Artigo

MELHORAMENTO GENÉTICO PARA A PRODUÇÃO DE PRÓPOLIS

SOARES, A.E.E.1 & MARTÍNEZ, O.A.C.2
1Departamento de Genética, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP).
Av. Bandeirantes, 3900. Monte Alegre, Ribeirão Preto, SP, CEP; 14.049-900
e-mail: aesoares@fmrp.usp.br 2 Aluno de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Genética, FMRP-USP
e-mail: omarapis@yahoo.com.br
Resumo

O mecanismo de coleta de própolis varia entre as colmeias, não somente com relação às plantas visitadas, como também pela disponibilidade de resinas secretadas e pelos componentes genéticos envolvidos neste comportamento. Desta forma é fácil se constatar que colmeias colocadas em uma mesma área respondem diferentemente com relação a qualidade e quantidade de própolis coletado e isto se constitui em uma base importante para produzir rainhas das colmeias mais produtoras. Com os avanços na técnica de inseminação instrumental e produção de rainhas é possível se conseguir aumento de produtividade, usando critérios bem estabelecidos pelos programas de seleção.

Palavras-chave: Produção de rainhas, propolis ver, melhoramento genético, inseminação instrumental, seleção.

Figura 1. Distribuição normal para algumas
características quantitativas e a resposta
da próxima geração à seleção.

1. SELEÇÃO E MELHORAMENTO GENÉTICO

Existem vários tipos de seleção que podem ser aplicados ao melhoramento de abelhas. Porém, quatro estratégias de seleção têm dado os melhores resultados em populações fechadas e que também podem ser aplicadas às populações abertas com bons ganhos genéticos. Estes são: 1. seleção dentro da família, na qual se escolhe a rainha filha com o valor fenotípico mais alto de cada rainha matriz; 2. seleção em massa, as novas rainhas matrizes são escolhidas independentes de relações familiares; 3. seleção em massa combinada com seleção para alta viabilidade da cria; 4. seleção ao acaso para as novas matrizes (Omholt & Ådnøy, 1994).

Para um programa de melhoramento genético ser bem sucedido deve ser realizado uma seleção em massa de colméias, porém, esta tem que ser contínua, geração após geração, para manter os níveis atingidos pelo programa. Assim será alcançado o limite ambiental máximo no qual não há aumento produtivo por colméia, mas o nível máximo do apiário é mantido. O melhoramento genético em qualquer organismo visa o aumento na população das freqüências gênicas dos loci de importância econômica a serem selecionados. Com respeito às abelhas isto é o aumento da freqüência do número de colônias que produzam acima da média da geração a partir da qual foi feita a seleção (Figura 1).

O tipo de seleção mais comum e praticada pelos apicultores é a escolha de quais os indivíduos de uma população que serão utilizados para a reprodução e formação da próxima geração. Por ser orientada racionalmente, a seleção artificial imprime maior progresso genético por unidade de tempo que a seleção natural. Assim podemos obter o diferencial de seleção (DS) o qual é definido como a diferença entre a média do grupo selecionado para a reprodução e a média da população base. Ou seja, sendo o DS igual ao desvio da média dos selecionados em relação à média da população, quanto maior o DS, maior será a pressão de seleção.

Outro aspecto importante em relação ao diferencial de seleção é que a liberdade para selecionar colméias dentro dos apiários é limitada pela taxa de colméias (rainhas) que a cada geração devem ser mantidas para substituir as que são descartadas.

O diferencial de seleção depende da proporção do grupo selecionado e do desvio-padrão do caráter. Assim sendo, admitindo-se que os fenótipos se distribuem segundo a curva normal, pode-se expressá-lo em termos de desvio padrão. Isto permite, conhecendo-se a porcentagem de indivíduos que se deseja manter em reprodução e as tabelas das áreas de ordenadas da curva normal, estimar-se o diferencial de seleção em unidades de desvio-padrão.

A redução do intervalo entre gerações é uma maneira eficiente de aumentar o progresso genético por unidade de tempo. Isto segue mantendo-se uma população que se reproduz a menores idades, o que automaticamente leva a maiores porcentagens de reposição. Isto não é independente da proporção selecionada, já que maiores reposições implicam em selecionar mais colméias.

