Artigo


O MEL

Dr. REYNALDO GUILHERME KRAMER
Diretor Técnico da APACAME

Para muitas pessoas o mel é apenas uma substância muito doce produzida pelas abelhas e desfrutada pelo homem tanto pelo seu poder adocicante quanto por suas virtudes diuréticas ou terapêuticas. Poucos conhecem as razões da existência de tantos tipos diferentes de méis entre si por seu aroma e aspecto.
O mel é o produto elaborado a partir do néctar das flores e de secreções de partes vivas das plantas, ou que ocorrem com elas, que depois de coletado pelas abelhas e misturado com substâncias específicas próprias, é manejado e transformado e depositado nos alvéolos da colméia para amadurecer.
Traçadas essas linhas gerais, constatamos que o mel é um produto complexo cuja composição varia notadamente em conseqüência da florada original, das zonas geográficas e das condições climáticas. A diferença entre os méis depende da variedade e quantidade de plantas que florescem e produzem néctar no mesmo período. Se existe uma fonte principal de néctar, que predomina sobre as demais e confere ao mel suas características particulares, falamos então em mel monofloral.


Origem do Mel

O néctar é a principal fonte onde se origina o mel. É secretado por órgãos específicos das plantas chamados nectários, situados geralmente na base interna das flores, os nectários florais. Há casos em que estes órgãos estão situados em diversas outras partes, são os nectários extras florais.
O néctar consiste em uma solução de água e açúcares, com pequenas quantidades de outras substâncias: aminoácidos, minerais, vitaminas, ácidos orgânicos, enzimas, óleos aromáticos, etc. Esse conteúdo pode variar de 4 a 20% em função da espécie botânica e de condições climáticas.
O recolhimento do néctar pela abelha pode resultar numa carga de até 40 mg, que representa perto de uma gota de líquido.
Quando há possibilidade, a abelha elege nectários de elevada concentração de açúcares e prefere aqueles ligados à sacarose dos monosacarídeos, glucose e frutose.


Coletando o Néctar

Uma abelha campeira voa aproximadamente a 20/24km/h em uma altura que varia de 1 a 8 metros. Quando volta da coleta a abelha estará levando com ela néctar suficiente para alcançar a colmeia sem problemas de distância/peso. Geralmente a abelha visita entre cinqüenta e mil flores numa viagem, permanecendo fiel à espécie botânica que escolheu para trabalhar. As visitas podem demorar algum tempo e as abelhas fazem cerca de 13 a 17 viagens por dia. Freqüentemente mais de 50% da carga é água excedente que evaporará no interior da colméia. A principio serão visitadas flores ao redor da colméia e, a medida que vão reconhecendo o terreno, percorrerão um raio de 200 a 500 metros. Quando a coletora retorna à colmeia, observei que está sendo esperada até com ansiedade pelas abelhas caseiras (mais jovens), para iniciar a transformação do néctar em mel.


Transformando Néctar em Mel

O néctar é liberado na colmeia, acima e ao redor dos favos de cria onde a temperatura esta em torno de 34/35 graus centígrados.
Na área de mel a temperatura está um pouco abaixo de 35 graus.
Quando a abelha coletora chega na colmeia carregando em sua Vesícula melifera, o néctar coletado, é entregue e começa a ser mesclado com saliva contendo secreções de várias glândulas, especialmente das hipofaringeanas que contribuem com enzimas para a elaboração do mel, invertase, diastase e glicoseoxidose.
Voltando um pouco à abelha coletora, esta ao chegar repassa a carga coletada a uma ou mais abelhas jovens que fazem o trabalho interno da colmeia. Quando a abelha coletora se aproxima das outras, abre as suas mandíbulas e uma gota de néctar aparece na superfície superior da base da sua probóscide. Então a abelha receptora estende ao máximo a sua probóscide e rapidamente pega ou suga o néctar oferecido. Durante esta transferência as antenas das abelhas estão em contínuo movimento, tocando-se, com a finalidade deabsorver informações florais e sua possível localização.
As abelhas aparentemente também conversam entre si, segundo as minhas observações a freqüência dos sons se situa abaixo de 1.000 Herz, ao contrário do homem, que gira em torno de 3.000 a 6.000 Herz.
Não entro no terreno das cores, que é muito importante e merece um capitulo à parte.
De posse do futuro mel, as abelhas caseiras o manipulam para avaliação da umidade e concentração de açucares, mas desconheço seus critérios de avaliação. Se houver necessidade de água pura, esta também é solicitada. Depois de tudo trabalhado e avaliado, o mel é depositado nos alvéolos. Ao redor desses alvéolos também estarão estacionadas abelhas caseiras com função de observação e controle, abanando suas asas para evaporar o excesso de água ou regular a temperatura local. A umidade ideal do mel na colmeia ou fora dela é de 18%. Em clima tropical, tolera-se até 20%. Atendidos todos os requisitos, os alvéolos são lacrados com uma finíssima camada de cera com a particularidade de ser porosa.


Retorna à página anterior