Artigo

IBIRAPITANGA OU PAU-BRASIL, ÁRVORE NACIONAL DO BRASIL

Marilda Cortopassi-Laurino

Laboratório de Abelhas, Depto de Ecologia, IBUSP-SP mclaurin@usp.br

O pau-brasil ou Caesalpinia echinata é uma leguminosa nativa da Mata Atlântica do Brasil. Seu nome em tupi é ibira pitanga que significa "madeira vermelha". Caesalpinia echinata é o nome cientifico dado a esta planta por Lamarck em 1789, em homenagem ao botânico e médico grego do papa Clemente VIII, André Cesalpino. O nome echinata está associado com a característica desta árvore ter abundantes acúleos localizados no tronco e galhos adultos. Somente em 1978, pela Lei nº 6.607, o pau-brasil foi declarado Árvore Nacional do Brasil e o dia 03 de Maio oficializado o dia da sua comemoração.

O pau-brasil é uma árvore nativa das partes mais secas da floresta pluvial atlântica, ocorrendo desde o Rio de Janeiro até o Ceará, possuindo maior abundância no sul da Bahia, sendo o porte dos atuais exemplares de até 12m, mas já foram registrados até 30m de altura. Seu cerne, muito pesado e duro, e que varia de coloração castanho alaranjado ao vermelho escuro foi, desde a colonizaçao portuguesa, alvo da primeira grande exploração econômica de recurso natural em território brasileiro (Resende et al., 2004).

De acordo com documentos genoveses do século XII, uma outra espécie, a Caesalpinia sappan originaria do Oriente, era usada para fins de tingimento e era conhecida como brazilio, brazil ou brazilleto, simbolizando o rubro e uma das possíveis fontes da origem do nome brasil (www.sbq.org.br).

A popularização do pau-brasil na Europa, a partir do seculo XVI, deveu-se principalmente às variadas matizes obtidas de seus pigmentos, e não tanto pela qualidade da sua pigmentação. Pelo tratamento ácido com vinagre ou fermento, os artesãos obtinham tons de vermelho e pela alcalinização com cinzas eram gerados os tons arroxeados. O declínio do comércio do pau-brasil deu-se a partir de meados do seculo XIX com a síntese do primeiro corante artificial. Desde então, seguiu-se uma intensa atividade industrial para a obtenção de corantes artificiais, da qual resultou a síntese da brasilina, o pigmento do pau-brasil (Resende et al.2004). Ao mesmo tempo da utilização da madeira pelos seus pigmentos, ela tambem foi muito empregada na construção naval e civil e em trabalhos de torno em marcenaria de luxo. Na atualidade, a madeira é basicamente utilizada para a confecção de arcos de violino. (www.sescsp.org.br) devido a excelente flexibilidade da sua madeira.

Resumidamente, as árvores eram derrubadas e cortadas pelos índios em toras de aproximadamente 1,5 m de comprimento com cerca de 30 Kg cada, em troca de bugigangas. Carregadas para as embarcações ou armazenadas em feitorias construídas para esta finalidade, as toras eram embarcadas para a Europa. As que chegavam a Lisboa eram levadas para Amsterdã onde eram reduzidas a pó por prisioneiros. Dois homens raspavam em média 27 Kg de pó por dia de trabalho integral. 60 Kg de serragem equivalente a 1 quintal que custava 2,5 ducados no século XVI. Cada ducado equivalia a 3,5 g de ouro. Mesmo de qualidade inferior ao pau-de-tinta do Oriente (Caesalpinia sappan L.), o valor do pau-brasil era tão alto para o padrão de comércio da época que nos primeiros cem anos de colonização foram derrubados 2 milhões de árvores de pau-brasil, isto é cerca de 50 por dia (www.colegiosaofrancisco.com.br).

