Artigo

Árvores para as abelhas e para aves

Paulo Nogueira-Neto. Departamento de Ecologia. Instituto de Biociências da USP
1Uma versão deste trabalho em inglês foi publicada em Kevan, P. & Imperatriz-Fonseca, V.L. (eds.)2002 Pollinating bees: a conservation link between agriculture and nature. . Brasília: Ministério do Meio Ambiente

Introdução

Em 1953, eu publiquei um livro sobre abelhas sem ferrão, com capítulos sobre polinização e plantas atrativas para abelhas que eu cultivava (Nogueira-Neto, 1953). Em 1973, e em 1985, apresentei uma lista de plantas que são atrativas para pássaros, de acordo com minha experiência pessoal (Nogueira-Neto, 1973, 1985). Desde 1980, em Luziânia, Goiás, eu tenho cultivado plantas atrativas para abelhas nativas, e também plantas que são atrativas para pássaros insetívoros e frugívoros. Esse é um experimento importante para a conservação de muitas espécies de abelhas que auxiliam na polinização de plantas utilizadas na agricultura e em outros meios que também são importantes em nossas florestas.

Através da polinização, as abelhas podem auxiliar algumas plantas a produzirem mais frutos que são valiosos na manutenção de pássaros que predam pragas de importância agrícola e silvícola. Deve ser ressaltado que nos trópicos, tais abelhas e muitos pássaros vivem e permanecem em seus habitats durante todo o ano, não apenas quando as plantas florescem. Eurico Santos e Eusébio de Queiroz (apud Kuhlmann & Kuhn 1947 p.188-189) escreveram sobre a importância dos insetos na dieta de pássaros granívoros e seus filhotes.

Também, quando mantemos e restauramos plantas nativas, podemos proteger ou reintroduzir abelhas e pássaros nativos.

Eu iniciei o primeiro desses experimentos em um mesocerrado (savanas com árvores de tamanho mediano) na Fazenda Jatiara, Luziânia, GO Brasil Central, 100Km a sul de Brasília, em solos tipo latosol profundos. Muitas observações foram realizadas, mas em 1994 eu notei que um arvoreto estava muito distante do meliponário onde eu criava e mantinha abelhas sem ferrão e também distante do curso d'água, da floresta ribeirinha e dos pássaros. Era difícil irrigar plantas jovens nesse local. Por essa razão, um arvoreto de cerca de dois hectares foi plantado, em solo latosol amarelo-vermelho, na mesma Fazenda , porém próximo ao curso d'água e do meliponário.

O solo foi tratado com o adubo e fertilizado. Outro arvoreto, do mesmo tamanho, foi plantado em solos vermelhos de origem basáltica, uma terra roxa fértil, na Fazenda Aretuzina, São Simão (SP) próximo a Ribeirão Preto. Três arvoretos menores também foram iniciados, um na Fazenda São Quirino, Campinas (SP) e um na Fazenda Tabajara em Limeira (SP) e outro ma Amazônia, Xapuri (AC), próximo à Bolívia.

O antigo arvoreto da Fazenda Jatiara foi abandonado, mas muitas árvores permaneceram e sobreviveram. Eu ainda aprendo com elas. Também, os cerrados nativos da Fazenda Jatiara são uma fonte de observações interessantes. Os tipos mais diferentes de savanas brasileiras são encontrados lá: campos, minicerrados, mesocerrados e maxicerrados. Cada tipo pode ser subdividido em aberto, médio e denso. Essa classificação de cerrado foi apresentada por Nogueira-Neto (1991).

