Palestra
 

OS SISTEMAS NA CASA DA ABELHA

Tradução feita pelo sócio João Sobenko de matéria publicada na revista L'Abeille de France et l'apiculteur, n. 862 - setembro 2000, referente a conferencia proferida por M. Gerard ARNOLD.

M. ARNOLD apresentou sua exposição sobre as abelhas em três partes:
1 - A origem e a evolução das abelhas;
2 - A organização social;
3 - Os sistemas de comunicação.

Novas Tendências da Pesquisa em Própolis Brasileira


1 - ORIGEM E EVOLUÇÃO


As abelhas sociais existem desde 20 milhões de anos, mas elas foram precedidas de abelhas solitárias. Elas são muito anteriores ao homem.

Estima-se que existem 12.000 espécies de abelhas no mundo, a maioria são solitárias.Entre as abelhas solitárias e as abelhas Apis mellifera, estas que conhecemos, há diferentes níveis de organização.

Umas são gregárias, isto é, que se agrupam em pequeno número. Outras constituem colônias sociais anuais.

Para remeter a evolução social da abelha doméstica:

- No estado natural, nossa abelha só existe na Europa, na África e uma parte da Ásia, ela é ausente na América. Ela existe na América por ter sido importada pelos colonos a partir do século XVI.

- Há várias outras espécies primas da nossa abelha doméstica, são todas localizadas no sudoeste da Ásia. Para manter as espécies, a natureza dotou os machos de órgãos genitais muito diferentes, o que os impede de fecundar rainhas que não sejam da mesma espécie. Observadores têm reparado que os machos dessas abelhas: Apis cerana; Apis koschevnikov, Apis dorsata (abelha gigante da Índia), Apís florea (abelha da Ásia muito miúda) não saem nas mesmas horas do dia, o que limita os encontros com as rainhas virgens de outras espécies.

A abelha doméstica, Apis mellifera, abrange 24 raças.

Apis é o gênero, mellifera é a espécie e o terceiro é a raça.(a designação é habitualmente seguida do nome do entomologista que fez sua classificação).

Na França, é sobretudo a Apis mellifera mellifera que é explorada.

-Apis mellifera mellifera: é preta, originária da Europa, está bem adaptada ao clima e a flora européia.

- Apis mellifera ligustica: é a abelha amarela italiana.

- Apis mellifera carniça: é a abelha escura da Áustria, originária de Carniole, nos Balcãos.

Anote-se: Apis mellifera scutellata do leste da África, são abelhas muito agressivas que, introduzidas no Brasil, cujas criações mal controladas, formaram as abelhas africanizadas que alguns chamam de abelhas assassinas.

2 - organização Social

A rainha tem uma duração de vida de 3 a 5 anos: é fecundada por 6 a 20 machos no seu vôo nupcial. Esta propriedade de ser fecundada por vários machos tem importantes consequências para a organização interna da colônia.

A rainha tem duas funções:

Por sua postura, ela assegura a perenidade da colônia.

Por seu cheiro, ela assegura a coesão.

Na sua postura, a rainha inspeciona a célula antes de botar. Se é uma célula de operária , os espermatozóides saem da espermateca para fecundar o óvulo que dará uma fêmea: seja uma rainha ou uma operária.

Se for uma célula de macho, o ovo não receberá espermatozóides, não será fecundado e dará um macho.

Os machos nascem na primavera e no verão, não vivem muito tempo. Seus olhos e suas antenas não muito desenvolvidos, o que lhes permite observar as rainhas virgens a grandes distâncias.

Os machos se enganam facilmente de colméia. Agindo assim, os machos são suscetíveis de transmitir parasitas.

Os machos se reúnem em congregação e formam "os bailes dos machos" junto às árvores bem altas e, desse lugar, eles aguardam as rainhas virgens que saem em seu vôo nupcial.

Após os belos dias, os machos são expulsos das colméias.

As operárias têm durabilidade de vida muito diferente conforme são abelhas da primavera/verão cuja durabilidade de vida é de algumas semanas, ao passo que as abelhas do inverno, que são de uma constituição muito diferente, têm uma durabilidade de vida de vários meses.

Na colônia, existem operárias que são "super irmãs", porque nasceram do mesmo pai, elas possuem 75% de genes em comum, as outras irmãs nascidas de pais diferentes têm somente 25% de genes em comum, o que implica em comportamentos geneticamente diferentes no seio da mesma colônia.

Observa-se frequentemente um desvio quando as abelhas retornam às suas colméias.

Quando as colméias estão alinhadas, as do centro se despovoam em proveito das colméias colocadas nas extremidades. Um estudo tem demonstrado um desvio que pode chegar até a 40%.

Nas experiências sobre o desvio, foram encontradas abelhas marcadas em colméias situadas a um quilômetro da sua colméia inicial o que mostra que as guardiãs não são muito vigilantes para as abelhas que trazem comida para a colméia. É também uma das causas de transmissão de parasitas de uma colméia para outra.

As operárias cumprem todas as tarefas da colônia, exceto a postura que é reservada à rainha.

A divisão do trabalho é feita em função da idade das operárias e do seu desenvolvimento biológico.

Todavia descobertas recentes demonstram que as operárias poderiam se especializar mais particularmente numa função da sua fraternidade.

