Artigo

CONTRIBUIÇÃO DA ASTRAPÉIA ROSA (D. walliechii) NA PRODUÇÃO DE MEL E CONDIÇÃO DOS ENXAMES

Prof. MSc. Paulo R. P. Figueiró1 - Prof. Dr. Celson R.Canto Silva2 Ariana Castro3 - Ana Paula de R. Schünemann4
1 Médico Veterinário, Responsável Técnico Apiário Palmeira, Cachoeira do Sul, RS. e-mail: prpfigueiro@yahoo.com.br Cel: 55-51-9994-1782
2 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - IFRS, Campus Porto Alegre, Porto Alegre, RS.
3 Acadêmica da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul - UERGS.
4 Acadêmica da UERGS.
1. INTRODUÇÃO

Entre os fatores que afetam a produção do mel e a manutenção de um estado biológico saudável dos enxames, a disponibilidade de alimento (néctar e pólen) nas diversas etapas da vida desses enxames, é, sem dúvida, o principal. De uma forma geral, as observações, trabalhos e pesquisas sobre a alimentação dos enxames são focados no uso de alimentos substitutos dos elementos naturais (pólen e néctar), onde se destacam os usos do açúcar, leite em pó, farinha de soja, sucedâneos do leite e concentrados de aminoácidos, minerais e vitaminas (LENGLER, 2000). Os resultados do uso desses elementos apontam para a melhoria da condição dos enxames, o que propicia maiores índices de sobrevivência e uma capacidade forrageadora superior no início da florada na primavera. No entanto, em que pese os resultados positivos, os apicultores encontram dificuldades para o uso pleno e adequado dos alimentos, sendo as principais restrições apontadas: a formulação da dieta, consistência da mesma, freqüência de uso, quantidade a ser ministrado, tipo de alimentadores, época mais adequada, disponibilidade de tempo, condições climáticas e acesso inadequado aos apiários no inverno. Nessas circunstâncias, os resultados nem sempre são os esperados, gerando informações contraditórias e desestimulantes para o uso da alimentação suplementar, gerando muito "achômetro" e conclusões sem o mínimo embasamento técnico/científico (TORRES, 2008). Na natureza, a distribuição das floradas obedece a um seqüencial crescente inverno/primaveril, uma estabilização ou diminuição no verão e um aumento razoável no outono, seguido de uma drástica indisponibilidade de flores no inverno. A possibilidade para suprir os enxames de fontes de néctar e pólen está nos cultivos de inverno, como a canola e o nabo forrageiro ou em espécies com floração invernal.

Na região sul do Brasil, nas zonas de clima mais ameno, litoral, vales e onde a quantidade e intensidade das geadas são menores, destaca-se a presença da Astrapéia Rosa (Dombeya wallichii) como uma das espécies promissoras. Essa planta de origem africana, segundo ESPÍNDOLA & ORENHA (2007), é cultivada em parques e jardins como planta ornamental, apresentando um porte arbustivo arbóreo de 3 a 7m de altura, com copa densa. Floresce no outono/inverno (maioria até setembro), dependendo da latitude e do ambiente. As flores são visitadas intensamente por abelhas, principalmente por Appis mellifera mellifera, que coletam néctar e pólen. Ainda conforme estes autores, na região litorânea catarinense têm-se observado nessas plantas uma secreção de néctar abundante, porém, pela presença de umidade relativa alta, a concentração de açúcares é baixa (situação esta por nós também observada na região da Depressão Central do Rio Grande do Sul, sendo constatado um néctar semi-líquido de baixa densidade). Apesar disto, a Astrapéia é uma ótima opção como planta apícola na manutenção dos enxames, fornecendo néctar e pólen em uma época do ano onde é baixa a disponibilidade dos mesmos. Ressalta-se, ainda, que a Astrapéia reproduz-se facilmente por estacas, com crescimento rápido emitindo inflorescência já no primeiro ano de idade.

2. OBJETIVO E METODOLOGIA

Este trabalho teve como principal objetivo medir a contribuição da presença de plantas de Astrapéia Rosa, junto a um apiário, sobre a produção de mel do mesmo e a condição biológica dos enxames a posteriori.

Foram utilizadas 45 (quarenta e cinco) colmeias no apiário SEM a presença da Astrapéia Rosa e 15 (quinze) colmeias COM a presença de 45 (quarenta e cinco) pés de Astrapéia Rosa, com mais de três anos de idade, resultando em uma disponibilidade de 2,5 (dois e meio) plantas por colméia. Os dados correspondem às safras de 2001 a 2006, totalizando cinco produções do Apiário Palmeira, situado no município de Cachoeira do Sul, na região central do Rio Grande do Sul. O manejo foi o mesmo para todas as colméias, as quais eram do tipo Schirmer, estabelecidas, no mínimo, há dois anos, sendo todas numeradas e avaliadas individualmente com registro em caderneta de campo a cada revisão. A produção de mel foi avaliada pelo número de caixilhos preenchidos e, no mínimo, operculada 50% (cincoenta por cento), sendo estimado 1 (um) kg por caixilho em média. Para a freqüência de produção e para a condição biológica dos enxames, foram consideradas duas épocas, a 1ª até 30 de outubro e a 2ª pós-outubro, até 30 de maio.

