Artigo

DETERMINAÇÃO DE PIRIDOXINA (VITAMINA B6) EM GELÉIA REAL POR
CROMATOGRAFIA LÍQUIDA DE ALTA EFICIÊNCIA*

Luis Henrique Garcia-Amoedo1  &  Ligia Bicudo de Almeida-Muradian2

 *Trabalho baseado na Dissertação de Mestrado de Luis Henrique Garcia-Amoedo (Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo sob orientação da Profa. Dra. Ligia Bicudo de Almeida-Muradian) e apresentado no XVI Congresso Brasileiro de Ciência e Tecnologia de Alimentos, de 15 a 17/07/98 - Rio de Janeiro – RJ.
1 – Pós-graduando do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo
2 – Profa. Dra. do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo

RESUMO

    A geléia real é um produto apícola que tem sido comercializado como complemento alimentar, popularmente tido como alimento altamente rico em nutrientes, entre os quais as vitaminas. A geléia real é uma secreção das abelhas (Apis mellifera), destinada à nutrição da abelha rainha e larvas em desenvolvimento. Esse trabalho teve como objetivo a  determinação do teor de  piridoxina (vitamina B6) em amostras de geléia real de procedência brasileira. Nas determinações utilizou-se a metodologia de cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE), em sistema isocrático composto por bomba, auto-injetor e detector de fluorescência; coluna C18 , fase móvel composta por ácido hexanossulfônico, hidróxido de amônio, acetonitrila e água (0,09 : 0,05 : 9,02 : 90,84) com pH ajustado para 3,6 e fluxo de 1,0 mL/minuto. O detector foi ajustado para os comprimentos de onda 295 nm em excitação e 395 nm em emissão, e o tempo total de corrida foi de 10 minutos. Utilizou-se padronização externa. Os resultados obtidos para as amostras variaram entre 1,06 e 5,35 µg de piridoxina/g de geléia real.

    Palavras-chave: geléia real, piridoxina, CLAE, vitamina B6.

1. INTRODUÇÃO

    Secretada pela glândula hipofaringeana das abelhas (Apis mellifera) operárias jovens, a geléia real é talvez um dos mais nobres produtos da colméia, sendo oferecida como alimento exclusivo para a abelha rainha e larvas em desenvolvimento. Embora sua composição esteja sujeita a variações conforme condições ecológicas, climáticas e sazonais, os trabalhos realizados por DEBLOCK-BOSTYN3, TAKENAKA9, HOWE6 e DILLON4, revelaram que a composição média da geléia real é relativamente constante. Em sua composição estão presentes carboidratos, lipídeos, proteínas, minerais e vitaminas, que lhe conferem propriedades nutricionais.

     Pouco se conhece sobre a composição da geléia real brasileira. Na legislação vigente não existe um padrão de identidade e qualidade estabelecido, nem os testes que devem ser realizados para averiguar a autenticidade ou adulteração do produto, e ainda assim tem sido cada vez mais comum sua oferta ao consumidor, com o propósito de fornecer produtos mais saudáveis, freqüentemente associados ao consumo de alimentos naturais. PALMA7, trabalhando na composição da geléia real de procedência brasileira, analisou umidade, proteínas, cinzas, lípides, açúcares e acidez, e verificou que sua composição é concordante com os valores descritos por outros autores1,8.

     O presente trabalho faz parte de um projeto maior que visa a caracterização e controle da qualidade da geléia real, com vistas a contribuição para o estabelecimento de um padrão de identidade e qualidade desse produto. Nesta etapa do trabalho determinou-se o teor de piridoxina (vitamina B6) em amostras de geléia real de procedência brasileira, particularmente aquelas produzidas no Estado de São Paulo.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Materiais

     Cada uma das amostras de geléia real foi adquirida em um dos apiários ou entrepostos de comercialização de produtos apícolas filiados à ABRACAM (Associação Brasileira de Apicultores Criadores de Abelhas Mansas) ou à APACAME (Associação Paulista de Apicultores Criadores de Abelhas Melíferas), ou ainda de outros apicultores produtores de geléia real no Estado de São Paulo. Todas as amostras foram mantidas sob refrigeração a -18ºC e ao abrigo da luz,  desde o momento do recebimento até o momento de análise. Cada amostra de geléia real é proveniente de um  apicultor e correspondente a um lote de produção apícola.

2.2. Métodos

     A determinação de piridoxina foi baseada no procedimento descrito por CHASE2 com modificações, utilizando-se um sistema de cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE), nas seguintes condições: sistema isocrático com bomba (Shimadzu LC9A) com auto-injetor e detector de fluorescência (Shimadzu RF535). Coluna C18 (Vydac, 5mm; 4,6mm x 25cm; cód. 201TP54), fase móvel composta por ácido hexanossulfônico, hidróxido de amônio, acetonitrila e água (0,09 : 0,05 : 9,02 : 90,84) com pH ajustado para 3,6 com ácido fosfórico e fluxo de 1,0 mL/minuto. O detector foi ajustado para os comprimentos de onda 295 nm em excitação e 395 nm em emissão, e o tempo total de corrida foi de 10 minutos. Utilizou-se padronização externa  (padrão piridoxina Sigma   P-5669).

