Artigo

SISTEMA INTEGRADO DA OVINOCAPRINOCULTURA COM APICULTURA

M.Sc. Roberto Henrique Dias da Silva e Engenheiro Agrônomo Dr. Raimundo Maciel professores do Instituto CENTEC do Ceará.
A região semi-árida do Nordeste brasileiro caracteriza-se por apresentar uma vegetação do tipo caatinga que é uma de floresta baixa, espinhenta, dominada por arbusto e arvores de pequeno porte, que, caracteristicamente, perdem sua folhagem durante a estação seca.

Apresenta duas estações diferenciadas, uma chuvosa (conhecida como inverno) e outra seca (conhecida como verão), com precipitações médias em torno de 650 mm anuais e uma temperatura variando entre 22,2ºC a 36,6ºC.

Devido as suas características climáticas, a exploração agrícola de forma intensiva só é possível em algumas regiões, sendo considerada inviável na maior parte de seu território. Destacando-se como setores viáveis a ovinocaprinocultura e apicultura, pois as pesquisas conduzidas no sertão nordestino indicam que a manipulação da caatinga é uma técnica, que resulta em incrementos substanciais da produção animal, nos sítios ecológicos com potencial forrageiro para apicultura e ovinocaprinocultura.

A ovinocaprinocultura vem apresentando crescimento no Nordeste brasileiro. Nos últimos anos tem se verificado não só um aumento no efetivo dos rebanhos, mas também no número de propriedades envolvidas nessa atividade. A principal causa disso é o aumento na demanda de carne ovina e caprina, mais especificamente de carne de cordeiro e cabrito, verificada nos centros de consumo, como São Paulo, Recife, Salvador, João Pessoa, Natal, Fortaleza e outros grandes centros.

Esses mercados vêm sendo atendidos, na sua maior parte, por produto proveniente do Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina. Caracterizado na sua maior parte por carcaças de ovinos de descarte puros ou mestiços de raças produtoras de lã, tais como Corriedale, Ideal e Merino ou ainda produto proveniente dos Estados nordestinos sendo, nesse caso, de animais com predomínio de sangue de raças deslanadas como a Santa Inês e Morada Nova.

Tanto num caso como no outro, a qualidade das carcaças comerciais nem sempre é a ideal, em termos de características desejadas pelo mercado consumidor, que valoriza a carcaça de animais jovens abatidos com idade inferior a 150 dias e peso vivo entre 28 a 32 kg.

Desde de 1956, quando as abelhas africanas foram introduzidas no Brasil, existe uma convivência de forma silvestre na caatinga destas abelhas com os ovinos e os caprinos onde o produtor rural de uma forma extrativista explora estas atividades.

Neste mesmo ambiente do nordeste brasileiro vêm se destacando atualmente uma apicultura empresarial com vistas a suprir o mercado interno e externo(Alemanha, Estados Unidos e outros países).

A apicultura tem apresentado-se como uma outra importante alternativa de exploração econômica para o desenvolvimento do semi-árido nordestino nos últimos anos.

Essa atividade agropecuária dispensa grandes investimentos de capitais, além de não competir com outras atividades desenvolvidas na propriedade, pois utiliza-se de recursos normalmente desperdiçados no meio rural, ou seja, as flores das plantas silvestres e cultivadas.

Ao invés de competir, a apicultura torna-se complementar às demais atividades desenvolvidas na propriedade, pois além dos benefícios diretos dos seus produtos (mel, cera, própolis, pólen, geleia real e apitoxina), as abelhas ainda polinizam as flores das culturas agrícolas, das essências nativas e do pasto de ruminantes existentes na propriedade rural.

Sendo que os bons resultados econômicos e nutricionais proporcionados pela apicultura estão diretamente associados a abundância de flores nas proximidades de um raio de 1,5 km em volta do apiário, estimulando assim os agricultores para que evitem desmatamentos e desenvolvam uma consciência ecológica e preservacionista.

A apicultura é uma atividade de grande potencial para recuperação de áreas degradadas, seja pela polinização das essências nativas ou pela suspensão da derrubada das matas pelos produtores rurais.

No Estado do Ceará, o potencial da ovinocaprinocultura com apicultura vem sendo demonstrado na prática, pelo crescente número de associações, cooperativas e produtores que tem buscado financiamentos para a atividade junto aos órgãos de fomento da agropecuária no Estado.

A exploração de ovinos e caprinos consorciada com apicultura na região Nordeste é uma opção viável e rentável não somente para pequenos e médios produtores, mas também para grandes pecuaristas que desejam explorar uma atividade utilizando a caatinga como um dos suportes forrageiros, pois não exige altos investimentos em infra-estrutura e na aquisição de animais, além de apresentar rápido retorno do capital investido.

A região nordestina tem vocação natural para o pastoreio e, em particular para a exploração da ovinocaprinocultura consorciada com a apicultura.

O agronegócio envolvendo as duas atividades atua como mais um atrativo para ocupar um grande contingente de pessoas, contribuindo de forma significativa para fixação do homem no campo.

Porém, recentemente, essas atividades pastoris vem mostrando um vigoroso despertar materializado na crescente procura por informação, adesão de novos produtores, tecnificação dos métodos de criação, surgimento de unidades de processamento do produto e revigoramento da cadeia produtiva.

Esta técnica de exploração foi desenvolvida de uma forma racional e econômica pelo Zootecnista M.Sc. Roberto Henrique Dias da Silva e pelo Engenheiro Agrônomo Dr. Raimundo Maciel professores ambos do Instituto CENTEC do Ceará.

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Ovinos e caprinos pastando em vegetação nativa no Sistema Integrado com apicultura no Ceará


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