Artigo

Morrão de Candeia
Julocroton triqueter

José Luciano Panigassi

Na busca cada vez maior por plantas especiais para a manutenção das abelhas indígenas sem ferrão e, às abelhas africanizadas Apis mellifera, fui ao encontro de uma relíquia, um tesouro desconhecido da flora brasileira, chamado Morrão de Candeia Julocroton triqueter.

É uma grande satisfação e alegria apresentar aos meliponicultores e apicultores, algumas informações sobre esse grande aliado dos meliponíneos e da Apis mellifera, o arbusto: Morrão de Candeia, produtor de pólen e de um néctar muito especial do qual é produzido um mel claro, suave, aromático de rara qualidade.

Distribuição geográfica do gênero Julocroton:

O gênero Julocroton pertence à família Euphorbiaceae e a Subfamília Crotonoideae, possui cerca de 50 espécies segundo (Cordeiro, Inês) distribuídas de forma concentrada na América do Sul, principalmente na Bolívia, Argentina, Paraguai e Brasil.

No Brasil as espécies são encontradas com mais frequência no Centro Oeste, Sudeste e Sul.

Tive a surpresa de encontrar na natureza, um exemplar do Morrão de candeia Julocroton triqueter, durante um passeio que fiz no Parque dos Lagos em Jaguariúna-SP, à 9 km de Pedreira-SP, cidade onde nasci e ainda resido. Foi uma descoberta muito agradável que me deu muita satisfação.

No interior do Rio de Janeiro, o Morrão de Candeia Julocroton triqueter é bem conhecido pelos meliponicultores e apicultores que já colhem o mel de duas variedades e, também de uma outra espécie um pouco distinta comparada as outras duas.

Julocroton triqueter tem sido estudado também na área medicinal, com resultados extraordinários no combate a Leishmaniose entre outras enfermidades, através do uso de suas folhas.

Características taxonômicas:

É um arbusto monóico (possui os 2 sexos na mesma planta), perene (vive por vários anos), sua altura é de 1,5 a 2,5 m., as folhas são alternadas de nervação pinada com formas diversas (que lembram pena, lança, coração) e um indumento concentrado, formado por tricomas estrelados na maioria das vezes estipitados.

Suas inflorescências são racemos terminais que, trazem em sua base as flores pistiladas monoclamídeas e, mais acima as flores estaminadas diclamídeas, ocupando quase todo o comprimento do raque, com seus estames de filetes dobrados no botão, (Cordeiro, Inês).

Ou seja, a inflorescência desse arbusto possui em sua base as flores femininas onde produzem as sementes e, no mesmo eixo logo acima encontram-se as flores masculinas, produtoras de pólen. As flores femininas e masculinas não se abrem no mesmo tempo, na mesma inflorescência.

O Morrão de Candeia Julocroton triqueter, é um arbusto que prefere solos úmidos, mas que se adapta em solos secos também, como tenho notado. Porém nada de excessivo ressecamento pois, se nota nessas condições, o enrolamento das folhas para economia de água. Em regiões quentes deve-se mantê-lo em áreas semi-sombreadas.

Uma característica excelente é, poder mantê-los em vasos onde crescem até 1,70 m, com uma excelente produção de flores, atraindo meliponíneos e abelhas africanizadas. Sem dúvida alguma, para a meliponicultura urbana, é uma condição que em muito ajuda na manutenção dessas abelhas.

As espécies de meliponíneos que presenciei em Julocroton tiqueter oton fuscescens foram: Mandaçaia (Melipona quadrifasciata anthidioides), Manduri (Melipona marginata), Mandaguarí (Scaptotrigoan postica), Tubuna (Scaptotrigona bipunctata), Borá (Tetragona clavipes) Mirim (Plebeia sp), mas raramente a Jataí (Tetragonisca angustula). É grande a presença de abelhas africanizadas Apis mellifera. Acredito que outras Meliponas e demais espécies de meliponíneos também a visitem.

O período de visitação das Meliponas e Apis mellifera acontece das 6:00 às 19:00 hs durante o horário de verão, os demais meliponíneos de menor porte, visitam as flores iniciando um pouco mais tarde e se recolhendo mais cedo.

A propagação de Julocroton triqueter e Julocroton fuscescens, é feita por sementes que, do plantio a primeira inflorescência, leva-se 6 meses aqui em São Paulo. Ainda não tentei a multiplicação vegetativa através de estacas, pretendo divulgar se eu conseguir resultados positivos.

Em relação ao período de florada, começa em Novembro e vai até Abril, ou até um pouco mais, então temos 6 meses de produção de pólen e néctar, isso realmente é um fato maravilhoso.

Características do mel:

Passo agora a citar um trecho do trabalho de A. A. Barroso publicado em um informativo da Apimondia. Apiacta 4, 1968, Apicultural Panorama of Brazil.

Julocroton, não é encontrado em todo o País, é endêmico em certas partes do Brasil e produz culturas ricas (densas populações). Essa maravilhosa planta melífera, começa a florescer no início de Novembro e dura até meados de Março. Portanto nós o classificamos como ou talvez, a espécie mais importante da flora melífera.

Seu mel é de cor muito clara, não muito viscoso, assim como o seu florescimento ocorre no período das chuvas; e tem um sabor e aroma, comparáveis nessa área, apenas com o mel da flor da Laranja.

Quero então salientar sobre a importância de se propagar o Julocroton triqueter, fornecendo assim uma grande fonte de pólen e néctar, para a manutenção de inúmeras espécies de abelhas indígenas sem ferrão e, Apis mellifera, visando resultados positivos na meliponicultura, apicultura e meio ambiente.

Quero agradecer a APACAME, pela oportunidade de participar dessa primeira edição de 2015 da Revista Mensagem Doce, divulgando um pouco sobre essa planta melífera tão interessante e, a todos que contribuíram para que eu pudesse conhecer o Morrão de Candeia Julocroton triqueter, os amigos João Soares Neto (Barra Mansa-RJ), Sr. Paulo Maia (Miguel Pereira-RJ), Marcio Parud (Rio das Ostras-RJ) e Markus Stephan Wolfjdunkell Budzynkz (Paty do Alferes-RJ).

Fotos:


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