Artigo

Efeitos da alimentação energética, açúcar invertido e energética-proteica, açúcares e farinha láctea, no desenvolvimento e produção de mel  em núcleos de abelhas africanizadas .

*   LENGLER, S.;
** KIEFER, C.;
** ALVES, E.M;
** CASTAGNINO, G.L.B.

*  ORIENTADOR, Prof. Titular do Deptº de Zootecnia, CCR,UFSM;
** EXECUTORES, Acadêmicos do curso de Zootecnia;
 
 

RESUMO:

      O experimento foi conduzido no setor de Apicultura do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil, localizada nas seguintes coordenadas geográficas: latitude 29º42’, longitude 53º42’, altitude  de 95 metros acima do nível do mar, no período de janeiro de 1998 a abril de 1999, visando avaliar o efeito de diferentes dietas glico-protéicas, em núcleos de abelhas africanizadas sobre o desenvolvimento e produção de mel. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado com 2 tratamentos distintos e 5 repetições pôr tratamento totalizando 10 núcleos,T1: Alimentação líquida (açúcar invertido). T2: Alimentação pastosa (70% de açúcar refinado + 10% farinha láctea + 20% de açúcar invertido). Durante o experimento ocorreram 168 dias de chuva com precipitação total de 2.685,4 mm. Neste período, as abelhas do T1 consumiram um total de 72,50  kg de alimento suplementar, 14,5 kg por núcleo as do T2 consumiram um total de  26,08 kg de alimento suplementar, 5,20 kg pôr núcleo. No T1, em média, após 33 dias, as abelhas foram transferidas dos núcleos para as colmeias e as abelhas do T2 não foram transferidas por falta de desenvolvimento. No T1 ocorreram perdas de 60% dos enxames, já no T2 ocorreram perdas de 100% dos enxames, sendo que estas perdas foram pôr migração. No T1 obteve-se uma produção total de 73,98 kg de mel e no T2 não obteve-se produção. Levando-se em consideração os fatores climáticos nos quais foi realizado o experimento pode-se concluir que o T1 obteve efeito significativo sobre o T2, permitindo um crescimento mais rápido dos enxames, possibilitando que os mesmos sobrevivessem com mais facilidade durante o inverno e resultando consequentemente uma maior produção de mel, na primavera.
 


INTRODUÇÃO:

    A divisão artificial de famílias apícolas é uma forma de ampliar o apiário e de repor as colmeias perdidas, através da reprodução de enxames de alta produtividade, mansidão, prolificidade e resistentes as enfermidades aumentando consequentemente a produção e rentabilidade dos apiários. AFFONSO et al (1973).

     Segundo BARANCELLI (1980) o núcleo deve receber alimentação artificial na primeira e segunda semana, porque este enxame possui poucas operárias e o alimento vai favorecer o desenvolvimento rápido da família. A fórmula recomendada é uma parte de água; uma parte de açúcar e uma parte de mel.

     Segundo o mesmo autor para dividir-se uma colmeia, basta retirar 2 a 3 favos com cria operculada, ovos e larvas com abelhas aderentes, com mais um favo de mel e adiciona um favo com cera alveolada e colocar num núcleo.

     ROOT (1974) descreveu que quando a divisão das colmeias é realizada antes do fluxo nectarífero o resultado nos enxames novos é melhor do que seria na colônia original sem ser dividida. A divisão dos enxames do apiário aumenta a produtividade em cerca de 100%.

     Segundo PERLIN (1976) as colmeias apresentam uma produção excessiva de abelhas no período de safra do mel. O aproveitamento destas abelhas na produção de núcleos proporciona uma produtividade maior do apiário e os valores obtidos com a venda de núcleos, superam, muitas vezes, os valores obtidos com a venda de mel em safras produtivas.

    SOMMER (1976) realizou uma seleção durante 5 anos conforme o índice de produtividade das colmeias e ao final deste período utilizou as colmeias de maior produção para servir de matrizes para reprodução. Verificou que houve uma melhoria substancial na média de produção pôr colmeia e a redução na agressividade da população apícola.

    SCHENK (1926) afirmou que os núcleos devem receber alimentação na épocas de pouca floração, porque ainda lhes falta, nas primeiras semanas, o número suficiente de abelhas operárias, para poderem sustentar e desenvolver a família com o néctar colhido das flores.

    O núcleo deve ser formado por um quadro com mel e pólen, um quadro com cria contendo todas as fases de desenvolvimento e um quadro com favo recém construído e as abelhas devem ser coletadas em pequenas porções de várias colmeias o que assegura a união integral do enxame. KURLETTO (1980).

    TARANOV (1976) informou que a presença de cria junto aos favos na formação dos núcleos faz com que as abelhas permaneçam em sua nova colmeia. Também informou que as abelhas devem ficar presas durante 2 dias perdendo a noção do antigo local se sua colmeia.

    Condições mínimas para desenvolvimento de um novo enxame que tenha uma rainha fecundada, número razoável de operárias, mel, pólen e eventualmente água. MÉNDEZ (1980).

