Artigo

Tamanho das cargas de pólen interceptadas em coletores mantidos em colméias de Apis mellifera africanizadas

Size of the pollen loads intercepted in collectors maintained in Africanized Apis mellifera hives

Augusta Carolina de Camargo Carmello Moreti1, Erica Weinstein Teixeira2, Maria Luísa Teles Marques Florêncio Alves2, Karla Cristina da Silva Oliveira3, Ivani Pozar Otsuk4, Lígia Bicudo de Almeida- Muradian 3
1Instituto de Zootecnia/ APTA, SAA, - acmoreti@iz.sp.gov.br - 2 Pólo Regional - Vale do Paraíba, APTA-SAA, SP - 3 Faculdade de Ciências Farmacêuticas/USP, São Paulo, SP - 4 Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Genética e Reprodução Animal, Instituto de Zootecnia, APTA/SAA.

RESUMO
O tamanho e o peso das cargas de pólen coletadas pelas abelhas do gênero Apis apresentam grande variação, tendo em média 7,5 mg, mas podendo chegar até 15mg dependendo da planta que fornece o alimento, das condições ou necessidades da colônia e da espécie da abelha que efetua a coleta. O presente estudo teve como objetivo verificar o comportamento das abelhas africanizadas em relação ao tamanho das cargas de pólen, quando coletores são instalados nas colméias. Utilizando-se a metodologia proposta para solos, o pólen coletado diariamente foi submetido, após pesagem inicial, a um conjunto composto por 6 peneiras com malhas de tamanhos decrescentes: 2,0 mm, 1,68 mm,1,0 mm, 0,84 mm, 0,5 mm e 0,25 mm. O pólen retido em cada uma das peneiras foi pesado e os valores transformados em porcentagem do total da amostra. A porcentagem de pólen retido na peneira de 2,00 mm aumentou progressivamente do primeiro ao oitavo dia, podendo, tal aumento, ser representado pela equação: Ý=26,55+3,04X (R2= 0,84). Na peneira de 1,68 mm a porcentagem decresceu progressivamente, conforme a equação Ý=49,03-2,54X, R2= 0,84. Pôde-se concluir que as abelhas africanizadas aumentam progressivamente o tamanho das cargas de pólen quando interceptadas por dias sucessivos.

Palavras-chave: pólen, abelha africanizada, Apis mellifera, comportamento de coleta.

Abstract

The size and the weight of pollen loads collected by bees of the Apis genus show great variation with an average weight of 75 mg but it can reach as much as 15 mg, depending on the plant that provides the food, on the condition or the needs of the colony and of the species of the bee responsible for the harvest. The objective of the present work was to check the behavior of the Africanized bees in relation to the size of the pollen loads when collectors are continuously placed in the beehives. Using the methodology proposed for soils, the pollen collected daily, after the initial weighing, was submitted to a set made of 6 screens with decreasing holes: 2.0, 1.68, 1.0, 0.84, 0.5 and 0.25 mm. The pollen retained in each one of the screens was weighed and the values were transformed into a percentage of the total sample. The percentage of the pollen retained on the screen with 2.0 mm increased progressively from the first to the eighth day, and this increase can be represented by the following equation: Ý = 26.55 + 3.04X (R2 = 0.84). On the screen of 1.68 mm, the percentage decreased progressively, according to the equation: Ý = 49.03-2,54X (R2 = 0.84). It can be concluded that the Africanized bees increase progressively the size of the pollen loads when intercepted in successive days.

Key - words: pollen, Africanized honey bee, Apis mellifera,

Introdução

O tamanho e o peso das cargas de pólen coletadas pelas abelhas variam consideravelmente, tendo em média 11,4mg, nas duas corbículas, o que corresponde a cerca de 17% do peso da operária coletora (Funari et al., 1992, 1993 e Toledo, 1997). As variações no tamanho destas cargas dependem da planta que serve como fonte de alimento, das condições ou necessidades da colônia e da própria abelha (Herbert & Shimanuki, 1978) e, ainda, variam com a estação do ano e os diferentes anos (Funari et al., 2003).

