Visita Técnica

"Manfredini & Barozzini Agriapistica"
Uma apicultura italiana de quatro gerações

Darcet Costa Souza1
1- Prof. Associado da Universidade Federal do Piauí, Departamento de Zootecnia, Campus Agrícola da Socopo s/n, Teresina/PI, 64.049-550. darcet@terra.com.br

Na semana seguinte ao congresso da APIMONDIA, na Ucrânia, já na Itália, um pequeno grupo da família APACAME conheceu um empreendimento apícola italiano, a empresa "Manfredini & Barozzini Agriapistica". Essa agradável oportunidade surgiu por meio de contatos realizados pelos empresários Henrique e Ernesto Breyer, durante a feira de produtos apícolas na ApiExpo/2013.

A família Manfredini cria abelhas desde o início do século passado, quando a primeira geração de apicultores criava abelhas em caixas rústicas. Tratava-se de Giustiniano Manfredini, avô de Mário Manfredini, nosso anfitrião. O cuidado e gosto pelas abelhas continuaram na geração seguinte com Pio Manfredini - pai de Mário. Contudo, esse apicultor proporcionou uma grande mudança na forma de exploração apícola até então realizada pela família. Durante seus estudos em Turim, conheceu a utilização das caixas mobilistas na apicultura, um dos grandes avanços ocorrido na forma de criar racionalmente as abelhas e que foi levada por ele para o criatório da família. A paixão pelas abelhas continua na Geração de Mário, que hoje trabalha juntamente com seu Filho Leonardo na empresa Apicola da família e produzem anualmente cerca de 250 toneladas de mel, podendo essa produção chegar a 300 toneladas, dependendo das condições climáticas no ano. É importante ressaltar que irmãos de Mário trabalham também no setor, atuam na produção de mel, rainhas, processamento e comercialização de produtos apícolas. Atualmente, existe a expectativa da quinta geração dos Manfredinis continuar o legado apícola da família, já que Diego, filho de Leonardo, e que está com apenas seis anos já demostra simpatia pelas abelhas.

A empresa Manfredini encontra-se instalada acerca de 100 km de Roma na comunidade de Castel Viscardo, provícia de Terni na região da Umbria. A empresa ocupa uma área coberta de cerca de quatro mil metros quadrados, dividida em vários setores onde estão o processamento de mel e cera, armazenamento de material apícola, uma área para guarda de melgueiras com favos puxados, escritório, garagem e oficinas.

Atualmente trabalham com 8 mil colmeias, distribuidas em 150 apiários, cada apiário com cerca de 55 colmeias. Os apiários estão distriuídos desde o litoral até a região mais alta nas colinas, a uma distância da sede inferior a 80 km. A produção média por colmeia nos últimos cinco anos ficou na faixa de 30 kg/colmeia/ano, contudo existem registros de colônias com produção de 140 kg. Essas colmeias de grande produção são identificadas e avaliadas quanto ao seu histórico de ocorrência de doenças, para serem selecionadas e multiplicadas com vista a promover a melhora do plantel em campo. Essas rainhas são utilizadas para formação de novas famílias e substituição de rainhas fracas ou com baixa produção. A produção de rainhas selecionadas para produção e resistência às doenças deixou claro ao grupo a preocupação deles com a necessidade de buscar meios mais efetivos, para combater as doenças que tanto os atormentam. Segundo Mário, ele já consegue ter materiais mais tolerantes a varroatose.

Para nossos anfitriões, os problemas que mais os aflingem na apicultura é a varroatose e doenças de virus, seguido de problemas com agrotóxicos utilizados nas lavouras - dependendo da região. A avaliação dos dados da varroatose nos apiários é feito pelo numero de colmeias perdiadas, que no geral está em torno de 10% das colmeias por apiário. Com isso, é praticamente impossível produzir economicamente sem que se faça o tratamento das colônias. Caso a colônia não seja tratada preventivamente e ocorrer infestação durante o período produtivo, a perda do enxame é certa, segundo Mário Manfredini. O tratamento aplicado por eles nas abelhas ocorre no inverno quando não há crias e no final de julho/agosto. O tratamento tem um custo aproximado de 10 a 12 euros por colmeia. Como eles possuem colmeias certificadas para produção orgânica fazem o tratamento com ac. fórmico ou oxálico.

Há algum tempo atrás optaram por converter parte das colmeias para a produção de mel orgânico, como forma de melhorar o retorno financeiro da atividade, chegaram a ter 600 colmeias certificadas, mas hoje possuem apenas 300. As dificuldades para manutenção da produção orgânica e o pequeno prêmio pago pelo diferencial de orgânico os fizeram reduzir o número de colmeias certificadas.