A medida acurada das características é essencial para o sucesso de um programa de seleção. A via mais importante para incrementar a acurácia é tomar medidas nas abelhas que se encontram em um ambiente comum e com histórias de manejo semelhante. O grupo de colônias deve partir de um ponto comum no tempo para registro. No futuro estas serão avaliadas quando o apiário ou outras condições permitam uma expressão completa das capacidades das colméias. Por exemplo, a avaliação da produção de mel deve ser feita durante condições de fluxo de néctar que, são condições típicas onde se espera que o estoque melhore demonstrando seu melhor desempenho. Medidas mais precisas ou medidas repetidas como método para aumentar a precisão pode melhorar a acurácia (Rinderer, 1986).

Um programa de melhoramento produtivo precisa de vários passos a ser seguidos para alcançar os objetivos estabelecidos. Este deve envolver a melhoria de todos os procedimentos e práticas de manejo de rotina do apicultor nos seus apiários. Pode se destacar: a) o uso de cavaletes individuais como suporte para as colméias; b) a alimentação energética e/ou protéica nas épocas de baixa disponibilidade destes recursos na natureza; c) não uso de rainhas de subespécies européias especialmente quando importadas diretamente dos Estados Unidos ou da Europa. (Esta prática traz grandes riscos de introdução de doenças não presentes no Brasil) e de troca anual de rainhas. O estabelecimento correto destas práticas junto com uma capacitação de manejo geral das abelhas irá moldar uma base forte para o estabelecimento de programas rigorosos de melhoramento genético. Assim este programa será efetivo e trará bons resultados para os seus usuários.

2. Inseminação instrumental

Entre as ferramentas para o melhoramento produtivo, está a técnica da Inseminação Instrumental, que permite agilizar os programas de melhoramento genético, permitindo o controle dos cruzamentos e propiciando a formação de matrizes de boa qualidade e um completo controle da contribuição parental (Manrique, 2001). A Inseminação instrumental é uma técnica na qual se transfere instrumentalmente esperma do macho para o sistema reprodutivo da fêmea. Esta técnica é amplamente praticada em vertebrados para criação de animais com fins econômicos ou para conservação biológica. Porém, em invertebrados só alguns poucos casos foram bem sucedidos (Baer & Schmid, 2000).

Os trabalhos e pesquisas na inseminação instrumental de abelhas Apis mellifera datam de décadas passadas, um dos primeiros resultados data do ano 1926 e publicado em 1928 no qual o Dr. Lloyd R. Watson da Universidade de Cornell (USA) fez as primeiras tentativas para inseminar instrumentalmente abelhas rainhas. Porém, a reprodução das abelhas não era ainda muito bem compreendida. Na época pensava-se que a rainha se acasalava exclusivamente com um zangão e, portanto as inseminações eram feitas com sêmen de um só macho. Laidlaw (1944) melhorou consideravelmente a taxa de sucesso da inseminação instrumental depois de aprender a inserir a ponta do capilar através de uma estrutura em forma de orla (a válvula) que cobre a entrada da vagina e oviduto médio. Ele abaixou a válvula e injetou o sêmen direto no oviduto médio. Mackensen (1947) usou dióxido de carbono para imobilizar as rainhas durante a inseminação, facilitando a inserção do capilar na vagina. Além do mais, descobriu-se que a narcose com CO2 fazia com que as rainhas começassem a botar ovos mais rápido depois da inseminação (Apud, Moreno, 2006).

Na inseminação são depositados 8 microlitros (µl) de sêmen no oviduto médio tentando simular a quantidade depositada naturalmente e o qual tem se mostrado suficiente para encher completamente a espermateca das rainhas virgens (Page & Laidlaw, 2000). Em condições naturais um zangão produz entre 6 e 10 milhões de espermatozóides o que corresponde a 1,5 µl de sêmen aproximadamente. As rainhas se acasalam naturalmente com mais de 10 machos, os quais transferem mais de 100 milhões de espermatozóides num vôo de acasalamento. Porém, só 3 a 5 milhões destes migram por meios passivos e ativos para a espermateca.

A técnica de inseminação instrumental em abelhas requer uma série de passos os quais são de vital importância para o sucesso das rainhas produzidas. Assim, rainhas com menos de 7 dias de vida podem ser inseminadas. Estas rainhas são fixadas e anestesiadas no equipamento de inseminação escolhido. O processo principal de qualquer tipo de inseminação é explicado a seguir (Figura 2):

Figura 2. Algumas características do método
de Inseminação Instrumental.

1.Coloque a rainha no aparelho de inseminar e abra a câmara do ferrão delicadamente. Para isto, use como auxilio os ganchos para separar as placas abdominais, deixando desta forma exposto o orifício da vagina.

