RENOVAÇÃO DE RAINHAS E DESENVOLVIMENTO DE COLÔNIAS DE Apis mellifera scutellata Lepeletier, 1836 (Hym., : Apidae) INFESTADAS NATURALMENTE COM Varroa jacobsoni Oudmans 1904. (Acari, Mesostigmata) 1
Adhemar Pegoraro 2 O estudo foi conduzido em um apiário localizado no Município de Mandirituba-PR. O presente trabalho teve por finalidade observar a renovação de rainhas por puxada natural na presença das rainhas para confirmar as técnicas desenvolvidas pelo Apicultor Kurletto com custos baixos e materiais e facil manuseio por parte dos apicultores. Esse método consiste na utilização de técnicas menos complexas na criação e renovação de rainhas com menor quantidade de materiais e economia de tempo e recursos financeiros. Tal método poderá ser utilizado para preservar linhagens com valor apícola desejável para produção de mel, pólen e tolerância à Varroa jacobsoni, nos apiários comerciais, além de atender aos princípios de preservação da diversidade genética. Sendo assim foi desenvolvido um método, baseado na presença das rainhas nas colônias em produção com fluxo de feromona, em condições climáticas favoráveis e disponibilidade de recursos alimentares na natureza, por puxada natural, cada rainha foi aprisionada em uma gaiolinha tipo Haneman e colocada sobre a entre-tampa em um orifício de 16 mm de diâmetro. As colônias foram protegidas com cobertura especial tipo KURLETTO (1976). A gaiolinha permitiu o contato parcial das operárias com a rainha de sua colônia através da tela de 1 mm de malha. Consideranda-se que as operárias de Apis mellifera produzem preferencialmente rainhas de larvas companheiras de ninho ou subfamílias, a poliandria poderia conduzir à redução da relação genética de parentesco entre operárias companheiras de ninho, pois, em cada colônia de Apis mellifera, existe uma coleção de sete a dez subfamílias, e cada subfamília possui coeficiente de parentesco de 75% entre os seus membros, quando o pai (zangão) for o mesmo e de 0,25, quando o pai (zangões) for diferente. Este é um meio para diminuir a relação genética entre as operárias de uma mesma colônia e aumentar a diversidade entre as subfamílias dentro de cada colônia. Este comportamento poderá indicar que os zangões que se acasalarem com a rainha provavelmente são conduzidos para um acasalamento com maior diversidade genética.Acompanhou-se o desenvolvimento de 21 colônias de Apis mellifera scutellata no período de maio de 1994 a abril de 1995 para observar se existiu diferenças entre elas quanto a quantidade de ovos-larvas e pupas (crias) e mel e pólen (recursos alimentares armazenados), crias\recursos alimentares e percentagem de infestação com Varroa jacobsoni. Ainda foi corrrelacioanado as variáveis crias e recursos alimentares com percetagem de infestação com Varroa jacobsoni. Este estudo mostra uma tendência de existir diferenças entre as colônias em todas as variavéis estudadas e existir grupos homogêneos superiores e inferios dentro da população analisada. A população das colônias de Apis mellifera scutellata, avaliada no presente trabalho, seguiu a mesma tendência observada por COUTO (1991), que estudou Apis mellifera ligustica, Apis mellifera carnica, Apis mellifera causasica (européias), Apis mellifera scutellata e seus híbridos, no período de 1981 a 1989, em uma região canavieira e concluiu que a produção de crias (ovos-larvas e pupas) e o acúmulo de recursos alimentares (mel e pólen), foram determinados em função da disponibilidade de recursos alimentares na natureza. Foi observado um grupo de colônias que apresentou aptidão para armazenar mel e tolerâcia à Varroa jacobsoni com boa proporcão entre cria\recursos alimentares. A área de mel armazenado, no período de abril de 1994 a maio de 1995, demonstrou diferenças significativas entre as duas colônias e maior equilíbrio entre as variáveis na colônia de número 14, considerada como modelo a ser procurado em programas de seleção para melhorar o desempenho dos apiários comerciais. As menores áreas de mel armazenado para o local do experimento e a população estudada ocorreram nos meses de abril a setembro, com picos mínimos em setembro e abril, o que indicou, a necessidade de alimentação artificial. A colônia de número 21 não apresentou aptidão para armazenar mel, demonstrando também um desequilíbrio na proporção cria e alimento no decorrer das observações e, de acordo com SOMMER (1988), e sua rainha deverá ser substituída.
