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O POTENCIAL DO MARANHÃO NA APICULTURA

FONTE: O Estado do Maranhão DATA:13.01.2013 - Texto: Raquel Araújo

O Maranhão será o maior produtor de mel do Brasil em, no máximo, cinco anos. Essa é a previsão de especialistas e empresários do setor, que esperam que a produção local cresça até cinco vezes a partir desse ano.

Nos cinco Biomas existentes no estado há potencial para produção apícola, mas apenas dois foram explorados nos últimos 20 anos. Há cerca de um mês, os apicultores maranhenses que atuam nas regiões do Alto Turi e Gurupi, Baixada Maranhense encerraram a safra 2012 com uma produção de cerca de 2,5 mil toneladas de mel. Mais que o dobro produzido em 2011 que, segundo a Pesquisa da Pecuária Municipal realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi de 1.107 toneladas, colocando o Maranhão no 10º lugar no ranking nacional e 5º lugar na classificação entre os estados nordestinos.

Mas, para os apicultores locais, os números positivos da última safra poderiam ser bem melhores não fosse a forte estiagem que ainda assola a Região Nordeste. Se tivéssemos mantido as boas condições climáticas, a safra maranhense poderia ter ultrapassado as 3,5 mil toneladas de mel, garante o agrônomo especializado em apicultura e consultor do Sebrae no Projeto Territórios da Cidadania na Região do Alto Turi e Gurupi, Euler Gomes Tenório. Através do projeto, 210 dos cerca de 400 apicultores atuantes na região são atendidos pelo Sebrae com ações de assistência técnica e transferência tecnológica, e capacitação para acesso ao mercado.

O objetivo é desenvolver a cadeia produtiva da apicultura gerando uma produção limpa, justa e solidária, visando o aumento da participação no mercado regional e nacional, além da sustentabilidade da atividade na região, explica o gestor do projeto, Adalberto Fraga.