Nos arvoretos, muitos grupos lineares de espécies diferentes são cultivados, e cada grupo tem geralmente dez ou mais indivíduos (árvores ou arbustos). Eles são plantados em linhas 3 a 6m da próxima linha. Algumas espécies ocupam 50 ou até 100m de uma linha. A maioria das plantas é podada a fim de facilitar as observações. No momento do plantio, geralmente 18% de superfosfato é empregado. Os solos brasileiros são pobres em fosfatos. Além disso, as plantas recebem fertilizante rico em nitrogênio, fósforo e potássio, ao menos uma vez por ano e são capinadas quando necessário. Nos novos arvoretos, muitas das plantas não começaram a florescer ainda, mas estão crescendo bem. Contudo, algumas estão florindo intensivamente.

Algumas plantas promissoras para pesquisa

AGASTACHE (Agastache anethiodora (Nutt.) Britt.) - néctar e pólen. Essa é uma planta da família da menta, ativa das pradarias da América do Norte. As flores são muito atrativas para Apis mellifera devido ao seu néctar. Elas são também muito atrativas para jataí (Tetragonisca angustula) devido ao pólen. Ela floresce em novembro e em outras épocas do ano em São Simão e Campinas, Estado de São Paulo e em Luziânia, Goiás. Eu comecei a cultivar essa planta há 45 anos.

AGLAIA (Aglaia odorata Lour.) - néctar. Ela não floresce no Brasil Central, mas no Estado de São Paulo (São Paulo, Campinas e, provavelmente, na parte sul), ela floresce entre junho e agosto. É muito atrativa para mandaguari ou canudo (Scaptotrigona postica) e outros meliponíneos. Seus pequenos frutos vermelhos são atrativos para diversos pássaros.

AMOR AGARRADO ou CORALITA (Antigonum leptopus Hook. et Arn) - néctar. É uma trepadeira ornamental. As flores são geralmente vermelhas, mas há também plantas com flores brancas ou rosas. É muito atrativa para Apis mellifera e Scaptotrigona postica. Em Mérida, México, eu vi muitas abelhas nativas do gênero Scaptotrigona visitando as flores.

AMOREIRA (Morus nigra L.) - Os frutos são muito consumidos por pássaros. Ela cresce e produz muitos frutos (amoras). É nativa da Europa, nenhuma abelha a visita, tanto quanto eu saiba.

ASSA-PEIXE (Vernonia spp) - principalmente néctar. Há diversas espécies. No sudeste do Brasil, uma das espécies mais visitadas por abelhas é o assa-peixe-roxo (V. westiniana Less) que floresce em lugares úmidos próximos à costa e sobre a Serra do Mar. Tem as flores arroxeadas, que se abrem em abril. Outra espécie, V. polyanthes Less, tem flores brancas que se abrem em junho-julho. Ela é fonte de um dos melhores méis do mundo. Entretanto, a planta é considerada uma erva daninha nos pastos. V. polyanthes e o V. westiniana são muito atrativas para Apis mellifera, mandaçaia (Melipona quadrifasciata) e muitos outros meliponíneos. Algumas espécies, com folhas mais espessas e flores brancas ligeiramente arroxeadas não muito atrativas às abelhas.

CALABURA (Mutingia calabura L.) - principalmente néctar para as abelhas e frutos para os pássaros. É uma árvore de tamanho mediano, da América Central. Ela cresce muito rapidamente. Floresce e produz pequenos frutos avermelhados e comestíveis, durante o ano inteiro. Os frutos são muito atrativos a diversos pássaros. As flores atraem número moderado de A. mellifera, S. postica e pequenos meliponíneos.

CALIANDRA ROSEA (Calliandra brevipes Benth.) - néctar. As flores são cor-de-rosa e parte branca, ou são inteiramente brancas. Florescem diversas vezes durante o ano. Muito atrativa para A. mellifera, mandaçaia (M. quadrifasciata), uruçu-amarela (M. rufiventris rufiventris) e outras abelhas.

CAPIXINGUI (Croton floribundus Spreng.) - néctar. Muito atrativo para A. mellifera e mandaçaia (M. quadrifasciata). As sementes são ingeridas por pombas (Leptoptila spp.) e por papagaios (Psittacidae). Floresce em novembro, dezembro e janeiro.

