Manejo

PRESERVAÇÃO DE ABELHA SEM FERRÃO NO SEMI-ÁRIDO ATRAVÉS DA CRIAÇÃO RACIONAL¹

FREITAS², M. F.; MARINHO³, I. V.; GUILHERME4, R. F.; CALDAS4, A. L.
1. Projeto de Extensão: Criação de Meliponíneos no Semi-árido. DEF/CSTR/UFPB/PRAC e SEBRAE.
2. Profa. Adjunto do Departamento de Eng. Florestal da UFPB - Campus VII, Patos-PB. (83)421.3397.
3. Aluno de Eng. Florestal bolsista do PROBEX - PRAC/UFPB.
4. Aluno extencionista colaborador.
Universidade Federal da Paraíba - Campus VII - Patos, PB
Bairro do Jatobá, s/n Patos, PB Fone: (83)421.3397


PALAVRAS-CHAVE: Abelha, meliponíneos, semi-árido.

INTRODUÇÃO


Os meliponíneos são abelhas que ocorrem nos trópicos e apresentam grande diversidade na região neotropical (América do Sul e Central). Na região semi-árida do Brasil são muito apreciadas e conhecidas pelos nomes populares de jandaíra, breu, moça branca, canudo, jati, arapuá, uruçu e outros. Por serem sem ferrão e de um modo geral não agressivas, são bastante aceitas nas propriedades rurais nordestinas.

Segundo relatos populares há não muito tempo, nesta região, encontravam-se facilmente na Caatinga colmeias alojadas em troncos de árvores nativas como cumaru, angico, catingueira, marmeleiro, pereiro, imburana e outras.

Apesar da utilidade dos meliponíneos, eles estão ficando cada vez mais raros na natureza, chegando em alguns locais ao desaparecimento de várias espécies, por exemplo na região do Seridó do Rio Grande do Norte. Os fatores que determinam este desapa-recimento são provavelmente a intensa destruição da Caatinga, a exploração irracional das colmeias e a expansão da abelha africanizada.

Portanto, foi feito este trabalho com o intuito de estimular a meliponicultura da região, através da identificação dos principais meliponicultores e diagnóstico dos problemas enfrentados na criação destas abelhas, bem como estudo de soluções viáveis para um melhor manejo das colmeias.

OBJETIVO GERAL

Ampliar o conhecimento acerca dos meliponíneos ocorrentes na região semi-árida, especialmente quanto ao seu manejo, visando obter técnicas que tornem mais viáveis e mais prática a criação destas abelhas, para um melhor aproveitamento de seus produtos, aliados a conservação e obtenção de lucros.

DESENVOLVIMENTO MATERIAIS E MÉTODOS

O trabalho foi iniciado com a identificação dos principais meliponicultores da região, através dos órgãos EMATER, imprensa falada e comunicação pessoal. Todos os meliponicultores foram catalogados em uma ficha, contendo: dados pessoais, dados sobre a propriedade e seus conhecimentos sobre as abelhas sem ferrão, utilização dos produtos, finalidade, mercadologia, forma de criação e problemas associados à criação e manejo das abelhas.

Foi implantado um núcleo de meliponicultura na UFPB-Campus VII, Patos-PB, para pesquisar e acompanhar o desenvolvimento de uma criação racional, com vistas a dar suporte necessário aos produtores, estudar as espécies mais promissoras da região, promover sua disseminação e desenvolver técnicas de manipulação mais adequadas, mediante os problemas citados pelos meliponicultores.

As abelhas são criadas em cortiços de cumaru (mais utilizado), pereiro, angico e favela (espécies mais comuns), nas seguintes dimensões: 80x10x9cm, e em outras variações de tamanho, conforme foram adquiridas mediante compra dos primeiros cortiços.

Inicialmente as colmeias foram instaladas embaixo de árvores e alpendres e atualmente em um meliponário com suportes de cano e ferro. (Figura 01).

Manejo
Suporte de cano e ferro com colmeia de Jandaíra
(Melipona subnitida). Meliponário do CSTR/UFPB
SERVIÇOS PRESTADOS

Divulgação do trabalho através da imprensa falada (rádio local) e escrita (folder), e palestras proferidas em comunidades rurais e urbanas.

Difusão através da implantação de colmeias em propriedades rurais e visitas aos locais com meliponários já implantados. (Figura 02).