O Alto Turi e Gurupi, localizado no Bioma Floresta Amazônica, responde por cerca de 70% da produção de mel no Maranhão. Lá, as floradas ou pastos apícolas, que são as épocas de colheita acontecem de junho a setembro e rendem mais de 2 mil toneladas de mel orgânico. Além dos apicultores locais, a região também atrai produtores do Piauí, que migram com suas colméias sempre em meados de maio, já que no estado vizinho a florada acontece de fevereiro a abril. Os principais municípios produtores da região, Santa Luzia do Paruá e Nova Olinda do Maranhão, são os focos de atração de investidores nacionais, internacionais e entidades governamentais. O próprio Sebrae já realizou um projeto piloto de georeferenciamento apícola nos municípios que, hoje, têm informações sobre a localização exata dos apiários locais e podem identificar e orientar a instalação de novos apiários, de produtores maranhenses ou da atividade migratória. "O Maranhão está cada vez mais atraindo investidores que acreditam no nosso potencial. Temos uma diversidade de florada e clima propícios para a produção não só de mel orgânico, de alta qualidade e valor comercial, como de outros produtos apícolas como a cera, o pólen e até o veneno das abelhas. As maiores empresas do setor já estão de olho no nosso potencial e planejam iniciar ou aumentar os investimentos no estado nos próximos anos. O governo do estado está atento a esse cenário e vai aumentar as ações de incentivo a essa cadeia produtiva", destacou o Secretário de Estado da Agricultura, Pecuária e Pesca, Cláudio Azevedo, que também preside o Conselho Deliberativo do Sebrae Maranhão. Uma das ações anunciada no final do ano passado pelo Secretário Cláudio Azevedo, durante o 9º Encontro Maranhensede Apicultura, realizado em Nova Olinda do Maranhão, é a aquisição e distribuição a pequenos apicultores, pelo governo do estado, de 4 mil rainhas geneticamente melhoradas. Com essa ação, a expectativa é quintuplicar a produtividade de cada colméia com as novas rainhas. O melhoramento genético das rainhas, além de aumentar a produtividade vai colocar o Maranhão em condições privilegiadas de competitividade, já que no Brasil a produtividade das rainhas é considerada muito baixa em comparação com outros países produtores. Será uma ação que colocará o Maranhão em condições de competir com outros países no que se refere à produção, com a vantagem de que poucos países tem o potencial de crescimento que temos para a atividade, acredita Cláudio Azevedo. O setor privado também planeja grandes investimentos para a região. A empresa catarinense Prodapys, maior exportadora de mel do país em média 3 mil toneladas/ano são vendidas para os mercados americano e europeu produtora de alimentos e cosméticos a base de produtos apícolas, instalou em Santa Luzia do Paruá sua maior e mais moderna Unidade de Extração de Produtos Apícolas (UEPA). Decidimos investir no Maranhão pela diversidade única de biomas propícios a apicultura ainda não explorada, e pelo enorme potencial do estado em produzir mel orgânico, isento de pólen transgênico, já que possui ainda grandes extensões territoriais distantes de culturas com transgênicos como a soja, que é cultivada predominantemente na Região Sul. Esse foi nosso principal fator de atração, pois temos o maior projeto de produção de mel orgânico do mundo, e nele está incluído o Maranhão, garante o diretor da empresa, Célio Hercílio Marcos da Silva. Já a Cearape, com sede em Crato (CE) e pioneira na exportação de mel orgânico, está desenvolvendo ações de incentivo à cadeia produtiva fornecendo insumos e tecnologia e garantindo a comercialização e certificação do mel orgânico produzido no estado. O Maranhão tem mais pasto apícola disponível do que apicultores para explorá-los e queremos ajudar a mudar essa realidade. Não existem muitos locais no mundo que permitem a produção de mel orgânico, o que aumenta ainda mais a importância do Maranhão como produtor. Pretendemos trazer para o estado projetos de estruturação da cadeia produtiva com parceria público-privada como o que estamos desenvolvendo a partir desse ano com governos dos estados do Piauí e Ceará. E estamos dispostos a comprar todo o mel que incentivarmos a produzir, afirmou Paulo Seixas Levy, diretor-presidente da empresa que recentemente se aliou a uma das maiores exportadoras de mel orgânico do mundo, a italiana Matrunita. A apicultura é o agronegócio com melhor distribuição de renda entre os pequenos produtores, pois o mel já sai do produtor praticamente pronto para consumo. Além disso, qualquer pequeno produtor pode participar, pois os investimentos são muito baixos e de retorno rápido, se compararmos com qualquer outro agronegócio, avalia o empresário Célio da Silva. Foi nisso que acreditou o ex-lavrador e hoje apicultor João Moreira de Sousa, 49 anos, que mora em Nova Olinda do Maranhão. Há 19 anos ele trocou a roça de subsistência de arroz, milho e feijão pela apicultura incentivado pelo padre Abas da região. Hoje ele produz de 5 a 6 toneladas de mel/ano, que geram cerca de R$ 25 mil à sua renda familiar. Não me arrependo da mudança. A renda da apicultura permitiu que eu terminasse de construir minha casa e que comprasse as 20 cabeças de gado que hoje complementam a minha renda conta o apicultor. Comercialização ainda é tímida Mesmo com todo o potencial e qualidade do mel produzido no estado, a comercialização do produto ainda é tímida porque a grande maioria dos apiários em atividade são de produção familiar. O mel maranhense é vendido in natura e a granel, o que sinaliza para muitas