Artigo

AVALIAÇÃO DO TRANSPORTE DE RAINHAS Apis mellifera L. (HYMENOPTERA: APIDAE) EM VIÇOSA, MINAS GERAIS

Lívia Cabral de Castro1; Dejair Message2
1Bacharel em Ciências Biológicas - UFV - Viçosa, MG. E.mail: liwinhacabral@yahoo.com.br
2Professor do Depto. de Biologia Animal - UFV -Viçosa, MG.
EVALUATION OF THE TRANSPORTATION OF THE QUEEN BEES Apis mellifera L. (AFRICANIZED) IN VIÇOSA, MINAS GERAIS

ABSTRACT The present study was accomplished in the Central Apiary of the UFV, Viçosa, MG, focusing on the improvement of the transportation system of the queens Apis mellifera L. (Africanized), evaluating the influence of age on the companion workers, as well as the influence of the food and temperature. In order to obtain workers with the age of 0-24hours and 8-9days, young bees which were to emerge had been placed on a wired board frame in the attempt of getting the emerging bees caught. The work involved the preparation of two types of candies, pure candy and protein-added candy. The cages containing one queen and the companion workers were submitted to two different levels of temperature (33ºC and ambiental temperature around the level of 25ºC). The cages were divided according to the treatment, resulting in eight groups. The interaction among age, food and temperature factors was significant. Workers in cages under ambiental temperature (around 25ºC) survived longer than those under the temperature of 33ºC, except for those bees with the age of 8-9days fed with protein-added candy. On the evaluation of the age effect concerning the companion workers in relation to the surviving rate, it was observed that there is a significant difference between the two groups, with lower surviving rates to the workers with the age of 8-9 days. There was only a significant difference on the feeding among workers with the age of 8-9days, submitted to the temperature of 25ºC, noticing that workers fed with pure candy survived longer.

Keywords: Apis mellifera, companion workers, food, queens, temperature.

RESUMO

Este trabalho foi realizado no Apiário Central da UFV, Viçosa, MG. Os objetivos foram: melhorar o sistema de transporte de rainhas de Apis mellifera Linnaeus 1758, avaliando a influência da idade das operárias acompanhantes, do alimento e da temperatura. Para obtenção de operárias com idade de 0-24horas e 8-9dias, quadros com crias próximas a emergirem foram colocados em um porta-quadro telado a fim de que as abelhas ficassem presas ao emergirem. Dois tipos de cândi foram preparados, cândi puro e cândi proteinado. As gaiolas de transporte contendo uma rainha e as operárias acompanhantes foram submetidas a duas temperaturas (temperatura de 33ºC e à temperatura ambiente que foi em média de 25ºC). As gaiolas foram divididas de acordo com os tratamentos, resultando em oito grupos. A interação entre os fatores idade, alimento e temperatura foi significativa. Abelhas operárias engaioladas sob temperatura ambiente (média 25ºC) sobreviveram mais tempo do que aquelas submetidas à temperatura de 33ºC, com exceção das abelhas de 8-9dias alimentadas com cândi proteinado. Na avaliação do efeito da idade das operárias acompanhantes em relação à taxa de sobrevivência observou-se diferença significativa entre os dois grupos, sendo menor a taxa de sobrevivência nas operárias com 8-9 dias. Só houve diferença significativa no tipo de alimentação entre operárias com 8-9dias, submetidas à temperatura de 25ºC, sendo que operárias alimentadas com cândi puro sobreviveram mais. Palavras-Chave: Alimento, Apis mellifera, operáriras acompanhantes, rainhas, temperatura.

INTRODUÇÃO

A apicultura tem se apresentado nos últimos anos como uma importante alternativa econômica, pois consiste em uma forma de utilização dos recursos naturais que colabora para a sustentabilidade dos ecossistemas locais e regionais (Reis 2007), permitindo o desenvolvimento humano.

O uso de técnicas adequadas de manejo na apicultura oferece condições para o aumento da produtividade. A utilização de rainhas novas e selecionadas é uma das práticas mais importantes para aumentar a produção. A introdução de rainhas selecionadas com base em características desejáveis garante a transmissão destas às gerações seguintes de operárias da colônia (D'Aprile 1996). Duay (1996) obteve um aumento da produtividade de 46,9% em colônias com a introdução de rainhas novas e selecionadas para produção de mel e 21,3% em colônias com rainhas novas das próprias colônias, portanto, não selecionadas.

No Brasil, a substituição periódica de rainhas ainda é adotada por poucos apicultores. Segundo Anderson (1990) citado por Silva (1998) 76,3% dos apicultores não realizam a troca de rainhas.

