Artigo

Produção de mel e pólen por Apis mellifera de três procedências em Barra do Garças - MT.

Glauco Vieira de Oliveira1, Rafael Renan dos Santos2, Celso Henrique Foz2
1 Professor Adjunto II, Agronomia, Campus Universitário do Araguaia, Universidade Federal do Mato Grosso - UFMT, BR 0,70 km 5 - CEP: 78.600-000 - Barra do Garças-MT, glaucovo@ufmt.br 2 Estudante de graduação, Agronomia, UFMT.
Obtido do Trabalho Ensaio participativo de abelhas no município de Barra do Garças - MT.
FAPEMAT: Apoio a projetos de extensão em interface com a pesquisa (Edital FAPEMAT Nº 001/2009)
Área: Ciências Biológicas. Genética. Genética Quantitativa

Palavras chave: Apicultura, abelha, mel, pólen
RESUMO

Este trabalho teve por objetivo avaliar o desempenho produtivo de enxames locais de Apis mellifera, e compará-los a dois grupos, dos quais as rainhas foram obtidas de programas de melhoramento genético para mel ou própolis. O desempenho das colméias foi obtido por medições de produção de pólen e mel entre os meses junho a novembro de 2010, em apiário localizado no município de Barra do Garças, MT. No ano de 2010 as colônias avaliadas produziram em média 122 gramas de pólen e 27 kg de mel por colméia, com valores oscilando entre 7,7kg a 65kg de mel/colméia. Também foi realizado um levantamento preliminar da flora apícola regional, sendo identificadas neste trabalho 28 espécies pertencentes a 16 famílias botânicas.

Introdução

A criação racional de abelhas se enquadra perfeitamente dentro dos conceitos de diversificação e uso sustentado do Bioma Cerrado. É uma atividade que pode ser integrada a plantios florestais, de fruteiras e de culturas de ciclo curto, podendo contribuir, através da polinização, com o aumento da produção agrícola e regeneração da vegetação natural.

Apesar do grande interesse na atividade apícola, principalmente para produção de mel, no decorrer dos últimos anos, a maior parte dos produtores explora a atividade aplicando um baixo nível de tecnologia. Uma técnica simples e relevante na apicultura é a troca periódica das abelhas rainhas, pois assim, mantém a população de abelhas em um nível ótimo, permitindo assim a exploração de todo potencial produtivo daquele enxame. Além disso, a troca de rainhas permite a substituição de rainhas velhas improdutivas por rainhas novas selecionadas, sendo, portanto uma oportunidade de melhorar a qualidade genética de suas abelhas além de evitar o "inbreeding" ou acasalamento consangüíneo que causa a baixa viabilidade da colônia velha.

Quando se substitui rainhas de enxames poucos produtivos por rainhas oriundas de enxames mais produtivos, promove-se melhoramento genético da população local, por meio da introdução de uma nova fonte de germoplasma melhorada, alcançando assim aumentos significativos de produtividade dos produtos apícolas em um apiário. Diversos estudos têm evidenciado a importância de se introduzir material selecionado para incremento na produção apícola, seja na produção mel, pólen ou própolis (VENCOVSKY e KERR, 1982; GONÇALVES e KERR, 1970; Duay 1996, ALMEIDA, 2000, MARINQUE e SOARES, 2002).

Além do mais, alguns trabalhos evidenciam que a seleção para um caráter de produção tem relação positiva a outros caracteres importantes apícola. MANRIQUE e SOARES (2002) demonstraram que é possível, dentro de um programa de melhoramento de abelhas, selecionar abelhas para aumentar a produção de própolis e para melhorar a produtividade de mel simultaneamente, pois são características altamente correlacionadas. Estes autores sugerem que a seleção para produção de própolis é mais vantajosa por possuir menor influência ambiental do que o caráter produção de mel.

Desta forma, o presente trabalho teve por objetivo avaliar colônias de Apis mellifera de diferentes procedências, por meio de avaliações de produção de mel e pólen em apiário localizado no Município de Barra do Garças, MT.