Manejo
Instalação de colmeia de Jandaíra em
comunidade rural atendida pelo projeto.
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram identificados 04 (quatro) meliponicultores no sertão e seridó, entre outros que conservam menos de 07 (sete) colmeias em suas propriedades. Os principais estão localizados nos municípios de: Santa Luzia - PB; Desterro de Teixeira - PB; Jardim do Seridó - RN e Ouro Branco - RN. Os meliponários da região possuem entre 08 (oito) e 64 (sessenta e quatro) anos, sendo que um dos meliponicultores utiliza técnicas mais modernas de criação e outros ainda as cultivam em troncos, passados de pai para filho.

As espécies criadas pelos meliponicultores são: canudo (Scaptotrigona sp.), tubiba (Trigona sp.), jati (Tetragonisca sp.), rajada ou cabeça branca (Melipona sp.), moça branca ou amarela (Frieseomellita sp.), breu ou zamboque (Melipona sp.), mandurí (Melipona sp.), cupira (Partamona sp.), mosquito (Plebeia sp.) e jandaíra (Melipona subnitida). Sendo que, 02 (duas) espécies foram consideradas mais viáveis para fins lucrativos, por ter maior ocorrência na região e se adaptam melhor às condições adversas do meio e mais promissoras quando multiplicadas. São elas: jandaíra (Melipona subnitida) que ocorre em regiões de baixas altitudes, e a abelha canudo (Scaptotrigona sp.) que ocorre em regiões serranas.

A comercialização dos produtos dos meliponíneos ainda é pouco utilizada na região, devido a escassez dos mesmos, a pouca divulgação da existência dos meliponários e a falta de conhecimento do produtor rural com relação ao manejo adequado, principalmente quanto a habilidade da multiplicação de meliponíneos na natureza. Os produtos mais comercializados são: mel, colmeias encortiçadas e em troncos, cortiços e cera. Os preços dos produtos variam muito e dependem da qualidade. Esta qualidade está diretamente relacionada com o manejo adequado das colmeias.

Salientamos que o mel das abelhas sem ferrão é muito procurado na região, com preços cinco vezes maior que o mel de Apis mellifera, devido o seu valor medicinal e em épocas de estiagem, a demanda é superior à oferta, o que eleva o preço mais ainda.

As floradas é um dos fatores limitantes para o processo de produção e qualidade do mel. A seguir estão relacionadas as principais espécies vegetais, citadas pelos produtores, e que são utilizadas pelas abelhas sem ferrão, na busca pelo néctar, pólen, alojamento e ninho. Observa-se que a malva é uma das espécies preferidas e ocorre com muita freqüência, a imburana de cambão é a mais procurada para alojamento.

1. Amarra cachorro (Bromelia sp.)
2. Angico (Anadenanthera macrocarpa)
3. Aroeira (Astronium urundeuva)
4. Catingueira (Caesalpinia pyramidalis)
5. Cumaru (Amburana cearensis)
6. Favela (Cnidoscolus phyllacanthus)
7. Jitirana (Ipomaeia acuminata)
8. Imburana de cambão (Bursera leptophloeos)
9. Juazeiro (Ziziphus joazeiro)
10. Jurema (Acacia bahiensis)
11. Leucena (Leucaena glauca)
12. Malva (Sida sp.)
13. Maniçoba (Manihot glaziovii)
14. Mofumbo (Combretum leprosum)
15. Mussambê (Cleome spinosa)
16. Pereiro (Aspidosperma pyrifolium)
17. Perpetua ou cabeça de velho ou flor roxa
18. Timbaúba ou tambor ou orelha de negro (Enterolobium contortisiliquum)
19. Umbuzeiro (Spondias tuberosa)

PRINCIPAIS PROBLEMAS DETECTADOS NA CRIAÇÃO DE ABELHAS SEM FERRÃO

1.Caixa de criação. O modelo tradicionalmente utilizado implica em prejuízos, devido a injúrias provocadas na abertura da caixa, manuseio e colheita do mel.

2.Alimentação artificial. Detectamos prejuízos enormes na forma de oferecimento de alimentação artificial, devido a abertura freqüente da caixa. Quando alimentadas através de funil, sem abertura da caixa, verificamos que ocorre morte das abelhas por afogamento. A alta umidade da caixa por esta prática provoca também, o aparecimento de fungos e conseqüentemente morte de colmeias.

3. Qualidade do mel. Detectamos que o mel tende a fermentar em temperatura ambiente após 15 dias e em geladeira após 30 dias, devido a falta de assepsia na coleta e esterilização dos recipientes.