2.Desça levemente a agulha ou capilar contendo o sêmen previamente coletado, lembrando que o sêmen é depositado no oviduto médio, para isto deve-se passar a válvula da vagina.

3.A ponta da agulha pode ser utilizada para passar a válvula, efetue um leve movimento de zig - zag e desça de forma delicada a agulha novamente.

4.Injete a quantidade de sêmen que seu protocolo de inseminação determinou, lembrando, injetar no mínimo 8 µl de sêmen por cada rainha

5.Finalmente, retire a agulha delicadamente, libere as placas abdominais e se a rainha ainda não estiver marcada faça a devida marcação.

Com o desenvolvimento da inseminação instrumental como uma técnica prática na década de 1940, a criação controlada de abelhas teve seu início (Harbo & Rinderer, 2005). Considerada uma ferramenta para o melhoramento produtivo, esta técnica permite acelerar os programas de melhoramento genético, porque permite o controle dos cruzamentos, propiciando a formação de matrizes de boa qualidade e permite um completo controle da contribuição parental (Manrique, 2001).

Esta ferramenta é essencial para o pesquisador que precisa de cruzamentos específicos e para o apicultor envolvido em um programa de melhoramento produtivo. As diferentes contribuições de especialistas e cientistas nos últimos 60 anos possibilitaram o aperfeiçoamento da técnica (Schley, 2005). A habilidade de controlar os acasalamentos permite a seleção, desenvolvimento e manutenção de características desejadas. A indústria apícola se beneficiaria caso desejasse manter as linhagens "resistentes" que estão sendo desenvolvidas, justificando que esta tecnologia deva ser incorporada aos programas comerciais de criação de abelhas (Cobey & Schley, 2002). A inseminação instrumental é uma técnica de melhoramento valiosa que possibilita a seleção de características desejáveis. Permite tipos de acasalamento que não são possíveis com o acasalamento natural como, por exemplo, o acasalamento com um só macho ou com poucos machos específicos, o acasalamento entre rainhas e machos mutantes e o cruzamento de uma rainha com sua própria progênie de machos. Naturalmente, as rainhas podem se acasalar com machos de origem desconhecida e produzirem operárias com características indesejáveis. Permite ao criador se beneficiar de programas de melhoramento nos quais se pode manter um isolamento genético total que permite produzir rainhas consistentes e de alta qualidade, selecionadas para uma característica específica e para alta viabilidade da cria (Cobey, 2007).

A inseminação tem a flexibilidade necessária para realizar muitos tipos de acasalamentos controlados. Porém, uns dos mais utilizados é a inseminação de rainhas com uma mistura uniforme de espermatozóides. Entre outras possibilidades, esta técnica pode ser usada para manter a heterogeneidade genética num programa de melhoramento ou para produzir inseminações uniformes mais heterogêneas geneticamente, em um grupo de rainhas. Estas inseminações incluem espermatozóides geneticamente diversos, mas que são uniformes porque o sêmen para cada inseminação é coletado aleatoriamente de um grupo grande de machos e misturado em um pool gênico (Harbo, 1986).

A Inseminação Instrumental de rainhas não é difícil para aqueles que estão familiarizados com o uso de microscópios. Além disso, é necessário acrescentar que o equipamento seja adequado, estéril, preciso e que o técnico tenha um trabalho cuidadoso, para que não se torne decepcionante ou mesmo frustrante. Um interesse genuíno é muito útil, mas deve ser enfatizado que o sucesso depende da precisão e de uma esterilidade estrita (Laidlaw, 2000).

Porém, a Inseminação Instrumental no Brasil não tem se desenvolvido muito devido ao alto custo dos aparelhos e ao pouco treinamento no procedimento. Enquanto, em países industrializados a técnica está muito bem desenvolvida a ponto de que praticamente não existam diferenças entre rainhas acasaladas naturalmente e rainhas inseminadas obtendo assim colônias altamente produtivas as quais podem ser avaliadas diretamente. A Inseminação Instrumental esta tão bem desenvolvida que atualmente se faz inseminação em rainhas de Bombus spp (Baer & Schmid, 2000).