Objetivo Geral

Este trabalho tem por objetivo avaliar o desempenho de enxames Apis mellifera cujo as rainhas procederam de três apiários que realizam trabalhos de seleção para incrementos de mel ou própolis no Município de Barra do Garças, MT.

Objetivos Específicos

- Avaliar e comparar o desempenho de progênies de abelhas rainhas procedentes de programas de melhoramento em relação às colônias selvagens locais;

- Conhecer a flora apícola local do município de Barra do Garças;

Material e métodos

Localização do Apiário experimental. Apiário experimental localizava-se às margens do rio Araguaia, a 20 km do centro urbano do município de Barra do Garças - MT, tendo composição como flora predominante vegetação de mata ciliar e pasto sujo de braquiárias.

Flora Apícola Regional. O levantamento da flora apícola regional foi realizado previamente através de questionário aplicado entre os apicultores dos locais, sendo as informações obtidas contrastadas com referências bibliográficas existentes e observações a campo. A coleta e identificação do material botânico foi realizado de acordo com os procedimentos usuais de herborização (FIDALGO e BONONI, 1989), sendo o material herborizado levado para identificação por comparações com excicatas existentes no Herbário Central da UFMT, sendo a classificação adotado a de Cronquist (1988).

Implantação do Ensaio.

Inicialmente as colônias (enxames) foram acondicionadas em colméias padrão langstroth, com 10 quadros, e foram aplicados os procedimentos necessários para que ao final do manejo cada colônia apresentasse seis a oito quadros de crias e de 2 a 4 quadros de alimento.

Após a padronização de enxames, foram obtidas 15 rainhas de dois apiários que já realizavam trabalhos de seleção para produção de mel ou própolis. A introdução de rainhas foi realizada nas colméias órfãs com 2 dias de orfandade, sendo verificada a aceitação após uma semana de introdução (COUTO e COUTO, 1996). Como testemunhas foram selecionadas 15 melhores colônias locais, sendo realizado manejo de troca natural de rainhas seis meses antes do início das avaliações.

Coleta de dados do Ensaio

Para levantamento da produção de mel foi aplicada metodologia indireta de determinação nos mesmos moldes adotados por MANRIQUE e SOARES (2002).

A colheita de pólen foi efetuada com uma média de 6 amostras por colônia, utilizando-se coletor de pólen colocado no alvado da colméia, sendo realizada ao final da tarde a cada sete dias, semana sim, semana não, nos meses de maior produção. A desidratação do pólen coletado foi realizada em estufa, por 6 horas, a uma temperatura de 46ºC, sendo cada amostra acondicionada em saco de papel. Para determinação do peso de pólen, a amostra passou por um processo de retirada manual de impurezas como fragmentos de abelhas, resíduos vegetais, própolis. A pesagem do pólen de cada amostra foi realizada utilizando-se balança de precisão apropriada. Todos os procedimentos de secagem, limpeza e pesagem das amostras de pólen foram realizadas no Laboratório de Tecnologia de Alimentos - Campus Universitário do Araguaia - UFMT.

Análise estatística

Para se verificar diferença entre os três grupos, dados de produção de mel e pólen foram submetidos a testes não paramétricos de Mann-Whitney e Kruskal-Wallis.

Resultados e discussão

Observa-se na Tabela 1, a produção de mel e pólen em colônias avaliadas no município de Barra do Garças-MT, em 2010. Ressalta-se que no ano de 2010 a safra de mel ocorreu entre os meses de junho a outubro, sendo o mês de julho, o mês correspondente ao período de maior produção de pólen. A produção média geral foi de 27kg/colônia para mel e 122,9 g/colônia para pólen (Tabela 1). Comparando-se as procedências das rainhas, tanto para produção de mel quanto para pólen, foi observado uma amplitude de produção bastante elevada, sendo, portanto um indício de variabilidade entre grupos.

