Artigo

UTILIZAÇÃO DE IMAGENS DE SATÉLITE PARA LOCALIZAÇÃO DE UM APIÁRIO FIXO

Jerri Teixeira Zanusso1, Daniel Rutz2, Josué Schiller2 e Marcos Casagrande3
1Eng° Agr°. Dr. Professor adjunto da UFPEL/FAEM/Departamento de Zootecnia. Campus universitário, s/nº, Caixa Postal 354, CEP 96010-900 - Pelotas-RS. jerri.zanusso@ufpel.edu.br
2 Discentes da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel/UFPEL.
3 Discente da Faculdade de Medicina Veterinária/UFPEL.
RESUMO
Grande parte da produção apícola brasileira é oriunda de apiários fixos, que é uma característica do setor, representada na sua maioria por pequenos e médios apicultores. Estes carecem de profissionalização e melhor infra-estrutura, resultando na baixa produtividade apícola. A escolha do local para implantação do apiário constitui um ponto crucial sendo, em parte, determinante do sucesso da atividade, já que o microclima e a florada dependem das condições locais. Vários fatores devem ser avaliados, principalmente as distâncias de acesso, de segurança, da fonte de alimento e de água, proximidade de outros apiários e de lavouras dentro da autonomia de vôo das abelhas para forrageamento. Um instrumento acessório a estes levantamentos, ainda pouco difundido, é a análise de imagens via satélite, que permite uma avaliação muito mais completa de inserção do futuro apiário. O uso do programa Google Earth® é uma ferramenta auxiliar para estudo do terreno de implantação do apiário, permitindo uma análise mais detalhada para a escolha do local.

Palavras-chave: GPS, localização do apiário, Apis mellifera.

A apicultura brasileira é favorecida por uma série de fatores como a diversidade botânica que origina méis, pólen e própolis de qualidade reconhecida internacionalmente. O potencial de expansão é vastíssimo, já que adapta-se desde a pequena até a grande escala de produção e a baixo custo de implantação quando comparado a outras atividades zootécnicas. No Brasil predomina a apicultura fixa - as colméias permanecem no mesmo local durante todo o ano - , característica de pequenos e médios proprietários que tem nesta atividade um reforço na renda familiar; para estes, a escolha do local de implantação do apiário é decisiva, pois a produtividade, em parte, dependerá desta escolha, já que a produção de mel, pólen e própolis dependem de fatores climáticos, do solo e das espécies botânicas de interesse apícola existentes dentro da capacidade de vôo das abelhas campeiras (COSTA & OLIVEIRA, 2005).

Vários pontos devem ser observados:

Para que se obtenha sucesso na criação de abelhas, é fundamental uma avaliação detalhada da vegetação em torno do apiário (PEREIRA et al., 2002), levando-se em conta não apenas a identificação das espécies de valor apícola elevado, mas também a densidade populacional e os seus períodos de floração. Essas informações serão fundamentais na escolha do local para a instalação do apiário, assim como no planejamento e nos cuidados a serem tomados. O pasto apícola - vegetação com flores fornecendo néctar e pólen de alimento para as abelhas - pode ser formado a partir de espécies nativas ou provenientes de culturas agrícolas e/ou (re)florestamentos da indústria de madeira e de papel. Nesses casos, a dependência de monoculturas não é aconselhável, pois, além das abelhas só terem fontes de néctar e/ou pólen em determinadas épocas do ano, há o risco de contaminação dos enxames e dos produtos pela aplicação de agroquímicos nessas áreas. No caso dos grandes (re)florestamentos de eucalipto, nem sempre podem ser considerados ótimos pastos apícolas, visto que, apesar de existirem várias espécies com grande potencial apícola, na maioria dos casos, o corte das árvores ocorre antes da sua maturidade reprodutiva e conseqüente floração.

O tamanho de uma pastagem apícola, assim como a sua qualidade (variedade e densidade populacional das espécies, tipos de produtos fornecidos, néctar e/ou pólen e diferentes períodos de floração) irão determinar o que tecnicamente denomina-se "capacidade de suporte" da área. É a capacidade de suporte que irá determinar o número de colméias a serem alocadas em uma área, levando-se em conta o aspecto produtivo. Dessa forma, o potencial florífero dessa área será explorado pelas abelhas, de maneira a maximizar a produção, sem que ocorra competição pelos recursos disponíveis.

Apesar das abelhas terem a habilidade de forragear (coletar seu alimento) com alta eficiência em uma área distante de 2 a 2,5 km ao redor do apiário (em torno de 700 ha de área total explorada), quanto mais próximo da colméia estiver a fonte de alimento, mais rápido será o transporte, permitindo que as abelhas realizem um maior número de viagens contribuindo para o aumento da produção, além de economizar energia necessária para os vôos, o que traduz-se em maior armazenamento nos favos. A área de exploração apícola deve, preferencialmente, ficar dentro de um raio de 1,5 km (WIESE, 2000).

O local do apiário deve ser de fácil acesso, dispondo de entrada a veículos o mais próximo possível das colméias, o que facilita acentuadamente o manejo, o transporte da produção e, eventualmente, de colméias. O terreno do apiário deve ser plano e limpo, evitando-se áreas elevadas em virtude da ação negativa dos ventos fortes e por dificultar o uso de carrinhos de transporte dentro do apiário. Terrenos em declive dificultam o deslocamento do apicultor pelo apiário e, conseqüentemente, o manejo das colméias, principalmente durante a colheita do mel.