Inicialmente quando são instalados os coletores, há um aumento no número de campeiras coletando pólen porque o alimento não está chegando ao interior da colméia e, assim, ocorre um estímulo para que mais abelhas coletem até aproximadamente 7 dias da data da instalação, depois esse número volta a se reduzir (SEELEY, 1985).

Durante uma temporada de coleta na Espanha, SERRA BONVEHI & JORDÀ (1997) verificaram que o tamanho das cargas de pólen variou de 2,0 a 4,6 mm, sendo muito menores, portando, em relação ao tamanho observado em condições brasileiras. Ochoa (1980) havia comprovado que as abelhas européias, ao notarem que parte do pólen coletado é retirado pelos coletores, diminuem instintivamente o tamanho das cargas que transportam, conseguindo vencer o anteparo dos coletores.

Malerbo-Souza et al. (1998) verificaram um aumento de 20,4% no peso das cargas polínicas coletadas no horário das 9 h da manhã, após a colméia ter ficado um período sem coletada, afirmando que as abelhas reagem à barreira representada pela tela excluidora de rainhas, aumentando inicialmente a quantidade de pólen transportado em cada viagem. REIS (2000) não verificou tendência de diminuição ou aumento do tamanho das cargas polínicas transportadas pelas abelhas com o passar dos dias de coleta, observando que a maioria das cargas coletadas (80% do total) ficaram retidas nas peneiras de 1 e 2 mm de malha. O objetivo do presente estudo foi verificar o comportamento das abelhas A. mellifera africanizadas no que se refere ao tamanho das cargas de pólen..

Material e Métodos

O presente trabalho foi realizado no apiário experimental da APTA Regional - Vale do Paraíba, em Pindamonhangaba, unidade pertencente à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios/SAA -SP. O local de instalação do apiário apresenta vegetação de Floresta Estacional Semidecidual (Mata Atlântica), porém com amplas áreas antropizadas, onde existem cultivos agrícolas, árvores e ervas de interesse apícola, introduzidas ao longo dos anos e talhões reflorestados com Eucalyptus spp.

Para obtenção das amostras, foram utilizadas seis colméias de abelhas africanizadas com equipamentos coletores de pólen do tipo intermediário Durante três semanas consecutivas as colméias eram revisadas para manutenção das condições ideais de cria, com vistas a estimular a coleta de pólen no campo. Para garantir a manutenção do status populacional ideal para produção de pólen, as colméias recebiam 100g de suplemento protéico à base de farinha de soja desengordurada, conforme Alves et al. (1997), além de 1,5L de xarope de açúcar com concentração de 60%, em alimentadores do tipo Boardmann. Igual número de colméias foi utilizado como apoio para obtenção das crias.

As amostras foram coletadas, diariamente, de 13 de setembro a 01 de outubro de 2007, congeladas e, posteriormente, descongeladas para serem submetidas a um conjunto composto por seis peneiras com malhas de: 2,0 mm/µm, 1,68mm/µm,1,0mm/µm, 0,84mm/µm, 0,5mm/µm e 0,25mm/µm, conforme metodologia proposta por Camargo et al. (1986) para solos e adaptada para cargas de pólen por REIS (2000).

O peso inicial do pólen coletado, bem como o peso do pólen retido em cada uma das peneiras foi anotado e seu valor transformado em porcentagem do total da amostra. O delineamento utilizado foi o inteiramente ao acaso com seis repetições, sendo estudados os dias de coleta para cada uma das peneiras por meio de regressão polinomial. Os resultados utilizados foram os referentes a 8 dias consecutivos uma vez que neste período todas as colméias usadas no experimento realizaram coleta de pólen.

Resultados e Discussão

Os resultados referentes às porcentagens de cargas retidas nas diferentes peneiras em oito dias consecutivos de coleta encontram-se na Tabela 1.


Tabela 1. Porcentagem média da amostra de cargas de pólen retidas em seis peneiras de diferentes malhas em consecutivos dias de coleta

Figura 1. Variação da porcentagem da amostra de pólen retido nos diferentes diâmetros de peneira, Pindamonhangaba, SP


Pelos dados obtidos verifica-se que a porcentagem de pólen retido na peneira de 2,00mm aumentou progressivamente do primeiro ao oitavo dia de coleta, podendo tal aumento ser representado pela equação: Ý=26,55+3,04X (R2= 0,84), onde no eixo X estão os dias de coleta e no Y a porcentagem de pólen retido (Figura 1).

