Artigo

EXTRATO DE PRÓPOLIS COMO PREVENTIVO DA SARNA SARCÓPTICA EM COELHO (Oryctolagus cuniculus)

Maria das Graças Vidal *
Grimaldo J. L. de Carvalho**
Etelvina C. A. Silva***
Kely. T. Souza****
* Professora Adjunta, D.Sc. do Centro de Ciências Agrárias e Ambientais, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, BA; E-mail: mgvidal@ufba.br
** Professor Adjunto, M.Sc. do Centro de Ciências Agrárias e Ambientais, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, BA.
*** Professora Visitante, M.Sc. da Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, BA
**** Aluna do curso de Engenharia Agronômica da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, BA.

Introdução:

A sarna é uma dermatose, causada por pequenos ácaros. Os mais importantes desses parasitas pertencem a ordem Acarina, sub-ordem Sarcoptiformes, e às famílias Sarcoptidea e Psoroptidea (Correia, 1976). A sarna do corpo ou sarcoptica é produzida por um ácaro parasita, denominado Sarcoptes scabiei var. cuniculi, tem como características, começar no focinho e patas, alastrando-se daí às regiões vizinhas. Os coelhos apresentam problemas relacionados com a locomoção, alimentação perda de peso, levando o animal a morte.

Diferentes produtos químicos têm sido utilizados para combater a sarna. Atualmente são prescritos medicamentos de aplicação local a base de Benzoato de Benzila, Cypermethrin, Doramectina (Carvalho et. al., 2003; Franco et. al., 2004).

A utilização de medicamentos naturais no cambate às doenças humana e animal tem sido uma preocupação da população e neste contexto a própolis destaca-se como uma alternativa diante de suas atividades biológicas. A própolis é um produto de origem vegetal, oriundo, de substância resinosas, gomosas, balsâmicas, coletadas pelas abelhas, de brotos, flores e exsudados de plantas. Sua composição quimica é complexa, destacando-se os ácidos fenólicos e seus ésteres, flavonoides, terpenos, hidrocabonetos, aminoácidos (Marcucci, 1998).

A própolis vem sendo usado pelo homen através dos secúlos com vários objetivos e especialmente na medicina devido as suas propriedades antimicrobiana, antifungica e antiflamatória (Blanska et.al. 2004; Alshaher et.al. 2004). Muitas pesquisas com própolis estão sendo desenvolvidas, principalmente sobre sua composição química, métodos de extração, preparação de princípios ativos que possuem ação antimicrobiana, características farmacológicas e uso na medicina humana e veterinária (Marletto e Oliveiro, 1981.)

Portanto, sendo a própolis um produto natural e com grande aplicação na medicina popular, justifica-se avaliar a eficácia desse produto como tratamento preventivo da Sarna sarcóptica em coelho.

METODOLOGIA

O trabalho foi realizado no coelhário da Escola de Agronomia da Universidade Federal da Bahia localizado no município de Cruz das Almas, situada na região fisiográfca do Recôncavo Baiano a 12º 48' 38'' de latitude Sul e 30º 06' 26'' de longitude Oeste e atitude média 220m.

Foram utilizados 48 coelhos mestiços da raça Nova Zelândia com 30 dias de idade.

Aleatoriamente os coelhos foram divididos em quatro grupos: grupo 1, recebiam própolis (40%), grupo 2, própolis (50%), grupo 3, recebiam álcool de cereais e o grupo 4, não recebiam tratamentos (testemunhas). Os animais foram distribuídos em gaiolas de arame galvanizados, com dimensões de 0,70 x 0,60 x 0,45 metros, unidas aos pares distando do solo 1,20 metros. Cada gaiola recebia 3 coelhos. Em todos os tratamentos, os animais foram alimentados com capim braquiária (Brachíaria decumbens Stapf) e ração comercial, peletizada, com 17% de proteína bruta (média de 100g/animal/dia), no período da tarde. Antes de instalar o experimento procedeu-se a desinfecção do galpão, com solução desinfetante e posterior utilização de lança-chamas.