A primeira tarefa de uma abelha nascente é de limpar as células ao redor da zona de onde emergiu.

Os cinco primeiros dias de sua vida a abelha é limpadora.

Os cinco dias seguintes ela é uma nutriz

Para tornar-se em seguida uma armazenadora.

Pelo vigésimo dia, quando sua glândula de veneno está bem desenvolvida, ela será eventualmente guardiã

O restante da sua vida ela será campeira.

Ao contrário das idéias recebidas, as abelhas passam muito tempo em repouso, seriam as abelhas "em reserva de disponibilidade" para intervir rapidamente, seja em defesa, seja em colheita.

3- OS SISTEMAS DE COMUNICAÇÃO

A comunicação se faz por danças, cheiros e sons.

Danças:

Há pelo menos 8 espécies de danças, mas as mais estudadas são a dança circular e a dança remexida.

A dança circular: fonte de néctar ou de pólen a menos de 15 metros, a indicação da distância é supérflua. Quanto mais é vivaz a agitação, mais a colheita é abundante.

A dança em foice: ela é a transição entre a dança circular e a dança do oito. Assinala a fonte de colheita a mais de 15 metros e menos de 60 metros.

A dança em 8 ou dança remexida:

A direção da fonte de colheita é indicada pelo eixo do oito, a vertical indicando a direção do Sol.

A distância é indicada pelos remeximentos mais ou menos rápidos e o tempo que coloca a abelha para completar o oito.

A regurgitação de uma "amostra" de néctar mostra a natureza da fonte de comida.

A dança tremente para diminuir a cadência das campeiras e para mobilizar as abelhas "em reserva" para ajudar as armazenadoras.

Esta dança freia a colheita enquanto que a dança em oito a estimula.

A dança desarrumada: as abelhas que entram na colméia empurram as outras na passagem, isto parece querer dizer que elas possuem uma comunicação a fazer e que elas vão dançar.

A dança com zumbido: a abelha corre sobre os quadros batendo as asas, o que seria para estimular a partida de um enxame.

A dança intermitente: a abelha que entra na colméia regurgita uma parte da colheita fazendo aos mesmo tempo movimentos com o abdômen da esquerda para a direita, isto seja talvez para estimular as abelhas "em alerta" para ir à colheita.

A dança dorso-ventral: a abelha levanta e abaixa o abdômen, a significação desta dança não está ainda estabelecida.

O balanceamento: a abelha que balança de um lado para outro parece pedir limpeza, isto seria um modo de se desvencilhar da varroa como fazem as abelhas asiáticas.

Em 1987, Michelsen e Kirchner criaram um robô pilotado por micro-ordenador que reproduz a dança das abelhas e dirige as operárias para as fontes alimentares escolhidas pelo experimentador. A experiência demonstrou que quanto as emissões sonoras são interrompidas, não se recruta mais abelhas

OS CHEIROS

Os cheiros permitem comunicar-se na escuridão da colméia. São designados pelo nome de feromônios.

Os feromônios são secreções glandulares expelidas para fora do organismo de um indivíduo e que recebidos por um indivíduo da mesma espécie, provocam neste último, uma modificação do seu compor-tamento(estimulação ou inibição) ou de sua fisiologia.

Os feromônios são emitidos por: rainha, operárias e crias.

O feromônio da rainha: descoberto em 1960, é segregado pelas glândulas mandibulares situadas na cabeça da rainha. Ele age sobre os machos. No seu vôo nupcial, a rainha emite cheiros que os machos percebem a 100 metros. Quando eles se aproximam percebem ainda um cheiro afrodisíaco que os estimula.

Existem atualmente odores de rainha sintéticos que permitem estabilizar colméias órfãs.

O feromônio da rainha age também sobre as operárias, não somente sobre seu comportamento: coesão, construção de células reais, enxameação, mas também sobre a sua fisiologia inibindo o desenvolvimento de seus ovários.

Parece que a necessidade de enxameação não seja comandada pela rainha mas isso provêm do fato que, a rainha não possa mais fornecer suficientemente feromônio para inibir a construção de realeiras.

Os feromônios das operárias:

O feromônio das operárias de chamamento ou de reagrupamento é produzido pela glândula Nasanof.

O feromônio de alarme emitido quando uma abelha pica.

O feromônio de marcação emitido pelas glândulas tarsais de suas patas.

Os feromônios das crias:

Os feromônios das larvas condicionam seu alimento de acordo com a sua idade e seu sexo. Eles estimulam a colheita. A presença de larvas inibe o desenvolvimento dos ovários das operárias mesmo na ausência da rainha.

Parece que a Varroa percebe estes feromônios, o que a dirige às células onde ela poderá se desenvolver.

Os feromônios são detectados pelas antenas dos insetos. As abelhas dispõem de quase a mesma possibilidade olfativa que o homem.

Os Sons:

A teoria atual é que o canto das rainhas evitaria um combate entre as rainhas ou que a primeira nascida não matasse suas irmãs para manter o monopólio da colméia.

Operárias emitem sons no momento das danças, mas ainda não somos capazes de compreender tudo. Alguns sons dão indicação sobre a qualidade da colheita que pode ser feita.

O som agudo manifesta a cólera das operárias que querem picar.

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