Homenagem

Homenagem ao amigo Irineu Renato Barbosa

Texto e foto da Profa. Dra. Marilda Cortopassi Laurino

Dr. Renato, como era mais conhecido, foi um embaixador das abelhas sem ferrão do Nordeste brasileiro. Ele sabia como poucos transmitir o conhecimento sobre o manejo destas abelhas com palavras fáceis, sempre com exemplos e comparações simples, que qualquer um conseguia entender a mensagem. Como bom observador e conhecedor de muitos dos criadores de abelhas nativas, ele foi um agregador dos meliponicultores. O seu senso crítico e a sensatez nas observações, tornavam suas opiniões bastante respeitadas.

Homem de visão do futuro e generoso cedeu em 1993, os dois melhores ninhos de uruçu (M.scutellaris) ao Dr. Paulo Nogueira-Neto para a realização de experimentos com pequenas populações destas abelhas.

Nas viagens para a Chapada do Araripe que fizemos junto com Selma e Chagas ele sempre tinha comentários sobre a região ou cidades ao longo do caminho ou até mesmo de algum habitante singular. Com seu espírito tranquilo e brincalhão, certa vez foi fazer a barba e cabelo em uma barbearia na beira da estrada enquanto esperávamos pelo conserto do carro.

Foi um grande incentivador da dispersão do conhecimento sobre o baobá, árvore tipo barriguda comum no Nordeste brasileiro e símbolo do período de entrada dos escravos africanos nesta região. Sempre levava os visitantes para observar esta beleza exótica.

Da sua vida sei que seu interesse pelas abelhas sem ferrão começou cedo porque seu pai criava uruçu em Timbaúba-PE, cidade localizada a 100km de Recife, e portanto desde criança teve contato com esta abelha nativa.

Chegou ao Recife em 1951 para o curso de segundo grau e no inicio dos anos 80 fez curso na CAPEL sobre criação de Apis mellifera, quando ouviu sobre noções em meliponicultura. A partir desse momento ele pensou que a abelha uruçu seria uma boa opção para ser desenvolvida na cidade do Recife.

Pouco tempo depois comprou em Taquaritinga um ninho de uruçuzinha que na verdade tratava-se de uma jandaíra. Foi de Timbaúba que trouxe as primeiras uruçus que ele mantinha no centro do Recife e em Paulista, mas foi na cidade de Taquaritinga que ele criou a jandaíra.

Dr. Renato foi quem primeiro nos mostrou a calamidade da situação da uruçu do chão (M.quinquefasciata) quando em 1998, no congresso de apicultura em Salvador, chegou com restos de favos amarrotados cobertos de terra e varias abelhas numa pequena caixa. Alguém tinha ido para a região de origem destas abelhas e observado como os meleiros coletavam o mel e deixavam o resto do ninho no buraco acreditando que elas se mudavam. Seu alerta teve repercussão. Nos últimos anos, junto com Francisco das Chagas, Selma Carvalho e Tertuliano Aires Neto colaborou intensamente nas pesquisas de manejo e divulgação da criação da uruçu do chão na região da Chapada do Araripe-PE. (uma cartilha sobre o tema já foi editada em 2012).

Dr. Renato, nós os abelhudos (Chagas, Selma, Tertuliano, Marilda, Celso, Solange e Waldemar da APACAME) e todas as abelhas sem ferrão do Nordeste queremos agradecer o seu empenho silencioso e tranquilo na divulgação da criação e manejo principalmente das uruçus e da jandaira. Mas muitas outras abelhas da região nordestina como a brabo, canudo, cupira, irapuá, jataí, jati, mandaçaia, manduri, mané de abreu, moça branca, moça preta, mosquito de chão, mosquito remela, sanharó, tataíra, vambora, zamboque também agradecem ........

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