Segundo Moreno 2006, num trabalho realizado na Universidade de São Paulo campus Ribeirão Preto, observou que a inseminação é uma técnica viável mas, altamente especializada e detalhada que requer experiência e cuidados na execução. Uma vez dominado todo o procedimento, comprovou ser uma ferramenta essencial no melhoramento genético que permite avanços rápidos nas características desejadas. A produção de um número grande de rainhas inseminadas permite a avaliação destas no campo e facilita o estudo da herdabilidade de características quantitativas. Este mesmo autor ressalta que a nova técnica de inseminação com o aparelho criado pelo Dr Peter Schley é minimamente invasiva e de rápida execução. Isto diminui os danos físicos causados às rainhas. Portanto, estas rainhas são perfeitamente viáveis, sem diferenças evidentes no desempenho, produzindo enxames populosos e geneticamente superiores nas características selecionadas. Esta nova técnica de inseminação permite a obtenção de rainhas inseminadas que atingem nas suas colônias estados produtivos normais, assim estas rainhas não têm diferenças significativas com as rainhas fecundadas naturalmente.

Hoje, as melhorias nas técnicas e no desenho dos equipamentos possibilitaram que o procedimento se tornasse mais fácil de aprender e de aplicar. Desta forma, podem-se conseguir altas taxas de sucesso e níveis de desempenho das rainhas inseminadas similares aos das rainhas fecundadas naturalmente, diferenças entre rainhas acasaladas naturalmente e rainhas inseminadas deve-se principalmente a: quantidade de sêmen utilizado; idade das rainhas; métodos de introdução, cuidados pré e pós-inseminação (Cobey, 2007).

Existe uma grande variedade de aparelhos disponíveis, que variam em custo, qualidade e facilidade de uso. A escolha pode fazer a diferença no sucesso ou frustração do uso desta técnica. O procedimento é delicado e requer precisão e exatidão em movimentos finos. Uma alta repetibilidade e um grande intervalo de movimentos são características importantes a se considerar nos aparelhos utilizados (Kemp, 2008).

Um complemento importante a esta técnica é a apicultura especializada a qual, geralmente, passa despercebida por iniciantes: Criação e maturação dos machos e das rainhas; cuidados pré e pós-inseminação das rainhas; e a introdução adequada das rainhas inseminadas. O êxito depende de um cuidadoso planejamento do programa (Cobey, 2007).

2. A IMPORTÂNCIA DOS ZANGÕES

Não podemos esquecer que os zangões também são responsáveis pela contribuição genética nas operárias de uma colméia. É importante que o apicultor permita a produção natural de zangões nas suas colméias, preferencialmente naquelas que apresentam melhores níveis de produção. Isto aumenta o número de zangões em condições ambientais e aumenta a chance de acasalamentos com estes zangões (selecionados).

A cria de zangões é uma prática fundamental em um programa de inseminação. A qualidade e quantidade de zangões na hora de realizar as inseminações recebem e requerem a mesma atenção que a produção de rainhas (Fert, 2008).

Técnicas de crioconservação do sêmen estão sendo desenvolvidas, (Almeida & Soares, 2002; Guzman_Novoa et al., (2008). Estes autores testando diferentes métodos de congelamento, diferentes diluentes e diferentes criopreservadores têm alcançado altas porcentagens de viabilidade dos espermatozóides, criando assim uma nova alternativa de armazenamento e conservação de sêmen em abelhas Apis mellifera.

3. ALIMENTAÇÃO ARTIFICIAL - PASTA CÂNDI

Na produção comercial de rainhas é fundamental estabelecer uma programação adicional relacionada à alimentação artificial, pois colméias utilizadas para a produção de rainhas tem que possuir boas reservas de alimento, fato que em algumas regiões tem que ser auxiliado por meio de alimentação energética ou protéica.

A alimentação energética que substitui a entrada ou fluxo de néctar nas colméias e que na maioria dos casos é a mais utilizada pelo apicultor consta de 50% de água e 50% de açúcar, que pode ser oferecida por meio de alimentadores individuais internos, alimentadores de teto ou alimentadores tipo boardman. Já para a alimentação protéica, que complementa um baixo fluxo de pólen na colméia podem ser utilizadas rações previamente estabelecidas e que já são comercializadas. Vários alimentos substitutos podem ser usados para as abelhas, como misturas contendo farinha de soja, farinha de fubá, levedura de cerveja entre muitos outros. Algumas destas rações são tipo pasta e são oferecidas diretamente, sendo colocada entre a parte superior dos favos e a parte inferior da tampa de cada colméia; algumas rações são tipo seco e são oferecidas no fundo da colméia, em alimentadores de teto ou por meio de alimentadores coletivos.  Porém, cada colméia se comporta individualmente, o que determinará a necessidade e a quantidade de alimento que deverá ser fornecido. Embora existam várias receitas desenvolvidas para tentar suprir a deficiência nutricional das abelhas no período de escassez de alimento, é necessário que o apicultor procure alternativas regionais para diminuir os custos de produção.

