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Mel: Exportações Brasileiras Se Consolidam E Participação Nordestina Aumenta

O valor das exportações de mel brasileiro em 2003 ultrapassou os 39,4 milhões de dólares, aproximando nosso país dos líderes do mercado mundial1. Com vendas externas de apenas 2,8 milhões de dólares, em 2001, o Brasil não aparecia na lista dos maiores exportadores mundiais (com 1% ou pouco mais do total). Já em 2002, o país surge como o nono maior exportador, com 23,1 milhões de dólares, ultrapassando países como Vietnã, Austrália, Uruguai, Romênia, Índia, França, Itália, e outros 2.

A China é o maior produtor mundial de mel (267,8 mil toneladas, em 2002), quantidade três vezes maior que a produzida pela Argentina (85 mil toneladas no mesmo ano), que se recuperou do mau desempenho de anos anteriores e reassumiu a liderança do mercado mundial. Os Estados Unidos ocupam o terceiro lugar na produção e são os maiores importadores mundiais (disputam e se alternam na posição com a Alemanha) (tabela 1).

Tabela 1: Principais países produtores, exportadores e importadores de mel, 2002

Exportações

US$1000

Importações

US$1000

Produção

toneladas

Argentina

114.170

Estados Unidos

165.706

China

267.830

China

80.889

Alemanha

161.609

Argentina

85.000

México

65.013

Japão

56.362

Estados Unidos

77.611

Canadá

57.155

Reino Unido

51.695

Turquia

60.190

Alemanha

53.465

França

35.889

México

58.890

Hungria

36.605

Itália

27.900

Índia

52.000

Espanha

31.983

Arábia Saudita

19.751

Ucrânia

51.144

Turquia

30.687

Bélgica

17.415

Rússia

49.400

Brasil

23.141

Espanha

16.919

Canadá

33.297

Vietnã

17.982

Canadá

14.856

Espanha

33.000

Austrália

16.281

Suíça

14.401

Etiópia

29.000

Uruguai

14.654

Holanda

12.198

Irã

28.045

Romênia

12.359

Áustria

11.933

Tanzânia

26.500

Índia

10.880

Dinamarca

8.464

Coréia

25.500

França

10.568

Austrália

7.840

  Angola

23.000

Itália

9.731

Suécia

6.606

Austrália

22.000

Bélgica

9.625

Grécia

5.308

Brasil

22.000

Chile

9.300

Emirados Árabes

4.964

Alemanha

22.000

Nova Zelândia

9.062

Polônia

4.860

Quênia

22.000

Estados Unidos

6.861

Tailândia

4.350

 

 

Subtotal

620.411

Subtotal

649.026

Subtotal

988.407

Outros

77.036

Outros

54.182

Outros

269.671

Total

697.447

Total

703.208

Total

1.258.078


Fonte: FAO-ONU

Alguns países parecem exportar mais do que produzem, casos de Argentina, México, Canadá, Alemanha e Hungria, entre os maiores. Alguns deles possuem estruturas tradicionais, através das quais importam mel mais barato, misturam com suas produções e reexportam o produto com marca própria. Finalmente, alguns países da África e da Ásia são grandes produtores e consumidores, constituindo-se o mel em importante alimento para a sobrevivência de suas populações.

A Alemanha, em 2003, retomou o papel de principal importador do mel brasileiro, perdido, em 2002, para os Estados Unidos. O valor de 20,9 milhões de dólares das aquisições germânicas foi mais que o dobro do valor registrado em 2002 e quase dez vezes o de 2001. A disputa internacional pelo produto brasileiro elevou o seu preço, de US$ 1,13 o quilo em 2001 para US$ 2,34/kg em 2003. Reino Unido, Bélgica e Espanha também incrementaram significativamente suas compras, contribuindo para o excelente desempenho brasileiro (tabela 2).

Tabela 2: Exportações brasileiras de mel, por país, 2001 a 2003

 

2001

2002

2003

2003/02

 .

