Artigo
 
 
NOTA SOBRE A POLINIZAÇÃO DO CAFEEIRO
 
DR. RONALDO MÁRIO BARBOSA DA SILVA - Centro de Apicultura Tropical - Pindamonhangaba.
 

    O cafeeiro é uma cultura cujo “produto” são os frutos ou mais exatamente, as sementes. Desta forma, além do desenvolvimento, saúde e nutrição adequada da planta, sua produção depende fundamentalmente, da polinização das suas flores ( ou seja, da fecundação dos óvulos nelas contidos). Esta polinização ocorre, tanto no interior das flores (autopolinização) como através  do transporte, efetuado por insetos, do pólen de uma planta para outra (polinização cruzada).
 
    A discussão dos efeitos, possibilidades e limites da polinização em relação à produtividade final não é simples nem definitiva, devido às variáveis das plantas e dos métodos de cultivo. Para início, devemos lembrar que são cultivadas diferentes espécies de cafeeiros ( Coffea arabica, C. canephora, C. robusta, C. excelsa, C. liberica e outros). Dentro de cada espécie existem numerosas variedades e cultivares; finalmente, outras variações dependem dos métodos culturais, fatores de clima, solo, mecanização etc. Sabemos entretanto que muitas variedades são parcialmente auto estéreis. Quer dizer, as flores se autopolinizam, porém somente uma porcentagem se desenvolve em grãos. Estas variedades dependem em graus variáveis da polinização cruzada.
 
    O resultado prático é que, mesmo quando conseguimos otimizar os fatores de produção como, uso de variedades melhoradas, adubação e irrigação adequada, bons tratos culturais etc. acabamos não obtendo toda a produtividade que a cultura seria capaz de proporcionar, por insuficiente polinização.
 
    Para avaliar o quanto é possível obter de incremento de produtividade através da polinização apícola, para dadas condições de cafezais, muitos experimentos tem sido realizados. Os métodos variam mas, em geral, procura-se comparar, em igualdade de condições, a produção por plantas ou por área, em presença ou ausência de abelhas. As abelhas ( Apis melifera L.) não são os únicos polinizadores de cafeeiro, porém seu uso é justificado por várias razões como, a facilidade de seu manejo e transporte, a possibilidade de obter-se grandes populações no momento e local desejado e a sua própria eficiência na polinização.
 
    Os resultados dos experimentos são variáveis, como é de esperar-se, porém são sempre positivos. Como exemplos podemos citar:

    1)  Frutificação muito baixa, até nula nas flores autopolinizadas de C. canephora (Hall 1938).
    2)  Aumento de 61,7 para 75,3% na frutificação de C. arabica, cv, Caturra (Amaral, 1960).
    3)  Aumento de 82% na produção de C. arabica cv. Mundo Novo ( Amaral, 1972).
    4)  Aumento de 60 para 70% na frutificação de C.  arabica (Sein, 1959)
 
    O reconhecimento do valor das abelhas para a produtividade do cafezal tem originado muitas iniciativas que aproximam os cafeicultores dos apicultores. Na Colômbia, a Federacion de los Cafeteros, órgão nacional dos cafeicultores, mantém um amplo programa de incentivo à apicultura, incluindo escolas, apiários demonstrativos e financiamentos. Nos países da África Oriental os cafeicultores normalmente mantém colônias de abelhas (MacDonald, 1930). A recomendação do uso de abelhas nos cafezais também vigora em Porto Rico (Lower, 1911) e em Costa Rica ( Montealegre, 1911). Segundo MacGregor,  (1976), na maior parte dos trabalhos em que a polinização do cafeeiro foi estudada, as abelhas ( Apis mellifera) foram os insetos polinizadores mais importantes a visitar esta cultura. A maioria das referências bibliográficas deste texto foram tomadas deste último autor.
 
    MacGregor, S.E. Insect Pollination of Cultivated Crop Plants Agricultural Research Service, USDA, Washington, 1976, 411p.
 

 

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