Comentário

Congresso da Apimondia realizado na Argentina.

Radamés Zovaro Empresario apícola e Diretor Técnico da APACAME

Os Congressos normalmente são centros de relacionamento, de aprendizado, de conhecimento e principalmente de intercambio entre os presentes. O 42º Congresso Internacional da Apimondia realizado na Argentina, cidade de Buenos Aires, entre os dias 21 e 26/09/2011, não foi diferente, houve sim, um grande relacionamento entre os participantes de todo mundo que lá estavam presentes. Apesar, muitas vezes, de termos dificuldades no dialogo em função da língua falada, o ser humano sempre acha uma forma de se comunicar, até por mímica se for o caso.

A delegação brasileira, a maior, perdendo só para anfitriã, se fez representar com mais de 350 participantes entre apicultores, empresários, pesquisadores, funcionários de entidades como o MAPA, SEBRAE e outros órgãos governamentais.

As palestras foram muito concorridas, principalmente as que apresentaram temas sobre, doenças das abelhas, Meliponiculura e Apíterpia, esta ultima com grande interesse e, sem duvida é um setor que esta em franco crescimento em todo mundo.

O tema bastante discutido foi as doenças que as abelhas tem apresentado em todo planeta, e na Argentina a situação é grave, pois eles tem a Nosema Serana , a Cria Putrida Amercana também conhecida como Bacilus Larvae e a Varroa, porem o que deu para perceber é que eles estão lutando muito no combate a esse problema com uma conscientização maior dos apicultores e com o apoio da área cientifica e também do poder publico. No Brasil, apesar de comentarmos em alto e bom som que nossas abelhas (africanizadas) são imunes a determinados tipos de doenças, lamentavelmente estamos tendo alguns problemas: fala-se em Nosema Serana em alguns apiários em Santa Catarina. Um pesquisador brasileiro Kelly Keller, da Universidade Rural do Rio de Janeiro, apresentou uma palestra neste Congresso onde comenta sobre os fungos e microtoxinas encontrados em colméias de abelhas africanizadas afetadas pela Cria Ensacada Brasileira, pesquisa realizada em apiários localizados no Estado do Rio de Janeiro (Região Sudeste do Brasil) alem de outros problemas que também temos tido como a Varroa, que em algumas regiões tem se desenvolvido um pouco mais do que o normal. O sumiço das abelhas que tem acontecido principalmente em regiões do hemisfério norte, motivo de muitos comentários em palestras apresentadas nos Congressos realizados nas cidades de Melbourne e Montpellier (Australia e França, respectivamente) não foram motivos de muita repercução neste Congresso.

O alto de todo Congresso, sem duvida nenhuma foi a Api Expo com 146 stander distribuídos em uma grande área com todo a infra-estrutura de exposições de nível internacional. O Brasil se fez presente com o maior stanter do Congresso, representado pela CBA (Confederação Brasileira de Apicultura), Abemel (Associação Brasileira dos Exportadores de Mel) e empresas exportadoras de mel e de equipamentos apicolas, em um total de 15 pequenos módulos .O Stander recebeu a medalha de Ouro como o maior stander do Congresso. O Stander da Argentina também era enorme. Alem dessas muitas empresa se fizeram presente, tanto argentinas, como de países europeus, asiáticos, Australianos e das Americas. Algumas empresas estavam reclamando da proibição por parte da Legislação Argentina, da entrada de alguns tipos de equipamentos no pais, caso acontecido com a empresa brasileira Apilani e de uma empresa da Finlândia pelo que soubemos. Entre os standers alguns de cooperativas apícolas chamaram a atenção mostrando que na Argentina o sistema de cooperativismo na apicultura esta bem desenvolvido. O que me chamou a atenção entre eles foi a da Cooperativa Apícola de Gualeguaychú (Região Norte da Argentina, próximo a divisa com o Uruguai)