A metodologia utilizada para avaliação da condição biológica dos enxames foi aquela adotada por FIGUEIRÓ et al (2009), na qual a condição da colméia é ranqueada em uma escala entre 0 (zero) a 10 (dez), com a seguinte simbologia e significado:

"-" (negativo), valor de 0,0 até 3,0: significa um enxame com baixa população, sem condições de produzir mel e com baixa possibilidade de sobreviver se não for alimentado; com, no máximo, 3 quadros com cria e com reduzida ou ausente postura da rainha;

"X" (médio), valor de 3,1 até 6,0: significa um enxame com população adequada para sobrevivência e com potencial de evolução para produção de mel; sem mel na melgueira, com 3 a 4 quadros de cria e postura da rainha regular;

"+" (positivo), de 6,1 até 7,0: significa um enxame com população adequada para produção de mel, já com mel depositado na melgueira; com 4 a 6 quadros de cria e postura da rainha regular. Leva apenas uma melgueira;

"++" (superior), de 7,1 até 8,0: significa um enxame em franca produção, população alta com mel já operculado na melgueira e pronto para receber a segunda melgueira;

"+++" (superior mais), de 8,1 até 10: significa um enxame com superpopulação, com 7 a 8 quadros de cria completos; tendo a primeira melgueira operculada, a segunda com mel depositado e em condições de receber a terceira.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Considerando que a floração da Astrapéia na região ocorre nos meses de junho/julho a agosto, foram os enxames avaliados no mês de setembro, quando foi possível observar as condições biológicas dos mesmos já sob o efeito da contribuição da Astrapéia (Quadro 1).

Embora o percentual de caixas produtivo seja igual ao final da safra, a repetição de produção e o menor índice de colméias perdidas mostram que a "saúde" do apiário com Astrapéia é significativamente superior, refletindo diretamente na produtividade.

Um aspecto importante a ser considerado é o baixo custo e a praticidade da implantação de um bosque de Astrapéia, as quais podem ser mescladas com outras espécies sem restrições.

Além da Astrapéia, na região sul, em altitude superior a 350m, na mata atlântica e nos campos de cima da serra em altitude até 2.000m, encontramos a bracatinga (Mimosa scabrella Benth) com efeito semelhante. Conforme ESPÍNDOLA e ORENHA (2009) no sul do Brasil, devido ao seu florescimento no inverno, os bracatingais fornecem uma ótima fonte de pólen e néctar às abelhas A. mellífera, em um momento de baixa oferta desses recursos. Tal oferta estimula a abelha rainha a iniciar a postura, propiciando o desenvolvimento da colônia e tornando desnecessária a utilização de alimentação artificial, concluem os autores.

Pelos resultados, julgamos pela conveniência dos apicultores e técnicos pensarem na instalação de uma cadeia forrageira apícola, começando pela astrapéia e/ou bracatinga, seguida pela pitangueira e eucalipto, continuando assim com espécies regionais de florescimento no verão/outono.

4. CONCLUSÕES

A Astrapéia constitui-se em uma alternativa positiva para substituir e/ou complementar o uso de alimentação artificial no inverno com o objetivo de aumentar a produtividade dos enxames.

5. BIBLIOGRAFIA

ESPINDOLA, A. E &, ORENHA, C. E. Flora Apícola em Santa Catarina: I - Astrapéia. Informativo Zum-Zum, nº 330, p.3, 2007.

ESPINDOLA, A. E &, ORENHA, C. E. Flora Apícola em Santa Catarina: III - Bracatinga. Informativo Zum-Zum, nº 332, p.12, 2009.

FIGUEIRÓ, P.R.P.; Canto Silva, C. R.; Rauber, R.; Oliveira, A.; e Costa C. Influência da proximidade de lavouras de soja tratada com inseticidas químicos na produtividade e condições dos enxames de Apis mellifera em Cachoeira do Sul/RS, Informativo Zum-Zum, nº 332, p. 16 a 18, 2009.

LENGLER, S. Alimentação Artificial de Abelhas. IM Congresso Brasileiro de Apicultura, 13, 2000, Florianópolis. Anais... Florianópolis: UFSC, 2000a.

TORRES, V. S. Nutrição e Alimentação de Abelhas. Apostila, 78 páginas, 2009.

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