Abelhas Nativas
 


MELIPONICULTURA
(Criação de abelhas sem ferrão)

A MANDAÇAIA
Texto: Waldemar Ribas Monteiro, conservacionista, membro do Departamento de Abelhas Indígenas da APACAME.



Operária de Mandaçaia quadrifasciata coletando pólen
em flor de Exacun sp.
Foto: Aidar, D.S. 1999.
     Abelha com características excelentes para se criar racionalmente. E, por contar com uma incidência maior em várias regiões do país, indo desde o Paraná ao Estado da Bahia. Seu nome científico é: Melipona quadrifasciata, mas é conhecida popularmente por Mandaçaia, que na linguagem indígena significa vigia bonito ( mandá: vigia) (çai: bonito), fato este por se observar no orifício de entrada da colmeia uma abelha sempre presente, ou seja, a vigia.

ONDE ENCONTRÁ-LAS:

    A Mandaçaia tem sua presença ao longo da costa atlântica, desde o Norte até o Sul, sendo que a subespécie quadrifasciata ocupa as regiões de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e a subspécie anthidioides habita as regiões ao Norte, sendo que no Estado de São Paulo podemos encontrar as duas subspécies.

    Por sua vez, a Melipona quadrifasciata habita regiões mais altas e mais frias. O comportamento externo dessa subespécie, em relação à temperaturas baixas ( 14o - 16o C) e umidade relativa alta ( 80 - 90%), entre as 8:00 e 9:00 horas, é bem intensa, aumentando o trabalho de coleta. Devido ao seu tamanho avantajado, possui melhor controle de temperatura corpóreo, o que lhe permite viver em regiões mais frias.

    Nas regiões secas, principalmente na Bahia, encontramos a subespécie Melipona mandaçaia, praticamente com a mesma morfologia das acima citadas, porém de tamanho um pouco menor.

    MORFOLOGIA:

    É uma abelha de cor negra, tendo em seu abdômen quatro listras amarelas brilhantes transversais nos tergitos. A região entre as antenas, geralmente possui pelos negros, na parte inferior da face tem uma pontuação muito fraca, o ventre e a porção mediana superior do tórax, são pouco lustrosos na base do que no ápice. É uma abelha robusta e o seu tamanho mede entre 8 a 12 mm.

    Estas abelhas possuem outras subespécies: a Melipona quadrifasciata quadrifasciata, a Melipona quadrifasciata anthidioides e a Melipona mandaçaia.

    A Melipona quadrifasciata anthidioides, possui suas listras amarelas abdominais interrompidas na parte mediana, enquanto que na primeira subespécie estas listras são contínuas; também, já foi encontrado no Estado de São Paulo, um híbrido com o abdômen mais curto sem as bandas tergais, possuindo somente uma pigmentação amarela. Observação feita durante uma visita do inseto num arbusto de Assa-Peixe ( Vernonia polyanthes).

HABITAT e NINHO:

    A Mandaçaia constrói seus ninhos em ocos de troncos de árvores, numa altitude mediana. A entrada do ninho, é construído com geoprópolis ( uma mistura de barro com resinas extraídas das plantas), geralmente na parte externa do orifício de entrada elas constroem sulcos radiais convergentes, sendo que neste orifício passa só um abelha por vez.

    A partir do orifício de entrada, encontramos um canal de mais ou menos 20cm de comprimento, chamado tunel de ingresso, que vai desembocar próximo aos favos de cria, os quais são envolvidos por lamelas de cerume irregulares a quais chamamos de invólucro, que é constituído de uma mistura de cera e própolis, cuja finaliadade é conservar a temperatura interna do ninho.
O ninho geralmente tem a forma de discos sobrepostos e no sentido horizontal, estes discos são formados por células com aproximadamente 1cm de altura por 0,5cm de diâmetro, confeccionados com cerume, onde são desenvolvidas as crias. Constróem, também, com o mesmo cerume, potes ovais, medindo cerca de 3 a 5cm de altura, por 2,5cm de diâmetro, ligados entre si. Estes potes são usados para armazenar alimentos, mel e pólen, e se encontram geralmente abaixo ou acima da região dos favos de cria, e também próximo dos mesmos.

