Atividade
 
 
APACAME NO PARQUE INDÍGENA DO XINGÚ
 
Texto: Mario Isao Otsuka e Waldemar Ribas Monteiro.
 
 
 
     Sob o patrocínio do Instituto Socioambiental ( ISA), uma organização não governamental (ONG), a APACAME se fez presente pela terceira vez (Mensagem Doce n. 38, set/96 e n. 50, mar/99) na Reserva Indígena do Parque do Xingú, em Mato Grosso, prestando serviços de apicultura aos irmãos nativos daquela paragem.
 
      Dando prosseguimento ao projeto de implantação da apicultura, junto aos índios daquela comunidade, lá estiveram, no período de 02 a 16 de setembro de 1999, os diretores da APACAME, Mário Isao Otsuka e Waldemar Ribas Monteiro.
 
      Embora o período total, para a realização do trabalho, fosse de 15 dias, na realidade os dias efetivamente gastos para a apicultura foram de apenas 7 dias. 

    Os restantes 8 dias foram utilizados em viagem, hospedagem e tempo de espera de condução.
 
    Para que os leitores possam avaliar a distância, e compreender melhor as dificuldades para se chegar ao Parque e dele retornar relata-se a seguir o tempo utilizado em conduções.
 
    De Brasilia à Canarana - MT, e vice-versa, são cerca de 2.200km com tempo de viagem de 32 horas em ônibus. De Canarana à entrada do Parque por via terrestre, aldeia de N’GO SOKO, e vice-versa, são 600 Km com tempo de viagem em caminhão de cerca de 24 horas. Na parte fluvial foram gastos, mais ou menos, 25 horas (ida e volta).
 
    A finalidade principal da ida ao Parque do Xingú foi, desta feita, quase que exclusivamente para ministrar o Curso de Meliponicultura ( Criação de Abelhas Indígenas Sem Ferrão) pelo Diretor do Departamento de Abelhas Indígenas da APACAME, Waldemar Ribas Monteiro.
 
    O Curso de Meliponicultura foi planejado e coordenado por Wemerson Ballester, engenheiro agrônomo, fincionário do ISA, e responsável pela apicultura no Parque, e foi bem aceito pelos índios, já despontando como uma nova e promissora atividade. O interesse dos irmãos indígenas pelo curso foi traduzido em 38 inscritos assim distribuídos: 01 Bororo, da região de Barão de Melgaço, ao sul de Cuiabá, 03 Enawenê-Nawê, da região de Jaína, próximo à Rondônia, a noroeste de Cuiabá, 08 Yudjá, 06 Suyá, 13 Kayabi, 06 Ikpeng e 01 Caraíba (Januário).
 
    O curso constituiu-se basicamente em ensinamentos práticos, mas também não foram esquecidas algumas noções teóricas. O mais difícil foi a identificação das abelhas nativas de acordo com o idioma de cada tribo.
 
    Para melhor aproveitamento do tempo disponível, bem como a melhor participação dos alunos, o curso contou com a competente assessoria da Professora Stela Wurkir, pedagoga e funcionária do ISA no Parque. O Caraíba Januário de 17 anos é filho de Stela e do dentista Eduardo Biral. Eles vivem no Parque há cerca de 20 anos. Conforme a Revista Veja n. 1604, de 30/06/99,Januário ou “Janu” é o Tarzã brasileiro que nas noites de luar pode ser visto de pé numa esquálida canoa, pegando jacarés com arco e flecha.
 

    O curso foi ministrado no Posto Pavurú que fica bem próximo da aldeia Mojgu ( Ikpeng). Naquela Aldeia foi montado, num local escolhido que satisfizesse as condições necessárias, um meliponário com 10 cavaletes com material existente no local, ou seja madeira com diâmetro adequado e resistente.

    Para formar o meliponário foram feitas 5 capturas de espécies diferentes: Jataí, Breu, Marmelada, Borá e Mombuca, Nessas capturas o Prof. Waldemar deu ênfase sobre as técnicas de captura, sobre a colméia ideal para cada espécie de abelha, e sobre a espécie ideal para criação racional.

    Para tristeza e frustação do Prof. Waldemar não foi possível localizar e capturar as abelhas Uruçú, Tiúba e Mandaçaia cujos especimens foram vistos na beira do Rio Xingú.

 
    No final do curso foram distribuídas algumas colméias para serem utilizadas, pelos alunos, nas suas aldeias de origem.
 
    Com referência a Apis mellifera, nesta última visita, foram feitas revisões nos apiários das aldeias Mojgu ( Ikpeng) e Rikô (Suyá)(a sílaba r pronuncia-se como na palavra ariete). O apiário da aldeia Rikô é o apiário piloto do Parque implantado em 1996, onde já se colheu mel centrifugado várias vezes.
 
    Como na visita anterior, em 1998, foi dado grande ênfase ao manejo apícola, com vistas a enxames populosos, que como conseqüência natural propiciam maior colheita de mel.
 
    Dentre os alunos que participaram do curso em 1996, um deles, o apicultor Kokoyateni Suyá, é hoje, graças aos seus próprios esforços, um monitor apícola que visita outras aldeias, de outras tribos, transmitindo as técnicas apícolas assimiladas.
 
    Os agradecimentos a todos que deram apoio necessário para o êxito da missão, e especialmente ao Prof. Dr. Douglas Rodrigues, da UNIFESP que, no primeiro dia acolheu em sua cabana, e serviu no jantar uma belíssima fritada de peixe aos Diretores da APACAME.

 
 

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