    LENGLER et al (1996) verificou que houve um efeito significativo utilizando suplemento alimentar energético-protéico no desenvolvimento de núcleos no período de verão.

    Segundo PERLIN (1996) no período de safra, podem ser formados muitos núcleos, como medida de controle de enxameação. A formação básica consiste em: dois quadros com cria operculada no centro, dois quadros com mel nas laterais e duas realeiras no 8º dia.

    RADIÓNOV & SCHABARSHOV (1983) afirmaram que a separação dos enxames em duas partes é uma boa técnica para conter a enxameação, porém durante um período temporário, pois a extração de partes de uma colmeia (abelhas e cria) reforça o trabalho das rainhas provocando um crescimento rápido dos enxames divididos.

    O método da câmara escura consiste em retirar de uma colmeia populosa dois quadros com alimento e um quadro com cria nova, e ovos, colocando em um núcleo, sacode-se três quadros com abelhas aderentes, fecha-se o núcleo e leva-se a uma sala escura, permanecendo neste local por 72 horas. As abelhas durante o confinamento descobrem a ausência  da rainha e criam uma nova. Após três dias confinadas, as operárias perdem a orientação e podem ser recolocadas no mesmo apiário. LENGLER (1997).

    Segundo AFFONSO et al (1973) durante os primeiros 8 a 10 dias depois da divisão das colmeias, deve-se Ter cuidado especial com a nova colônia para que esta tenha alimento disponível, sendo a melhor forma a colocação de favos com mel na colmeia ou a alimentação artificial.

MATERIAL E MÉTODOS:

     O experimento foi conduzido no setor de Apicultura do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil, localizada nas seguintes coordenadas geográficas: latitude 29º42’, longitude 53º42’, altitude  de 95 metros acima do nível do mar.

     O período de realização do trabalho foi de janeiro de 1998 a abril de 1999. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado com 2 tratamentos distintos e 5 repetições por tratamento totalizando 10 núcleos, T1: Alimentação líquida (açúcar invertido), Tratamento 2: Alimentação pastosa (70% de açúcar refinado + 10% farinha láctea + 20% de açúcar invertido).

     O açúcar invertido foi preparado da seguinte forma: colocou-se 5 kg de açúcar cristal em 1,7 litros de água em uma panela, mexendo até dissolver, aquecendo até ferver, adicionou-se 5 gramas de ácido tartárico e manteve-se em fogo baixo por 40 a 50 minutos. O ácido tartárico em meio quente transformou a sacarose em glicose e frutose (açúcar invertido).

     A alimentação artificial foi fornecida de 7 em 7 dias, em alimentadores individuais do tipo bandeja, variando a quantidade e o período conforme o consumo de cada núcleo.

     Os núcleos foram formados a partir de colmeias matrizes do apiário da Universidade, compostos por 3 caixilhos contendo cria operculada, ovos, larvas e abelhas aderentes e 1 caixilho com cera alveolada.

     Após a formação dos núcleos, os mesmos foram fechados e levados a uma sala escura onde permaneceram por 72 horas fazendo com que as abelhas perdessem a orientação e consequentemente não localizassem as antigas colmeias, após este período os núcleos foram recolocados no campo.

     Os enxames foram transferidos dos núcleos para as colmeias quando apresentaram 3 caixilhos com cria. As colmeias foram preenchida com caixilhos dos núcleos e completadas com caixilhos contendo cera alveolada.

     A avaliação do desempenho dos tratamentos foi realizada através da análise dos dados de consumo de alimento e produção de mel obtidos durante o período.

    TABELA 1: Ganho médio de população e cria (quadros), consumo total de alimento no inverno, custo total do alimento (R$), produção total de mel (kg) e valor do mel produzido (R$).
 
 

Índices T1 T2
Ganho de população (quadros) 3,33 -3,0
Ganho de cria (quadros) 1,83 0,0
Consumo de alimento (kg) 72,50 26,08
Custo total do alimento (R$) 39,87 35,20
Custo do kg de alimento (R$) 0,20 1.03
Custo do kg de alimento em relação ao kg de mel (R$ 5,00)  0,04 0,20
Produção de mel (kg) 73,98 0,0
Valor do mel produzido (R$) 369,90 0,0
Perdas de enxames (%) = migração 60 100

RESULTADOS E DISCUSSÃO:

     Os resultados deste experimento foram bastante afetados pelas condições climáticas adversas. Durante o período experimental ocorreram  168 dias de chuva,  com  2685,4 mm de precipitação, sendo que a média para este período é de 164 dias de chuva e de  2247,5 mm, isto ocorreu devido aos fenômenos El niño e La niña. Conforme a tabela 2.

     Mesmo com alimentação suplementar os enxames do T2 (alimentação energético-protéica) migraram 100% causada pela umidade e chuvas excessivas, embora houvesse cria nos favos.

