Visita Técnica

Visita aos Meliponários da abelha Uruçu (Melipona scutellaris)

Marilda Cortopassi-Laurino

Os anfitriões da nossa visita, o Coronel Sérgio
Guimarães da Rocha e o Dr. Tertuliano Ayres Neto,
respectivamente da esquerda para a direita.
Ao fundo, colônias de abelhas confeccionadas
com capricho imitando o pórtico de casas humanas
e colônias cujas coberturas de telhas
são guardadas por figuras de sapo coloridas.
(foto Marilda Cortopassi-Laurino)

Durante o 10º Congresso Iberolatinoamericano de Apicultura ocorrido em Natal-RN, tivemos a oportunidade de visitar dois meliponários de abelhas uruçu. Um em Macaíba e outro em Parnamirim distantes 40 e 25km do litoral, região de transição entre os biomas de mata atlântica e caatinga. Participaram da visita neste dia: Constantino Zara Filho, David Roubik, Gilles Ratia, Guiomar Nates Parra, Malcolm T. Sanford, Marilda Cortopassi-Laurino, Paulo Nogueira-Neto, Valdemar Belchior Filho e Bruno Nunes.

No primeiro meliponário, de propriedade do Dr. Tertuliano Ayres Neto, além das abelhas uruçu encontramos outras espécies como uruçu amarela, mandacaia, rajada, remela, mosquito, mombuca, marmeladas, canudo, tubiba, etc. Neste meliponário, as abelhas são analisadas através do movimento externo e da quantidade de mel estocada no ninho. Quando os ninhos estão fortes eles são transferidos para uma unidade de produção, vizinha da mata atlântica, onde esta abelha já foi encontrada nidificando em troncos de árvores. A seleção de caixas mais simples para indicação regional também é pesquisada.

Nos arredores deste meliponário, e ao longo de todo ano, há intenso cultivo de mandioca onde as uruçu coletam néctar em curto período diário, entre 11:00 e 12:30h, produzindo um mel levemente amargo. Sobre o mel desta abelha, a produção máxima de um ninho foi de 5,3L.

As divisões com sucesso natural ocorrem entre novembro e janeiro, mas as divisões após este período, até abril, requerem cuidados especiais. A alimentação extra, externa, é realizada em tabuleiros, próximos dos ninhos.

Na região, no mês de outubro começa o arremedo da primavera com as floradas de sucupira, cipó uva, seguidos por cipó de broxa, cupiuba, gudião, mirtáceas nativas e cultivadas, catanduva, ipês, craibeira e feijão guandu. Os eucaliptos citriodora, robusta, fiscifolia e grandis também são visitados pelas uruçu. Ao lado do meliponário Dr. Tertuliano mantem uma área de 4 hectares com plantas nativas e cultivadas de interesse para as abelhas.

Neste meliponário merece destaque a observação de que os ninhos pendurados a 4m de altura não são atacados por forídeos, ao contrário dos que estão a 1m de altura. Como curiosidade, ele falou que as jandaíras não prosperam na sua propriedade, mas sim a somente 5km de distancia, em direção ao bioma da caatinga, que corresponde a um agreste mais seco.

Ainda na mesma região, mas num ambiente agreste mais úmido, localizado no Sítio Santa Luzia, está o segundo meliponário, exclusivamente de abelhas uruçu e também conhecido como Núcleo de Reprodução "Lídio Guimarães", de propriedade do coronel Sérgio Guimarães da Rocha. Suas colônias só são alimentadas quando divididas, e faz uso de filme plástico debaixo da tampa de madeira para vedar o ninho e facilitar a observação com perturbação mínima. Neste meliponário tivemos a demonstração de como experimentar o mel direto dos potes (com canudinho de refrigerante) e de beber mel com pólen batido no liquidificador, numa proporção de quase 50% de pólen.

Ele mantem uma área de 8 hectares de mata nativa para preservação do ambiente e pasto para as abelhas. Vende ninhos e seus produtos. Depois que despertou para as leituras específicas tem feito plantações e há seis meses acompanha o desenvolvimento das árvores.

Visitar meliponários como estes não só aumenta o nosso conhecimento como nos faz refletir mais sobre a importância destes insetos na Natureza. Agradecemos a oportunidade das visitas.


Visitantes dos meliponários tendo ao fundo um dos meliponários do Dr. Tertuliano Ayres Neto. (foto Marilda Cortopassi-Laurino)

Dr. Paulo Nogueira Neto experimentando mel da abelha uruçu diretamente dos potes com canudinho de refrigerante. (foto Marilda Cortopassi-Laurino)

Uma linda entrada de ninho da abelha uruçu (Melipona scutellaris) construída com as típicas raias de barro mais resina. (foto Marilda Cortopassi-Laurino)

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