Em relação a produção de mel, não houve diferença significativa entre as colônias avaliadas. Isto significa, num primeiro momento, que as colônias locais possuem desempenho igual ao grupo oriundo de matrizes selecionadas. Pode-se sugerir, numa análise mais criteriosa, que o fator adaptabilidade conta a favor das colônias locais, e que, portanto, a chance de extrair linhagens superiores em colônias locais seria a mesma de colônias oriundas de programas de melhoramento genético.

Uma seleção estratificada por grupo, semelhante ao proposto por Kerr (2006), seria uma solução bastante interessante, pois assim estaria aproveitando o melhor do background genético de cada procedência. Desta forma, a seleção dentro das colônias oriundas de rainhas locais, recairia sobre os caracteres relacionados a produtividade e higiene, pois neste grupo existe uma alta adaptabilidade a ambiente de seleção, enquanto nas colônias oriundas de rainhas de outros programas de melhoramento, a seleção recairia sobre os caracteres relacionados a adaptabilidade local. Um programa de seleção estratificado por grupo de origem ou procedência, além de promover um incremento genético na população local, manteria a representatividade de cada grupo genético, diminuindo assim os possíveis efeitos deletérios da endogamia.

Para produção de pólen, estão apresentadas na Tabela 1 as colônias cujas produções foram superiores a 8 gramas, por ocasião da coleta. Fica evidente a superioridade das colônias locais sobre as colônias de outras regiões (procedências).

Um fato importante é que inicialmente existiam 15 colônias estabelecidas de cada grupo de rainhas (procedência), e que, ao passar do tempo, foram sendo substituídas por outras rainhas. Esta substituição de rainhas dentro da colônia se deu por vários motivos, que foi desde ataque de inimigos naturais como abelhas "caga-fogo", Oxytrigona tataíra, e tatu-canastra, Priodontes giganteus, e predação de rainhas por pássaros no momento do vôo nupcial. A rejeição de rainhas dentro da colônia no processo de introdução de rainhas também foi um fator relevante, porém de menor vulto em relação aos demais fatores de perda de rainhas. O número diferente de indivíduos por grupo leva a uma análise estatística desbalanceada, interferindo assim na precisão, acurácia e confiabilidade dos resultados obtidos. Desta forma, não foi possível dar continuidade ao trabalho no ano posterior, pois o desbalanceamento do ano anterior acarretaria na manutenção do viés estatístico. Por estes motivos apresentados acima, novos estudos deverão ser realizados sobre o mesmo tema a fim de se chegar a um resultado estatístico mais consistente.

Bibliografia

ALMEIDA, R.; MANRIQUE, A.J.; SOARES, A.E.E. Seleção e melhoramento genético para aumentar a produção de mel e própolis. CONGRESSO BRASILEIRO DE APICULTURA, Anais, p.12.Salvador: CBA, 2000.

COUTO, R. H. N., COUTO, L. A., Apicultura: Manejo e Produtos. Jaboticabal: Funep. 1996. 154 p.

CRONQUIST, A. 1988. The evolution and classification of flowering plants. New York, New York Botanical Garden.

DUAY, R.P. 1996. Produção de mel em abelhas africanizadas, Apis mellifera - como subsídio para um programa de seleção e melhoramento genético. Dissertação de Mestrado. FFCLRP-USP, 119 páginas.

FIDALGO, O.; BONONI, V.L.R. 1989. Técnicas de coleta, preservação e herborização de material botânico. Instituto de Botânica, São Paulo, 62p

MARINQUE, A.J.; SOARES, A.E.E. Inicio de um programa de seleção de abelhas africanizadas para a melhoria na produção de própolis e seu efeito na produção de mel. Interciência. Caracas, v. 27, n. 6, p. 312 -316. 2002.

VENCOVSKY, R.; KERR, W.E. Melhoramento genético em abelhas. II. Teoria e avaliação de alguns métodos de seleção. Revista Brasileira de Genética, v. 5, n. 3, p.493- 502, 1982.

KERR, W. E. . MÉTODO DE SELEÇÃO PARA MELHORAMENTO GENÉTICO EM ABELHAS. Magistra, v. 18, p. 209/4-212, 2006.

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