A proteção contra ventos fortes é fundamental para uma melhor produtividade do apiário, pois regiões descampadas, castigadas pela ação de ventos fortes, dificultam o vôo, causando desgaste energético adicional para as operárias.

O apiário deve estar localizado a uma distância mínima de 300-500 metros de casas, escolas, estradas movimentadas e instalações para animais, evitando-se situações que possam representar perigo às pessoas e animais. O trabalho de máquinas a uma distância inferior a 500 metros não é recomendado. Outra questão a ser considerada é a distância mínima de 2,5 a 3 km em relação a engenhos, sorveterias, fábricas de doces, aterros sanitários, depósitos de lixo, matadouros, por exemplo, para não ocorrer contaminação do mel por produtos indesejáveis e para não haver sobreposição de áreas exploradas por mais de um apiário, saturando a capacidade de sustentação.

A presença de água é fundamental para a manutenção dos enxames, principalmente em regiões de clima quente, uma vez que a água é usada para auxiliar na termorregulação (em casos extremos, uma colméia pode chegar a consumir 20 litros de água por semana). As abelhas devem dispor de uma fonte de água limpa a uma distância inferior a 500 metros, evitando-se gasto energético acentuado para a sua coleta. Caso o local não disponha de fonte natural, deve-se instalar um (ou mais) bebedouro artificial, tomando-se o cuidado de manter a água sempre limpa (NASCIMENTO Jr., 2002).

A posição solar é importante para o estímulo luminoso indicando o início das atividades de forrageamento, assim, recomenda-se que as colméias fiquem expostas ao sol e de preferência com o alvado voltado para o norte, para que fique sempre ensolarado. Esta escolha permite no estado do RS, proteger as colméias do vento frio que tem direção predominante Sul. No caso do apiário ficar sombreado, deve-se optar para que as colméias fiquem expostas ao sol, no mínimo, no período da manhã, para estimular a saída das campeiras.

A seguir é apresentado e discutido o uso do programa Google Earth® (GOOGLE, 2007), na sua versão gratuita, tendo sido escolhida esta versão pela facilidade de acesso para diferentes usuários (apicultores, técnicos e acadêmicos). O uso de imagens obtidas por satélites permite fazer uma macro apreciação do local, sendo possível fazer uso das ferramentas (distâncias e caminhos), que possibilitam a avaliação dos pontos apresentados anteriormente.

Na janela de abertura do programa é possível encontrar um local, através das coordenadas geográficas, caso disponha-se de um "sistema de posicionamento global" - GPS, ou através da identificação visual, o que requer um conhecimento prévio de pontos de referência (açudes, estradas, prédios, por ex.). Nesta mesma janela localiza-se a ferramenta medidas (Figura 1).

Ao achar um provável local, em função das medidas de interesse é possível ainda medir caminhos que auxiliarão na logística de transporte, para cálculos com gastos de combustível e tempo para deslocamento do apiário à casa do apicultor, do apiário à casa do mel/entreposto, entre outros caminhos (Figura 2). Através de duas medidas (comprimento e largura), calculam-se as áreas de matas, pastagens ou pomares que tenham interesse apícola (Figura 3). Ainda, com o uso da ferramenta de medidas pode-se obter as medidas de interesse, como o raio de vôo para forrageamento (Figura 4).

Obviamente que o uso desta ferramenta não dispensa a inspeção in loco das condições de topografia e de terreno, presença e estado de cercas para isolamento do apiário, nem a consulta a um inventário botânico para elaboração de um calendário de floração. Mas complementa este estudo, com rapidez e razoável precisão, evitando a tomada de medidas por métodos diretos e, mais antigos e caros, com o uso de teodolitos.


Figura 1 - Janela principal do programa Google Earth® para seleção das coordenadas geográficas e escolha da ferramenta de medidas (régua).

Figura 2 - Uso da ferramenta "régua" para estimar a distância de um trajeto percorrido.

Figura 3 - Uso da ferramenta "régua" para estimar uma área de mato cultivado a ser explorado pelas abelhas do futuro apiário.

Figura 4 - Uso da ferramenta "régua" para estimar o raio de alcance das operárias durante vôo de forrageamento (Apiário DZ-FAEM-UFPEL).


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COSTA, P.S.C.; OLIVEIRA, J.S. Manual prático de criação de abelhas. Ed. Aprenda fácil. Viçosa - MG, 2005. 424p.

GOOGLE®, 2007. Disponível em: . Acesso em 04 jun. 2007.

NASCIMENTO, Jr.A.V. do. Abelhas - como criar? 3.ed. Cia da abelha: Contagem - MG, 2002. 200p.

PEREIRA, F. M.; LOPES, M.T. R.; CAMARGO, R.C.R.; VILELA, S.L.O. de. Produção de mel-instalações. Disponível em: . Copyright© 2002 EMBRAPA. Acesso em: 04 jun. 2007.

WIESE, H. Apicultura novos tempos. Ed. Agropecuária: Guaíba - RS, 2000. 417p.


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