Na peneira de 1,68mm/µm a porcentagem decresceu progressivamente (Ý= 49,03-2,54X, R2= 0,84), indicando que o tamanho das cargas vai aumentando com o passar dos dias, por isso a porcentagem de cargas retidas nas peneiras de malhas maiores aumenta progressivamente e nas de malhas menores diminui progressivamente (Figura 1).

Diante de tais resultados, pressupõe-se que as operárias, ao perceberem que o alimento não está chegando no interior da colméia, tentam coletar mais pólen por viagem, para assim compensar essa perda.

Nas peneiras de malhas de 0,84mm/µm, de 0,5mm/µm e de 0,25mm/µm, embora as porcentagens retidas tenham sido muito reduzidas, houve diminuição até o terceiro dia de coleta, com pequeno aumento posterior, conforme representado pelas respectivas equações: Ý=0,45-0,17X+0,03X2 (R2=0,72), Ý=0,73-0,42X+0,07X2 (R2=0,83) e Ý=0,39-0,22X+0,04X2 (R2=0,77).

As porcentagens retidas na peneira de 1,0mm/µm, embora tenham apresentado valores decrescentes, não puderam ser representadas por uma equação de regressão devido às grandes variações constatadas entre colméias.

Uma segunda hipótese averiguada foi a de que as abelhas poderiam diminuir o tamanho das cargas de pólen como afirmava OCHOA (1980), para assim conseguirem passar com as cargas menores pela armadilha sem deixá-las retidas, dando a falsa impressão de que as abelhas teriam aumentado o tamanho das cargas, uma vez que somente estas maiores ficariam retidas. Esta hipótese não se confirmou na presente pesquisa, uma vez que o peso total de cada amostra teve pequenas alterações entre os diversos dias de coleta, mantendo-se praticamente constante, havendo uma redução sensível apenas no último dia de coleta para todas as colméias avaliadas (Tabela 2), o que pode ser explicado pelas condições ambientais, de manejo e da flora local.
*-resultado de 3 dias de coleta



conclusões

De maneira contrária ao que foi observado para as abelhas melíferas européias, as abelhas melíferas africanizadas aumentam progressivamente o tamanho das cargas de pólen ao perceberem que o alimento não está chegando até o interior das colméias, na tentativa de suprir sua falta na colônia.

AGRADECIMENTO

Os autores agradecem à FAPESP e ao CNPq pelo auxílio recebido, o que permitiu o desenvolvimento do presente trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Camargo, O.A. de et al. Métodos de análise química, mineralógica e física de solos do Instituto Agronômico de Campinas. Campinas, IAC, 1986. 94p. (IAC. Boletim Técnico 106)

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Funari, S.R.C. et al. Avaliação da contribuição individual da abelha africanizada Apis mellifera. na produtividade da colméia. Vet. Zoot., São Paulo, v.5, p. 9-16, 1993.

Funari S.R.C. et al. Composição bromatológica e mineral do pólen coletado por abelhas africanizadas (Apis mellifera L.) em Botucatu, Estado de São Paulo. Arch. Latinoam. Prod. Anim., Maracaibo, v. 11, n.2, p. 88-93, 2003

Herbert Jr; E.W.; Shimanuki, H. Chemical composition and nutrition value of bee collected and be-stored pollen. Apidologie, Paris, v.9, n.1, p. 33-40, 1978

MALERBO-SOUZA, D.T. et al. Uso da tela excluidora de rainha no alvado e seus efeitos na atividade de coleta e no desenvolvimento de colônias de Apis mellifera. Acta Scient., Maringá, v.20, n.3, p. 383-386, 1998.

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SERRA BONVEHI, J.; ESCOLÀ JORDÀ, E.,. Nutrient composition and microbial quality of honeybee collected pollen in Spain. Journal of Agricultural and Food Chemistry, n.45, 725- 732,1997.

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Toledo, V.A.A. Estudo comparativo de parâmetros biológicos e de produção de cera e geléia real em colônias de abelhas Apis mellifea africanizadas, carniças, italianas e seus híbridos. 1997. 196p. Tese/ Doutorado em Zootecnia- Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista.

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