Abelhas Nativas
 

MELIPONICULTURA ( CRIAÇÃO DE ABELHAS SEM FERRÃO)

Waldemar Ribas Monteiro, conservacionista, membro do Departamento de Abelhas Indígenas da APACAME.
 

       Na edição próxima passada, falamos na montagem propriamente dito do meliponário, ou seja: caixas, cavaletes e coberturas. Nesta edição, trataremos da implantação do meliponário com a escolha da abelha ideal.

CAPTURA E POVOAÇÃO DO MELIPONÁRIO

        As abelhas escolhidas para a povoação do meliponário dependerá da finalidade que se deseja, ou seja, lazer, ornamentação, pesquisa ou fins comerciais. Deverão ter preferência as espécies existentes na sua região.
        Se a finalidade for a produção de mel, o meliponicultor deverá optar por uma só espécie que seja abundante na região, conseguindo, com isso, uma quantidade grande de enxames e mais rapidez na montagem do meliponário.
        Fazendo isso, o meliponicultor conseguirá obter um mel padronizado, que atenderá um mercado específico e exigente.
        Escolhida a espécie a ser criada, o povoamento do meliponário será feito transferindo ninhos naturais para colmeias (caixas) racionais, divisão de colônias, ou captura com caixas isca.
        Quanto a captura de ninhos encontrados, só devem ser feitos em caso de demolições de muros, paredes, casas velhas, queimadas e desmatamento, sempre pensando na preservação das espécies.
        Para a transferência de ninhos necessitamos dos seguintes materiais: formão apícola; aspirador de insetos; faca; peneira de malha fina e um recipiente para colher o mel e o pólen.
        Como devemos proceder com ninhos alojados em cavidades, frestas de pedras e ocos de árvores?
        Devemos localizar a entrada do ninho, medir 30cm acima e 30cm abaixo. Comece a abrir com muito cuidado nestes locais usando uma serra, machado, formão, facão, talhadeira ou ponteiro, etc. Feita a remoção da parede lateral do ninho observe com muita atenção a sua arquitetura. Os favos de cria poderão ser horizontais, helicoidais (em forma de caracol), em forma de discos e em forma de cachos, dependendo da espécie, ao contrário da Apis que constroe os favos verticalmente. Em algumas espécies existe um invólucro de cerume envolvendo a cria.
        Outra curiosidade é que o mel e o pólen são armazenados em potinhos e também encontramos própolis e detritos nas colônias, sem contar com a presença de ácaros e outros insetos vivendo em simbiose (associação).

NINHO

        Como dissemos anteriormente, as abelhas sem ferrão têm uma maneira de construir seus ninhos completamente diferente da abelha do mel ( Apis mellifera). É maravilhosa a formação do ninho e o desenvolvimento de suas crias.
        Consiste em uma seqüência condensada; a construção das células de cria; aprovisionamento; colocação do ovo e fechamento. Observamos então que as células de cria são preparadas em quatro fases: 1- fase de construção; 2- fase de colar (pronta); 3- aprovisionamento e com ovo; 4- fechada. Este processo também ocorre com as abelhas solitárias.
        Nas abelhas indígenas sem ferrão, também existe um desenvolvimento social elevado que permite, de acordo com a idade, e cada qual com a sua função a formação e evolução da família. Dentro da célula o ovo se desenvolve em larva que após ter ingerido o alimento larval (mel e pólen), se transforma em pupa. Esse processo de alimentação é denominado de alimentação maciça, ao contrário das abelhas Apis e da Bombus (mamangava), onde as células permanecem abertas e as operárias oferecem com freqüência pequenas quantidades de alimento.
        Na abelhas indígenas sem ferrão não existe o contato entre a população adulta e as larvas em desenvolvimento.

MEMBROS DA COLÔNIA

        Numa família de abelhas sem ferrão encontramos uma sociedade bem desenvolvida, as colônias possuem uma rainha, várias gerações de operárias, cada qual auxiliando em várias tarefas e cuidando da prole.
        Operárias: Uma operária é facilmente reconhecida pela presença de aparelho coletor de pólen, a corbícula, localizada no terceiro par de patas. As operárias ao nascer são quase brancas, mas à medida que vão envelhecendo adquirem uma pigmentação de acordo com sua espécie.
        Elas realizam todo o trabalho na colônia, de acordo com a idade, como na Apis mellifera, a média de vida das operárias em Meliponíneos é de 30 a 40 dias. Existem algumas espécies que durante o inverno param as suas atividades e, em conseqüência o período de vida é maior. Elas praticamente hibernam, é o caso das abelhas do gênero Plebéia (mirim).
        Macho:  O macho é facilmente reconhecido por ter a cabeça mais arredondada do que a das operárias, não tem corbícula, não coletam néctar nas flores, o abdômen difere da operária por possuir dois gonóstilos visíveis a olho nu, peças da genitália que servem para segurar as fêmeas durante a cópula. Observando bem veremos que a postura do macho é de estar sempre alerta com as antenas esticadas, costumam também ficar em grupos à espera da princesa para fecundá-la, pode também apresentar desenhos na cabeça diferente das operárias e da rainha.
        Na falta, ou escassez de alimentos na colônia, ou logo após a fecundação da rainha, eles podem ser mortos pelas operárias. Uma outra atividade dos machos que foi observada é que eles desidratam o néctar trazido pelas operárias para seu próprio sustento.
        Na presença de rainhas virgens ns colmeia formam-se grandes quantidades de machos ao seu redor na espera da sua saída para fecundá-la durante o vôo nupcial.
        O aparecimento dos machos na colônia geralmente acontece na época em que há abundância de alimento, células reias e antes do inverno ou da estação chuvosa.
        Rainha: As rainhas na tribo Meliponini nascem em células iguais a das operárias, a rainha recém nascida deste gênero é do mesmo tamanho que as  operárias, pois não há células reais (realeiras), a difenrenciação de castas tem base genética, o tamanho do corpo da rainha em relação às operárias tem proporções diferentes. Quando são fecundadas o abdômen cresce muito, elas não conseguem mais voar. Já as rainhas das tribos Trogonini e Sestrimellitini, nascem em células reais geralmente construídas nas periferias dos favos; essas rainhas que eclodem de células reais são bem maiores que as operárias. A função da rainha na colmeia é a postura, a fim de perpetuar a espécie e manter a união da família através do feromônio. Ao nascerem apresentam uma certa atratividade e as operárias a seguem onde elas forem. Constroem geralmente em torno da rainha uma célula de aprisionamento feita de cerume onde a rainha jovem fica sozinha ou acompanhada por algumas operárias esperando por uma decisão: ou substituir a rainha fecundada da colmeia se esta morrer, ou se estiver doente ou, sair para formar um novo ninho com as operárias, pelo processo da enxameagem ou, ser morta pelas operárias.


 
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