Artigo

A coleta de ninhos de abelhas sem ferrão que nidificam no solo

Vera Lucia Imperatriz Fonseca, Denise de Araujo Alves, Astrid Matos Peixoto Kleinert e Paulo Cesar Fernandes
Departamento de Ecologia. Instituto de Biociências. Universidade de S. Paulo

Algumas espécies de abelhas sem ferrão nidificam no solo. Usam cavidades pré-existentes, tanto as construídas por tatus como por formigas saúvas. Neste texto, ilustraremos como se coleta o ninho de Schwarziana quadripunctata Lepeletier, conhecida popularmente como guira ou guiruçu.

A distribuição geográfica destas abelhas é ampla. Ocorrem na Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, S. Paulo,Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul; na Argentina e Paraguai. São abundantes e os ninhos podem ser facilmente encontrados em barrancos nas estradas, em áreas de mata e até na cidade de S. Paulo!

Ao encontrarmos o ninho, é necessário marcar a entrada. Podemos usar um graveto, que vai mostrar a direção do tubo de entrada, ou usar talco em um aspirador de insetos, para marcar a direção do ninho no solo. Assim, na nossa a escavação, vamos seguindo o tubo marcado com talco.

Os ninhos podem estar a diferentes profundidades. Tanto encontramos ninhos a 30 cm do solo como a 1,5m, caso mais raro para esta abelha. Geralmente há mais de um ninho nas proximidades.

Quando o ninho é exposto na nossa escavação, vemos que será fácil coletá-lo. Retiramos cuidadosamente todo o ninho, envolvido por um exoinvólucro maleável, e o colocamos na caixa que previamente selecionamos, tomando cuidado para não mudá-lo de posição. Ao redor, colocamos alguns pedaços de jornal, para absorver o mel que possa escorrer de algum pote durante o transporte.

Devemos deixar o ninho no mesmo local até o anoitecer, para coletar as forrageiras.

A descrição do ninho foi feita por Camargo, em 1974, um excelente trabalho que fala também das abelhas ali encontradas, dos diversos tamanhos de rainhas, etc. Estas abelhas podem ser mantidas em colméias e divididas nos meliponários.

Nestas fotografias, vemos o coletor, Eduardo Tadeu de Matos (1957-2009), que durante muitos anos foi o técnico do Laboratório de Abelhas do Instituto de Biociências. Muito habilidoso para tratar de animais, foi um excelente meliponicultor. Também recebia muito bem os nossos visitantes. Colaborou muito com o desenvolvimento de nossos trabalhos, auxiliando nas pesquisas e cuidado com as abelhas mantidas no meliponário da USP em São Paulo. A ele , as nossas homenagens, o nosso respeito e saudades.

Fotografias de Tom Wenseleers


Entrada do ninho de Schwarziana quadripunctata, marcado com um graveto

O coletor, Eduardo Matos, espalha talco na entrada do ninho em um barranco, com auxílio do aspirador de insetos

O ninho começa a ser exposto, com a retirada de terra ao seu redor

Aspecto do ninho na cavidade que ocupa. Note o tubo de entrada, que liga o exterior ao ninho, com talco

Retirada de outro ninho na base da árvore

Pedaços de jornal colocados ao redor do ninho para absorver o mel que por acaso derrame no momento da coleta do ninho

Ninho colocado na caixa

Favo de Schwarziana quadripunctata, mostrando uma operária adulta


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