outras oportunidades com a instalação de mais casas e entrepostos de mel e, principalmente, das chamadas UEPAS (Unidades de Extração de Produtos Apícolas), preparadas para extrair mel, pólen, cera e veneno para beneficiamento e comercialização não apenas com a indústria alimentícia, mas também a farmacêutica e cosmética. Em Santa Luzia do Paruá foi instalada a primeira UEPA do Maranhão, de propriedade da empresa Prodapys. Além da unidade de extração que iniciou suas atividades no ano passado, a empresa executa um projeto de Produtores Orgânicos de Mel - que já envolve mais de 50 produtores, e planeja quadruplicar esse número ainda em 2013 e prepara-se para implantar uma central de produção de rainhas geneticamente selecionadas. A Cearape, que exporta o mel brasileiro para os Estados Unidos, Japão, Canadá, e países da União Européia, também planeja aumentar os investimentos no estado. Exportamos 2 mil toneladas por ano e temos a expectativa de dobrar esse volume nos próximos três anos e apostamos no Maranhão para alcançar essa meta, conta o diretor-presidente da empresa, Paulo Levy. Até agora, o mel maranhense já abastece os mercados nordestinos e da Região Sul do Brasil. A exportação para o mercado internacional ainda é muito restrita, dada a falta de certificação do mel orgânico maranhense. A conquista definitiva dos mercados estrangeiros, especialmente os maiores compradores, que são os Estados Unidos e países da União Européia, deve chegar após a certificação das casas de mel pela Agência Estadual de Defesa Agropecuária (AGED-MA). Já estão em processo de certificação estadual (SIE) casas de mel instaladas nos municípios de Viana, Bacabeira, Centro Novo do Maranhão, Governador Nunes Freire, Junco do Maranhão e Açailândia ainda em construção, através de doação da empresa Suzano para a associação de apicultores do município. A Prodapys e a Fazenda Entre Rios, pertencente ao Grupo Edson Queiroz, que atuam como exportadoras na região, já possuem a certificação nacional (SIF), emitida pelo Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento. Um diferencial competitivo importante dos apiários maranhenses é o índice de produtividade das colméias. Enquanto a média nacional é de 19 kg/colméia, nos apiários instalados no Alto Turi e Baixada, por exemplo, cada colméia chega a produzir até 33 kg em média. Cada quilo de mel produzido no Maranhão é comercializado entre R$ 4,80 e R$ 5,40. Mas podemos melhorar esse preço. O mel mais caro produzido no Brasil, o cipó-uva, comum na região do Vale do Cariri, em Pernambuco/CE, é vendido a R$ 6,20 / kg porque possui propriedades bioquímicas desintoxicantes. Esse mesmo mel também é encontrado na Região do AltoTuri, ressalta Euler Tenório. Um Maranhão inteiro de potencial apícola O Maranhão é o estado brasileiro com a maior diversidade de biomas no país. São cinco espalhados nos 217 municípios do estado: Floresta Amazônica Mangues, Cerrado, Restinga e Mata de Transição. Em todos os biomas existentes no estado há um enorme potencial para a produção apícola. É um privilégio que nenhum outro estado brasileiro possui e que, infelizmente, só aproveitamos cerca de 10% disso, lamenta o consultor em apicultura, Euler Tenório. O consultor, que também é pesquisador, revela que até mesmo regiões improváveis como as áreas arenosas dos Lençóis Maranhenses produzem um mel de altíssima qualidade. Em Morros, conseguimos convencer 20 famílias de lavradores locais a produzirem mel. O resultado foi extraordinário. O mel produzido lá foi apresentado durante o Congresso Brasileiro de Apicultura realizado em Gramado (RS) e ganhou 1º lugar como o melhor mel brasileiro de abelha nativa com o pasto predominante do mirim, despertando o interesse de investidores internacionais. É um produto realmente fantástico, que pode ser comercializado com valor bem acima da média do estado, garante Euler Tenório. Na Região da Baixada Maranhense, localizada no Bioma Mangues, a produção apícola se concentra nos municípios de São João Batista, Viana, Anajatuba e Perizes, que produzem uma média de 500 toneladas anuais. Entretanto, o agrônomo Euler Tenório destaca que os produtores locais precisam de muito apoio porque enfrentam duas grandes dificuldades ambientais: a baixa disponibilidade de água potável e a deficiência de pólen nas flores silvestres. Produzir no mangue é complicado, reconhece Euler. O pólen, que muitos conhecem por ser o responsável pela fecundação das flores para a geração de frutos, é também parte importante da dieta das abelhas, que o utilizam para alimentar os filhotes da colmeia. Se não há pólen suficiente as rainhas geram menos crias, o que influencia na produção. Com menos indivíduos trabalhando na colmeia a produção de mel é bem menor. Por isso, muitos apicultores evitam produzir na região. A solução vem da tecnologia, através de alimentação complementar alternativa para as colmeias. Foi nisso que trabalhamos durante a última florada, quando montamos um apiário experimental com 30 colônias em Perizes, para desenvolver novas opções de alimentação que forneçam a proteína que as abelhas precisam e que, normalmente, só conseguem extrair no pólen, explica o agrônomo, que também é pesquisador e analisa agora nos resultados do trabalho no apiário experimental, montado em parceria com a UEMA (Universidade Estadual do Maranhão) e UNITAU (Universidade deTaubaté/SP). Estamos procurando uma solução que tenha, ao mesmo tempo, alto teor nutritivo, seja palatável para as abelhas, e ofereça um baixo custo que permita o acesso do pequeno produtor a essa solução, informa.

