Polinização


POLINIZADORES DE MALPIGHIA GLABRA L.

Cidcley Guedes de Melo1
Edna Ursulino Alves1
Maria Cristina Affonso Lorenzon2
Jacinto Luna Baptista2

1 - Bolsistas de Iniciação Científica CNPq
2 - Prof. MSc. III,Dep De Zootecnia, CCA/UFPB. 58.397-000 - Areia, PB


RESUMO - Estudos na região Nordeste tem registrado como polinizadores efetivos deMalpighia glabra, as abelhas Anthophoridae e Halictidae. Contribuindo com estes resultados foram feitas capturas e coleção de visitantes floraisApoidea por dois observadores em diversas horas do dia nos picos das floradas, em pomarde aceroleira composto por 120 plantas. Verificou-se a presença de dez espécies de abelhas: Centhris fuscata, C. aenea, C. spousa, Epicharis bicolor (Anthophoridae), Trigona trigona sp., T. trigona spinipes, Plebeia spp., Partamona cupira, Nonnatrigona testaceicornis (Meliponinae), Apis mellifera (Apinae). A sub-família Meliponinae representada pela tribo Trigonini destacou-se em número e frequência, tendo como principais visitantes Trigona trigona sp. e Plebeia spp. Malpighia glabra não foi atrativa à Apis mellifera e os meliponíneos, destacando-se Trigonini, foram os responsáveis pela polinização desta cultura.

PALAVRAS-CHAVES: polinizadores, Trigona, Malpi-gliaceae.


ABSTRACT - In the northeast Brazil studies have showed Anthophoridae and Halictidae bees as Malpighia glabra pollinators. An experiment was performed in Parahyba State in an west indian cherryorchard with 120 plants. All flowers visitors Apoidea were collected by two observators in any hours a day in the peak flowering. Ten species ofApoideavisitedMalpighia glabra flowers: Centhris fuscata, C. aenea, C. spousa, Epicharis bicolor (Anthophoridae), Trigona trigona sp., T. trigona spinipes, Plebeia spp., Partamona cupira, Nonnatrigona testaceicornis (Meliponinae), Apis mellifera (Apinae).Meliponinae (Trigonini) was more abundant and more present. Rarely, Apis mellifera visited the orchard during the year, it was signal that they were not attracted to these flowers. By the preference for the Malpighia glabra flowers by Meliponinae (Trigonini), they may play an important role in pollination. And the proximity with forests and natural vegetation ought conserve the feral pollinators, helping the fruit set.

KEY WORDS: Pollinators, Trigona, Malpighiaceae.


INTRODUÇÃO

Muitas regiões tropicais e sub-tropicais estão voltadas para a necessidade do aumento da produção de suas culturas, neste sentido, a polinização tem assumido grande importância.
Yamane e Nakasone (1961) verificaram que no Hawaii a aceroleira não é muito frutificável, apesar da abundância de flores, com produção de frutos normalmente abaixo de 10%. A auto-polinização, a polinização manual e pelo vento apresentaram menor destaque na produção de frutos. Diferenças de frutificação entre clones foi também registrada, mas, geralmente, a baixa produção de frutos foi devida a ausência de agentes polinizadores. Estesautores verificaram que as abelhas melíferas (Apis mellifera) e Sirfídeos (Eristalis agendrum) foram os visitantes mais frequentes quando a florada foi exuberante, porém, a introdução de abelhas melíferas nos pomares não melhorou a produção de frutos. Sazima e Sazima (1988) consideraram Anthophoridae, especialmente, os gêneros Epicharis e Centhris como os principais visitantes de Malpighiaceae. Carvalho et al. (1995) confirmaram estes resultados e acrescentaram Halictidae, especialmente os gêneros Augochlioropsis, Pseudagapostemon eAugochliorelia.
Porsch (1958)e Faegri e Pijl (1976) constataram que a determinação dos visitantes às flores torna-se fundamental, para a determinação dos polinizadores efetivos de diversas culturas. Argumentaramainda, queplantas em florescimento mostraram considerável diversidade no seu grau de dependência de insetos e polinização, por evidenciar comumente representantes de grupos que não são reconhecidos como polinizadores.
Fundamentando-se nesse propósito, esta pesquisa objetivou avaliar qualitativamente a visita da fauna Apoidea às flores de aceroleira.


