Minha Experiência

O QUE EU VI NO 40º CONGRESSO DA APIMONDIA

Radamés Zovaro
Empresário apicola
zovaro@zovaro.com.br

Participamos de 9 a 14 de setembro próximo passado do 40º Congresso Internacional de Apicultura - Apimondia 2007, que se realizou na cidade de Melbourne - Austrália, pais com enorme área litorânea (25.000 km), dividido em 5 estados e 2 territórios, tendo como capital a cidade de Camberra. O sistema político é o parlamentarismo monárquico, com o primeiro ministro eleito pelo parlamento e o presidente é a Rainha Elizabeth II da Inglaterra. É interessante, a Austrália como a Nova Zelândia são paises independentes, porem respeitam a Rainha da Inglaterra como presidente que nada mais é do que uma peça decorativa no sistema.  

Melbourne é uma cidade com 180 anos e apresenta uma arquitetura com prédios antigos, porem muito bem conservados, misturando com uma arquitetura moderníssima, com prédios de 50 andares para mais. É uma cidade litorânea, com porto, porem as praias ficam um pouco distante, é a capital do Estado de Victoria.  

Uma das coisas que impressionou no inicio é o sistema de transito, onde os veículos tem a direção no lado direito e andam na contra mão, tipo do transito da Inglaterra. Para nós é estranho e se não tomar cuidado pode sofrer um acidente, apesar de que a educação faz com que a população só respeita a sinalização e só atravessa as ruas e avenidas no sinal, onde existe alem do sinal de veículos um especifico para o pedestre.  

A cidade de Melbourne é uma bela cidade, com ruas e avenidas largas, lojas, galerias, muito bonitas, povo muito bem vestido, porem para o turista um problema, todo o comercio (lojas, bancos, bares, restaurantes) fecham as l8 horas, ficando aberto alguns restaurantes em um local a beira do rio que atravessa a cidade, nas proximidades do cassino, onde torna-se o ponto de encontro à noite.  

Congresso:- Sobre o congresso, nós podemos dividi-lo em 4 fases - Organização, Palestras, Feira apícola e Visita Técnica.  

Organização:- Deixou muito a desejar, não foi o que esperávamos, falta de informações do local das palestras, falta de orientação da localização das salas e do auditório principal. Tudo ficava perto, porem o prédio de dois andares era grande e não havia sinalização de onde estavam localizadas as salas que seriam dadas às palestras, mesmo a feira estava dividida em dois andares e não havia nada informando que a outra parte da feira estava no outro andar.  

Palestras :- As palestras que assisti, eu gostei, apesar que em algumas houve falha por falta de equipamento ou da tradutora, mas isso não é culpa do palestrante, mas sim da organização. As palestras atenderam os interesses da platéia, pelo que pudemos observar.  

Feira de Equipamentos:- Muitas empresas de vários paises participaram (China, Coréia do Sul, Japão, Tailândia, Itália, Finlândia, Dinamarca, França, Chile, Argentina, México, Nova Zelândia, UIcrania, Austrália, Alemanha, etc.), Foi uma feira com apresentação de equipamentos e produtos acabados, com ênfase para própolis pelas empresas de origem oriental. Na linha de equipamentos não houve nenhuma novidade talvez em função da distancia. As grandes empresas européias, não vieram com todos os equipamentos e sim, com um ou outro produto da sua linha, caso, por exemplo, da Thomaz, empresa francesa e uma das maiores da Europa que ocupava uma área de 6m2 aproximadamente.  

Favos Plásticos de varias cores inclusive na cor preta foram apresentados por uma empresa da Nova Zelândia, e colméia de isopor por uma empresa da Finlândia, com ventilação no fundo com tela e acrílico. A linha metálica sem novidade exceção feita aos controles eletrônicos dos equipamentos, e desoperculadoras de mel, dois tipos chamou a atenção. Na área de produtos acabados uma grande variação de tipos de embalagem para venda do mel, assim como formatos de favos em plástico para venda de mel em favo.  

Visita Técnica:- Essa realmente valeu a pena. O Congresso disponibilizou de aproximadamente 20 ônibus transportando os congressistas a aproximadamente 100 kg de Melbourne, onde foi nos fornecido um almoço com muita fartura. Ao lado do salão onde foi fornecida a refeição havia um outro salão onde estavam expostos stander de apicultores da região, então pudemos ver o que e como eles trabalham e fazem os produtos para comercialização, embalagens de mel, velas de cera, suveniers, alguns equipamentos como, por exemplo, um derretedor de cera solar, etc. No pátio onde os ônibus estacionaram havia algumas colméias de abelhas apis melífera ligustica, onde um apicultor sem véu e sem luvas, com um fumegador pequeno, abria as colméias, normalmente com um sobre ninho, em cima de palets, apresentando todo o trabalho das abelhas, mel, rainha, zangões, etc., no meio do publico fotografando, filmando, perguntando, etc., etc. Ao lado, no mesmo pátio uma exposição de caminhões e tratores utilizados para transporte de colméias e mel, com carrocerias equipadas, com equipamentos Munck, ou mesmo fechado com lona todo pintado com dizeres da empresa, mel e apicultores trabalhando. Tudo foi realmente uma surpresa e beleza pela criatividade apresentada, mas o que mais me chamou a atenção foi um caminhão com um tanque de inox na carroceria, puxando um trailer. Este trailer tinha um equipamento de extração de mel, onde havia tudo conjugado a desoperculadora, centrifuga em forma horizontal, bombas e conexão de mangueiras para que o mel extraído fosse transportado para o tanque de inox que estava no caminhão. Após almoço seguimos viagem visitando apiários instalados em plantações de eucaliptos e posteriormente fomos visitar uma extração de mel. Quando lá chegamos foi feita uma demonstração de uma empilhadeira carregando palets com 4 conjuntos de colméias para um caminhão, demonstrando a facilidade no manuseio. Um galpão simples de aproximadamente 200 mts2, onde havia depósitos de caixas usadas, telas excluidora (material usado em todas as colméias na Austrália) tampas, etc. Um dos lados do salão havia uma sala onde estava instalada uma estufa com temperatura de 35ºC, que é o deposito de mel em favos aguardando a entrada para a desoperculação e extração. Ao lado uma maquina em funcionamento idêntico a que citamos ter visto no trailer, e ai pudemos acompanhar todo o processo de extração de mel. Os favos eram colocados na desoperculadora, após entrava em uma esteira aguardando a entrada na centrifuga que nesse caso era feita manualmente, pois a centrifuga parava, abria-se a tampa e puxava os quadros com mel já extraídos colocando outros para serem extraídos. Disse puxava, pois era exatamente o que acontecia, a centrifuga para de tal forma que o operador puxava todos os favos de uma só vez para uma esteira que posteriormente seria colocado nas colméias para retornar ao apiário. Interessante salientar que o equipamento na desoperculação já separa a cera do mel. O mel após extraído era bombeado para um tanque inox que já estava acoplado aos tambores. Fora do salão havia um contêiner tipo freezer onde eram colocados os quadros a uma temperatura de -15ºC, para combate as traças.