Na região do Bico do Papagaio, localizada no limite entre os Biomas da Floresta Amazônica e o Cerrado, três municípios mantém uma tímida produção de mel: Açailândia, Cidelandia, Vila Nova dos Martirios. No Cerrado, a floração vai de fevereiro a maio, o que aumentaria a produção de mel no estado de quatro para oito meses no ano. Já na Mata dos Cocais, onde predomina o Bioma Mata de Transição(Cocais), o maior potencial apícola é a produção de pólen, que agrega valor superior ao do mel. Para se ter uma idéia, 1 kg de pólen custa R$ 60,00, enquanto o quilo do mel varia de R$ 4,80 a R$ 6,20 no estado. Outra vantagem é que duas das plantas nativas mais comuns no estado, o Buriti e o Babaçu, tem floradas com duração de 10 meses, ou seja, quase o ano inteiro produzindo pólen. Se o Maranhão produzisse mel nos seus cinco biomas poderia ter safras médias de 10 a 15 mil toneladas por ano. Seria o maior produtor de mel do Brasil. Afirma Euler Tenório. Mel em números Brasil. Estima-se que o pais produza mais de 20 mil toneladas por ano. Nordeste . a região responde por cerca de 55% da produção nacional, tendo como maiores destaques os estados do Piauí, Ceará, Bahia e Pernambuco. Maranhão. atualmente, os quase 500 apiários instalados no Alto Turi e Gurupi, Baixada Maranhense e no Bico do Papagaio(Açailândia) produzem uma média de 3,5 mil toneladas por ano, sendo a primeira região responsável por 70% da produção estadual. Potencial? Apenas com os investimentos privados previstos a atividade apícola deve mais que dobrar em no máximo três anos chegando a até 8 mil toneladas/ano -, e quintuplicar até 2018. Onde está o mel do Maranhão Bioma Floresta Amazônia: Nova Olinda do MA, Araguanã, Santa Luzia do Paruá, Presidente Médici, Maranhãozinho, Governador Nunes Freire, Maracaçumé, Centro Novo do Maranhão, Junco do Maranhão, Amapá do Maranhão e Boa Vista do Gurupi. Período de florada: junho a outubro. Bioma Mangue: São João Batista, Viana, Anajatuba e Perizes.( municípios que podem ser explorados também; Icatu, Axixá e Cajapió) Período de florada: setembro a dezembro. Bioma Mata de Transição: Matões do Norte, Cantanhede, Coroatá, Alto Alegre do Maranhão, São Mateus e Coelho Neto. Período da florada: abril a julho. Bioma Cerrado: Colinas, Buriti Bravo, Passagem Franca, São Raimundo das Mangabeiras, Jatobá, Fortuna, São João dos Patos e Balsas. Período da florada: Março a junho.Bioma Restinga: Morros, Humberto de Campos, Santo Amaro, Barreirinhas, Cachoeira Grande, Belágua, São Benedito do Rio Preto, Presidente Vargas Período de florada:Julho a Outubro Pasto Apícola predominante: Mirim

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