Valor

Preço

Valor

Preço

Valor

Preço

Valor

Preço

País

US$ 1.000

US$/ton

US$ 1.000

US$/ton

US$ 1.000

US$/ton

%

%

ALEMANHA

2.342,99

1,11

9.036,02

1,68

20.927,21

2,34

131,6

39,8

ESTADOS UNIDOS

329,07

1,12

12.417,86

2,02

14.514,55

2,35

16,9

16,1

REINO UNIDO

0,00

---

1.051,56

1,50

2.387,61

2,30

127,1

53,5

BELGICA

0,00

---

375,98

1,68

525,25

2,41

39,7

43,3

ESPANHA

52,83

1,29

117,32

1,14

492,07

2,22

319,4

94,2

Outros

84,47

1,75

142,48

1,77

603,69

2,41

323,7

36,3

Total

2.809,35

1,13

23.141,22

1,83

39.450,39

2,34

70,5

27,9


Fonte: SECEX-MDIC

O Estado de São Paulo foi responsável por mais de 30% do mel exportado pelo Brasil, em 2003. No entanto, a expansão do valor do produto expedido por firmas paulistas foi de 'apenas' 22,7 %, em relação a 2002, enquanto o Piauí atingiu 436,3% (Estado que não exportou nada em 2001!), Paraná, 116,1%; Santa Catarina, 75,5%; Ceará, 46,3%; e outros estados, 597,5%. Com isso, as empresas paulistas, que foram as primeiras a reunir grandes quantidades de mel para enviar ao exterior, mantiveram a hegemonia, mas perderam participação relativa (tabela 3).

Tabela 3: Exportações brasileiras de mel, por estado, 2001 a 2003

 

2001

2002

2003

Variação 2002-03

Estado

Valor em US$ 1.000

%

SAO PAULO

249,63

10.348,74

12.699,80

22,7

SANTA CATARINA

2.042,32

4.634,32

8.131,75

75,5

PIAUI

0,00

1.278,35

6.856,42

436,3

CEARA

236,89

3.461,95

5.064,21

46,3

PARANA

146,53

1.682,30

3.635,31

116,1

MINAS GERAIS

50,23

1.568,41

1.897,02

21,0

Outros

83,76

167,16

1.165,88

597,5

Total

2.809,35

23.141,22

39.450,39

70,5


Fonte: SECEX-MDIC

O Estado de São Paulo respondeu mais rapidamente à conjuntura favorável às exportações, comercializando mel adquirido inclusive no Nordeste, segundo Etelvina Conceição Almeida da Silva3, professora de apicultura da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC)4, Bahia, e produtora de rainhas selecionadas, fecundas e marcadas3. 'Ocorre que a produção de mel é pouco elástica, ou seja, não se pode elevá-la rapidamente dobrando o turno ou a área cultivada.' Ela diz que testemunhou, ao longo de 2002/03, uma acirrada competição entre compradores para adquirir o mel principalmente do Ceará e do Piauí. 'Agora, a situação mudou. Os produtores do Nordeste se organizaram e estão exportando diretamente, com grande apoio governamental.'

Produção brasileira

De 1999 a 2002, a produção brasileira de mel natural aumentou 21,49%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)5 que ainda não divulgou os dados de 2003. Este crescimento representa a média da grande expansão da atividade no Nordeste (+99%), que evoluiu de uma participação de 14% do total nacional para 23%, e da modesta expansão sulina (+3,44%), o que reduziu sua participação de 60% para 51% (tabelas 4 e 5).

Tabela 4: Produção de mel natural, Brasil, Estados e Regiões, 1999 a 2002

Brasil e Estados

Kg/Ano

Variação (%)

 

1999

2000

2001

2002

2002/1999

Brasil

19.751.097

21.865.144

22.219.675

23.995.332

21,49

Rondônia

104.384

164.619

174.865

192.352

84,27

Acre

1.500

1.800

3.305

3.300

120,00

Amazonas

370

498

505

600

62,16

Roraima

3.515

4.720

4.720

12.530

256,47

Pará

51.570

83.354

78.285

91.621

77,66

Amapá

-

-

-

-

 

