Visita

OBSERVAÇÕES DE VISITA A UM MELIPONÁRIO NOS ARREDORES DE MANAUS-AM

Marilda Cortopassi-Laurino1, Maria da Glória Paiva de Assis2,3 & Raimundo Vidarico do Nascimento3
1Laboratório de Abelhas da USP-SP
2Laboratório de Polinização CPBO/INPA
3ACAM- Associação de Criadores de Abelhas da Amazônia

detalhe dos frutos de Coussapoa asperifolia onde muitas abelhas
"boca de renda" coletam substancias "resinosas" e sementes
nos frutos maduros

Visitar meliponários instalados na floresta amazônica é muito gratificante não só pela exuberância da vegetação local como também pelas espécies de abelhas sem ferrão que aí coexistem.

O Meliponário visitado está instalado no Sitio das Abelhas, no bairro de Riachuelo I, de propriedade do Sr. Raimundo Vidarico do Nascimento, onde também existe um viveiro de mudas de plantas apícolas que ele distribui e troca com os amigos das abelhas. A visita foi realizada em época de pouca chuva, no inicio de setembro de 2010.

As colméias estavam instaladas em caixas tipo INPA modificadas, sendo todas com lixeira ou gaveta para detritos ou lixo e com canudo externo de madeira na entrada do ninho usada contra ataque de forídeos. Algumas caixas ainda estavam com uma cobertura de plástico que são usadas para proteger a madeira na época das chuvas. No local são manejadas as seguintes espécies de meliponíneos: jupará (Melipona compressipes manaosensis), uruçu boca de ralo (Melipona rufiventris paraensis), uruçu boca de renda (Melipona seminigra merrillae), Frieseomelitta trichocerata, e instalados em ninhos antigos de uma pinto de velho (Melipona lateralis) estavam uma abelha sem nome popular (M. captiosa) e uma mirim (Plebeia sp). O sr. Vidarico coloca pequenos potes de plástico dentro do ninho na região onde as abelhas constroem seus potes, facilitando assim a retirada de pólen e mel destas melíponas.

Ainda no tronco estava uma abelha rara, o mombucão (Cephalotrigona femorata), assim chamada porque tem uma cabeça grande em relação às de outras abelhas. O interessante da entrada, é que só uma abelha entrava ou saía de cada vez, tão estreita era a porta em relação ao tamanho da abelha. Este tronco media aproximadamente 90 cm de comprimento e 35cm de diâmetro.

Gloria de Assis, encontrou ainda 3 ninhos naturais de Scaura tenuis no batente de uma casa de madeira nos fundos do sítio.

detalhe da abelha "boca de renda" com substancias "resinosas" e
sementes na corbícula. Uma abelha "borá" tambem coleta em
fruto mais distante. Estas coletas específicas
qualificam as abelhas também como
dispersoras de sementes

Entretanto, o mais inusitado foi observar a coleta pelas abelhas, de resina com sementes nos frutos de uma planta cientificamente conhecida como Coussapoa asperifolia, planta da família botânica do mata-pau Cecropiaceae, e atualmente classificada como da família botânica Urticaceae. Esta árvore, com 5 anos de idade, 7 metros de altura e 13cm de diâmetro no tronco na altura do peito, floresce desde os 3 anos de idade e ao longo de todo ano, segundo o Sr. Vidarico.

O fruto de formato bilobado, tinha as dimensões de 2,3x1,8cm quando maduros. Inicialmente eles são verdes e pequenos, e quando maduros apresentam a cor avermelhada devido a uma resina ou mucilagem que as agregam na porção inferior. Cada fruto possui aproximadamente 552 sementes as quais apresentam formato ovalado e são minúsculas, medindo 2,6mm de comprimento por 1,2mm de largura (n=15). Nestes frutos, que são mais úmidos no período da manhã, foi observada maior quantidade de abelhas coletando do que no período da tarde, quando também aumentava o numero de formigas.

Sobre a coleta, as abelhas "boca de renda" gastavam até 13 minutos (n=9) para completar uma carga destas resinas com sementes, enquanto as abelhas borá, até 16 minutos (n=4) para esta mesma atividade. Algumas amostras destas cargas mostraram que a abelha Melipona coletava até 5 sementes desta planta em cada corbícula. Foi também observado que as abelhas tentam, e às vezes conseguem coletar a resina da corbícula de outras abelhas que também estão coletando nestes frutos.

Para complementar a experiência, dois ramos com frutos foram transferidos, e mantidos em vasilha com água e na sombra, para um meliponário no bairro do Japiim I, área urbana de Manaus. Neste local foi observado ainda por mais quatro dias, a visita das abelhas jupará e Aparatrigona impunctata sendo que esta ultima espécie ficava até escurecer fazendo coletas. Após os quatro dias foram molhados os frutos que ficaram ressequidos possibilitando as Aparatrigona de continuar visitando e coletando resina por mais seis dias.

Na região do Xapuri-AC, a maior coleta de "resina mucilaginosa" com sementes ocorreu no período das chuvas, assim como a coleta de barro, enquanto no período seco do ano, predominava a de pólen e néctar.

(Cortopassi-Laurino et al., 2007).

Gloria de Assis e Vidarico inspecionam os potes de alimento de uma
colonia da abelha "boca de renda"

A coleta e dispersão de sementes por meliponíneos também foi observada na Austrália em 1995 e atualmente são conhecidas nesta região, quatro espécies que visitam estas sementes de eucalipto. Entretanto no Brasil, data de 1977 o primeiro registro desta coleta específica na região amazônica feita por Absy & Kerr e atualmente vem crescendo os trabalhos de observações nesta espécie de planta.

Embora Coussapoa asperifolia não ofereça recursos alimentares, fica aqui mais uma sugestão de propagação de plantas de interesse para as nossas abelhas nativas.

Agradecimentos

Carlos H. Franciscon pelo acesso ao herbário do INPA e Odilene Santos pela confirmação da identificação da planta observada.

Referências Bibliográficas:

Absy, M L & Kerr, W E 1977 Algumas plantas visitadas para obtenção de pólen por operárias de Melipona seminigra merrillae em Manaus. Acta Amazonica 7(3):309-315

Cortopassi-Laurino M, Velthuis H H W & Nogueira-Neto P 2007. Diversity of stingless bees from the Amazon forest in Xapuri (Acre), Brazil. Proc. Neth. Entomol. Soc. Meet. 18:105-114


detalhe dos potes de alimento (pólen) construídos em copos de plástico, facilitando a sua remoçao de dentro dos ninhos da abelha "boca de renda"

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