INTRODUÇÃO:
De acordo com Alves (1996), a meliponicultura constitui-se numa
atividade tradicional em quase todas as regiões. O desenvolvimento
desta prática ao longo do tempo por pequenos e médios produtores,
desperta grande interesse devido ao alto valor dos produtos no
mercado e a facilidade de manejo, propiciando retorno garantido do
investimento e baixo risco.
No Brasil, a criação de abelhas indígenas sem ferrão é praticada
primordialmente no Nordeste com algumas espécies do gênero
Melipona, que apresentam um porte avantajado e armazenam boa
quantidade de mel. Esta prática tem contribuído para um melhor
conhecimento dos hábitos das abelhas sem ferrão, e conseqüentemente
na sua preservação.(Cortopassi-Laurino & Macedo,1998).
Segundo Campos et al.(1987), taxonomicamente, as abelhas
denominadas de Uruçu pertencem à ordem Hymenoptera; subordem
Apocrita; superfamília Apoidea; família Apidae; subfamília
Meliponinae; gênero Melipona; espécie Melipona scutellaris.
A uruçu (Melipona scutellaris) é uma abelha nativa sem ferrão,
típica da região do nordeste brasileiro, adaptada na microrregião
do brejo paraibano.
Campos (1996) afirma que as abelhas da subfamília Meliponinae,
popularmente conhecida por abelhas indígenas sem ferrão; assim
chamada por possuírem o ferrão atrofiado e incapazes de ferroar,
fazem parte do principal grupo de abelhas sociais nativas do
Brasil.
Como afirma Fonseca (1998) estas abelhas são importantes para os
apicultores, porque embora criem a espécie Apis mellifera, muitos
apreciam e conhecem outros tipos de abelhas sociais. Seus ninhos
característicos e a facilidade no manejo, fazem dessas abelhas
quase um mascote dos criadores de abelhas. São importantes na
manutenção da vegetação de áreas naturais, visitando e polinizando
as plantas.
É grande a diferenciação entre as abelhas indígenas sem ferrão
(meliponíneos) e as abelhas africanizadas (Apis mellifera). As
construções dos ninhos das abelhas nativas são em plena natureza,
porém em locais adequados como pendurados em galhos de arvores,
ocos dos troncos de árvores, buracos no solo, enquanto que as
abelhas do gênero Apis são criadas em colméias racionais. As
nativas também se adaptam em caixas racionais, de forma que imitem
os habitats naturais, sabendo-se que não são todas as espécies
adaptáveis ao sistema racional (Fabichak, s.d.).
De acordo com Campos (1987), ele observou que os meliponíneos
apresentam uma enorme variedade morfológica e de hábitos; enquanto
algumas Melipona atingem tamanhos semelhantes ao de Apis mellifera,
existem outras espécies que estão entre as menores abelhas
conhecidas, como é o caso das Trigonini.
Relatos de Campos (1996) afirmam que todos os meliponíneos
apresentam colônias perenes, são eussociais. Em uma colméia
encontram-se operárias, que executam várias atividades: cuidam das
crias, coletam e processam o alimento, cuidam da própria higiene,
constróem os favos, potes, invólucro, limpam o ninho, defendem a
colônia e a rainha. As tarefas desenvolvidas pelas operárias variam
de acordo com a idade e as necessidades da própria colônia.
Segundo Duay (1996), o apicultor sabe que uma colméia forte
produzirá mais que uma colméia fraca. Porém, existem inúmeras
causas que provocam este estado nas colméias, como por exemplo
idade da rainha, enfermidade na colônia, manejo, número de
operárias campeiras, e tamanho do enxame no momento da captura.
As abelhas sem ferrão têm sempre uma entrada característica, de tal
forma que, olhando apenas a entrada, geralmente podemos saber qual
a espécie que vive naquele ninho (Fonseca,1998).
Campos (1987), diz que o gênero Melipona, não possui realeiras e
portanto as rainhas emergem de células do mesmo tamanho daquelas de
onde emergem operárias e zangões. A determinação das castas é
genético-alimentar, sendo que as abelhas que possuem potencialidade
genética para dar origem a rainha só originarão as mesmas se
receberem uma quantidade adequada de alimento. Em Melipona não
existem células de aprisionamento de rainhas. Os zangões são
produzidos em grande número em certas épocas do ano, quando as
colméias são bastante populosas.
Um dos mecanismos para defesa mais comum entre as abelhas nativas é
o hábito de enrolar-se nos pêlos dos seus agressores, beliscando a
pele com as mandíbulas, grudando resina e tentando entrar nas
narinas e ouvidos (Campos, 1996).
Para Kerr et al (1996) outro mecanismo de defesa de várias espécies
de meliponíneos, dentre eles a Melipona scutellaris é conseguir
imitar a coloração de outros insetos agressivos, estando dessa
maneira protegidos contra os ataques dos inimigos.