CITRINO (Citrus spp.) - néctar e pólen. Em todas as publicações que tratam de plantas tropicais atrativas às abelhas, os cultivares de Citrus são muito citados e considerados importantes como fonte de mel.

CLARAIBA ou LOURO PARDO (Cordia trichotoma (Vell.) Arrab ex Stend) - néctar. Tem boa madeira. Em maio, junho e julho, essa árvore decorativa com boa madeira é coberta por pequenas flores brancas, muito atrativas para A. mellifera e mandaçaia (M. quadrifasciata).

COQUEIRO JERIVÁ (Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman) - pólen. Floresce em grandes aglomerados, e são altamente atrativas para A. mellifera e meliponíneos de médio porte. Seu pólen também é muito abundante e atrativo; freqüentemente, a abelha jataí (Tetragonisca angustula) o coleta em flores caídas no chão. Pode florescer no Estado de São Paulo a qualquer época do ano, mas principalmente nos meses mais quentes. É uma palmeira nativa das regiões Sul e Sudeste do Brasil, Uruguai e Nordeste da Argentina. Seus pequenos cocos têm uma polpa externa amarelada, consumida pelos pássaros e mamíferos silvestres.

COROA DE CRISTO (Euphorbia milii Des Moul.) - néctar. Nativa de Madagascar. Geralmente muito atrativa para mirim-da-terra (Paratrigona sp.), jataí (Tetragonisca angustula), irapuá (Trigona spinipes). Às vezes, é atrativa para A. mellifera e outras abelhas. No Brasil Central e região sudeste, floresce durante os meses mais frios do ano.

COSMOS (Cosmus bipinnatus Cav. and C. sulphureus Cav.) - néctar e pólen. Essas são plantas ornamentais comuns, moderadamente visitadas por A. mellifera e, às vezes, por mandaçaia (M. quadrifasciata) e uruçu-amarela (M. rufiventris). Floresce em várias estações, no Estado de São Paulo. Ocasionalmente, as plantas de C. sulphureus crescem até 2m de altura, um tamanho não desejável.

EUCALIPTO (Eucalyptus spp.) - néctar e pólen. Parece que todas as espécies de Eucalyptus têm flores muito atrativas para abelhas. Contudo, E. robusta foi mais contemplada que outras espécies do gênero, na literatura sobre A. mellifera. A espécie E. urophila também está sendo testada.

EXTREMOSA ou RESEDÁ ARBÓREO (Lagerstroemia indica L.) - pólen. Planta muito cultivada em passeios públicos das cidades. Como planta ornamental, eu a vi em Belém (PA), Xapuri (AC), em Porto Alegre (RS), no Estado de São Paulo e em muitos outros lugares (como na cidade de Washington, Estados Unidos). Assim, ela sobrevive em condições climáticas muito diversas. É atrativa para A. mellifera e para jataí (T. angustula), mirim-da-terra (Paratrigona sp.), irapuá (Trigona spinipes), etc.. No sudeste brasileiro, ela floresce mais entre novembro e março.

GUARUCAIA ou MONJOLEIRO (Acacia polyphylla DC.) - principalmente néctar. É altamente atrativa para A. mellifera e Scaptotrigona postica, devido ao néctar. Floresce em janeiro-fevereiro.

JERIVÁ = veja COQUEIRO JERIVÁ

JUÇARA, PALMITO (Euterpe edulis Mart.) - pólen. Palmeira muito atrativa, muito visitada por A. mellifera e meliponíneos de médio porte. Floresce durante todo o ano. Cresce bem na Mata Atlântica, onde é nativa. Os pequenos ocos são muito atrativos para pássaros frugívoros/insetívoros, tais como o sabiá (Turdus spp.).

