Artigo
 
 

Análise comparativa da qualidade da própolis
coletada através de calços de madeira e tela plástica
na região do brejo paraibano.

Adriana Evangelista-Rodrigues1 e Pedro Marcos Carneiro da Cunha Filho2
1.    UFPB/CCA/DZ/ Professora de Apicultura: adriana@cca.ufpb.com.br
2.    UFPB/CCA Graduando em Zootecnia

    A apicultura é uma das atividades mais antigas e importantes do mundo. A trezentos e cinqüenta anos antes de Cristo, Aristóteles e Virgílio escreveram a primeira teoria sobre as abelhas (WIESE, 1995). Desta época até hoje o estudo destes insetos, tão úteis ao homem, evoluiu e evolui cada vez mais, e o homem aprendeu a explorar os vários produtos que são produzidos pelas abelhas, como o mel, que foi o primeiro produto explorado e até hoje é ainda a principal fonte de renda dos apicultores, a geléia real, o pólen, a cera, a própolis e mais recentemente, a apitoxina.

    O Brasil possui todas as qualidades para a ampla exploração de todos os produtos apícolas. Possui um clima quente, o que favorece o aumento da produtividade das abelhas, possui ainda uma flora altamente rica em espécies vegetais fornecedoras de matéria prima para a fabricação dos produtos apícolas, outro fato que deve ser citado é que as abelhas aqui presentes possuem uma boa porcentagem de sangue africano sendo por isso altamente produtivas (TOLEDO, 1991).

    A própolis é um produto coletado pelas abelhas melíferas, sendo encontrada na casca de plantas, em gemas prestes a florescer, como o pessegueiro, e até em folhas verdes. As abelhas coletam a resina usando as mandíbulas e o primeiro par de patas, esta é moldada e depositada nas corbículas do terceiro par de patas e transportada à colmeia onde ela é necessária (VERÍSSIMO, 1991; MORAES, 1993; WEISE, 1995). É coletada com diversos objetivos, dentre os quais podemos citar: material construtor, para fechar frestas na colmeia; evitar a vibração dos favos; embalsamar cadáveres de inimigos mortos que não possam ser retirados da colmeia; reduzir ao máximo as vias de acesso ao interior da colmeia e revestir as células hexagonais antes da oviposição (VERÍSSIMO, 1991; BASSI, 1991; MORAES, 1993; BREYER, 1995; WEISE, 1995).

    Por ser uma mistura de resinas de plantas com substâncias mandibulares das abelhas. A qualidade e utilização da própolis está diretamente relacionada com a flora presente na região, apresentando desta maneira variações consideráveis para cada local de produção (COUTO, 1996).

    Desta forma e com base nos dados anteriormente apresentados, este trabalho teve como objetivo avaliar a produtividade e qualidade da própolis produzida por cada um dos sistemas supracitados, bem como realizar uma comparação entre estes métodos de produção para identificar o que melhor se destaca na produção de própolis.
 
 

MATERIAL E MÉTODOS

    Foram utilizadas 10 colméias de Apis mellifera pertencentes ao apiário do DZ/CCA/UFPB. Os calços e as telas foram distribuídos entre as colméias aleatoriamente, perfazendo um total de 5 colméias com calço de madeira e 5 colméias com telas plásticas. Semanalmente foram realizadas as revisões, perfazendo um total de seis, em um período de 42 dias, sendo a primeira revisão realizada no dia 05/01/2000 e a última realizada no dia 09/02/2000. A cada revisão foi observada a propolização realizada no período e, com utilização de termômetro, medida a temperatura interna das colméias. Na sexta revisão foram retirados os calços e as telas e coletados a própolis produzida em todas as colméias. A própolis coletada foi pesada e acondicionada, em sacos plásticos, e posteriormente realizada a análise em laboratório.

FIGURA 1 – Tela plástica.

    à Tela: As telas plásticas foram colocadas entre as tampas das colméias e a melgueira, de modo que as abelhas fechassem os espaços desta com própolis, sendo coletadas na sexta revisão. A extração da própolis deste tratamentos é feita com o congelamento das telas e a retirada por fricção.

    Na sexta semana a tela foi retirada da colméia. Logo após foi colocada em congelador para que fosse separada a própolis da tela e então determinado peso da própolis com balança com duas casas decimais.

FIGURA 1 – Calço de madeira.

    à Calço: os calços foram colocados entre a tampa e a melgueira gerando um espaço de 1 cm para ser fechado pelas abelhas com própolis. A extração da própolis é realizada por raspagem.

    Na sexta semana de experimento foi retirada a própolis das caixas com calço por raspagem com o auxílio de um formão, após isto a própolis coletada foi pesada em balança com duas casas decimais para determinação de seu peso.

    Neste trabalho foram analisados:

 à A qualidade da própolis: determinada através das análises;

 à A facilidade de manejo: determinada durante o período experimental, de acordo com o tempo gasto e tarefas desenvolvidas em cada revisão realizada por tratamento.

    A análise organoléptica da própolis foi realizada segundo a determinação das Normas do Regulamento Técnico Para Fixação de Identidade e Qualidade de Própolis, publicada pela revista Mensagem Doce, n º 52, para a determinação da cor, aroma, aspecto, sabor e consistência.