O manuseio dos animais para aplicação dos produtos ocorreu semanalmente sempre no período da manhã. Os produtos foram aplicados nas patas, focinho e orelhas, locais onde a sarna é iniciada.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Figura 1: Efeito do alcool de cereais e extrato alcoólico de própolis
(40% e 50%) no tratamento preventivo de sarna sarcóptica
em coelho (Oryctolagus cuniculus).


Pelos resultados obtidos (Figura 1), verificou-se diferença entre os tratamentos. Com 22 dias após aplicação dos produtos, 33% dos coelhos sem o tratamento (testemunha) apresentaram os primeiros sinais de sarna (lesões nas patas) e após 36 dias, 100% dos coelhos estavam com sarnas nas patas, orelhas e focinho (Figura 2). Após 50 dias,1% dos coelhos tratados com própolis (40%) e 33% dos tratados com álcool de cereais apresentam sarna nas patas. Com 74 dias após aplicação dos produtos, encontrou-se os seguintes resultados: 1)Ttratamento com própolis (40%): só 8% dos coelhos contraiu sarna, sendo que as lesões permaneceram estáveis, não evoluíram; 2) própolis (50%): nenhum coelho apresentou sarna (Figura 3); 3) álcool de cereais e testemunha: 100% dos animais apresentaram lesões de sarna. No tratamento com álcool de cereais todos animais foram infestados, mostrando que o álcool não possui eficiência sem o extrato de própolis.

No grupo testemunha a infestação da sarna ocorreu gradativamente em todas as semanas de avaliação dos tratamentos. Sendo que na última semana todos animais apresentavam-se com intensas lesões nas orelhas, patas, focinho e impossibilitados de locomoção. Pesquisas vem sendo realizadas e têm demostrado a ação antibacteriana, antifungica, antiviral da própolis (Endler et. al., 2003; Almeida et. al., 2002; Cunha et. al., 2001; Marcucci et. al., 2001).

Na área veterinária a própolis já foi testada com bons resultados no tratamento curativo da pododermite necrótica em ovino (Silva Sobrinho et. al., 2004), nas infeccões podais em ovinos (Bonino & Munhoz, 1987); e em bactérias isoladas do leite de bovinos com mastite (Pinto et. al., 2001). Em coelhos ocorreu decréscimo de verminose, quando adicionou-se solucão hidroalcóolica de própolis na água de beber (Moura et. al., 1998).

Figura 2: Coelho sem tratamento preventivo (testemunha).     e na Figura 3: Coelho com tratamento preventivo (própolis a 50%).


Nesse trabalho a maior eficiência antimicrobiana da própolis foi observada quando o mesmo foi administrado na proporcão de 50%. A proporcão que se costuma administrar no tratamento de algumas doenças causadas por bactérias é de 30% (Endler et. al., 2003). A proporcão do extrato de própolis a ser administrado, deve ser analisada levando em consideração o tipo de microorganismo a ser testado.

Carvalho et. al. (2003) utilizando extrato de própolis no tratamento de Sarcoptes em coelhos na proporção de 50%, verificaram que este produto possui grande poder cicatrizante, apresentando 100% de cura nos animais tratados com própolis. Esses resultados e os resultados desse trabalho mostram o efeito benéfico da própolis no tratamento preventivo e curativo da Sarna sarcóptica em coelhos.

CONCLUSÃO

Nas condições em que o experimento foi conduzido e com base nos resultados obtidos, conclui-se que a aplicação do extrato de própolis na concentração de 50% mostrou-se eficaz no tratamento preventivo da Sarna Sarcóptica em coelhos. Contudo, estudos complementares devem ser feitos para obter mais informações sobre utilização da própolis em coelhos e outras espécies animais susceptíveis a Sarna sarcóptica.

Referências

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