    A Figura 1 representa o fluxograma do procedimento de análise.
 
 

 
tomada de ensaio da amostra

adição de ácido tricloroacético a 8%

agitação (vortex)

centrifugação (14000 RPM)

filtração por membrana 0,22 mm

injeção em cromatógrafo líquido
 
FIGURA 1: fluxograma do procedimento analítico
 
 

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

 A Figura 2 apresenta os perfis cromatográficos de uma amostra de geléia real (B) e do padrão de piridoxina (A).
 
 
 


FIGURA 2: Cromatogramas obtidos em análises de piridoxina em geléia real por CLAE.  A= padrão de piridoxina e B= amostra de geléia real. Condições cromatográficas: FM= ácido hexanossulfônico / hidróxido de amônio / acetonitrila / água (0,09 : 0,05 : 9,02 : 90,84), fluxo de     1 mL/minuto, detector de fluorescência em emissão aos 295 nm e excitação aos 395 nm,         coluna C-18.

    Os resultados analíticos obtidos para as amostras de geléia estão apresentados na Tabela 1:

TABELA 1: Teor de piridoxina (vitamina B6) em amostras de geléia real

Amostra Média  Desvio padrão
1 1,72 0,03
2 4,89 0,17
3 1,80 0,02
4 1,06 0,05
5 5,35 0,10
6 1,07 0,02

     Os resultados obtidos para o teor de piridoxina na geléia real analisada foram de 1,06 a 5,35 µg/g,  são concordantes com os valores citados por REMBOLD8 cujo intervalo é de 2,2 a 50 µg de piridoxina por grama de geléia real fresca e por ARDRY1 que mostra o valor de  2,4 µg/g.
 
 

4. CONCLUSÃO

     Tendo em vista os resultados obtidos, pode-se afirmar que o método analítico foi adequado, podendo ser utilizado para a determinação da piridoxina em geléia real a nível de microgramas.

     Tomando por base as cotas diárias de vitamina B6 preconizadas pelo “Food and Nutricion Board, National Academy of Sciences, National Research Council” em 19895, a geléia real não pode ser considerada como boa fonte de vitamina B6, uma vez que a ingestão diária recomendada para  homens adultos é de 2,0 mg diários e os valores encontrados no produto, nas quantidades usualmente consumidas, são da ordem de microgramas.
 
 

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    1)ARDRY, M.R. - Contribution à létude de la gelée royale. Annales Pharmaceutiques Françaises,  v. XIV, n. 2, p. 97-118, 1956.

    2)CHASE Jr, G.W.; SOLIMAN, A.M. - Analysis of thiamin, riboflavin, pyridoxine and niacin in multivitanim premixes and supplements by high performance liquid chromatography. Journal of Micronutrient Analysis, v. 7, p. 15-25, 1990.

    3)DEBLOCK-BOSTIN, G. -  L’abeille et ses produits. Bulletin de la Société de Pharmacie de Lille, n. 3-4, p. 181-203, 1982.

    4)DILLON et al. - Pollen et gelée royale. Cah. Nutr.Diet., v. XXII, n.  6, p. 458-464,  1987.

    5)GUILLAND, J.C.; LEQUEU, B.; EDI, G. - As vitaminas: do nutriente ao medicamento. 1.ed. Livraria Editora Santos, 1995, 375p.

    6)HOWE, S.R.; DIMICK, P.S.; BENTON, A.W. - Composition of freshly harvest and commercial royal jelly. Journal of Apicultural Research, v. 24, n. 1, p. 52-61, 1985.

    7)PALMA, M.S. - Composition of freshly harvested Brazilian royal jelly: identification of carbohydrates from the sugar fraction. Journal of Apicultural Research, v. 31, n. 1, p. 42-44, 1992.

    8)REMBOLD, H. - Biologically active substances in royal jelly. Vitams Horm, v. 23, p. 359-382, 1965.

    9)TAKENAKA, T. - Studies on protein and carboxilic acids in royal jelly. Bulletin of the Faculty of agiculture, Tamagawa University, v. 24, p. 101-109, 1984.

AGRADECIMENTOS

    Os autores agradecem a colaboração dos apicultores produtores e dos entrepostos de comercialização de produtos apícolas que colaboraram com a pesquisa fornecendo gentilmente as amostras; à colega de laboratório Magda G. D. Rios, e ao CNPq pela Bolsa de Produtividade em Pesquisa concedida ao segundo autor.

ABSTRACT

    Royal jelly is a bee product that has been sold like as food supplement due to its nutritional properties, including vitamins. It is a secretion from bees (Apis mellifera), for the nutrition of the queen bee and growing up larves. The objective of the present study was to determine the piridoxine (vitamin B6) value from Brazilian Royal Jelly. The method used was HPLC (High Performance Liquid Chromatography) using isocratic system with pump, auto-sampler, fluorescence detector, C18 column, mobile phase composed by hexanosulfonic acid, amonium hydroxide, acetonitrile and water (0,09 : 0,05 : 9,02 : 90,84) with pH of 3,6 and 1,0 mL/minute flow. The detector was adjusted to 295 nm for extinction and 395 nm for emission. It was used external standarization. The results were between 1,06 e 5,35 mg of piridoxine/g of  Royal Jelly.


 
 

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