    A análise físico-química para a determinação de Umidade da própolis obtida nos tratamentos foi realizada segundo o método de análise de alimentos proposto por SILVA (1981), enquanto que a determinação de Cera, Solúveis em Etanol e Propriedade Antioxidante foi realizada segundo as Normas do Regulamento Técnico Para Fixação de Identidade e Qualidade de Própolis, publicada pela revista Mensagem Doce, n º 52, de julho de 1999, elaborada pelo Ministério da Agricultura.

    Após a coleta determinou-se o peso da própolis obtida com os calços de madeira durante o experimento, obtendo-se um peso total de 52,29 g nos calços utilizados.

    Da mesma forma, após a coleta determinou-se o peso da própolis obtida com as telas plásticas durante o experimento, obtendo-se um peso total de 17,72 g nas telas utilizadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

    A análise determinou características dentro dos padrões de classificação citados por ROOT (1959), VIEIRA (1983), que descrevem a própolis como substância aromática de aroma resinoso, parecido com o bálsamo das canárias, de consistência maleável e pegajosa, de cor variando do amarelo ao preto, de sabor forte e amargo, com ponto de fusão em torno de 65º C.

    Os resultados obtidos nas análises físico-químicas podem ser observados na tabela 1.

TABELA 1 – Análise físico-química da própolis obtida nos tratamentos realizados.

Parâmetros
Tela plástica
Calço de madeira
Padrão
Umidade (%)
13
8
Máximo 8
Cera (%)
5,114
5,286
Máximo 25
Solúveis em etanol (%)
53,335
49,045
Mínimo 35
Propriedade antioxidante (s)
21
18
Máximo 22
Reação ao KMnO4
Positiva
Positiva
Positiva

    Em todos os aspectos a própolis colhida através dos calços de madeira e das telas plásticas, exceção feita ao teor de umidade da própolis coletada através das telas, estão dentro dos padrões exigidos pelo regulamento técnico para fixação de identidade e qualidade de própolis.

    O teor de umidade acima do máximo permitido obtidos na própolis coletada com as telas plásticas, possivelmente foi decorrente da umidade a que as telas foram submetidas, uma vez que as telas foram colocadas em congelador para a posterior retirada de sua própolis.

    Os dados obtidos nas análises foram superiores aos obtidos por MORAES (1993), em teste comparativo de qualidade da própolis de diferentes locais da colméia (Tabela 2).

TABELA 2 – Teste comparativo de parâmetros de qualidade da própolis de diferentes locais da colmeia. Análise efetuada em 18/05/1993.

Parâmetros
Alvado
Tampa (raspa)
Padrão
% cera
31,86
33,31
30
% umidade
18,06
20,87
20
Tempo de oxidação(s)
18
20
Menor que 22
Reação ao KmnO4
Positiva
Positiva
Positiva

    Fatores como a ecologia vegetal da região onde a própolis foi coletada (PARK et al, 1995; PARK et al, 1997), e até mesmo a variabilidade genética das rainhas (KOO et al, 1997), podem influenciar na composição química da própolis.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BASSI, E.A. Caracterização do pólen apicola processado, comercial e armazenado na colmeia, pão das abelhas, de algumas localidades do Paraná. Tese de Mestrado. Curitiba: Universidade Federal do Paraná. 118 p. 1991.

BREYER, H.F.E. Produção, coleta, limpeza, acondicionamento e comercialização de própolis bruta de abelha Apis mellifera. In: Congresso Brasileiro de Apicultura, 10. Anais..., Goiás: 1994, p 108 – 112.

COUTO, R.H. COUTO, L. Apicultura: manejo e produtos. FUNEP, 1996. 311p.

KOO, M.H.; PARK, Y.K. Investiagtion of flavonoid aglycones in propolis colleted by two different varieties of bees in the same region. Biosci. Biotech. Biochem., v. 61, p. 367 – 369. 1997.

MORAES, R.M. Própolis: composição, propriedades e usos. 2 ª ed., Associação Modelo de Apicultura. 1993. 33 p.

PARK, Y.K.; KOO, M.H.; SATO, H.H.; CONTADO, J.L. Estudo de alguns componentes da própolis coletada por Apis mellifera no Brasil. Arq. Biol. Tecnol., v. 38, p. 1253,1259. 1995.

PARK, Y.K.; KOO, M.H.; IKEGAKI, M.; CONTADO, J.L. Comparison of flavonoid aglycone contents of Apis mellifera propolis from various regions of Brasil. Arq. Biol. Tecnol., v. 40, p. 97 – 106. 1997.

ROOT, A.I. ABC y XYZ de la apicultura, enciclopedia de la cría científica y prática de las abejas. Buenos Aires: Librería Hachette. Buenos Arires, 1959. 650 p.

SILVA. D.J. Análise de alimentos. Viçosa: Imprensa Universitária. Viçosa, 1981. 166p.

TOLEDO, L.R. Mel, um reforço para a renda, Globo Rural, Economia. n. 70, 1991. p. 4 – 9.

VIEIRA, M.I. Criar abelhas é lucro certo: Manual prático. São Paulo: Nobel. 1983, 176 p.

VERÍSSIMO, M.T. Curso sobre Tecnologia, Industrialização e Análises de Própolis. Florianópolis: Secretaria de agricultura e do abastecimento. Florianópolis, 1991. 40 p.

WiEse, H. Novo manual da apicultura. Guaíba: Agropecuária. 1995, 292 p.


 
 

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