LACRE (Vismia guianensis Choisy) - pólen. Jandaíra-amarela-de-Manaus (M. seminigra merrilae) traz para seu ninho uma resina vermelha junto com sementes dessa planta Absy & Kerr 1977, Kerr et al. 1986). Tenho visto freqüentemente que parece ser um fruto vermelho despedaçado, junto com pequenas sementes, trazidos pela uruçu-roxa (M. fuscopilosa) e uruçu avermelhada (M. crinita) para reforçar seus batumes. Eu observei esse fato em Xapuri (AC) em fevereiro de 1998. David Roubik (comunicação pessoal) também observou o mesmo no Panamá.

LIXEIRA BRANCA (Lippia virgata Stend.) - néctar. Essa planta selvagem é altamente atrativa para A. mellifera. Flores em agosto-setembro. Outra Lippia atrai A. mellifera e mandaçaia (M. quadrifasciata anthidioides) em dezembro, em São Simão (SP).

LITCHI or ALICHIA (Litchi chinensis Sonn.) - pólen. Em agosto-setembro, em Campinas (SP), é muito atrativa para borá (Tetragona clavipes). Moderadamente atrativa para A. mellifera, jataí (T. angustula) e mirim-droriana (Plebeia droryana).

MIOSÓTIS CHINÊS (Cynoglossum amabile Stapf & Drummond) - néctar. No Estado de São Paulo. É uma planta herbácea, de 30-70cm de altura, com flores azuis, parecida com o miosótis. Ela atrai ocasionalmente a mandaguari (S. postica), a mandaguari-amarela (S. xanthotricha), mirim-da-terra (Patratrigona spp.), mandaçaia (M. quadrifasciata) e A. mellifera.

MONJOLEIRO = GUARUCAIA

PALMEIRA ARCONTOFENIX ou SEAFORTIA (Archontophoenix cunninghamiana (H.Wendl. & Drude ) - Essa palmeira é nativa da Austrália e cresce muito bem na cidade de São Paulo. Também pode ser encontrada a região de Gramado (RS), em Santa Catarina e em muitos outros locais do Sudeste do Brasil. Muitos pássaros, incluindo o pequeno periquito (Brotogeris tirica) e o bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), ingerem os pequenos cocos vermelhos. As flores são muito visitadas por A. mellifera e meliponíneos de pequeno e médio portes, para pólen.

PALMEIRAS (Palmae) - néctar e pólen. As flores são muito visitadas por abelhas e também por pássaros que comem algumas partes dos pequenos cocos. Recentemente, em meu arvoreto em São Simão (SP) e em Luziânia (GO), um número de espécies diferentes de palmeiras foram plantadas. Veja também COQUEIRO, JERIVÁ, JUÇARA.

RESEDÁ ARBÓREO = veja EXTREMOSA

RUBIM (Leonurus sibiricus L.) - néctar e pólen. Muito visitada por A. mellifera. Pequenos meliponíneos, principalmente jataí (T. angustula), também coletam pólen, mas não néctar, que fica nas partes profundas da corola. Em São Simão (SP) floresce melhor em setembro, outubro e novembro.

VITEX (Vitex negundo L. var. incisa Clarke) - néctar e pólen. Muito atrativa para a abelha melífera A. mellifera, mandaguari (S. postica) e jataí (T. angustula). Às vezes, atrai também mandaçaia (M. quadrifasciata) e uruçu-nordestina (M. scutellaris). As sementes são muito ingeridas por pequenos papagaios (Forpus sp.), em Campinas (SP). É uma planta nativa da Mongólia e China, introduzida por mim no Brasil, dos Estados Unidos (Nogueira-Neto, 1961).