    O ninho desta abelha, possui uma população bem menor, em relação à Apis mellifera, não chegando a ultrapassar 2.000 abelhas, normalmente encontramos famílias somente com centenas de indivíduos. A Mandaçaia é uma abelha muito mansa, mas costuma repelir os intrusos com um movimento bastante intenso em redor do possível inimigo, chegando a mordiscar com suas fortes mandíbulas.

CASTAS / OPERÁRIAS:

    Sendo um inseto socialmente desenvolvido, as operárias desempenham  várias funções na colmeia de acordo com sua idade. As mais jovens, com a cor mais clara, permanecem sempre na região dos favos aquecendo as crias, num segundo estágio, faz o aprovisionamento das células e se ocupam na construção das mesmas. A medida que vão se desenvolvendo trabalham na construção de potes de alimentos, limpeza, guarda e recepção de alimentos. Quando chegam num estágio mais avançado se tornam forrageiras, comumente chamadas de campeiras, que tem como trabalho o transporte, para dentro da colmeia, de néctar, pólen, barro e resina, sendo o néctar transportado na vesícula melífera ( pré estômago) e os três últimos na corbícula.

    Em colônia de Mandaçaia, as operárias têm seus ovários desenvolvidos e muitas vezes podem fazer postura. Estas posturas podem ser efetuadas antes ou após a postura da rainha. Geralmente os ovos de operárias postos antes da postura da rainha, são ingeridos pela mesma, e os ovos postos após a postura da rainha darão origem a zangões (machos), isto porque a larva do macho se desenvolve mais rápido comendo, então, o ovo posto pela rainha. Estes ovos têm a mesma forma dos ovos de rainha e mesmo os que são postos antes dos da rainha, podem dar origem a machos.
Em colônias de Mandaçaia, as operárias e os machos são muito semelhantes, sendo quase impossível distingui-los a olho nú.

RAINHA:

    Por ter seu abdômen bem desenvolvido, a rainha caminha lentamente pelo favo e é aí que se encontra freqüentemente sempre acompanhada por algumas operárias que lhe fazem a corte. Não existe diferença de tamanho entre células de rainha e operárias.  Numa colônia normal sempre há eclosão de rainhas virgens, no entanto elas não nascem atrativas. Se a colônia estiver com rainha fisogástricas ( fecundada) em boas condições, as rainhas virgens (princesas) serão logo eliminadas pelas operárias. Eventualmente pode ocorrer a substituição da rainha fisogástrica. A rainha virgem (princesa) , para ser fecundada, voará, voltando já fecundada para a mesma colônia e começa, após alguns dias, a fazer postura. As rainhas virgens (princesas) são de fácil identificação, pois não possuem as listras amarelas no abdômen, a cabeça é relativamente menor, e a coloração do corpo é marron.

    Após a fecundação o abdômen sofre um aumento significativo, impossibilitando seu vôo.

ZANGÕES: (machos)

    Os machos de Mandaçaia, ao contrário dos de Apis Mellifera, podem realizar algum tipo de trabalho na colônia, como por exemplo a desidratação do néctar, mas sua principal função nas colônias, é fecundar a rainha, durante o vôo nupcial. Segundo estudos efetuados, embora haja controvérsias, a rainha acasala-se somente com um zangão.

MEL:

    O mel produzido pela Mandaçaia é procurado pelo seu agradável sabor, não enjoativo. É bastante liquifeito devido ao alto teor de umidade, fato este que requer que o mesmo fique armazenado sob refrigeração, para evitar a fermentação. Na natureza a Mandaçaia pode produzir de 1,5 a 2,0 litros de mel em épocas de boa florada, criada racionalmente a produção pode aumentar.


 


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