MATERIAIS E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no pomar de aceroleira pertencente ao Departamento de Fitotecnia do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba durante o período de janeiro, abril e dezembro de 1994. O pomar apresentava 120 plantas em produção há quatro anos, plantadas no espaçamento de 4 x 4 m cercada por mata secundária e algumas culturas, como videiras e mangueiras. Próximo (500 m) há um criatório de abelhas melíferas (6 colô-nias), Melipona scutellaris (10 colônias), Partamona cupira, Plebeia spp., Nonnatrigona testaceicornis (15 colônias).

TABELA 1 - Espécimes de Apoidea Coletadas na Florada da Aceroleira (Malpighia glabraL.), CCA/UFPB, 1994.

ESTA PESQUISA LITERATURA 
Centhris fuscataAnthophoridaePseudagapostemon gramineaHalictidae
Centhris aeneaAnthophoridaeAugochlorella sp.Halictidae
Centhris spousaAnthophoridaeAugochlorella callichroaHalictidae
Epicharis bicolorAnthophoridaeThectochlora alarisHalictidae
Trigona spinipesMeliponinaeCenthris aeneaAnthophoridae
Trigona trigonaMeliponinaeCenthris fuscataAnthophoridae
Plebeia spp.MeliponinaeCenthris spilopodaAnthophoridae
Partamona cupiraMeliponinaeCenthris spousaAnthophoridae
NonnatrigonatestaceicornisMeliponinaeCenthris bicolorAnthophoridae
ApismelliferaApidaeExomalapsis *1Anthophoridae
  Eristalis agendrumSyrphidae
  Apis mellifera *2Apinae
*1 Carvalho et al. (1995); *2 Yamane & Nakasone (1961).

Para obter-se a coleção de insetos polinizadores foram capturados os insetos visitantes às flores com auxílio de redes entomológicas, frascos e pinças, em cada floração, nos períodos seco e chuvoso. As espécimes capturadas foram colocadas em frascos mortíferos, contendo éter a 70% e, posteriormente, montadas em caixas de isopor com naftalina e identificadas pelo Centro de Ciências para o Estudo da Natureza da Universidade Federal da Paraíba e pela Universidade Federal do Paraná.
O estudo da densidade dos insetos polinizadores foi feito nas espécies mais frequentes, previamente iden-ti-ficadas. Estes dados foram obtidos por dois observadores pela manhã, entre 8 e 10,30 h a tarde, entre 14 e 17,00 h, a cada 30 minutos, durante o pico de florescimento de cada florada em plantas e ramos escolhidos ao acaso. Os observadores ficaram dispostos em pontos opostos de uma mesma planta. Durante o período experimental foram também registrados dados de temperatura (oC), umidade (%), precipitação pluvial (mm).


