Atividade

Encontro de Apicultores do mês de abril de 2008
Qualidades nutritivas dos produtos das abelhas

Profa. Dra. Ligia Bicudo de Almeida Muradian Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental, Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP- SP (email: ligiabi@usp.br)

Introdução
Desde a antigüidade, os produtos apícolas se encontram entre os elementos naturais empregados pelo homem como complemento alimentar e, ao longo do tempo, para combater e prevenir as doenças. Os principais produtos apícolas considerados pela legislação brasileira como alimento são: mel, geléia real, própolis e pólen apícola. Existem ainda os méis compostos e os méis de abelhas sem ferrão que ainda não foram contempladas pela legislação brasileira.

Todos os produtos alimentícios devem se adequar a Rotulagem Nutricional Obrigatória conforme a "Resolução RDC n. 39 de 21 de março de 2001" (Brasil, 2001b), portanto é de extrema importância a determinação da composição físico-química e valor nutricional para constar no rótulo dos produtos apícolas.

Para a análise da composição desses produtos é necessário a padronização dos métodos de análise. A legislação para o mel (Instrução Normativa n.11 de 20 de Outubro de 2000) especifica quais os métodos que devem ser utilizados. No entanto, na legislação dos demais produtos apícolas (Instrução Normativa nº 3, de 19 de janeiro de 2001) são especificados os limites, mas não os métodos de análise. Neste sentido tem-se trabalhado na elaboração de padrões internacionais para os produtos apícolas junto a International Honey Commission, com a finalidade de padronização dos métodos de análise para esses produtos.

Mel de Apis mellifera

O produto da colméia mais conhecido e estudado é o mel de Apis. Os limites e os métodos indicados pela legislação brasileira (BRASIL, 2000) estão indicados na Tabela 1.

Tabela 1: Critérios de qualidade adotados pela legislação brasileira para méis e seus métodos de análise

Geléia real

A composição da geléia real é complexa contendo várias proteínas, aminoácidos, ácidos orgânicos, esteróides, fenóis, açúcares, minerais dentre outros (YANG, 1988 apud JIA et al., 1995). O ácido 10-hidroxi-2-decenóico (10-HDA) é o principal componente da sua fração lipídica (BLUM et al., 1959) e é considerado também o mais importante princípio ativo da geléia real (MURATA et al., 1987 apud JIA et al., 1995). A sua concentração pode ser considerada como um indicador da qualidade ou frescor de geléia real adicionada nos produtos (GARCIA-AMOEDO, 1999, KOSHIO e ALMEIDA-MURADIAN, 2003, MATSUI, 1988).

O uso de 10-HDA para comprovar a autenticidade de produtos contendo geléia real não é uma prática comum. Apenas quatro países, além do Brasil (Austrália, Coréia, Japão e Tailândia) especificam a presença deste ácido como pré-requisito de autenticidade da própria geléia real ou da sua adição em produtos (BLOODWORTH et al, 1995). A presença de 10-HDA foi estudada em amostras de geléia real fornecida por apicultores produtores do Estado de São Paulo e também com o produto adulterado propositadamente (GARCIA-AMOEDO e ALMEIDA-MURADIAN, 2003, 2007).

Os principais requisitos para o controle de qualidade da geléia real segundo a legislação brasileira (BRASIL, 2001a) e os métodos citados na literatura apresentam-se na Tabela 2.

Além da composição básica da geléia real, foi ainda realizada a análise de algumas vitaminas. Nas análises cromatográficas realizadas, não se pôde demonstrar a presença das vitaminas lipossolúveis: A, E ou beta-caroteno (pró-vitamina A) nem tiamina (vitamina B1), mas foi quantificada a riboflavina ou vitamina B2 (20,35 - 171,00 ng/g) e piridoxina ou vitamina B6 (407,90 - 2187,70 ng/g) (GARCIA, 1999, PRESOTO et al., 2002).

Tabela 2 : Parâmetros físico-químicos indicados pela legislação brasileira para o controle de qualidade de geléia real e métodos citados na literatura para a sua análise.

Pólen apícola

O grão de pólen, parte reprodutora masculina da planta, é normalmente utilizado pelas abelhas (Apis mellifera) como fonte de proteínas, carboidratos, vitaminas e sais minerais. Elas coletam o pólen, aglutinando-o em bolotas, mediante néctar e substâncias salivares, levam-no às colméias em seus curbículos e armazenam-no em alvéolos separadamente do mel, para a sua alimentação e a da cria (BARTH, 1989). Essas bolotas são removidas e coletadas na entrada da abelha na colmeia, através de telas coletoras instaladas no seu exterior. O pólen tem de ser retirado diariamente dessas telas de acordo com a umidade do ar, pois esta contribui para a sua deterioração. Após a retirada, o pólen deve ser rapidamente submetido a um processo de secagem e limpo de substâncias estranhas, e aí sim poderá ser consumido pelo homem. Cada grão de pólen contém uma variedade enorme de nutrientes. Seu maior uso, hoje, é como suplemento alimentar, sendo indicado para o equilíbrio funcional e harmônico do organismo humano, produzindo bem-estar e vigor físico (KRELL, 1996).

Foram isoladas de amostras de pólen apícola nacional as três vitaminas antioxidantes: beta-caroteno (pró-vitamina A), o ácido ascórbico (vitamina C), e o alfa-tocoferol (vitamina E) (Oliveira, 2006). Os antioxidantes são capazes de estabilizar os radicais livres, responsáveis por muitas doenças degenerativas características do envelhecimento, que podem tanto ser provenientes do meio externo (alimentação) como resultantes naturais do metabolismo humano (ELLIOT, 1999).

Os principais parâmetros físico-químicos recomendados pela legislação brasileira para o pólen apícola (BRASIL, 2000) estão expressos na Tabela 3, assim como os métodos mais utilizados na literatura.

Tabela 3: Parâmetros indicados pela legislação brasileira para o controle de qualidade do pólen apícola e seus métodos de análise

Própolis

As principais análises indicadas para o controle de qualidade da própolis em solução estão apresentadas na Tabela 3. Destaca-se ainda a identificação do composto Artepillin C na própolis bruta, que indica tratar-se de própolis proveniente de região onde predomina a planta Baccharis dracunculifolia (MATSUDA, 2008)

Tabela 4:Parâmetros físico-químicos indicados pela legislação brasileira para o controle de qualidade da própolis em solução alcoólica e os métodos citados na literatura para a sua análise.

Bibliografia

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