Segundo Martins (2008), em 1631 o Alto Comando Holandês determinou que o pau-brasil coletado do Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas que era enviado para a indústria têxtil de Amsterdã, na Holanda, fosse classificado na "Guia de Embarque", como procedente de Pernambucshout, porque o pigmento do pau-brasil coletado em São Lourenço da Mata- Pernambuco era de qualidade mais duradoura quando aplicado em tecidos de coloração purpúrea, a preferida na época, pelos membros do reinado e altos mandatários da igreja. Em 1928, ainda estudante de agronomia, João Vasconcelos Sobrinho, junto com seu professor Pickel, foi quem primeiro identificou um exemplar da espécie precisamente no Engenho São Bento no município de São Lourenço da Mata, onde se situa a Estação Ecológica de Tapacurá. Fundada em 1975, possui hoje mais de 500 exemplares desta árvore (www.ufrpe.br).

Nesta Estação Ecológica, um levantamento dos visitantes florais do pau-brasil realizado por Borges et al., (2009) mostrou que abelhas, borboletas e beija-flores são os mais freqüentes (Tabela 1), sendo o recurso mais procurado o néctar, com 29,5% ± 9,4% de açúcar. Em outro levantamento feito na Universidade Federal da Paraíba, foram encontrados outros meliponíneos como Frieseomelitta doederleine, F.varia (amarela e moça branca ou marmelada), Nannotrigona sp (iraí), Scaptotrigona aff. tubiba (mandaguari), Trigona aff. fuscipennis (trigona), Melipona scutellaris (uruçu), Plebeia sp (mirim) além de outras abelhas solitárias visitando suas flores (Camarotti-de-Lima e Madeira-Silva, 2003).


Fig.1 Abelhas Apis mellifera e Halictídeo (abelha metálica) coletando néctar nas flores perfumadas do pau-brasil em jardim de bairro de São Paulo-SP no período de outubro de 2007. Foto de Marilda Cortopassi-Laurino.

Para saber como anda a conservação desta espécie botânica fora de seu hábitat natural (ex-situ), Yuri Tavares Rocha, do Instituto de Botânica de São Paulo percorreu 12 cidades paulistas e fez algumas constatações: em Iperó, no Bosque de Pau-brasil para Conservação ex-situ, há mais de mil exemplares da árvore plantados em 1999; em Paulínia, no Bosque Brasil 500, existem outros 500 espécimes e na Fazenda Lageado no campus da Unesp de Botucatu, Rocha deparou com um pau-brasil de 15 metros de altura, com prováveis 80 anos de idade (www.revistapesquisa.fapesp.br)

Especialistas em Química e em Medicina da Universidade Federal de Pernambuco estão realizando experimentos com o princípio ativo extraído do pau-brasil a fim de investigarem sua ação anti-neoplásica, ou seja, sua eficiência no combate a certos tipos de tumor. Em algumas aplicações em ratos, a substância conseguiu propiciar a inibição do tumor em até 87% (www.colegiosaofrancisco.com.br)

No Ministerio do Meio Ambiente, o pau-brasil consta da lista oficial da flora brasileira em perigo de extinção desde 1992.

Cada muda de pau-brasil que se plantar representa uma demonstração de um resgate histórico, botânico e ecológico pela árvore que deu os nomes de Brasil e de Brasileiro (Martins, 2008).

Referências bibliográficas

Borges, LA; Sobrinho, MS e Lopes, AV. 2009 Phenology, pollination and breeding system of the threatened tree Caesalpinia echinata Lam (Fabaceae) and a review of studies on the reproductive biology in the genus. Flora 204(2): 111-130

Camarotti-de-Lima, MF e Madeira-da-Silva, MC. 2003 Abelhas Visitantes de Caesalpinia echinata Lam e Pelthoforum dubium (Spreng.) Taub. (Leguminosae:Caesalpinioideae) no Campus da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa-P

Martins, O. 2008. Pau-brasil, a árvore nacional. Jornal Governo do Estado do Pernambuco 04 de Dezembro de 2008

Resende, CM; Corrêa, VFS; Costa, AVM e Castro, BCS. 2004 Constituíntes Químicos Voláteis das flores e folhas do pau-brasil (Caesalpinia echinata Lam). Quim.Nova, 27(3):414-416

www.colegiosaofrancisco.com.br acessado em 06/02/2009

www.revistapesquisa.fapesp.br acessado em 06/02/2009

www.sescsp.org.br acessado em 14/9/2008

www.sbq.org.br acessado em 05/02/2009

www.ufrpe.br acessado em 06/02/2009

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