    Conforme a TABELA 1, o tratamento 1 (T1) apresentou resultados altamente compensadores, houve ganho médio de população de 3,33 quadros, de cria 1,83 quadros, durante o inverno enquanto o tratamento 2 (T2) ocorreu redução de população de 3,0 quadros e ganho de cria 0,0 quadros. O consumo total de alimento suplementar dos núcleos do T1 foi de 72,50kg, sendo em média 14,5kg por núcleo, enquanto o consumo do T2 foi de 26,08kg, sendo 5,20 kg por núcleo.

     As perdas de enxames ocorreram por migração, 100% dos enxames dos núcleos do T2 e 60% dos enxames dos núcleos do T1, mesmo assim os dois enxames que sobraram no T1, quando habitaram as colmeias, produziram 73,98 kg de mel no valor total comercializado de R$ 369,90 o que permitiu obter um custo do quilograma de mel produzido em relação ao valor do alimento suplementar consumido de R$ 0,11.

     Os resultados mostraram que a divisão de enxames  mediante alimentação suplementar energética proporcionou melhoria de produção de mel no apiário o que está de acordo com ROOT (1974).

    TABELA 2: Precipitações pluviométricas e números de dias de chuva.
 

Nº de dias de chuva Precipitação (mm)
Meses Ocorrido Normal Ocorrido Normal
01/98 13 11 226,3 145,0
02/98 13 11 207,1 130,2
03/98 12 10 231,6 151,7
04/98 15 09 339,3 134,7
05/98 09 09 123,3 129,1
06/98 11 10 078,6 144,0
07/98 11 11 228,4 148,6
08/98 12 11 167,9 137,4
09/98 10 11 219,3 153,6
10/98 10 10 123,4 145,9
11/98 07 10 099,5 132,2
12/98 09 09 114,3 133,5
01/99 08 11 110,7 145,0
02/99 09 11 141,9 130,2
03/99 07 10 082,4 151,7
04/99 12 09 191,4 134,7
Total 168 164 2.685,4 2247,5

CONCLUSÃO:

     Levando-se em consideração os resultados obtidos e as condições em que foi realizado o experimento pode-se concluir que:
    - A alimentação suplementar energética (açúcar invertido ) no verão permitiu um rápido crescimento dos enxames, ocorrendo que os mesmos sobrevivessem com mais facilidade no inverno, quando alimentados com o mesmo xarope.

    - A alimentação suplementar nos períodos de escassez de flores permitiu o crescimento da cria e população, uma vez que não ocorreu a diapausa da rainha, resultando enxames mais vigorosos e consequentemente maior produção de mel.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

    AFFONSO, E.; BREGANTE, H; CAPELLINOS,.C.; CANEPA, M.F.; MARZORATI, A.; RODRIGUES, E.V.; STEINER,R.E.; TASCHETTI, A. Enjambrazon artificial. Manual de Apicultura. Editado por Associacion Apicola Argentina, p.81. Buenos Aires, Argentina, 193p. 1973.

    BARANCELLI, C.D. Crie abelhas é fácil e dá lucro. Curitiba, Associação de Crédito e Assistência Rural do Paraná, p.28, 1980.

    MÉNDEZ, F.V. Tecnica para hacer nucleos sin buscar la reina. IN: V Congresso Brasileiro de Apicultura e III Congresso Latino-Ibero-Americano de Apicultura, Viçosa, Minas Gerais, Anais...1980. p.295-298.

    KURLETTO, S. Novo método de formação de núcleo. IN: V Congresso Brasileiro de apicultura e III Congresso Latino-Ibero-Americano de Apicultura, Viçosa, Minas Gerais, Anais...1980. p.293-294.

    LENGLER, S.; NEUMAIER, R.; LENGLER, C.B.; CASTAGNINO, G.L.;. Efeito da alimentação suplementar no desenvolvimento de núcleos de abelhas africanizadas na entre safra. IN: II Encontro sobre abelhas, Ribeirão Preto, São Paulo, Anais...1996. p.297.

    LENGLER, S. Criação racional de abelhas, , Santa Maria, 1997.  p.52.

    PERLIN, T. Apicultura Atual, Santa Maria, 1996. p.66.

    RADIÓNOV, V.V. & SCHABARSHOV, I.A. Editorial Mir Moscú, Moscu, URSS, 1983. p.131-134.

    ROOT, A.I. ABCyXYZ de la apicultura. Librería Hachette S.A. Buenos Aires, 1974. p.171-178.

    SCHENK, E. O apicultor brasileiro. Porto Alegre, 1926. p.85.

    SOMMER, P.G. Melhoramento de abelhas e observações práticas para a técnica de manejo em abelhas africanizadas. IN: IV Congresso Brasileiro de Apicultura, Curitiba, Paraná. Anais...1976,  p.249-251.

    TARANOV, G.F. Genetica, Seleccion y reproduccion de la abeja melifera. (Simpósio de Biologia Apícola). Editorial Apimondia. Moscou, URSS. 1976. p.272-274.


 
 

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