Sabendo-se que as abelhas nativas são pouco estudadas, objetivou-se
com este trabalho diagnosticar o crescimento da arquitetura dos
ninhos de Melipona scutellaris associados à coleta de pólen pelas
campeiras.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi desenvolvido no setor de Apicultura do DZ/CCA/UFPB
Campus III, no período compreendido entre 21/01 e 03/03/1999.
Utilizou-se quatro colmeias de abelha uruçu (Melipona scutellaris),
sendo duas colmeias fortes e duas fracas.
Ao longo do período experimental, foram observados os seguintes
parâmetros:
a) número de favos: Para este parâmetro, em todas as observações
semanais, os favos de cada colmeia eram contados e anotados para
posterior avaliação;
b) número de potes de mel: Da mesma forma como descrito
anteriormente, os potes que continham mel eram contados a cada
observação e anotados os números em planilhas para posterior
cálculo;
c) número de potes de pólen: idem ao descrito anteriormente;
d) quantidade de potes vazios: Todos os potes construídos porém que
estivessem vazios, eram contados e anotados nas observações
semanais para posterior avaliação dos dados;
e) atividade das abelhas campeiras: Para este parâmetro,
observou-se o número de abelhas operárias que entravam com pólen.
Para este último parâmetro três diferentes horários do dia foram
escolhidos, sendo às 7:00h; 11:00 e 16:00h, nos quais fazia-se duas
horas de observação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Através dos dados obtidos observou-se que as colméias foram
bastante semelhantes para o crescimento ou construção dos potes e
favos. Observou-se que o número de favos de crias triplicou durante
o período observado (21/01 a 03/03/1999). O número de potes de
pólen aumentou duas vezes neste mesmo período.
Através dos gráficos nota-se que o período de maior coleta de pólen
acontece no horário de 7:00h, apresentando um número muito maior de
campeiras que chegavam com pólen na colméia, sugerindo uma
semelhança no horário de coleta com as africanizadas.
Estes dados sugerem que a flora apícola da região nesta época
estava propícia à colheita.
Outro dado importante é o aumento também em número de potes vazios,
sugerindo o crescimento da colméia através da construção de potes
para armazenamento de mel e pólen.
No gráfico 1 (colméia forte) observa-se que o movimento de abelhas
foi diferente nos diversos horários do dia, onde nota-se que 400
abelhas campeiras entraram com pólen na colméia no horário de
7:00h. Esse número diminui muito quando se analisam os horários de
11:00 e 16:00h, em que o número de abelhas cai para apenas 100
durante as 2 horas de observação.
Quando se analisa o gráfico 2, que corresponde à uma colméia fraca,
observa-se que no horário de 7:00h houve uma grande movimentação de
aproximadamente 400 abelhas coletando pólen durante as 2 horas de
observação na primeira e segunda semanas.
No entanto, na terceira semana de observação ocorreu uma queda
muito grande no número de campeiras com pólen, podendo ser
explicado pela ausência de plantas fornecedoras de pólen na região
do meliponário, tendo em vista que ocorre uma queda também nos
horários de 11:00 e 16:00h. Quando analisa-se o gráfico na quarta e
quinta semanas vê-se que há novamente um ganho em termos de coleta
de pólen com as abelhas chegando a atingir a média de 300 campeiras
com pólen nas 2 horas de observação.
Pelo presente trabalho nota-se ainda que não houve diferença no
número de abelhas forrageadoras entre a colméia forte e a fraca,
com exceção da terceira semana em que houve uma queda acentuada na
coleta de pólen para a colméia fraca e o mesmo não acontecendo com
a colméia forte.
Observando a fig.1 (referente à colméia fraca) em que expressa a
evolução da colméia com relação aos parâmetros analisados, nota-se
que o número de potes de mel aumentou de 7 para 24 no período
experimental e também que todos os demais parâmetros tiveram uma
evolução em números durante o período experimental.
Quando se faz a análise da fig.1 e do gráfico 2 nota-se uma queda
no crescimento dos potes de mel quando houve uma queda na coleta de
pólen.
Observa-se na fig.2 (colméia forte) que houve um aumento no
crescimento da colméia verificando um aumento no número de potes
vazios, potes de pólen e numero de favos. Fica claro também que há
um aumento do número de potes de mel na primeira semana diminuindo
a partir da segunda semana de observação.
CONCLUSÕES:
As abelhas da colmeia de Melipona scutellaris triplicaram a
construção de potes de armazenamento de alimento em 41 dias;
As abelhas campeirasatuam em maior número fazendo a coleta de
alimento no primeiro horário da manhã (7:00h);
4 Existe uma relação direta entre a entrada de pólen na colmeia e o
crescimento na arquitetura do ninho
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
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