O produtor de rainhas deve oferecer seu produto com qualidade ao apicultor, a rainha deve resistir ao tempo de viagem e a introdução na colméia. Devido ao seu pequeno tamanho e valor individual, as rainhas normalmente são transportadas, desde os criatórios até os apiários dos consumidores, por via postal. O problema da manutenção de um micro-clima favorável à sua sobrevivência durante o transporte foi resolvido por uma pequena gaiola de madeira, que leva o nome do seu criador, Francis Benton. Por seu uso, eminentemente dirigido ao transporte pelos correios, ela leva também o nome de "Gaiola Postal" (Silva 2006).

O objetivo desse estudo foi observar alguns parâmetros que possam contribuir para aumentar a sobrevivência da rainha durante o transporte; como idade das operárias acompanhantes, tipo de alimento e temperatura.

MATERIAL E MÉTODOS

Os estudos foram conduzidos no Apiário Central da Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, utilizando colônias de abelhas africanizadas (Apis mellifera).

O método Doolittle (Doolittle 1889) foi utilizado para produção de rainhas nas recrias-mista. A colméia tipo recria-mista é constituída de um ninho com 10 quadros, um núcleo com 5 quadros e um espaço para introdução de um quadro porta-cúpulas. Entre o ninho e o núcleo existe uma tampa, com uma abertura de dimensões menores que o fundo do núcleo onde está instalada uma tela excluidora. Em cada recria-mista foi colocado um alimentador de alvado (entrada da colméia) para fornecimento de alimentação suplementar.

A geléia real foi obtida a partir das próprias recrias-mista do apiário experimental da UFV. Após a coleta, a geléia real foi armazenada em fracos estéreis, mantida sob ausência de luz a -15°C até uso. Na transferência a geléia real utilizada foi diluída com água a 50%.

Em todos os procedimentos de produção de rainha cada uma das recrias-mistas foi manejada semanalmente transferindo-se quadros com crias de operárias operculadas, próximas de emergirem, do ninho para o núcleo.

Larvas de um a dois dias foram utilizadas durante a transferência. Após a transferência o quadro porta-cúpula foi mantido por uma semana nas recrias, sendo que após este tempo as realeiras foram removidas, transferidas para um frasco de vidro e mantida em estufa a 33°C até as rainhas emergirem.

Duas idades de operárias acompanhantes foram testadas. Operárias recém emergidas, de um a dois dias (I1), operárias de oito a nove dias (I2). Para cada idade foram escolhidos três quadros com crias próximas a emergirem. Cada quadro foi colocado em um porta-quadro telado a fim de que as abelhas ficassem presas ao emergirem.

Foram produzidos dois tipos de alimentação (cândi) para serem introduzidos na gaiola de transporte: Cândi puro (C1) e cândi proteinado (C2).

Para a produção do cândi puro foram utilizados 300g de açúcar e 77,75g de mel, 150g foram reservados para serem colocados nas gaiolas (C1). Para a produção do cândi proteinado foi utilizado 108,67g do cândi puro, adicionando 13,77g de extrato solúvel de soja (valor protéico 43,33%), 13,77g de levedo de cerveja (valor protéico 40%), 13,77g de albumina (valor protéico 80%). Ao final da mistura adicionou-se 40,20g de mel para dar consistência ao cândi proteinado. O valor protéico do cândi (C2) foi de 11%.

Metade das gaiolas foi mantida em estufa com temperatura de 33ºC (T1) e a outra metade foi mantida em temperatura ambiente (T2). A temperatura T2 foi mensurada diariamente e feita uma média entre a máxima e a mínima registrada durante o experimento, resultando uma temperatura média de 25ºC.

Cada gaiola recebeu em média 3,4g de cândi, sete operárias acompanhantes e uma rainha. As gaiolas foram observadas diariamente para verificar o tempo de sobrevivência das operárias.

O experimento foi conduzido no delineamento inteiramente casualizado no esquema fatorial 2x2x2 (idade x alimentação x temperatura). Foi realizada a análise de variância e os fatores foram estudados pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.



RESULTADO E DISCUSSÃO

O tempo médio de sobrevivência na estufa (33ºC) foi de 3,54(±1,66) dias, enquanto que o tempo médio de sobrevivência na temperatura ambiente (média de 25ºC) foi de 5,33(±3,13) dias.

O número de dias de sobrevivência das operárias acompanhantes está representado na tabela 1.

