Abelhas Nativas
 
 

MELIPONICULTURA ( Criação de Abelhas Indígenas sem Ferrão)

Waldemar Monteiro, conservacionista, membro do Departamento de Abelhas Indígenas da APACAME

    Caros colegas, a partir desta edição estaremos reservando um espaço destinado a orientá-los, passo a passo, na criação de nossas abelhas nativas, com o intuito de preservá-las e ao mesmo tempo usufruir de suas benesses

Foto do meliponário do Parque da Água Branca
Meliponário instalado no Parque da Água Branca
    Portanto não usaremos linguagem acadêmica. Simplificaremos o máximo possível.

    Para criar abelhas nativas devemos reservar um local adequado que tenha todos os requisitos necessários para obtermos sucesso.

    Esta  área chamaremos de meliponário. Para mantê-las primeiramente precisamos analisar a existência de floradas (pasto apícola), ou seja, as espécies de flores da região; devemos anotar as épocas em que as floradas acorrem a presença de água potável, evitar correntes de ventos que possam prejudicar o vôo das abelhas. Locais sombreados devem ser preferidos, melhor será se colocarmos as colméias sob arbustos, o que também facilita o trabalho do meliponicultor. Árvores com frutos grandes devem ser evitadas, como por exemplo: manga, abacate, laranja, jaca, cuja queda poderá acarretar danos nas colméias.

    Na montagem do meliponário devemos obedecer uma distância mínima entre as colméias, ou seja de 1 metro para as abelhas pequenas e 2 metros para as abelhas médias e grandes.
    Manter o meliponário a uma distância mínima de, pelo menos, 600 metros de apiários de Apis mellifera.

    Para facilitar o acesso ao meliponário, devemos observar alguns itens: instalar as caixas em locais estratégicos bem próximos das residências, no quintal ou até mesmo nas varandas das casas para evitar roubos; colocar as caixas longe de estradas devido ao excesso de movimento e de poeira, não instalar o meliponário em morros ou montanhas para não desgastar as abelhas, prolongando, assim, seu tempo de vida.

    Devemos cercar o meliponário. Isso dificultará o ataque de outros animais. Se instalarmos as caixas em cavaletes devemos observar uma altura mínima de 50 cm do chão.

    O sombreamento do meliponário é importante para manter a temperatura em condições adequadas para evitar o aquecimento excessivo no interior da caixas, as quais não devem ser expostas diretamente aos raios solares.

    Devemos evitar locais com correntes de ar frio que provoquem o resfriamento das caixas e morte das crias; a água deve ser potável, se possível corrente e bem próximo, e em regiões secas é preciso colocar um bebedouro cuja água deve ser trocada diariamente. Este bebedouro deve conter um pedaço de madeira flutuando para evitar o afogamento das abelhas. A água suja é muito prejudicial.

    A flora é essencial para o sucesso da criação. Assim deve ser observada a existência de plantas que forneçam pólen (saburá, samorá) e néctar a maior parte do ano. Devemos observar as plantas visitadas pelas abelhas e registrar as épocas das floradas, montando, assim, um calendário regional.

    Para povoarmos nosso meliponário devemos escolher abelhas presentes na região, ou as que já existiam. Desaconselhamos a introdução de espécie de outras áreas devido a diversos fatores que comentaremos futuramente.

    Existem no mundo cerca de 15.000 a 20.000 espécies de abelhas de vários tamanhos e cores e poucas são sociais.
As abelhas sociais pertencem a super família Apoidea e são dotadas de estrutura para a coleta de alimentos, como corbicula, vesícula melifera etc.

    Inicialmente faremos aqui uma apresentação de algumas espécies mais conhecidas, ou seja aquelas que podem ser criadas racionalmente pelo meliponicultor, tanto para uma produção comercial quanto para satisfação pessoal.

    Existem no Brasil cerca de 300 espécies de abelhas indígenas sociais, distribuídas em tribos como as dos Meliponini e Trigonini, sem falar também nas abelhas solitárias e as do gênero Bombus, todas com grande utilidade na polinização.

    Entre as Meliponini citamos: A Uruçu, do Nordeste (Melipona scutellaris), Mandaçaia (Melipona quadrifasciata), Tiúba (Melipona compressipes), Jandaíra (Melipona subnitida)etc.
Entre as Trigonini citamos a Jataí (Tetragonisca angustula), a mais comum no Estado de São Paulo que nos dá um excelente mel.

    Para povoarmos o meliponário devemos procurar adquirir colméias de meliponicultores que fazem a divisão de famílias, ou retirar ninhos em locais de desmatamento ou demolição de casas e prédios. Nunca devemos incentivar a extração de ninhos através de compra de meleiros, porque assim estaremos contribuindo para a extinção das espécies.

    O  que não devemos criar no meliponário: a conhecida abelha Irapoa (Trigona spinipes) é um dos exemplos. Essa espécie é prejudicial a algumas culturas, pois corta os botões florais de várias plantas principalmente os citrus, utilizando-se desse material para a construção do ninho.
Outros exemplos são: as abelhas limão ( Lestrimellita ) também conhecida como Iratim, que não possuem estruturas para a coleta de alimentos, sobrevivendo do saque às outras colônias e a Caga fogo (oxytrigona tataira) que se defende liberando uma substância que em contato com a pele provoca sérias queimaduras (ácido fórmico).

    Embora as abelhas indígenas tenham o ferrão atrofiado, todas elas tem o seu mecanismo de defesa: muitas espécies, quando incomodadas, se enrolam nos cabelos e pelos, beliscam a pele do agressor com suas mandíbulas, que em algumas abelhas são fortes o suficiente para causar alguns ferimentos na pele, e costumam entrar na narinas e ouvidos. Algumas espécies depositam sobre o agressor resina vegetal que gruda sobre os pelos.

    Muitas delas são bastante mansas e se protegem para defender seus ninhos construindo-os em locais de difícil acesso e aí se recolhem quando incomodadas. Algumas espécies de abelhas nativas constroem seus ninhos dentro de formigueiros ou próximo do ninho de abelhas bastante agressivas, obtendo assim proteção para suas colmeias.

    Terminando, quero dizer que embora não exista interesse comercial em criar estas abelhas, devemos protegé-las, porque todos tem uma razão de ser na Natureza.

 
 

 
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