Artigo
 

O AGRONEGÓCIO APICOLA


Autor / Radamés Zovaro _ Pronunciamento durante a abertura do Simpósio sobre o tema "O Agronegócio Apícola, Legislação e Comercialização" ocorrido durante o XIV Congresso Brasileiro de Apicultura, no qual atuou como Coordenador.
E-mail: zovaro@zovaro.com.br



     O Agronegócio Apícola começou a ter uma evolução maior, em meados da década de 1980, porém, somente neste Congresso é que foi criado um Simpósio específico.

    Sentimos que com o passar dos anos o Agronegócio no Brasil cresceu, as empresas se aprimoraram tecnologicamente, melhorou a qualidade dos produtos apícolas, apresentando uma diversificação com novos produtos, principalmente os considerados méis compostos.

    Hoje sentimos um setor mais maduro, porém encontrando dificuldades para atender a sua plenitude no mercado nacional e internacional.

Ao nosso ver as principais dificuldades são:

    1. A Cadeia Produtiva que compõem todo o processo apícola desde a compra de insumos, materiais e equipamentos até a venda do produ to ao consumidor final, encontra uma serie de problemas. Por exemplo: muitos materiais apícolas ainda são fabricados de forma artesanal, as industrias fabricantes de colméias não mantem a medida padrão e a industria de equipamentos tem dificuldade para produzir determinados tipos com uma tecnologia mais avançada, por desconhecimento ou por não acreditar na possibilidade de venda.

    2. A Apicultura Brasileira existe deste 1832, viveu um processo praticamente de Hobbe até a década de 1960, quando houve a expansão das abelhas africanas, introduzidas no Brasil em 1956. O reinicio deu-se em fins dos anos 70, foi uma verdadeira loucura. A febre passou, hoje sentimos uma apicultura mais consciente, porem longe de alcançarmos a grande produtividade de outros paises, nossos visinhos como a Argentina e o Uruguai, apesar do nosso meio ambiente ser bem
mais diversificado, maior em termos geográfico e muito favorável com floradas o ano todo. Acreditamos que o grande problema esta na falta de manejo por parte do apicultor. Como se trata de uma apicultura que podemos dizer praticamente nova, infelizmente não existe uma escola que oriente as técnicas de manejo e o que sentimos é que o apicultor se preocupa mais com quantidade do que com a produtividade da colméia. Sabemos perfeitamente que a somatória dos lados de um triangulo os quais denominamos abelha, meio ambiente e manejo será o resultado da produção de cada colméia. Infelizmente a maioria dos apicultores não aplica esta técnica, talvez por desconhecimento, ou por preguiça, mas a verdade é que temos que aumentar a nossa produtividade, para suprirmos o mercado com os produtos das abelhas, alem evidentemente de ajudarmos na preservação do meio ambiente e principalmente aumentarmos a produção agrícola no Brasil com a polinização que as abelhas são hábeis em fazer.

    3. Outro fator que poderia nos ajudar seria a área Governamental, primeiro através do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, criando um departamento especifico para a Apicultura, colocando elementos que conheçam o meio apícola, facilitando o trabalho dos empresários e não criando empecilhos, como a proibição de aparecerem figuras de abelhas ou de favos em rótulos dos produtos compostos ou proibindo a produção e comercialização a nível nacional de Própolis na embalagem Spray, mas, podendo vende-la a nível internacional o que sem duvida é um verdadeiro absurdo. Perguntamos: Será que o povo brasileiro é diferente de outros povos que não podem utilizar um produto criado e produzido por nos? Sem contar evidentemente com a possibilidade do produto brasileiro voltar ao pais através do contrabando.O governo também deveria através dos Bancos oficiais criar linhas de credito como o Banco do Nordeste tem para a Apicultura. Não temos nada contra o povo Nordestino mas, este privilegio com as linhas de credito deveria ser para toda a apicultura nacional, afinal vivemos em um pais onde a apicultura labuta em termos de igualdade em todas as regiões.

     Finalmente gostaria de fazer um pequeno comentário sobre um problema ligado ao agronegocio que é a comercialização de cera. Infelizmente esta sendo comercializada em grande escala no Brasil uma cera sintética, vendida já alveolada. Essa cera só veio para criar problemas para a Apicultura e principalmente para o mercado de cera de abelha.

     Colocando na colméia a cera sintética, a abelha puxará o favo normalmente. Não sabemos qual a composição dessa cera, e há de nossa parte um certo receio que poderá haver algum componente que em contato com o mel, que as abelhas depositam nos favos, venha desenvolver um processo de reação que poderá alterar a qualidade desse mel, principalmente em quem esta pensando em produzir mel orgânico.

     Quando da substituição dos favos, o apicultor fará o beneficiamento da cera. Infelizmente não haverá condições de separar a cera pura que as abelhas puxaram da cera sintética, portanto haverá uma cera adulterada que podemos chamar de cera falsificada.

     A cera da abelha tem uma aplicação muito diversificada, justamente porque ainda não foi descoberto um outro material que apresente as propriedades emolientes, amaciantes, moldantes e impermeabilizantes que a cera de abelha contem. As principais industrias que utilizam cera de abelha são a farmacêutica e a cosmética. Se for enviada a cera falsificada, fatalmente essas industrias recusarão o seu uso, denegrindo a imagem da apicultura nacional em seu todo.

     Outro setor que utiliza a cera de abelha, são os Institutos de Depilação. Neste caso o problema é pior porque a cera de abelha tem seu ponto de fusão entre 62º C a 65º C e essa cera sintética tem o ponto de fusão de 90ºC a 92ºC., conseqüentemente haverá queima na pele da pessoa a ser depilada.

     O que nós queremos é uma apicultura forte, criativa, participativa, respeitada, sem interferência de produtos de baixa qualidade, ocupando um lugar de destaque no meio da Agroindústria, colaborando para o desenvolvimento do mercado nacional e trazendo divisas do mercado internacional. Temos condições para isso, precisamos nos conscientizar que havendo a união com relação à qualidade dos produtos em toda a Cadeia Produtiva, e aumentando a nossa capacidade no manejo apícola, chegaremos ao nosso objetivo, sabemos que as coisas alcançadas com facilidade não são duradouras, por isso temos que perseverar assim como a abelha, que vive neste planeta a mais de 50 milhões anos.
 
 

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