Flor de paineira com tres abelhas Apis mellifera coletando pólen. Foto de Marilda Cortopassi-Laurino

Flor de caliandra rósea com uruçu roxa (Melipona fuscopilosa) coletando néctar entre os estames. Foto de Marilda Cortopassi-Laurino

Flor de goiabeira com Trigona coletando pólen. Foto de Marilda Cortopassi- Laurino

Flor de vitex com meliponíneo coletando néctar externamente na sua estrutura. Foto de Marilda Cortopassi- Laurino

Flor de calabura com jataí (Tetragonisca angustula) coletando néctar. Foto de Marilda Cortopassi-Laurino

Flor de cosmos onde mandaçaia (Melipona quadrifasciata) coletava néctar. Foto de Marilda Cortopassi-Laurino

Professor Paulo Nogueira-Neto. Departamento de Ecologia. Instituto de Biociências da USP

Outras plantas de interesse

A lista de plantas a seguir também são cultivadas em arvoretos mencionados nesse artigo, e estão sob observação, geralmente em estágio inicial:

ABACATEIROS (Persea americana Mill.)

AÇAÍ (Euterpe oleracea Mart.)

ABÉLIA (Abelia chinensis R.Br.)

ABUTILONS (Abutilon spp)

AMENDOEIRA da PRAIA (Terminalia catappa L.)

ANGICOS (Adenanthera spp. and Piptadenia spp)

ARECA = PALMEIRA ARECA

AROEIRA (Astronium urundeuva Engl.)

AROEIRA MANSA (Schinus terebinthifolius Raddi)

BIRIBA (Rollinia mucosa (Jacq.) Baill.).

BEIJO DA SERRA (Impatiens walleriana Hook. f. )

BICO DE PAPAGAIO (Euphorbia pulcherima Willd. ex Klot)

CABELUDA (Plinia glomerata (Berg) Ansh.)

CABREÚVA (Myroxylum perviferum L.f )

CALIANDRA (Calliandra spp.)

CALICARPA (Callicarpa sp.)

CANELA BATALHA (Cryptocaria aschersoniana Mez.)

CAMBARÁ (Gochnatia polymorpha (Less.) Cabr.)

CAMBUÍ AMARELO (Myrciaria sp.)

CANUDO de PITO (Senna bicapsularis (L.)Roxb.)

CATINGUDA (Tetradenia riparia (Hochst.) Codd.)

CIPÓ CABOCLO (Davilla rugosa Poir)

COQUEIRO DO LITORAL (Cocos nucifera L.)

EMBAÚBAS (Cecropia spp.)

FIGUEIRAS BRANCAS (Ficus nymphaeifolia Mill., F.guaranitica Schodat, etc)

GUEROBA (Syagrus oleracea (Mart.) Becc.)

GIRASSOL (Helianthus annus L.)

GOIABEIRA (Psidium guajava L.)

IBAJAÍ = UVAIA GRANDE

INGÁS (Inga spp).

JACARÉ (Piptadenia gonoacantha (Mart.) Maclr.).

JAMBOLÃO (Syzygium jambolano (Lam) D.C.).

MADRE DE CACAU (Gliricidia sepium).

MAGNOLIA AMARELA (Michelia champaca L.).

MALVAVISCO (Malvaviscus arboreus Cav). Erythrina falcata Benth; Erythrina crista-galli L. and others).

MURICIS (Byrsonima spp), in the mesocerrado.

MURTA (Murraya paniculata (L.) Jack.)

NÊSPERA (Eriobotrya japonica Lindl)

PAINEIRA (Chorisia speciosa St. Hill.)

PALMEIRA ARECA (Crysalidocarpus lutescens Wendl)

PALMEIRA BACABA (Oenocarpus bacaba Mart.)

PATAS DE VACA (Bauhinia spp)

PESSEGUEIRO (Prunus persica (L.) Sieb. & Zucc.)

PITANGUEIRA (Eugenia uniflora L.)

PÔNCIRO or LIMÃOZINHO DO JARDIM (Poncyrus trifoliata L.)

SABIÁ or SANSÃO (Mimosa caesalpiniifolia Benth.)