Alguns detalhes observados na visita impressionaram ao grupo, como o ambiente para estocagem de melgueiras com favos puxados, trata-se de um local fechado, mantido a temperatura abaixo de 20°C e baixa umidade, para evitar a traça. Nesse ambiente eles conseguem preservar os favos durante o período de inverno e início da primavera, sem que ocorra a perda dos favos por ataque de traça da cera. É interessante observar, que essa retirada das melgueiras ocorre em função do frio do inverno, que faz com que as rainhas parem a postura por um a um mês e meio nessa região, exigindo dos apicultores a realização desse manejo de inverno. Na ocasião de nossa visita presenciamos cerca de vinte mil melgueiras com favos puxados guardadas nesse ambiente.

Outro detalhe que nos impressionou foi o maquinário de extração de mel, desenvolvido com base na experiência do Mário e com a ajuda de uma colega que trabalha na fabricação de equipamentos. A unidade de extração encontra-se elevada a cerca de dois metros de altura e é composta por uma esteira que tem em uma extremidade a unidade desoperculadora e na outra duas centrífugas disposta na horizontal. A desoperculadora puxa automaticamente a melgueira para desoperculação, onde os favos são então desoperculados sem que os quadros sejam sacados. A melgueira com seus quadros desoperculados segue na esteira até as centrifugas. Cada centrífuga receber 16 melgueiras por vez, que ao final do processo de extração resulta em cerca de 300 kg de mel. O interessante foi observar que com apenas dois colaboradores é possível operacionar toda a unidade de extração, uma vez que um trabalha na plataforma, abastecendo a desoperculadora e as centrífugas e o outro com a empilhadeira abastecendo a plataforma com melgueiras com mel e pegando as melgueiras já centrifugadas. A capacidade de processamento do conjunto é de cerca de 5-6 mil quilos de mel por dia.

Muito interessante também foi conhecer o mel de Edera (Hedera helix L.), uma trepadeira comum na região da Umbria, que cristaliza no favo. O mel cristalizado no favo é tão consistente, que é possível tirar lascas do favo com mel com o auxílio de um canivete (ver foto). Para extraí-lo é necessário derreter o favo, separando posteriormente a cera do mel. Assim, os favos são cortados e posto dentro de tambores que são levados a uma estufa com temperatura controlada, inicialmente a 102 °C e depois a 80°C, todo o processo leva de 9 a 10 horas.

Nossa visita se encerrou com um almoço de confraternização muito agradável, onde se degustou a delíciosa massa italiana e com um excelente vinho regional. A todos que participaram dessa visita ficou evidente a tradição da atividade apícola italiana, a eficiencia de trabalho no setor e o reconhecimento da generosidade dos colegas apicultores italianos, que de maneira tão gentil nos receberam e compartilharam suas experiencias apícolas de quatro gerações. Deixamos aqui nossos sinceros agradecimentos e votos de sucesso a toda família Manfredini, em especial aos amigos Mário e Leonardo Manfredini.

Na parte externa da Empresa uma Placa que Leonardo dedicou ao seu Pai Mário Manfredini, em 1998.

A família APACAME agradece aos Manfredinis a acolhida fraternal e em reconhecimento irá outorgar o título de sócios honorários da APACAME aos dois anfitriões.




As colméias construídas são marcadas com o Logo da Empresa.



Henrique Breye e Leonardo Manfredini conversam na marcenaria existente no local onde sao construídas as colméias modelo Dadant.

Num momento de descontração Mário Manfredini, de verde, segura o fumegador que ele utiliza nas suas revisões e o filho Leonardo mostra um fumegador brasileiro que nunca foi usado.


Os brasileiros se deliciaram com a mansidão das abelhas. Mário informou que nos meses de julho e agosto o comportamento das abelhas é mais agitado.



Os Manfredinis não deixaram de abrir umas colméias para mostrar as abelhas com que trabalham.


O nosso companheiro Darcet ficou admirado com a quantidade de 20.000 melgueiras estocadas

A quantidade de tambores cheios de mel para a exportação surpreendeu a todos. Havia pilhas e mais pilhas prontas para a exportação.

No local também havia uma pilha enorme de cera de abelha em blocos de mais ou menos 50kg cada.


Vista parcial do equipamento de desoperculação e cent r i fugação de melgueiras.

Detalhe do desoperculador de melgueiras

Detalhe da esteira que conduz as melgueiras desoperculadas até as duas centrifugas verticais existente ao fundo e que recebem 16 melgueiras cada uma.
Inflorescência da Edera, que é uma trepadeira e que fornece uma mel que cristaliza rápido


O mel de Edera fica tão sólido depois de cristalizado que só com uma faca é possível cortar um pedaço de favo para mostrar aos visitantes.

Mário e Leonardo Manfredini nos levaram à uma Cantina, num pequeno bairro onde fomos brindados com uma massa excelente e um vinho regional maravilhoso.

Após o almoço a foto histórica deste momento que ficará para sempre em nossos corações.

Na parte externa da Empresa uma Placa que Leonardo dedicou ao seu Pai Mário Manfredini, em 1998.

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