Projetos
 


PROJETO PRO-MEL

TEXTO: Engo. Agrônomo Paulo Otávio Picoli - CREA/SC 042.341-4 - EPAGRI - José Boiteux - SC

    CONVÊNIO: - Ministério da Agricultura; Prefeitura Municipal de José Boiteux; EPAGRI/SC e FUNAI.

    A Prefeitura Minicipal de José Boiteux, na busca de resolver problemas sociais e econômicos da Reserva Indígena Duque de Caxias, junto com professores do Departamnento de Engenharia Rural da UFSC ( Zefferino Sachet e Mário Guerra) elaboraram um projeto e a EPAGRI - CEPEA coordena e desenvolve assistência técnica através do escritório de José Boiteux.

    A área localizada aproximadamente entre 25 30’ de latitude sul e 49 53’ a oeste de Greenwich, altitude entre 200 e  1000mts., à época da descoberta, era habitada por grupos indígenas. No litoral predominavam Tupi-guarani, logo denominados de carijós. No interior, nas florestas dos vales, e das encostas e no planalto, viviam os Xokleng e os Kaingang, ambos integrantes do grupo lingüístico Jê. Os Xokleng tinham campos de caça que se estendiam ao Rio Grande e as proximidades dos campos de Curitiba e Guarapuava. Os Kaingang disseminavam-se pelo norte do Rio Grande, pelos campos de Palmas, sertões do Tijibi e Ivai e penetravam em São Paulo. Não se pode pensar, assim, que as tribos tinham um território definido, nem menos que formassem um único grupo local.

    Beck (1970:151) admite que “os primeiros grupos humanos a penetrarem em território de Santa Catarina fossem grupos caçadores e coletores, que teriam atingido a região através do Rio Uruguai. Isto por volta de 5.000 AC. Posteriormente, o litoral, em face a amplos recursos alimentares de que dispunha, teria servido como pólo de atração, abrigando populações diversificadas e por um longo período de tempo. O povoamento do litoral iniciou-se, provavelmente, cerca de 3.000 AC. Estendeu-se praticamente, até a chegada dos grupos europeus. Os grupos humanos pescadores e coletores, pré-ceramistas foram substituídos por grupos ceramistas, talvez agricultores, por volta de 1000 AC.

    A escravidão associada às desumanas razias que os europeus faziam sobre as indefesas aldeias, rapidamente aniquilou a população “Carijó” do litoral sul.

    No território em foco, duas regiões podem ser facilmente distinguidas. Litoral e Planalto. Entre este e aquele, a floresta subtropical cobria as serranias e os vales, dificultando a penetração. Este obstáculo natural impossibilitou as empreitadas escravocratas dos portugueses, e permitiu abrigo às populações que logravam pressentir  a aproximação dos “Carijós” foram dizimados ou levados para os mercados de escravos de São Vicente. Na região de florestas e campos, da encosta e do planalto, permaneceram dois grupos tribais: os Xokleng e os Kaingang.  ( Santos, 1973).

    Em 19 pontos mantidos pela FUNAI, localizados na região sul vivem no presente 7.809 indígenas. A maioria desses, 84,72% integra o grupo Kaingang. Os demais pertencem aos grupos Xokleng (3,93%, Guarani (11,95%), e Xetá (0,1%).
A reserva indígena, tem área total de 22.000há. Das quais 70% estão situados no Município de José Boiteux e 30% no Município de Vitor Meireles, a população indígena acha-se assim distribuída: 450 pessoas no Município de Vitor Meireles e 750 no território de José Boiteux, banhada principalmente pelos rios Itajaí ou Hercílio, o clima é mesotérmico úmido com verão quente, com uma grande diversidade biológica onde antes da ação antrópica as espécies predominantes eram a canela preta que cobria 40 a 50% da biomassa total, e a canela-assafráz, peróba-vermelha, pau-óleo e significativa variedade de Mirtáceas, entre outras.

O GRANDE POTENCIAL MELÍFERO DA RESERVA.

    A população indígena tem sua cultura baseada em atividades extrativistas e num permanente convívio com a fauna e flora. A atividade melífera constitui-se basicamente em uma atividade extrativista onde as abelhas adequadamente manejadas, elaboram o mel a partir do néctar das flores silvestres e o armazena.

    O homem com o emprego de tecnologias adequadas, pode manipular o produto até o consumo, o que se constitui numa significativa fonte de renda além de enriquecer a dieta familiar. Estes recursos representarão para os indígenas oportunidade inédita para melhoria de suas precárias condições de saúde, educação, habitação e bem-estar, empregando um minimamente aceitável nível de tecnologia, mediante orientação técnica que prevê treinamento dos indígenas, distribuição de colmeias, indumentária, casa de mel. Entreposto para 50 ton., marcenaria, implantação de arboretos em cada aldeia; só falta equipar entreposto com a liberação de recursos do Ministério da Agricultura.

    A esses ganhos, a população indígena deverá somar os conhecimentos e as experiências adquiridas com sua participação efetiva em todas as etapas da execução do projeto que, ao que se espera, os colocará em um novo patamar em termos de técnicas e organização de produção melífera.

    Os efeitos econômicos da ação direta desse projeto poderão ser estimados da seguinte forma: 50 apicultores indígenas com 10 colmeias cada um (inicialmente) produzindo em média 40kg. de mel/ano, obterão uma produção estimada de 50x 10x 40 = 20.000kg/ano que ao preço de R$ 3,00/kg. dará uma receita bruta estimada de R$ 60.000,00/ano.

    Além da renda gerada a atividade  significa, para a população indígena, uma ocupação digna e que se harmoniza com a preservação do ambiente e dos traços culturais de cada tribo, mostrando à sociedade a importância da atividade melífera desenvolvida essencialmente pelos indígenas.

    Do ponto de vista conservacionista/ambiental os benefícios do presente projeto são evidentes, na medida que propõe o desenvolvimento de uma atividade econômica que se harmoniza, no mais alto grau, com os recursos naturais disponíveis na região e que viabiliza o equilíbrio do ecossistema original (Mata Atlântica) e promove ações de repercussão onde o mesmo foi modificado.

    De outra parte é viável econômica e tecnicamente, além de respeitar as características sócio-culturais da sua população, e buscar promoção a nível de indivíduo e coletividade


 
 

Retorna à página anterior