Neste trabalho ficou demonstrado, que as colônias de Apis mellifera scutellata tendem a não serem diferentes apenas em função das regiões geográficas brasileiras, como demonstraram DINIZ-FILHO & MALASPINA (1995), mas que há tendência em serem diferentes também nas características de interesse apícola.A divisão da área de ovos, larvas e pupas (crias), por área de recursos alimentares (mel e pólen), originou um índice que permitiu a classificação e a determinação dos períodos de disponibilidade e escassez de recursos alimentares nas colônias estudadas no local.
Os dados demonstram que não basta as colônias possuírem somente equilíbrio na conversão de recursos alimentares em ovos-larvas e pupas, é necessário também que elas armazenem recursos alimentares, principalmente mel, pois sem essa característica a sua manutenção nos apiários provavelmente não será viável economicamente. Quanto maior for este índice mais críticas serão as condições ambientais. Para o local onde realizou-se este experimento, esta época foi o mês de setembro. As melhores condições de sobrevivência das colônias e armazenamento de recursos alimentares em equilíbrio com a produção de crias ocorreram no mês de outubro. Apenas um mês separou o período mais crítico do ano do mais favorável para as colônias, demonstrando que este índice, além de indicar a característica das colônias converterem recursos alimentares em cria, determina as épocas de disponibilidade e escassez de recursos alimentares. Tal fato indica quando o apicultor deverá fornecer alimentação artificial de subsistência para manter a população em níveis elevados, garantindo, assim, a sobrevivência das colônias da população analisada, para que elas aproveitem a florada do mês de outubro com maior disponibilidade de recursos alimentares na natureza favorecendo o desenvolvimento das colônias e armazenamento de mel e pólen.
Nos meses de julho e agosto, não apareceu o pico de oferta de recursos alimentares esperado, em função de não existirem maciços de Mimosa scabrella Benth. No período entre a segunda quinzena de abril e até o início do florescimento de Mimosa scabrella na região, meados de julho, geralmente ocorre escassez desses recursos, reduzindo drasticamente ou paralisando o desenvolvimento de crias nas colônias. Com a redução dos recursos alimentares armazenados nas colônias, para garantir a sobrevivência das colônias foi necessário recorrer à alimentação artificial. As colônias que apresentaram as maiores produções de cria ovos-larvas e pupas, não apresentaram as maiores áreas de mel armazenado, a produção de mel tende a não aumentar linearmente com o tamanho da colônia mais sim com a proporção entre a quantidade de crias e recursos alimentares.
De acordo com SOMMER (1988), as colônias susceptíveis à Varroa jacobsoni devem ser eliminadas do apiário para evitar que no futuro seja necessário recorrer aos métodos de controle químico, que são considerados não-racionais em função das quantidades de acaricidas usados e dos resíduos que permanecem no mel e na cera, e há possibilidade do ácaro adquirir resistência aos acaricidas, prejudicando o apicultor.
A colônia de número 21 apresentou os menores índices nas variáveis área de ovos-larvas e pupas (crias), mel e pólen (reserva de recursos alimentares), mas não foi a colônia que apresentou a maior percentagem de infestação com Varroa jacobsoni, concordando com ROSENKRANZ (1996), que também observou a existência de outros fatores, tais como: ambientais, nutricionais e comportamentais, os quais contribuem para reduzir a população desse ácaro em colônias de Apis mellifera e suas subespécies, além do fator genético. Encontrou-se corelação inversa e significativa entre percentagem de infestação com Varroa jacobsoni e todas as outras variáveis estudas indicam que a medida que aumenta a infestação com Varroa jacobsoni diminue as outras variáveis, provavelmente este ácaro esteja proporcionado prejuizo á população de Apis mellifera scutellata como um todo. Pórem existe diferenças significativas entre as colônias e isto abre a possibilidade de seleção de colônias tolerante a este ácaro como demonstraram GUERRA, GONÇALVES & DE JONG (1994) observaram que a capacidade de remoção das células de operárias, infestadas com Varroa jocobsoni em Apis mellifera ligustica variou de 12,50%, a 85,71%. contra 0% a 55% em híbrido de Apis mellifera ligustica x Apis mellifera scutellata, indicando que nas duas populações existiu variação e que o híbrido Apis mellifera scutellata apresentou maior capacidade de remoção. KULINCEVIC et al., (1992) encontraram flutuação sazonal nas percentagens de infestação na cria de Apis mellifera carnica infestada com Varroa jacobsoni. Para linhagens tolerantes e suscetíveis a variação de infestação máxima e mínima foi de 5,64% a 9,85%, e 14,8% a 23,8% respectivamente
1- Dissertação apresentada para obtenção do grau de Mestre em Ciências Biológicas, na área de Entomologia, do Curso de Pós-Graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Eli Nunes Marques. Os resultados serão apresentados em revistas cientificas
2- Prof. de Apicultura do depto Zootecnia da Universidade Federal do Paraná