A feira não trouxe especificamente muitas novidades. Na linha de equipamentos, as desoperculadoras e centrifugas trabalhando no sentido horizontal chamaram a atenção. Nas desoperculadoras automáticas já com dispositivo para prensar o mel dos opérculos, motivo pelo qual ocuparam maior tempo dos observadores, uma vez que a cera sai no maxímo com 1% de mel, e este já segue o seu caminho para ser bombeado para o tanque de decantação, o que facilita em muito o trabalho. É evidente que o uso desses equipamentos é para apicultores com grande número de colméias. Na visita técnica tivemos a oportunidade de ver um equipamento desses em funcionamento. Outros standers expondo os mais diferentes tipos de materiais e equipamentos (fumegadores, macacões, uma variedade enorme de materiais diversos, colméias de isopor, embalagens de mel em favo feitas com um tipo especifico de plástico, aparelho de inseminação artificial de rainhas, produtos de apiterapia, produtos farmacêuticos para combate a determinados tipos de doenças, artesanatos e outros alem evidentemente dos produtos das abelhas incluindo degustação dos mais variados tipos de mel produzidos na Argentina) estavam expostos. Realmente em todo o período do Congresso, nos intervalos das palestras, a feira era o local de encontro. Todos os continentes estiveram representados com stander de empresa apícolas, chamamos a atenção para a Argentina com 57 stander, China(12), Índia(5), Itália(6), Turquia(5), Corêia do Sul, Etiópia, Finlândia, México, etc.

Na mesma área da feira foi separado um espaço para a apresentação dos Posters. Em função da quantidade apresentado (738) , as apresentações foram divididas, nos 4 dias do Congresso. Sedo que cada Porters ficou exposto somente 1 dia. Havia muitos trabalhos interessantes e o Brasil se fez representar por um numero muito grande de pesquisadores que puderam mostrar o seu trabalho.

A visita técnica também teve seu ponto alto. Viajamos aproximadamente a 150 km de Buenos Aires, sentido sul da Província e chagamos em uma pequena localidade chamada Belgrano onde situa-se a Cabanã Apiário Pedro J. Bover, coordenada pelo Sr. Ernesto Lópes. La encontra-se o Centro de Melhoramento Apícola da Argentina. Tivemos uma bela recepção onde em uma sala com mais de 90 pessoas foi nos dado uma explicação do que é feito naquele local, ou seja, Criação de Rainhas, procurando com isso melhorar a qualidade das abelhas com relação a doenças e aumento da produtividade. Em uma área aproximada de 5 a 7 hectares encontra-se mais de 200 colmeias exclusivamente para criação de rainhas. E ai sinceramente me fez lembrar da minha infância, onde no quintal da casa que morava, meu pai tinha mais de 100 colméias de abelhas Apis mellifera ligustica (abelhas italianas) e, naquela época podia-se jogar bola no meio do apiário. Hoje infelizmente isso não é mais possível em função das abelhas africanizadas que temos. Foi uma visita bastante interessante onde todos os visitantes tiveram livre acesso. Foram abertas colméias, demonstrando o serviço que é realizado e o importante de tudo, é sentir que, o apicultor argentino tem interesse e consciência que o manejo com trocas periódicas de rainhas é uma das ferramentas mais importantes que devem ser utilizadas para melhorar a qualidade e a produtividade das colméias. Nos foi fornecido um excelente almoço a base de churrasco feito no estilo Argentino também utilizado em algumas regiões gauchas regado com um bom vinho.

Finalmente fomos a um outro local,na mesma cidade, visitando a casa de mel de uma empresa apícola onde pudemos observar os equipamentos (centrifuga e desoperculadora) acima citados em pleno funcionamento, casa essa que era um galpão simples, limpo, que funciona maravilhosamente bem, porem se fosse no Brasil, as exigências sanitárias já teriam barrado o seu funcionamento, lamentavelmente.

A Argentina é a segunda maior exportadora de mel do mundo, esperam chegar neste ano a exportar 65.000 ton de mel, com uma produção estimada de 90.000 ton. O que nós observamos é que existe o apoio governamental e principalmente existe o interesse do apicultor em praticar uma apicultura utilizando de todos o meios visando a produtividade, utilizando abelhas com uma boa qualidade genética, e principalmente fazendo um manejo de acordo com o calendário de floradas. Com isso sem duvida nenhuma a produção aumenta e a apicultura no seu todo cresce.

O próximo Congresso da Apimondia será realizado na Ucrânia em 2013, até lá.

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