Tocantins

23.890

46.705

55.835

70.740

196,11

Maranhão

21.374

132.478

133.026

158.076

639,57

Piauí

1.586.541

1.862.739

1.741.078

2.221.510

40,02

Ceará

521.119

654.791

671.873

1.373.377

163,54

Rio Grande do Norte

158.596

171.084

160.749

247.048

55,77

Paraíba

17.140

30.036

32.364

41.228

140,54

Pernambuco

101.324

344.325

320.109

577.016

469,48

Alagoas

17.298

13.941

21.200

14.513

-16,10

Sergipe

17.062

17.806

31.000

55.960

227,98

Bahia

354.585

520.908

688.105

873.278

146,28

Minas Gerais

1.884.749

2.100.982

2.068.024

2.408.189

27,77

Espírito Santo

183.259

176.655

179.725

275.957

50,58

Rio de Janeiro

418.410

405.556

385.255

359.672

-14,04

São Paulo

1.804.969

1.830.345

2.053.218

2.057.457

13,99

Paraná

2.540.425

2.870.955

2.925.432

2.843.995

11,95

Santa Catarina

3.344.334

3.983.695

3.774.749

3.828.784

14,49

Rio Grande do Sul

5.984.766

5.815.448

6.045.420

5.604.663

-6,35

Mato Grosso do Sul

280.393

302.786

340.363

334.428

19,27

Mato Grosso

202.012

191.547

188.188

174.845

-13,45

Goiás

117.272

117.371

128.222

155.133

32,28

Distrito Federal

10.240

20.000

14.060

19.060

86,13

REGIÕES     

Norte

185.229

301.696

317.515

371.143

100,37

Nordeste

2.795.039

3.748.108

3.799.504

5.562.006

99,00

Sudeste

4.291.387

4.513.538

4.686.222

5.101.275

18,87

Sul

11.869.525

12.670.098

12.745.601

12.277.442

3,44

Centro-Oeste

609.917

631.704

670.833

683.466

12,06


Fonte: IBGE

Tabela 5. Participação regional na produção total nacional, 1999 a 2002

Regiões

1999

2000

2001

2002

Norte

0,94

1,38

1,43

1,55

Nordeste

14,15

17,14

17,10

23,18

Sudeste

21,73

20,64

21,09

21,26

Sul

60,10

57,95

57,36

51,17

Centro-Oeste

3,09

2,89

3,02

2,85

Brasil

100,00

100,00

100,00

100,00


Fonte: IBGE

            A produção do Sudeste cresceu perto da média brasileira e manteve a sua participação em 21%. A unidade da federação que apresentou maior crescimento relativo foi o Maranhão (639,57%) e a que teve o maior aumento absoluto de produção foi o Ceará (mais de 852 toneladas), seguido do Piauí (635 toneladas). A região Nordeste foi responsável pelo aumento de 2.767 toneladas (65 % do aumento brasileiro de 4.244 toneladas, entre 1999 e 2002).

            Incentivos financeiros para investimento impulsionaram em grande parte a atividade apícola no Nordeste, que cresceu intensa e rapidamente na década de 1990. Segundo a pesquisadora Etelvina Silva, o governo continua apoiando a apicultura nordestina. O principal agente financeiro é o Banco do Nordeste, assim como o Banco do Brasil, através do Programa Nacional de Agricultura Familiar (PRONAF), e a ONG Cáritas6. Além disso, o mel da região foi incluído no programa da Agência de Promoção de Exportações (APEX) como produto com potencial para o mercado externo.

            Projetos de apicultura são desenvolvidos nos vários estados do Nordeste com o apoio de entidades como Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e Secretarias de Agricultura, de acordo com Etelvina. Podem ser citados o Projeto Piloto de Qualidade de Produtos Apícolas, na Bahia; o Projeto Rainha, no Ceará; e o Projeto de Apicultura do Piauí - PROAPI. O Projeto Rainha, por exemplo, levou a apicultura para todos os pequenos e carentes agricultores do Ceará.

            Recentemente, a Embrapa Meio Norte, do Piauí, fez concurso para pesquisador em apicultura com o objetivo de reforçar a geração de tecnologias nessa área. E já se trabalha para instalar um curso médio ou superior em apicultura.

            Ronaldo M. Barbosa da Silva, pesquisador aposentado do Instituto de Zootecnia (IZ) e professor convidado da UESC, considera o Nordeste a nova fronteira apícola. 'Esta flora apícola rica e variada é fornecida por vários ecossistemas: caatinga, cerrado, floresta, vegetação litorânea e áreas de transição', explica Etelvina. Estados como Ceará e Piauí, pobres em recursos naturais, têm uma vegetação formada por plantas rasteiras de difícil controle, 'que formam um flora apícola exuberante. A esta flora tropical se juntam o calor e o sol que lhe deram origem. As abelhas são alimentadas pelas plantas que são geradas pelo sol'.

1 Secretaria de Comércio Exterior (SECEX)/Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), 2004: http://www.mdic.gov.br
2 Organização para a Alimentação e a Agricultura das Nações Unidas (FAO/ONU), 2004: http://www/fao.org
3 Entrevista dada em 21/02/2004
4 UESC: www.uesc.br
5 IBGE: http://www.ibge.gov.br
6 Cáritas: www.caritas.org.br



Autor(es):

Luis Henrique Perez (lhperez@iea.sp.gov.br)
José Venâncio De Resende (venancio@iea.sp.gov.br)
Benedito Barbosa de Freitas (bfreitas@iea.sp.gov.br)

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