A sobrevivência das operárias acompanhantes nas gaiolas foi significativamente maior quando submetidas à temperatura ambiente (média de 25ºC), com exceção de um grupo, abelhas com idade entre 8-9 dias, alimentadas com cândi proteinado que sobreviveram 3,34(±0,83) dias em temperatura de 33ºC e 1,74(±1,17) dia em temperatura ambiente.

Esse fato ocorreu possivelmente porque uma grande quantidade de abelhas desse tratamento morreu no primeiro dia do experimento, por causa desconhecida.

Neste experimento a temperatura de 33 ºC foi escolhida em função de ser semelhante à temperatura da colméia e para servir como controle, uma vez que em temperatura ambiente poderia ter muitas variações.

Observou-se dentro da estufa maior agitação das operárias. Segundo Clarke (1993), o consumo de O2 (ou alternativamente, a produção de CO2) representa a soma das demandas energéticas necessárias nos processos fisiológicos. Poder-se-ia atribuir uma sobrevivência menor das operárias mantidas na estufa devido a uma maior taxa metabólica, quando comparadas às operárias mantidas em temperatura ambiente.

Na avaliação do efeito da idade das operárias acompanhantes em relação à taxa de sobrevivência observa-se diferença significativa entre os dois grupos, sendo menor a taxa de sobrevivência nas operárias com 8-9 dias, no entanto, como ressalvado anteriormente no grupo proteinado ocorreu uma mortalidade precoce anormal. Observa-se que operárias mais jovens tendem a ter uma sobrevivência semelhante as mais velhas. Abelhas com idade de um a dois dias foram escolhidas devido à facilidade na manipulação dessas durante o processo de engaiolamento.

Análise da influência da alimentação mostrou que não houve diferença significativa entre o uso de cândi puro e cândi proteinado, com exceção das operárias com 8-9 dias, submetidas à temperatura de 25ºC e alimentadas com cândi puro que sobreviveram 6,23(±2,82) dias enquanto que operárias alimentadas com cândi proteinado sobreviveram 1,74(±1,17) dia. Esse fato ocorreu possivelmente porque uma grande quantidade de abelhas desse tratamento morreu no primeiro dia do experimento de forma inesperada.

CONCLUSÕES

Podemos concluir que a sobrevivência de operárias acompanhantes está relacionada com a combinação dos fatores, idade, alimento e temperatura.

Os maiores tempo de sobrevivência foram obtidos com as combinações: operárias recém emergidas, temperatura ambiente, com qualquer um dos alimentos - cândi puro ou proteinado; e operárias com oito a nove dias, cândi puro e temperatura ambiente.

Os resultados obtidos mostram que há uma tendência das operárias acompanhantes sobreviverem mais nas gaiolas de transporte em temperatura em torno de 25 ºC quando comparadas às abelhas que foram mantidas em estufa com temperatura controlada a 33ºC.

A combinação operárias com oito a nove dias, cândi proteinado e temperatura ambiente demonstrou o menor tempo de sobrevivência.

A idade das operárias e alimentação recebida durante o transporte precisa ser melhor avaliada, podendo-se sugerir a inclusão de análises do desenvolvimento ou não das glândulas hipofaringeanas e desenvolvimento dos ovários da rainha nas diferentes condições.

REFERÊNCIAS

CLARKE, A. 1993. Seasonal acclimatization and latitudinal compensation in metabolism: Do they exist? Func. Ecol. 7:139-149. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ne/v34n6/28219.pdf >. Acesso em 23 Jan 2007.

D'APRILE, F. 1996. A importância da substituição da rainha na apicultura. Revista Mensagem Doce, n.39, p.14-16.

DOOLITTLE, G. M. 1889. Scientific queen-rearing. 169 p. T. G. Newman & Son, Chicago.

DUAY, P. R. 1996. A troca de abelhas rainhas e sua implicação com a produtividade.In: XI CONGRESSO BRASILEIRO DE APICULTURA, Universidade Federal do Piauí - Teresina. p. 239-241.

REIS, V.D.A. 2007. Apicultura: Uma alternativa Econômica para o Pantanal. Disponível em: http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./natural/index.html&conteudo=./natural/artigos/apicultura.html . Acesso em 26 Jan 2007.

SILVA, E. C. A. 1998. Produção de abelhas rainhas africanizadas. 1998. Revista Mensagem Doce, n.49, p.12-16.

SILVA, E. C. A. 2002. Programa de produção de rainhas do centro de apicultura tropical. Anais do XI CONBRAPI. p. 233-237.

SEVERINO, A.J. 1993. Metodologia do trabalho científico. 19. ed. São Paulo: Cortez, 252p.



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