Relato

MINHA PARTICIPAÇÃO NO 3º CONGRESSO BRASILEIRO DE MELIPONICULTURA

Waldemar Ribas Monteiro, conservacionista, Diretor Técnico do Departamento de Abelhas Indígenas Sem Ferrão da APACAME.

Para quem não teve a oportunidade de participar do 3º Congresso Brasileiro de Meliponicultura, realizado no período de 01 a 04 de junho de 2008, na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, segue um relatório de todas as atividades que foram levadas a efeito sobre de que participei.

É notório que cada congresso de meliponicultura que se realiza, o interesse por nossas abelhas nativas aumenta consideravelmente.

Nesse congresso notei também um excelente avanço no que diz respeito a organização em relação aos temas inerentes à evolução da meliponicultura no Brasil.

Antes de entrar no mérito do congresso em si, preciso ressaltar a presença de estudiosos e pesquisadores renomados da área em nosso país e, também, a presença de abnegados meliponicultores que compareceram em massa, sem os quais não haveria o sucesso que houve para a satisfação de todos nós.

Tenho que destacar os bastidores do referido congresso, que nos proporcionou o reencontro e a confraternização de velhos amigos meliponicultores, baluartes incentivadores da preservação de nossas abelhas indígenas sem ferrão.

Está de parabéns o governo de Minas Gerais pelo vulto da obra do magnífico recinto de eventos, incrustado no belo bairro da Gameleira.

Sobre os organizadores do congresso estão de parabéns pelo esforço de nos oferecer o melhor, salvo alguns contra-tempos que por ventura aconteceram, o que é comum num evento de grande monta.

Foram inúmeras as atividades que nos proporcionou o congresso, dando oportunidade a todos de ampliar os seus conhecimentos.

Tivemos: Mini-Cursos, Oficinas, Clínicas Tecnológicas, Conferências, Simpósios, Mesas Redondas, Apresentação Oral, Apresentação de Posters e a Palavra Livre do Meliponicultor.

Apresento aqui uma síntese sobre as atividades de que participei, não todas, devido a simultaneidade das atividades, o que é uma característica dos congressos.

Conferência:

Estado da Arte da Meliponicultura no Brasil, tendo como moderador o Prof. Lúcio Antônio de Oliveira Campos.

Conferência proferida pela Profa. Dra. Marilda Cotopassi Laurindo (USP), trabalho magnífico, ilustrado com um Data-Show muito bem elaborado abordando os aspectos das abelhas sem ferrão como insetos sociais conhecidos e criados em função das propriedades medicinais de seus méis e como mantenedora da biodiversidade.

Conferência:

Tecnologia Associada à Meliponicultura, tendo como mediadora a Profa. Yasmine Antonini.

Conferência proferida pelo Prof. Rogério Marcos de Oliveira Alves, trazendo ensinamentos e experiências novas para o setor.

Conferência:

Polinização com Abelhas Nativas, tendo como mediador o Prof. Dr. Breno Magalhães Freitas.

Conferência proferida pela Prof. Paula Eugênia de Oliveira

As abelhas são os principais polinizadores tanto de plantas nativas quanto de plantas cultivadas. As abelhas representam mais da metade das espécies de polizadores associaados à plantas cultivadas e, provavelmente, polinizadores de mais de 90% dos cultivos onde a polinização por animais é, de algum modo, requerida. Trabalhos recentes têm mostrado que os polinizadores são importantes para a produção agrícola de mais de 60% dos cultivos mais importantes numa escala mundial.

Simpósio:

Meliponicultura no Brasil: Desafios e Perspectivas Futuras, tendo como mediador o Prof. Dr. Lúcio Antônio de Oliveira Campos.

Palestrantes: Prof. Dra. Vera Lúcia Imperatriz da Fonseca, Prof. Rogério Marcos de Oliveira Alves, Prof. Carlos Alfredo Lopes de Carvalho e Profa. Betina Blochtein.

Magnifícias colocações feitas pelos palestrantes sobre os desafios e perspectivas futuras da meliponicultura.

Deixo aqui um registro sobre todas as atividades em que participei, ou seja, clinicas, oficinas, conferências, simpósios, os quais considerei de alto nível.

Sobre a palavra livre do meliponicultor me surpreendeu muito o interesse dos meliponicultores no que tange a legalização e normas referentes á atividade, tanto é que foi elaborado um Manifesto enviado aos órgãos competentes e que segue abaixo:

Belo Horizonte, 04 de junho de 2008.

Ilmo. Sr.
José Gomercindo Correa da Cunha
Presidente da CBA - Confederação Brasileira de Apicultura
Nesta.

Senhor Presidente:

Nós, meliponicultores abaixo assinados, participantes do 3º Congresso Brasileiro de Meliponicultura, solicitamos o engajamento da CBA, no encaminhamento das questões pertinentes á criação das "Abelhas sem Ferrão", conforme exposto a seguir:

1)Seja tratado, junto ao Ministério do Meio Ambiente, a regulamentação de sua criação em formato diferente do que é estabelecido para a criação de outros animais silvestres, considerando o seu histórico e utilização pelo homem e a sua importância em projetos de sustentabilidade nas diferentes regiões do Brasil;

2)Que na elaboração da futura legislação tenha a participação de criadores de reconhecida competência indicados pela CBA e de pesquisadores que possuam experiência com criação dessas abelhas nas equipes técnicas;

3)Que seu resultado seja submetido à consulta pública para a manifestação dos criadores sobre a viabilidade prática da devida proposta;

4)Seja tratado junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, protocolo para a elaboração das normas que contemplem a extração, caracterização e comercialização do mel das abelhas sem ferrão

5)Que a caracterização do mel das diversas espécies seja considerado o resultado das pesquisas realizadas por universidades e laboratórios oficiais;
6)Que no setor de meliponicultura da CBA, além dos dois representantes da comunidade científica, sejam adicionados dois membros representantes meliponicultores indicados pelas associações.

O pleito acima é justificado pelo fato da nornalização atual, de um modo geral, não contemplar todas as questões pertinentes à atividade e inviabilizar a regularização dos criatórios já existentes junto ao IBAMA. Além disso, a criação das abelhas sem ferrão não constitui em crime ambiental no seu mérito, uma vez que a citada atividade é exercida há séculos em todo o Brasil e vem contribuindo para a perpetuação e preservação das espécies de abelhas, plantas e outros animais associados às comunidades vegetais que se beneficiam da polinização.

(referido manifesto recebeu a assinatura, em adesão, de centenas e centenas de meliponicultores presentes ao 3º Congresso Brasileiro de Meliponicultura).

A meu ver a meliponicultura tende a crescer muito, com a colaboração de todos e se não houver a interferência burocráticas dos órgãos governamentais. A criação racional dessas abelhas ira contribuir para perpetuar essas espécies polinizadoras muito importantes para a nossa flora e projetos de sustentabilidade.

Em relação ao Congresso, o ponto negativo foi a ausência dos nossos maiores cientistas tais como: Dr. Paulo Nogueira Neto, Dr. Warwick Estevam Kerr e o Padre Jesus Santiago Moure que, sem dívida, daria um brilhantismo maior ao evento.

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