A pasta cândi (figura 3) é o alimento que é utilizado ou fornecido às abelhas que acompanham a rainha na gaiola de transporte ou introdução. Sua fabricação é a partir de açúcar de confeiteiro e mel e requer alguns cuidados:

Figura 3. A - Açúcar de confeitaria, B - mel
e C - Pasta cândi.

Primeiro mesclar o açúcar com uma pequena parte de mel, a quantidade de mel utilizada para a fabricação do cândi é mínima, assim, aconselhamos ir mesclando pequenas quantidades de mel

Amassar até que todo o açúcar esteja misturado com o mel, caso seja necessário adicionar mais açúcar na mescla

A mistura final não pode ficar nem muito seca nem muito úmida

O ponto é dado principalmente com o açúcar, a pasta tem que ter uma consistência firme e não pode ficar grudada na mão na hora de amassar a mesma.

Finalmente aconselhamos armazenar esta pasta fora do alcance de formigas, para poder ser futuramente utilizada

4. UM PROBLEMA REAL E O PROVEITAMENTO DOS ENXAMES NATURAIS

Embora as caixas iscas sejam altamente atrativas para capturar os enxames que estão procurando um local definitivo de moradia, elas não se prestam para remover os enxames já instalados.

Assim, os enxames já alojados em uma área urbanizada, que se constituem numa ameaça constante de acidentes, necessitam ser removidos de uma forma eficiente e segura. Porém, quando se olha para este contexto constatamos, que os apicultores não têm interesse direto na remoção, pois é uma atividade que envolve muitas vezes, risco, demora na execução da tarefa e sobretudo não compensatória do ponto de vista financeiro. Normalmente as pessoas envolvidas não querem pagar pelo serviço executado, alegando que o apicultor poderá ficar com o mel.

Além destes impasses, existe uma agravante com relação à segurança das pessoas e animais, visto que ao se trabalhar em área urbanizada, as abelhas poderão atacar pessoas e/ou animais, colocando em uma situação complicada o operador. Imagine que ao retirar um enxame, as abelhas se alvorocem, façam um ataque em pessoas e eventualmente ocorra uma acidente fatal. O responsável por esta vítima é o operador que irá ser enquadrado na legislação criminal como "crime doloso."

Assim, a remoção dos enxames em áreas urbanizadas passa a ser uma atividade a ser exercida pelo poder público notadamente o Corpo de Bombeiros.

Na cidade de Ribeirão Preto, SP, com uma população de aproximadamente 610 mil habitantes, a Promotoria do Meio Ambiente, diante dos inúmeros casos de ocorrência de enxames em áreas urbanizadas, tentou com o auxílio do Corpo de Bombeiros, Prefeitura Municipal, Universidade de São Paulo e apicultores, encontrarem alternativas para minimizar os acidentes.

Através da Portaria 004 de 13 de abril de 2009. Diário Oficial do Município de Ribeirão Preto, Ano, 37; número 8.244, foi estabelecido um Grupo de Trabalho para elaborar projeto de: Prevenção de acidentes e captura das abelhas africanizadas.

O grupo de trabalho constituído detectou que:

- Os Apicultores não têm interesse nessa atividade, pois não são remunerados; perdem horas de trabalho, existem riscos de acidentes ao se operar em alturas e não querem assumir os danos que eventualmente possam ocorrer á terceiros.

- Os Bombeiros por sua fez, fazem os extermínios eventuais usando "lança chamas" em situações emergenciais. Não são suficientemente treinados para fazerem remoções de enxames, que muitas vezes são demoradas. Entendem que não é prioridade da corporação este tipo de atendimento.

Existem agravantes, pelo fato de terem poucos veículos e não poderem disponibilizá-los em atividades não essenciais. Embora tenham equipamentos de segurança para o trabalho apícola, pela alta rotatividade dos membros de plantão, nem sempre existem pessoas capacitadas para executar o serviço. O deslocamento de veículos com escadas e com caçambas, para se operar em lugares altos, não pode ser autorizado para esta função, visto que ela é essencial em outros atendimentos emergenciais.

- A Prefeitura Municipal, através da Secretaria do Meio Ambiente, não dispõem de veículos adequados e embora conte com um profissional para executar essa atividade, entende que o número de enxames a ser removido é muito alto, e não tem alternativas para a sua utilização.