4. Problemas com inimigos naturais. Predadores: pássaros, lagartixas, libélulas, aranhas e intrusos (coleópteros e formigas, que roubam o mel).

SOLUÇÕES ENCONTRADAS PARA OS PRINCIPAIS PROBLEMAS

Caixa de criação

Os modelos de caixas mais utilizados são os de formas redondas e retangulares, sendo que um dos produtores cita que nos cortiços de formato redondo as abelhas produzem mais mel.

A partir das observações de campo e testes em laboratório, chegou-se a um modelo de caixa que soluciona os principais problemas encontrados pelos produtores, cujas dimensões são: 80 cm de comprimento por 07 cm de largura interna por 10 cm de largura externa e 09 cm de altura. Na caixa projetou-se um corte para se separar o local de produção do restante da caixa (armazenamento e ninho), de forma que para se coletar o mel, retira-se apenas uma parte da caixa. Desta forma, nem as crias, nem a abelha rainha são incomodadas durante o processo de coleta do mel. As vistorias também podem ser feitas independentes, visto que as tampas também são separadas.

Este tipo de caixa foi divulgada entre os meliponicultores e esta sendo bastante aceita. (Figura 03)

Manejo
Caixa de criação de abelha Jandaíra,
desenvolvida pela Profa. Freitas/UFPB
Alimentação artificial.

Os produtos mais utilizados são: solução de mel de abelhas apis mais água em proporções variáveis (50%, mais utilizado), (Figura 04), e xarope de água com açúcar mais vitamina Tetagram M.

Manejo
Alimentador artificial (de vidro) utilizado
no meliponário do CSTR/UFPB
A solução encontrada para evitar os problemas citados no oferecimento de alimentação artificial, consiste em colocar a alimentação em um tubo de ensaio de 18 cm de comprimento, tamponado com algodão até o nível da solução envolvido com papel escuro. A extremidade aberta do tubo é introduzida no orifício de retirada do mel da caixa e vedado com cera ou fita adesiva. Constatou-se as seguintes vantagens:

Boa aceitação pelas abelhas;

Facilidade de coleta da alimentação pelas abelhas;

Não provoca mortes por afogamento;

Evita contaminação por fungos;

Não necessita abrir a caixa durante a alimentação;

Evita a concorrência (outras abelhas - apis - e formigas).

Observações: o produtor rural pode utilizar mangueira plástica em vez do tubo de ensaio (este material está sendo testado e já utilizado).

Quando retira-se o alimentador artificial, tampa-se o orifício com cortiça.

CONCLUSÕES

A criação de abelhas sem ferrão com fins lucrativos no semi-árido, depende de:

- Estudos adequados de técnicas de manejo;

- Desenvolvimento de novas técnicas de alimentação artificial e aperfeiçoamento das já utilizadas;

- Implantação de cursos de extensão sobre educação ambiental (preservação da natureza - vegetação e das próprias abelhas);

- E cuidados específicos, como: manter certa distância entre colmeias de abelhas sem ferrão e abelhas do gênero Apis; uso de agrotóxicos, incêndios.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREITAS, M. F.; FERREIRA, F. C. V.; ROCHA, L. M. Inserção Da Extensão Em Meliponicultura No Sertão Do Seridó. Caderno de resumos do II Encontro de Extensão Universitária. João Pessoa: Ed. Universitária. 1995.

FREITAS, M. F.; ROCHA, L. M.; GUILHERME, R. F. Estudo Da Abelha Sem Ferrão, Como Uma Alternativa Para O Produtor Rural No Sertão Paraibano. Caderno de resumos do III Encontro de Extensão Universitária. João Pessoa: Ed. Universitária. 1996.

GUILHERME, R. F.; FREITAS, M. F. Difusão De Abelhas Sem Ferrão, Jandaíra (Melipona subnitida), No Semi-árido Nordestino. Caderno de resumos do V Encontro de Extensão Universitária. 1999.

KERR, W. E.; CARVALHO, G. A. & NASCIMENTO, V. A. Abelha uruçu: Biologia, Manejo e Conservação. Livre Patrocínio: Fundação Banco do Brasil e Universidade Federal de Uberlândia. Publicação 2 da Fundação Ancagau, Belo Horizonte (MG). 143p. 1996.

NOGUEIRA-NETO, P.(A) A criação de abelhas indígenas sem ferrão. 2a ED. Editora Tecnápis, São Paulo 365p. 1970.

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