SARAGUAGI VERMELHO (Colubrina glandulosa Perk.)

SANGRA D'ÁGUA (Croton urucurana Baill)

SIBIPIRUNA (Caesalpinia peltophoroides Benth.)

TAPETE INGLÊS (Polygonum capitatum Korth ex Meissn.)

UVAIA (Eugenia pyriformis Camb.)

UVAIA GRANDE ou IBAJAÍ (Hexachlamys edulis (Berg) Kans. et Legr.)

Um fato importante e relacionado às observações no cerrado e na estação de criação de abelhas sem ferrão vizinha, foi observado na Fazenda Jatiara, Luziânia (GO). Em 1998, poucos dias antes do final da longa estação seca (4-5 meses), uma colônia de jataí (T. angustula) aumentou suas reservas de alimento muito rapidamente. Em 16 de agosto, essa colônia tinha cinco potes de mel e dez potes de pólen. Em 22 de setembro, ela tinha 158 potes de mel e 32 de pólen. Também, no mesmo período, um enxame da mesma espécie ocupou um ninho vazio. Tudo isso, como mencionei, ocorreu antes do final da estação seca.

Discussão e Conclusões

O estudo da polinização é um amplo campo que requer pesquisa em diversas situações:

a) interações entre plantas e polinizadores;

b) competição entre polinizadores diferentes;

c) competição entre plantas diferentes;

d) influência de outros fatores relacionados às abelhas ou às plantas;

Às vezes é difícil ou impossível explicar com o conhecimento atual, porque em certos anos uma espécie de abelha não visita as flores de uma planta que é muito visitada em outros anos. Isto aconteceu diversas vezes, em minhas observações, com as flores da jabuticabeira (Myrciaria cauliflora) visitadas pela mandaçaia (M. quadrifasciata anthidioides) em Campinas (SP). Esse é um bom exemplo do fato de que nós devemos saber mais sobre as abelhas, as plantas e suas interações.

As relações entre as plantas produtoras de frutos e os pássaros que os comem, estão sendo também examinados em meus arvoretos. As atividades de tais pássaros frugívoros são importantes na dinâmica dos ecossistemas e podem ser úteis à agricultura, com relação ao controle de praga. Durante suas vidas, mas principalmente durante ao período de procriação, tais pássaros também comem grandes quantidades de insetos. Estes são a fonte vital de proteínas e aminoácidos, tanto para os pássaros adultos quanto para seus filhotes, que necessitam crescer rapidamente, para poderem escapar de predadores. Como foi mencionado aqui, Eurico Santos e Eusébio de Queiroz (Kuhlmann & Khun, 1947) explicaram a importância de uma dieta baseada em inseto para os filhotes de pássaros granívoros.

Como já mencionado, uma conclusão inesperada das minhas observações foi o fato que no Brasil Central, no cerrado, a polinização de muitas plantas nativas ocorre principalmente durante uma época do ano (setembro) quando o clima alcança sua seca máxima. Isto acontece antes do fim da estação seca que dura de quatro a cinco meses. Em vez do forte estresse ecológico profundo que deveria ser esperado naquele período do ano, muitas plantas são cobertas com folhas novas, e elas florescem também. Conseqüentemente, os meliponíneos aumentam muito suas atividades, até mesmo enxameiam. Pelo menos uma espécie (jataí, T. angustula) aumenta dramaticamente seus estoques de alimento, como foi mencionado previamente. Isto significa que as atividades de polinização pelas abelhas jataí nos cerrados, ao mesmo tempo, têm também um aumento similar.

Pode-se também especular sobre as adaptações morfológicas xeromórficas das plantas de cerrado. Estas adaptações conservariam a água no solo, de tal maneira que a maior parte permaneceria lá até o último mês da estação seca. Então a água mantida em camadas profundas do solo pode ser usada em grande escala para o crescimento de novas plantas, para o florescimento e, conseqüentemente, para atividades da polinização. Provavelmente, o fotoperiodismo ajustaria o momento adequado do ano para essa explosão das atividades antes do fim da estação seca.