RESULTADOS E DISCUSSÃO

No período estudado, a floração da aceroleira foi exuberante, com duração média de 22 dias, ocorrendo em torno de cinco vezes durante o ano, concentrou-se, principalmente, no período seco (normalmente de setembro a março). Comumente as floradas foram irregulares caracterizando-se por apresentar um número bastante diferenciado de flores entre plantas.
A florada da aceroleira atraiu boa variedade de visitantes, incluindo insetos de duas ordens,Hymenoptera e Diptera. Entre os Apoidea foram coletadas 10 espécies, pertencentes a duas famílias, Anthophoridae: Centhris fuscata, C. aenea, C. spousa, Epicharis bicolor e Apidae: Trigona trigona sp., T. t. spinipes, Plebeia spp., Partamona cupira, Nonnatrigona testaceicornis (Meliponinae), Apis mellifera (Apinae). As espécies mais comuns foram : Trigona trigona sp., Plebeia spp., Nonnatrigona testaceicornis, T. t. spinipes, destacando-se, também, os gêneros de maior velocidade de vôo, Epicharis e Centhris. Muitos estudos vem demonstrando variação em diversidade e abundância de insetos polinizadores, por causa de fatores (ou gradientes) ambientais, tais como, altitude (Wille et al, 1983), vegetação natural (Young, 1986), habitat (Johnson e Bond, 1992), distância da aguada (Herrera, 1988). Carvalho et al. (1995) verificaram a ocorrência exclusiva de espécies de Halictidae e Anthophoridae, Yamanee Nakasone (1961) de abelhas melíferas e sirfídeos, e nesta pesquisa,Meliponinae e Anthophoridae (Tabela 1). Como as espécies de abelhas coletadas foram em sua maioria naturais, a ocorrência de floresta e vegetação nativas adjacentes ao redor dos pomares de aceloreira, conservariam as populações destes polinizadores naturais, que beneficiariam sumamente esta cultura.
Todos os espécimes de meliponíneos pertenciam a tribo Trigonini, cuja abundância e comportamento, destaca-os como importantes polinizadores deste pomar. Dos Trigonini, Trigona trigona sp. foi a espécie mais abundante e constante nos períodos seco e chuvoso. (Tabela 2). Apenas em uma florada esta espécie apresentou densidade baixa (18 e 38%), nas demais obteve densidade alta (entre 55 e 94%). As Plebeia, também, visitaram as floradas durante o ano, mas, apresentaram densidades bem inferiores a espécie anterior (nem inferior a 1%, nem superior a 60%). Avaliadas pelo talhe, mesmo as menores abelhas como Plebeia, teriam oportunidade de polinizar estas flores quando se considera a proximidade entre gineceu e anteras, de aproximadamente 2 mm.

TABELA 2. Polinizadores mais frequentes e respectivas densidades. médias (%) observadas em três floradas de Acerola (Malpighiaglabra L.) obtidas emdiferentes dias e meses (janeiro, abril, dezembro) entre 08,00 as 10,30 e 14,00 as 16,30 horas, no Centro de Ciências Agrárias/ UFPB - Areia-PB, 1994.

DIA/MÊS
Abelhas12/0113/0119/0108/0412/0414/0421/1222/1223/12
Trigona spinipes3,395,4932,080005,477,2411,62
T. Trigona sp.8987,9455,6338,2994,4418,9493,1584,0571,67
Plebeia spp.7,56,5512,2860,005,5581,051,368,6916,69
Temperatura ° C3129,5032,0029,3029,1025,5028,4025,5027,50
Umidade %757073678392,56798287
Precipitação mm0009,9005,6000

Embora haja uma variação de abundância relativa dos visitantes entre floradas, não houve no período estudado, ausência dos polinizadores descritos, com exceção de Trigona spinipes, cujo comportamento foi discutível, por abandonar a florada em certos meses (abril), concentrar sua visitação nas plantas com florescimento abundante e passar algum tempo em grupos nas folhas.
Observou-se que durante a visita às flores, os meliponíneos apresentaram comportamento típico de polinizador, tocando anteras e estigmas florais. Lorenzonet al. (1994) registraram em aceroleira um percentual de frutificação de 60 %, o que ressalta a importância da presença destes insetos.
A visitação dos polinizadores às flores da aceroleira, provavelmente, deveu-se a procura de dois tipos de alimento : pólen e óleo. Segundo Roubik (1989) em Malpighia glabra não há oferta de néctar, apenas de óleo, e as flores apresentam estruturas próprias, chamadas de elaióforos, quepodem cobrir a superfície dos grãos de pólen, fato este também observado por Nogueira Neto (1957). Estes relatos explicam o comportamento típico em Trigona de forragear as anteras com probóscide, e logo em seguida depositar o recurso entre os esternitos toráxicos.


CONCLUSÕES

  1. Malpighia glaba L. não é atrativa à abelhas melíferas;
  2. Os Meliponíneos (Trigonini) destacam-se como polinizadores em número e frequência;
  3. Trigona trigona sp. foi o visitante mais abundante e frequente durante os períodos seco e chuvoso e Trigona spinipeso mais instável.


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