A PRODUÇÃO DE MEL NO PLANALTO MÉDIO RIOGRANDENSE1
Hélio Carlos Rocha2 , Ivan Guarienti3 , Angélica de Almeida Lara4
1 Dados referentes ao Censo Apícola realizado 1996 e da Extensão Rural da EMATER/RS, Escritório Regional de Passo Fundo-RS.
2 Engº.Agrº. Dr. Prof. Titular da Universidade de Passo Fundo - FAMV, Cx.Postal 611, CEP 99001-970.
3 Engº.Agrº. Extensionista da EMATER/RS, Especialista em Apicultura.
4 Engª.Agrª. Assistente Técnica do Projeto Apícola da FAMV-UPF.Introdução
A produção brasileira de mel em 1995 no Brasil, segundo IBGE (1997), somou a valor de 18 mil ton., com um crescimento da ordem de 12% nos primeiros cinco anos da década. A maior produção está concentrada nos estados sulinos, que juntos detém mais de 56% do total. Santa Catarina é o principal produtor nacional com 21,1%, seguido pelo Rio Grande do Sul com 19,9% e Paraná com 15,1% da produção nacional. Apesar destas colocações, a atividade do setor nos estados de Santa Catarina e Paraná decresceu na ordem de 5 e 9% respectivamente, enquanto que, no Rio Grande do Sul, cresceu na faixa de 10%.
Pelas estimativas e estudos de produção dos últimos anos no Rio Grande do Sul, a média histórica de produtividade é da ordem de 15 kg/colméia/ano. Considerando a produtividade brasileira em 12,5 kg/colméia/ano, e a produção nacional de 18,2 mil ton., conclui-se que existem aproximadamente 1.450.000 colméias de abelhas no Brasil, valor este 75% superior ao estimado pela FAO em 1998 que foi de 824 mil, envolvendo em torno de 60 mil pessoas.
Produção de mel no Planalto Médio do RS
Em 1998 a atividade apícola no Rio Grande do Sul envolveu mais de 20 mil produtores, com 288 mil colméias e uma produção de mais de 2.400 ton. de mel (Tabela 1).
Ao analisar-se os dados referentes aos produtores assistidos oficialmente pela Emater/RS, em 217 municípios gaúchos, observa-se um crescimento de 24% no número de colméias e de 15% na produção de mel nos últimos cinco anos. A exceção em relação a estes dados, foi a safra 97/98, que apresentou uma redução na produção de 34% devido a problemas climáticos, fechando com uma média de 9,0 kg/colméia, muito abaixo dos 16 kg/colméia historicamente registrada. Os produtores assistidos pela Emater/RS produzem um terço a mais de mel por colméia em comparação com os não assistidos.
As regiões da Campanha e Metropolitana apresentaram os melhores indicadores de produção pelo número de produtores envolvidos, e os piores ficaram com as regiões Nordeste, Planalto e Alto Uruguai (Tabela 2).
Entre os esforços realizados, está a busca na padronização do tipo de colméia, pelo diversos benefícios que apresenta. Entre os quatro tipos básicos de colméias mobilista mais importantes na região, a preferência ainda é pela colméia Schenk (36%), seguida pela Langstroth (34%) e Curtinaz (28%). O caixão tradicional representa 1,26% enquanto que a colméia Schirmer aparece com menos de 1%. A padronização do material apícola é hoje em dias, um dos assuntos mais prioritários. Pois somente através dela, poderemos desenvolver uma apicultura forte e rentável, e que possa tornar-se um esteio da nossa agricultura. Todos os procedimentos técnicos e equipamentos disponíveis atualmente foram desenvolvidos com a colméia Langstroth, portanto, as adaptações para outros sistemas terão como resultados produções insatisfatórios e/ou aquém daquele possível. Assim, a padronização, principalmente das colméias, é um dos assuntos que deve estar no âmbito das discussões de qualquer associação de apicultores preocupadas com o desenvolvimento da apicultura.
Outro aspecto de extrema importância é a utilização e o manejo da cera alveolada, que é um `os principais fatores determinantes do sucesso na atividade. Em nossa região, mais de 97% dos apicultores fazem uso de cera alveolada, mas destes, somente 88% utilizam folhas inteiras em suas colméias, contra 12% dos que usam tiras de cera. Destaque-se que 26% utilizam a cera alveolada na posição errada (os vértices dos hexágonos não ficam na posição vertical), isto está associado principalmente ao uso de tiras de cera, tido como uma medida de economia, e ao uso da colméia Schenk, que pelo formato do quadro do ninho favorece a troca de posição (Figura 1). A média de troca de quadros velhos no ninho é de 2,79 por ano, sendo que 12% apicultores não trocam os quadros velhos do ninho.