Como uma conclusão geral, nós podemos dizer que no mundo tropical ainda sabemos muito pouco sobre polinização e os polinizadores de nossas plantas nativas e também das muitas espécies introduzidas. Conseqüentemente, os projetos de pesquisa, destinados ao aperfeiçoamento do conhecimento básico desses assuntos, devem ser prioridade. Para fazer tal pesquisa, nós precisamos estabelecer mais arvoretos e criar mais intensivamente nossas espécies de abelhas nativas, principalmente os meliponíneos. Para eles, já há uma tecnologia detalhada de criação (Nogueira-Neto 1997). Eles são também os polinizadores nativos mais comuns da na América tropical. Para incentivar sua criação, é necessário estabelecer incentivos, principalmente um mercado maior para seu mel. Tal mel deve bem ser filtrado, corretamente pasteurizado, bem preservado e bem apresentável para atrair compradores. Em Pernambuco, o mel da uruçu-nordestina (M. scutellaris) custa tanto quanto um bom champanhe francês.

Agradecimentos

Eu sou grato ao Prof. Dr. Waldir Mantovani e Dr. Rubens Pirani e seus colegas do Instituto de Biociências, Univ. de S. Paulo; ao professor Dr. George Eiten da Univ. de Brasília; à Dra. Walmira Mecenas; à Msc. Mara Magenta; à Msc. Maria Lucia Kawasaki; ao Eng. Agr. Hermes Moreira de Souza e ao Instituto de Botânica do Estado de São Paulo, pela identificação de muitas espécies de plantas. Eu também sou grato ao Prof. Pe. Jesus Santiago Moure CMF e ao Dr. João M.F. Camargo, pela identificação das espécies nativas de abelhas.

O Laboratório da Abelha do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo teve e tem muitas atividades relacionadas ao estudo e à pesquisa com meliponíneos e também com a proteção de natureza. Eu sempre tive uma longa, intensa e amigável colaboração da Profa. Dr. Vera L. Imperatriz-Fonseca e todos meus colegas que lá trabalham, antes e depois de minha aposentadoria como o Professor Titular. A todos, eu sou profundamente grato.

As experiências mencionadas aqui e as atividades relacionadas foram financiadas inteiramente pelo autor.

Referências bibliográficas

Absy ML, Kerr WE. 1977. Algumas plantas visitadas para obtenção de pólen por operárias de Melipona seminigra em Manaus. Acta Amazonica 7: 309-15.

Kerr WE, Absy ML, Souza ACM.1986. Espécies nectaríferas e poliníferas utilizadas pela abelha M. compressipes. Acta Amazonica,16/17: 145-56.

Kuhlmann M, Kuhn E. 1947. A flora do Distrito de Ibiti, São Paulo. São Paulo: Instituto de Botânica, Secretaria da Agricultura.

Nogueira-Neto P. 1953. A criação de abelhas indígenas sem ferrão. São Paulo: Ed. Chácaras e Quintais.

Nogueira-Neto P. 1961. Planta meliponícola (Vitex negundo L. var incisa Clarke). São Paulo: Ed. Chácaras e Quintais.

Nogueira-Neto P. 1973. Mudas de plantas ornamentais, com uma relação de plantas atraentes para aves. Campinas: Companhia Agrícola Nogueirapis. [Catálogo n. 3]

Nogueira-Neto P. 1985. Plantas com frutos atraentes para aves. Boletim da Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza 20: 38-45.

Nogueira-Neto P. 1991. Neotropical savannahs: a taxonomic proposal for the cerrados and other climatic geobiomas. São Paulo: Tecnapis.

Nogueira-Neto P. 1997. Vida e criação de abelhas indígenas sem ferrão. São Paulo: Nogueirapis.

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