Uma das alternativas era o estabelecimento de apiários, que pudessem produzir mel para entrar na merenda escolar, se tornou inviável pelo fato de Ribeirão Preto, ser um "mar de canas" e que para se produzir mel de boa qualidade, os apiários necessitariam estar a pelo menos 200 km dessa região. A Prefeitura não tem mão de obra suficiente para operar apiários produtivos, que possam extrair e processar este mel par abastecer a merenda escolar.

- A Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto, que desenvolve pesquisas com abelhas africanizadas há muito tempo tem competência para dar cursos de Capacitação e Prevenção de Acidentes para os Bombeiros e outras Entidades; domina as técnicas de instalação de caixas-iscas e uso de feromônios na atração dos enxames, mas não pode exercer a atividade de remoção de enxames em áreas urbanizadas por seus funcionários, visto que isto se caracteriza desvio de função. Além disto, não tem equipamentos de segurança e pessoal treinado para se trabalhar em alturas e em áreas de risco.

Ela controla os enxames no Campus da USP instalando e monitorando caixas iscas e eventualmente removendo enxames alojados em tarefas que possam ser executadas em finais de semana e sem risco para a população.

Ligado a Universidade de São Paulo, a Unidade de Emergência do HC Cidade, dispõe de um setor capacitado para entender ocorrências de risco com animais peçonhentos, incluindo aqui as cobras, escorpiões, aranhas, vespas e abelhas.

4.1, Busca de soluções

Diante dos diferentes impasses e dificuldades levantadas e da morosidade do Poder Público, na execução do projeto de instalação e monitoramento de caixas iscas, que poderiam em parte minimizar os problemas, a Universidade de São Paulo, desenvolveu um equipamento denominado Coletor Eficiente de Abelhas, que permite a retirada dos enxames em áreas urbanizadas e de risco com grande segurança. (figura 4).

Figura 4. Coletor eficiente de abelhas.

4.2 Coletor Eficiente de Abelhas

Foi desenvolvido por Pedro Caetano, apicultor autônomo; Jairo de Souza, técnico do Departamento de Genética da FMRP-USP e Ademilson Espencer Egea Soares, docente do Departamento de Genética da FMRP-USP

Este equipamento está sendo patenteado e já foi utilizado mais de 30 vezes na remoção de enxames em áreas de risco, com a captura total das abelhas, inclusive da rainha, utilizando técnicas de sucção. Visto que o enxame não é morto, ele pode ser passado facilmente para uma colméia racional e ser utilizado na apicultura convencional. Todos os enxames capturados com este equipamento, não geraram nenhum tipo de contratempo. Foram remoções rápidas e seguras (Soares, 2010).

4.3. Avaliação do material genético

Evidentemente que estes enxames capturados pelo Coletor Eficiente de Abelhas são utilizados em colméias racionais de produção e devidamente avaliados como possíveis fontes de material genético, para os programas de seleção e fornecimento de rainhas. Uma das formas de se avaliar o desempenho da colônia é estimar o seu ganho de peso ou número de favos de mel produzidos durante o período de floração principal. A morfometria de asas e de abdômen pode ser considerada com bons estimadores no potencial genético das rainhas, conforme foi demonstrado por Costa-Maia (2009).

Embora o Brasil ainda não apresente problemas significativos com relação a ocorrência de doenças e o uso indiscriminado de antibióticos, que possam contaminar o mel, o pólen e a cera, vale a pena ressaltar que a busca de matrizes que apresentam comportamento higiênico não deve ser negligenciada dentro dos programas de seleção. Em estudos recentes determinou-se que o comportamento higiênico é controlado por seis loci quantitativos (Oxley at al, 210) e que a seleção efetiva de matrizes, tem contribuído para o desenvolvimento de linhagens resistentes nas grandes empresas de fornecimento de rainhas nos USA (Spivak, 2010)

4.4. Distribuição de rainhas

Baseando-se no modelo desenvolvido pelo Depto. de Genética da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, USP, hoje existem empresas especializadas que produzem e enviam rainhas geneticamente selecionadas para os apicultores, pelo sistema SEDEX.

4.5. Expectativa futura.

Implantações de centrais de produção de rainhas em diferentes regiões do Brasil e que possam produzir rainhas selecionadas e mantidas por inseminação instrumental, contribuindo para o aumento da produtividade de própolis no país.

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