Apesar da utilização de pouca tecnologia no processo produtivo, tem no mel a única fonte de renda da atividade, caracterizando uma atividade “hobista” ou de “fim de semana”. Os apiários são fixos, com 28 colméias em média e não exploram outras fontes de renda, como: produção de pólen, própolis ou geléia real.
89/90 | 90/91 | 91/92 | 92/93 | 93/94 | 94/95 | 95/96 | 96/97 | 97/98 | Média | |
Produtor1 | 2281 | 2117 | 2467 | 18335 | 19947 | 19237 | 19967 | 22053 | 20233 | 14071 |
Colméias | 33 | 36 | 43 | 218 | 229 | 228 | 220 | 246 | 288 | 171 |
Produção | 585 | 515 | 818 | 3257 | 3184 | 2896 | 3616,0 | 3760 | 2418 | 2339 |
Produtividade | 17,6 | 14,2 | 18,8 | 16 | 14,8 | 13,4 | 17,4 | 16,1 | 9,0 | 15 |
Região1 | Produtores | Colméias | Produção | Produtividade |
Campanha | 914 | 25 | 293 | 12,6 |
Serra | 2426 | 33 | 324 | 10,2 |
Vale do Taquari | 3385 | 31 | 292 | 9,6 |
Planalto | 2930 | 28 | 212 | 7,9 |
Zona Sul | 2140 | 49 | 303 | 7,6 |
Metropolitana | 720 | 26 | 315 | 12,6 |
Depressão Central | 2197 | 38 | 315 | 9,3 |
Noroeste | 3132 | 28 | 179 | 6,2 |
Alto Uruguai | 2389 | 25 | 179 | 6,8 |
Estado | 20233 | 288 | 2418 | 9,2 |
Fonte: Emater/RS, Relatórios de resultados alcançados, 1998. Juntamente com estes aspectos, destacamos o imenso potencial de crescimento, com alguns produtores alcançando médias de 30 kg/colméia/ano, valor este já muito próximo dos nossos vizinhos do Mercosul. Associa-se a estes aspectos a grande possibilidade da produção de mel orgânico, e a nossa maior riqueza, que é o apicultor, onde mais 94% possuem origens européias.
Conclusão
Muitos esforços têm sido empreendidos nestes últimos anos por diversos segmentos sociais para implementar o desenvolvimento da apicultura, entre eles, a Emater/RS com o seu exemplar sistema de Extensão Rural, as Associações de Apicultores, e Universidades, e entre elas, a Universidade de Passo Fundo através da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária.
Desde as primeiras reuniões e discussões sobre as necessidades apícolas, até a elaboração do "Projeto de Desenvolvimento Apícola na Região do CONDEPRO", tem balizado a atitude e o trabalho de um grupo de técnicos, comprometidos com o processo de desenvolvimento regional, acreditando que na apicultura possa desempenhar uma parcela importante dentro deste contexto.
Figura 1- Média e desvio-padrão do uso e posição (%) de lâminas inteiras
e tiras de cera alveolada no manejo de colméias de abelhas em produção
Refebências Bibliografias
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMA TÉCNICAS. Apresentação de citações em documentos: NBR 10520. Rio de Janeiro, 1992. 2p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMA TÉCNICAS. Referências bibliográficas: NBR 6023. Rio de Janeiro, 1989. 19p.
EMATER/RS. Relatório de resultados alcançados. Dados sobre a atividade apícola nos Municípios onde a Emater/RS pactuou trabalhos de Extensão. s/p. 1998
FAO – FAOSTAT, AGRICULTURE E DATA: Agricultural Production, Agricultural Production Indices. Disponível na Internet: http://apps.fao.org/subset=agriculture. 05 abr. 1999.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSITICA. Rio de janeiro: IBGE: Pesquisa Pecuária Municipal - Sistema IBGE de Recuperação Automática Produtos de Origem Animal – SIDRA. Disponível na Internet: http:///www.ibge.gov.br. 30 mar. 1999.
TAPIA, C.E.; LARA, A.A.; GUARIENTI, I. Diagnóstico de la situación actual de la apicultura en la área de influencia de la Universidad de Passo Fundo – Relatório – Passo Fundo, RS. 1996. 175p.
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Coordenadoria geral de Bibliotecas, Editora UNESP. Normas para publicações da UNESP. São Paulo: Editora UNESP, 1994. 4v.,v.2. Referências bibliográficas.