Enfim essa visita valeu pela liberdade dada aos visitantes que puderam ver sem nenhum embaraço as coisas lá existentes. Salientamos que não havia muito cuidado com a higienização, os elementos que estavam trabalhando não usavam luvas, avental, gorro ou mascara, coisa que no Brasil a legislação não permite.  

O Brasil no Congresso -

Acredito que não havia 30 brasileiros inscritos no Congresso, porem nos concursos realizados conseguimos obter o 1º lugar em Mel Escuro e o 2º lugar em Cera Clarificada, prêmios esses conferidos á Prodapis - Empresa localizada em Santa Catarina, tivemos também alguns trabalhos científicos apresentados, sete palestras foram proferidas por cientistas brasileiros - Lionel Segui Gonçalves (2), Ligia Bicudo Almeida Muradian (3), Giorgio Venturieri(1) e Adreas Daugsch (1), assim como um stander da CBA.

Fomos candidatos, juntamente com a Argentina e o México a sediar o 42º. Congresso Internacional da Apimondia em 2011, sendo que a Argentina ganhou, depois de ter perdido para a França em 2005 a disputa do Congresso de 2009.  

Assistimos em 2006 por ocasião do Congresso Brasileiro realizada na cidade de Aracaju-SE, a intenção da cidade de Salvador - BA, em se candidatar a sediar o Congresso Internacional em 2011. A euforia foi grande, soubemos da existência de reuniões com empresas especializadas em captar Congressos alem de representantes da Apimondia visitarem a cidade de Salvador, mantendo contatos com a administração publica tanto Municipal como Estadual, enfim tudo levaria a crer que a briga seria de alto nível, com a idéia de que se o Brasil ganhasse já havia alguns patrocinadores dando certo apoio financeiro, que um Congresso desse nível exige.  

Nas apresentações dos candidatos, cada um teve 15 minutos para fazer a sua apresentação que foi a projeção de filmes de cada pais. O primeiro a se apresentar por sorteio foi a Argentina, onde apresentou uma projeção, apresentando o turismo no pais e ocupou mais da metade do filme falando sobre a Apicultura, trabalhos com abelhas, apiários, extração de mel, enfim deu um verdadeiro show sobre a atividade na Argentina. O segundo foi o México, que foi prejudicado por falha no equipamento de projeção, porem comentou pouco sobre apicultura e mais sobre o turismo no México.

A apresentação seguinte foi a do Brasil, que apresentou um filme da Embratur falando sobre o turismo na Bahia, e no final apresentando algumas fotos de abelha. No dia da votação pelos delegados dos paises filiados a APIMONDIA, novas apresentações foram feitas e a Argentina, levou o Cônsul Argentino na Austrália oferecendo os pais para sediar o Congresso.  

Pareceu-nos, que a CBA, através do seu Presidente José Gomercindo Correia da Cunha e do Prof. Lionel Segui Gonçalves, alem de uma representante da Embratur estavam sozinhos no evento, sem nenhum apoio das autoridades baianas. Conversando com o Presidente Cunha, perguntei se já havia algum patrocinador e ele me disse que não, caso o Brasil ganhasse teria que correr atrás. do patrocínio. Isso é lamentável pois um Congresso a nível internacional não se faz simplesmente com o apoio de palavras, afinal isso iria ocorrer somente daqui a 4 anos, e muita coisa podera acontecer nesse período, mudança de governos, de coordenadores de entidades, etc. Sentimos que apesar do governo ter criado a Câmara Setorial, a idéia de promover o Congresso Internacional não foi encampada e as autoridades e entidades baianas esqueceram que a eleição para captar o Congresso seria realizado na cidade de Melbourne no período de 9 a 14 de setembro de 2007.  

Resumindo valeu a pena perder aproximadamente 4 dias encaixotado dentro de aviões e aeroportos, sofrer com o fuso horário de 13 horas na Austrália e 15 horas na Nova Zelandia para conhecer um pouco daqueles paises e participar do 40º Congresso Internacional da Apimondia 2007.

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