pólen na região do meliponário, tendo em vista que ocorre uma queda também nos horários de 11:00 e 16:00h. Quando analisa-se o gráfico na quarta e quinta semanas vê-se que há novamente um ganho em termos de coleta de pólen com as abelhas chegando a atingir a média de 300 campeiras com pólen nas 2 horas de observação.

Pelo presente trabalho nota-se ainda que não houve diferença no número de abelhas forrageadoras entre a colméia forte e a fraca, com exceção da terceira semana em que houve uma queda acentuada na coleta de pólen para a colméia fraca e o mesmo não acontecendo com a colméia forte.

Observando a fig.1 (referente à colméia fraca) em que expressa a evolução da colméia com relação aos parâmetros analisados, nota-se que o número de potes de mel aumentou de 7 para 24 no período experimental e também que todos os demais parâmetros tiveram uma evolução em números durante o período experimental.

Quando se faz a análise da fig.1 e do gráfico 2 nota-se uma queda no crescimento dos potes de mel quando houve uma queda na coleta de pólen.

Observa-se na fig.2 (colméia forte) que houve um aumento no crescimento da colméia verificando um aumento no número de potes vazios, potes de pólen e numero de favos. Fica claro também que há um aumento do número de potes de mel na primeira semana diminuindo a partir da segunda semana de observação.

CONCLUSÕES:

As abelhas da colmeia de Melipona scutellaris triplicaram a construção de potes de armazenamento de alimento em 41 dias;

As abelhas campeirasatuam em maior número fazendo a coleta de alimento no primeiro horário da manhã (7:00h);

4 Existe uma relação direta entre a entrada de pólen na colmeia e o crescimento na arquitetura do ninho

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

ALVES, R.M. de O. Meliponicultura: aspectos práticos. In: Congresso Brasileiro de Apicultura 11, 1996,Teresina. Anais... Teresina: CBA, 1996, p. 95-98.

CAMPOS, L.A.O. Abelhas indígenas sem ferrão: o que são?. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.13, n.149, p.3-6, 1987.

CAMPOS, L.A.O.; MORATO, E.; MELO G.R.de; SILVEIRA, F.A. da. Abelhas características e importância. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.13, n.149, p.7-14, 1987.

CAMPOS, L.A.O. Introdução a meliponicultura; Meliponicultura: aspectos gerais. In: Congresso Brasileiro de Apicultura 11, 1996, Teresina. Anais... Teresina: CBA, 1996, p. 87-94.

CORTOPASSI-LAURINO, M.; MACÊDO,E.R.M. Vida da abelha Jandaíra (Melipona subnitida). In: Congresso Brasileiro de Apicultura 12., 1998, Salvador. Anais... Salvador: CBA/FAABA, 1998, p.65-67.

DUAY, P. Manejo para o aumento da produtividade. In: Congresso Brasileiro de Apicultura 11.,1996, Teresina. Anais...Teresina: CBA, 1996, p.121-124.

FABICHAK, I. Abelhas indígenas sem ferrão Jataí. São Paulo: Nobel, s.d. 53p. il.

FONSECA, V.L.I. O apicultor e a conservação de abelhas sem ferrão, In: Congresso Brasileiro de Apicultura 12., 1998, Salvador. Anais... Salvador: CBA/FAABA, 1998, p. 79-80.

KERR, W.E.; CARVALHO, G.A.; NASCIMENTO, V.A. Divisão de trabalho. In: Abelha Uruçu Biologia, manejo e conservação: Coleção manejo da vida silvestre. Belo Horizonte: Fundação Acangaú, 1996, v.2, cap.5, p.37-45 il.

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