Artigo

ALGUMAS EXPERIÊNCIAS COM A GUARAIPO MELIPONA BICOLOR SCHENCKI

Egon Roepke
Estrada Geral Palmital 2235 - CEP 89190-000 Taió SC - Email egonroepke@gmail.com

Antes de iniciar este meu pequeno ensaio sobre Melípona bicolor, quero agradecer meu saudoso pai Willy Roepke, que nas conversas em volta de um velho fogão à lenha sob a luz de um lampião a querosene nas frias noites do inverno sulino me despertou o amor por estes, inseto.

A minha saudosa mãe Clara, que desde cedo me ensinou o respeito a todos os seres vivos.

A minha esposa Anadir que na minha ausência sempre cuida e alimenta as minhas abelhas.

Agradeço em especial o mestre Paulo Nogueira Neto a quem sempre recorro quando as duvidas atormentam a minha mente, sem estas pessoas a minha historia em relação a estes insetos teria sido bem diferente, ou nem teria existido.

Durante a minha infância muitas foram as historias que ouvi contar, que em épocas em que o estado de Santa Catarina era coberto por matas exuberantes, havia uma abelha quase do mesmo tamanho de uma Apis, mas, totalmente inofensiva, conhecida como guaraipo, e que nunca mais tinha sido vista.

Somente muitos anos depois, cheguei a conhecer a abelha que tanto ouvi falar.

Desde então passei a criá-la e estuda-la para melhor compreender este magnífico inseto.

Como cada abelha tem preferências por diferentes tipos de floradas em diferentes climas, pascei, a observar o seu comportamento diante de diversas floradas em diferentes condições climáticas.

Observei o seu comportamento nos meses frios, nos meses de maio e junho, quando as temperaturas caem para nove e 10 graus centígrados,quando as guaraipo coletavam intensamente néctar e pólen.

O contrario acontecia com as Melíponas quadrifaciatas, que estavam bem devagar em relação as bicolor.

Surgiu então à idéia de verificar quais flores estariam coletando, e saber se a diferença no movimento se dava devido a diferenças nas preferências por flores, ou por tolerância a climas mais frios.

Retirei pólen das corbiculas de campeiras, de ambas as espécies e enviei para analise para saber se ambas estariam coletando o mesmo tipo de flor.

O resultado foi que se tratava de pólen de eucalipto em ambas as espécies de abelhas, o que provou que a diferença de movimento se encontrava no clima frio, ao qual o guaraipo é mais tolerante.

Foram realizadas experiências em diversos tipos de abrigo para se saber qual seria o mais adequado.

Coloquei quatro colônias de guaraipo em abrigo subteraneo do tipo Paulo Nogueira Neto, e mantive também colônias fora do abrigo, e as monitorei durante todo o inverno, todas as colônias receberam alimentação por igual.

As colônias mantidas em abrigo subteraneo construíram potes de armazenamento durante o inverno, as que estavam fora, apenas se mantiveram.

Foram realizadas medidas de temperatura no centro do abrigo com termômetro de máxima e mínima, e quando a temperatura baixava para três ou 4 graus centígrados, a temperatura no centro do abrigo ficava em torno de 13 e 14 graus centígrados.

O que prova a sua eficácia para este tipo de abelha, que em minha opinião, este abrigo reproduz com maior fidelidade o habitat natural destas abelhas, que normalmente vivem ao nível do chão nas florestas, onde a temperatura varia muito pouco.

Durante os experimentos eu as mantive em caixas de madeira, enterradas em areia seca dentro dos abrigos, porem a durabilidade das caixas tem sido muito baixa, devido o alto teor de umidade desprendida pelas colônias de abelhas.

Fora do abrigo realizei vários testes, com os mais variados tipos de caixa, e a mais adequada e que melhor resultado teve foi à caixa cúbica com espaço interno de ninho de 20x 20x18 centímetros, com sobre ninho de nove centímetros de altura com uma abertura no piso em forma de losango de 15x15 centímetros, sem utilizar melgueira que aqui sempre acabava sendo lacrada e rejeitada pelas abelhas.

Creio que este tipo de caixa tem cido bem aceito por ter um espaço adequado para este tipo de abelha e com uma espessura de no mínimo de tres centímetros, que lhe da o conforto térmico necessário.

Em todos os experimentos realizados as colônias mais fortes sempre foram as que estavam em abrigos, ou caixas grossas, com poucas variações térmicas, o que demonstra que quanto melhor a isolação térmica melhor o resultado.

Esse fato comprova que o controle térmico é importantíssimo.

Com temperaturas muito baixas no interior do ninho a abelha tem de consumir muito mel para manter a temperatura estável, o que pode levar à colônia a morte se houver um frio intenso durante um período muito prolongado.

Com este tipo de abrigo, com alta isolação térmica, estamos imitando de certa forma a natureza, na qual as melíponas vivem normalmente ao nível do chão da floresta, onde a temperatura varia muito pouco. Se observarmos esses cuidados mínimos, não expondo essas abelhas a lugares secos e quentes, ou ao frio no ninho, mantendo uma boa estabilidade térmica, assegurando para as melíponas a manutenção de um lugar o mais parecido possível com seu habitat natural, não haverá maiores problema na criação desses magníficos insetos.


Vista parcial do meliponário com caixa de Melipona bicolor e abrigo Paulo Nogueira Neto ao fundo.

Melipona sobre flor de caliandra.


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