Notícia

Brasil registra sumiço de abelhas e risco para agricultura

Fonte: Terra Magazine -Fev. 2012

Carregada de pólen, abelha cumpre
uma de suas relevantes
funções na natureza.

Sem o apelo dos micos-leões, das baleias e das ararinhas azuis, porém fundamentais à ecologia, as abelhas se encaminham para o risco de extinção. Países da Europa e da América do Norte vêm relatando o desaparecimento delas com números preocupantes. "Também há perdas no Brasil, principalmente no Sul, mas também em cidades paulistas. Antes, era muito raro, agora é mais comum", informa o pesquisador americano David de Jong, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto.

- Na Europa, nos EUA e no Canadá, eles descobriram vários motivos para as abelhas morrerem. Agora, especificamente o que está provocando isso, não sabem. Está claro que a perda é muito maior do que era há poucos anos. Sempre houve situações em que morreram muitas abelhas repentinamente. Mas esse fenômeno atual, mais forte, foi descoberto em 2006. Nos EUA, eles perdem, a cada ano, cerca de 35% das colmeias, em média. Alguns apicultores perderam todas (as colmeias). Na Espanha, falaram em 30%, 40% - acrescenta o biólogo, doutor no estudo de insetos e especialista em patologia de abelhas.

Uma teoria atribuída ao físico alemão Albert Einstein (1879-1955) vaticina que, "se as abelhas desaparecerem, o ser humano sobreviverá apenas por mais quatro anos". "Acho que não é dele, mas é uma frase conveniente. Faz um certo sentido. Se chegarmos ao ponto de perder as abelhas, o homem vai junto", opina De Jong, entrevistado por Terra Magazine.

Muitos cultivos dependem das abelhas, ele lembra. "Por exemplo, a alfafa, que é muito importante internacionalmente; no Brasil, menos. Precisa-se dela para (se produzir) leite, carne..."

A Argentina também registra a falta de abelhas. "Mais do que nós", compara o especialista. "No Norte e no Nordeste (do Brasil), bem menos", conta. Porém, há casos tão espantosos quanto os de americanos e europeus. "Em pequena escala, sim. Acompanhamos colmeias fortes que, em poucos dias, de repente, ficaram sem abelhas adultas ou com muito poucas. E a gente não tinha uma razão clara. É um sintoma típico nos EUA, e já temos visto isso aqui", descreve De Jong.

Ele afirma que, há cerca de 10 anos, notou-se o aumento de mortalidade desses insetos no território brasileiro, o que se intensificou bastante nos últimos quatro ou cinco anos.

- Não está muito bem documentado. Mas, em regiões de Santa Catarina, apicultores perderam 2/3 das colmeias, ou até 80%, e a gente tenta entender a razão, pois é área sem agricultura, então, não tem motivo para inseticida estar envolvido. Mas isso varia, alguns perderam, de um ano para o outro, 70% das colmeias. Na média, estão perdendo 30 a 40% no Sul, sem a gente saber o porquê. Existe a reclamação, mas não existe recurso (para cuidar do caso). Para eu ir lá resolver, preciso pagar do meu bolso - lamenta.

Em 2011, revela ele, não havia abelhas suficientes para a polinização de maçãs. "No Brasil, praticamente há dois cultivos em que alugam colmeias: melão, mais no Nordeste, e maçã, no Sul". Combater essa escassez tornou-se um desafio mundial: "As áreas de plantação estão muito maiores, nossa necessidade para polinização cresceu bastante".

Existe o temor de que algumas doenças sejam transmitidas para as espécies de abelhas nativas. "Nas nossas pesquisas, não encontramos nelas a presença dos novos vírus, mas, além da perda de abelhas por causa do desmatamento, estão morrendo muitas abelhas da apicultura e nativas por causa de inseticidas. São perdas expressivas", destaca o biólogo.


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