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DUAS "JATAÍS" E UMA PLEBÉIA, TRÊS ESTRATEGIAS DIFERENTES A MIL METROS DE ALTITUDE

Harold Brand - Biólogo, Meliponicultor e Consultor da APA - E-mail: hanceldbrand@gmail.com

A Jataí da Terra (Paratrigona
subnuda) - Somente com atenta
observação ou até mesmo com certa
intuição é possível localizar
uma família de Jataí da Terra,
a sua entrada muito bem disfarçada
entre os componentes da relva,
um bom exemplo de mimetismo.

A Mirim-guaçu (Plebeia remota)
- As abelhas Plebeia remota,
paradas, inertes, congeladas
no espaço tempo, esperando
condições favoráveis para retornar
as suas atividades, é a dipausa.

A Jataí (Tetragonisca angustula)
- Abelha Jataí, Jatí, Polaca, Yabi,
Alemãzinha e outros nomes a mais
a Tetragonista angustula ocupa um enorme
espaço na América do Sul e Central,
bem adaptada as matas rarefeitas
pela ação antropológica. No seu amplo
espaço se acomoda a lugares
inimagináveis; na fotografia,
a 1000m. de altitude, na fenda
de tijolos, 3 entradas guarnecidas
por um esquadrão de guardas.
O ninho alojado no interior da fenda
é protegido por numerosos envoltórios,
os isolantes térmicos.

É Impossível de deixar de
contemplar de perto a beleza do
conjunto de 4 cabeças das abelhas
de guarda, verdadeiras joias
ornamentais, fecham o espaço da entrada
e ao mesmo tempo de olhos atentos
ao que acontece no mundo exterior.
A mãe natureza realmente
caprichou nessa abelha brasileira.

Município de Piraquara (Recreio da Serra), a mil metros de altitude onde a mata dos Pinhais se mistura com a Mata Atlântica (um ecotene), temperatura média de 3º graus centígrados abaixo da capital mais fria do País, três abelhas nativas vivem em estado selvagem, muito ´próximos uma das outras, mas com estratégias diferentes de sobrevivência.

Uma é a Jataí da Terra (Paratrigona subnuda), difícil de ser localizada, sua presença só é revelada por uma discreta abertura bem disfarçada na relva e da qual emergem 4 cabeças de operarias belamente ornamentadas que observam atentamente o meio exterior. Essa pequena abertura assim protegida comunica-se por um longo canal ao ninho subterrâneo. A abaixo do solo, a espécie está protegida confortavelmente do rigoroso inverno que muitas vezes deixa a relva esbranquiçada por muitas horas.

A outra Jataí (Tetragonisca angustula) a nossa velha conhecida, habita desde o norte da Argentina até o México, muito bem adaptada as proximidades do Homem. O seu "espaço" é enorme como nenhuma outra abelha nativa, vive em regiões quentes mas também aqui a mil metros de altitude, com poucas horas por dia para explorar seu pasto apícola.

O seu segredo está nos numerosos envoltórios do ninho onde as futuras gerações estão incubando e onde as abelhas adultas buscam refúgio nos momentos difíceis.

A estratégia é revelada no material da construção dos envoltórios, o cerume, uma mistura de cera e própolis (batume), e nas múltiplas camadas de envoltório, entre as quais o ar aprisionado funciona como isolante térmico. As abelhas nativas como a Jataí deveriam ter o direito a patente do isopor, pois inventaram o mesmo princípio a milhões de anos antes do Homem com a vantagem de ser biodegradável.

Na mesma região uma terceira via de sobrevivência ao frio é representada pela Mirim-guaçu (Plebeia remota), no frio parada total de postura, abelhas paradas, inertes parecendo mortas, taxa de metabolismo funcionando ao mínimo e desta forma aguardam condições melhores, é a diapausa.

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